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A) Fotoproteção: Estudo do Consumo de Protetores Solares e dos Hábitos de Proteção dos

4. Fotoproteção

A fotoproteção consiste na redução da exposição da pele à RUV, quer seja de fonte solar ou artificial, no sentido de diminuir os efeitos nocivos provocados por esta. Na prática, consiste em evitar as horas de máxima irradiação solar, diminuir o tempo e a superfície exposta e utilizar protetores solares [36].

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4.1. Fotoproteção natural

4.1.1. Fotoproteção ambiental

A fotoproteção ambiental é assegurada pela camada do ozono, que absorve a grande maioria das radiações UVB e UVC, pela latitude e altitude do local onde o indivíduo se encontra (a incidência da radiação é superior no Equador e em altitudes elevadas), bem como pela altura do dia e estação do ano (radiação máxima entre as 10h e as 14h, no Verão) [38]. As nuvens, o nevoeiro e a poluição são também responsáveis pela redução da intensidade da RUV e RIV, assim como a sombra, que apenas confere uma proteção de 50% face aos raios UVA [40].

4.1.2. Fotoproteção intrínseca

A pele dispõe de diversos mecanismos para se proteger dos raios solares [31], dos quais se destacam: a pigmentação (a melanina converte a energia absorvida em calor garantindo a proteção da pele) [31,38], o aumento da espessura da camada córnea (a radiação UVB leva ao aumento do número de queratinócitos, conduzindo a uma epiderme queratósica que volta à normalidade num período de cerca de catorze dias) [31], a produção de ácido urocânico (na sua forma trans absorve as RUV a 285 nm, constituindo um filtro, enquanto na forma cis intervém no fenómeno de imunossupressão causado pelos raios UVB) [31,39], o sistema antioxidante

cutâneo (constituído pelas superóxido dismutase, catalase, peroxidase e glutationa redutase) [41],

os mecanismos de reparação e replicação de DNA (essenciais na reparação de danos causados diretamente nas pirimidinas pelos raios UVB) [41] e a reflexão da radiação (por pelos e lípidos da superfície da camada córnea) [41].

4.2. Fotoproteção física

A fotoproteção física consiste, em primeira instância, na proteção conferida pela roupa [39], que se designa por “fator de proteção ultravioleta” (FPU) e que é aferido através da medição de radiação UVA e UVB que atravessa um dado tecido, recorrendo a um espetrofotómetro [39]. A partir destes ensaios concluiu-se que os tecidos que conferem maior proteção contra a radiação solar são a lã e o poliéster, de uso desagradável no Verão, sendo que o algodão e o linho, mais adequados a essa altura do ano, apresentam um FPU reduzido. Assim, para uma maior proteção da radiação solar, aconselha-se a utilização de tecidos com fibra apertada e de cor escura, como é o caso da ganga (FPU 1700). Neste âmbito, é também essencial referir o uso de chapéu, que confere proteção à zona da cabeça, face e pescoço e que se encontra bastante exposta à radiação solar [34]. A maquilhagem constitui também uma forma significativa de fotoproteção física, uma vez que mesmo as bases faciais sem FPS associado conferem uma ligeira proteção devido aos pigmentos que contêm [39], sendo, no entanto, totalmente absorvidas ao fim de poucas horas, principalmente se ocorrer transpiração ou se a pele for oleosa. Deste modo, surgem como

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alternativa as bases faciais associadas a um FPS 15, que se forem aplicadas a cada 2 horas, são ideais para a fotoproteção diária feminina [40].

Por fim, a utilização de óculos de sol que absorvam 99 a 100% da radiação solar é recomendada por diversas organizações de saúde a nível mundial e a sua regulação a nível europeu está explicitada na EN 1836:2005 [42]. A eficácia do uso deste acessório depende do seu tamanho, forma, materiais absortivos incorporados nas lentes e da reflexão da radiação por parte da sua superfície [40]. No caso particular das crianças, a utilização de óculos de sol reveste-se de maior importância, pois implica uma diminuição do risco de desenvolvimento de degenerescência macular, uma vez que a UVR afeta a retina apenas durante a infância [40].

4.3.Protetores Solares

Os protetores solares surgiram pela primeira vez nos EUA, em 1928, e são definidos como “qualquer preparação (creme, óleo, gel ou spray) que, em contacto com a pele humana, tenha a finalidade exclusiva ou principal de a proteger da radiação UV por absorção, dispersão ou reflexão da radiação” [43]. Um bom protetor solar deve ser seguro, isto é, não ser tóxico nem causar alergia, eficaz e permitir a sua inclusão em diferentes formas farmacêuticas. Deve ainda possuir índice de proteção UVA e UVB, elevada resistência à água e à sudação, reduzida absorção cutânea, ser cosmeticamente agradável e económico [33,44].

4.3.1. Classes de Protetores Solares

Os protetores solares podem ser divididos em três grandes grupos: os inorgânicos, os orgânicos e os biológicos [33].

Os protetores inorgânicos ou físicos têm a capacidade de desviar, refletir ou dispersar a luz incidente, sem que ocorra interação química entre os seus componentes e a radiação [34]. Estes protetores apresentam a mesma eficácia para qualquer comprimento de onda e são capazes de inibir a penetração de toda a radiação, pelo que proporcionam uma proteção superior à dos protetores químicos [36]. Neste grupo estão incluídos o talco, o óxido de zinco e o dióxido de titânio, sendo que este último é o único aprovado na Europa [36]. Este tipo de protetores, para além de uma elevada eficácia, apresentam uma baixa reatividade, o que os torna pouco propensos a reações de sensibilização da pele e os mais adequados para aplicação em crianças [45]. No entanto, apresentam duas grandes desvantagens, que são a absorção cutânea mínima, que leva à necessidade frequente de reaplicação e o facto de deixarem uma película branca na pele (substâncias minerais opacas à luz), o que conduz a uma menor aceitação por parte da população [33]. No sentido de contornar esta situação, o tamanho destas partículas foi reduzido, o que resultou no desaparecimento da formação da película branca na pele, mas também na diminuição da capacidade de proteção contra a radiação UVA e no aumento da ocorrência de danos no DNA e RNA por parte destas moléculas [34].

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Os protetores orgânicos ou químicos incluem compostos integrados por estruturas aromáticas conjugadas que permitem uma deslocalização da sua carga eletrostática quando a radiação incide sobre elas [33]. Desta forma, a configuração eletrónica destas moléculas torna-as suscetíveis de absorver radiação, provocando uma alteração na sua estrutura e diminuindo o risco para a pele, pois as radiações UVA e UVB são convertidas em calor, não se propagando nesta [36]. O seu modo de ação implica que estes protetores estejam associados a uma maior reatividade do que os protetores inorgânicos, contudo, uma vez que apresentam melhores propriedades cosmetológicas, são usados de forma frequente [33]. Esta classe inclui filtros seletivos para a radiação UVB, como o ácido 4-aminobenzóico (PABA), os salicilatos e os cinamatos; filtros seletivos para a radiação UVA, como benzofenonas e derivados do dibenzoilmetano; e filtros de largo espetro, constituídos por moléculas desenvolvidas recentemente, como o Mexoryl SX e XL e o Tinosorb M e S [36,39].

No Anexo 38 encontram-se listadas as diferentes substâncias ativas que são incluídas nos protetores solares orgânicos disponíveis no mercado.

Com a crescente exigência de fatores de proteção elevados e espetros de absorção largos, a tendência é o desenvolvimento de protetores com vários agentes ativos, pelo que grande parte das formulações existentes no mercado apresenta a combinação de um filtro físico com dois ou mais filtros químicos [44].

Resta ainda fazer referência aos protetores biológicos, que exercem uma ação antioxidante através do sequestro dos radicais livres responsáveis pelo envelhecimento cutâneo e pelo cancro fotoinduzido [33]. São capazes de neutralizar os efeitos da radiação solar incidente e de estimular o sistema imunológico cutâneo, no entanto, uma vez que não absorvem nem refletem a radiação, apenas devem ser usados como complemento dos filtros físicos e químicos [33]. São essencialmente constituídos por óleos de trigo, sésamo, aloé vera, calêndula ou cáscara-sagrada [46]. O ácido ascórbico e o tocoferol (vitaminas C e E) encontram-se igualmente presentes nestas formulações, sendo responsáveis por melhorar o aspeto e a elasticidade da pele [46]. Recentemente foram propostos novos compostos com potencial interesse nestas formulações antioxidantes tópicas, como é o caso do zinco, ácidos cafeico e ferrúlico, isoflavonas e compostos polifenólicos (chá verde) [33].

4.3.2. Protetores capilares e labiais

As radiações UV alteram o aspeto e o estado das fibras do cabelo, conduzindo a fragilidade ou menor resistência do mesmo (degradação de aminoácidos), descoloração (oxidação das melaninas e aminoácidos), formação de radicais livres e decomposição dos lípidos da cutícula (responsáveis por conferir brilho e lubrificar o cabelo), o que resulta num cabelo seco e embaraçado [47]. Assim, é essencial recorrer a protetores capilares, principalmente se o cabelo

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for frágil ou pintado, que devem ser utilizados em conjunto com produtos pós-solares como máscaras e champôs hidratantes [47].

Por seu turno, o estrato córneo labial é muito fino e a falta de glândulas sudoríparas e a escassez de glândulas sebáceas fazem com que a sua capacidade de defesa seja limitada. Assim, a missão de um protetor labial é formar sobre os lábios uma película que os cubra uniformemente e os proteja da RUV [30].

4.3.3. Formas farmacêuticas

As diversas formas farmacêuticas disponíveis no mercado de protetores solares constituem um fator relevante na sua escolha. Assim, podem distinguir-se os óleos, que são muito bem aceites no mercado e têm como vantagem o facto de serem hidrófobos, pelo que são bastante resistentes à água, embora formem películas finas e pouco protetoras na pele [31]. As emulsões

óleo/água e água/óleo existem sob a forma de leites e cremes fluídos e estáveis, sendo que as

últimas apresentam um alto poder de proteção, constituindo a formulação ideal para o combate à desidratação da pele e podem ser utilizadas sob a forma de spray, o que facilita o alcance de zonas de mais difícil acesso [31,34, 35]. Por fim, é conveniente referir os sticks, cuja utilização é recomendada para a zona dos lábios, nariz e contorno de olhos [35].

4.3.4. Rotulagem

A Comissão Europeia, a 26 de Setembro de 2006, emitiu uma recomendação sobre os produtos de proteção solar e respetivos rótulos, para que as indicações neles contidas sejam mais compreensíveis para o utilizador e para que este os utilize da melhor forma [43].

4.3.4.1. Fator de Proteção Solar

O FPS, se determinado pelo método europeu (COLIPA), constitui o quociente entre a DEM de uma pele protegida com um produto solar e a DEM na mesma pele não protegida, indicando o tempo que se pode prolongar a exposição ao Sol sem risco de queimadura [36].

Ainda segundo as recomendações europeias referidas acima, os FPS foram agrupados em quatro categorias, “proteção baixa”, “proteção média”, “proteção alta” e “proteção muito alta”, que estão associadas aos diferentes fotótipos estabelecidos por Fitzpatrick [36].

4.3.4.2. Proteção contra radiação UVA

O valor de FPS não fornece informações em relação à proteção conferida contra a radiação UVA, a qual, por lei, terá de constar obrigatoriamente dos novos rótulos dos protetores solares e corresponder a um valor de pelo menos um terço do FPS indicado [43]. Não existe nenhum método oficial recomendado para avaliar os índices de proteção contra a radiação UVA, podendo recorrer-se quer a métodos in vivo baseados na capacidade da pele produzir pigmentação

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imediata ou duradoura, quer a métodos in vitro baseados na capacidade de transmissão da radiação sobre o protetor solar [39].

4.3.4.3. Waterproof/Water resistant

A capacidade de um protetor permanecer ligado às proteínas do estrato córneo, particularmente durante a exposição à água, é muito relevante [36]. Assim, um protetor considera- se resistente à água se o seu índice de proteção residual após dois banhos de vinte minutos separados por exposição ao ar quente durante 15 minutos (com secagem do corpo) for superior ou igual a 70% do seu índice de proteção inicial [36]. Por outro lado, só pode ser considerado à prova de água se resistir a pelo menos quatro banhos de vinte minutos cada. A Food and Drug Administration (FDA) propõe que estes termos sejam retirados das embalagens dos protetores, para que a população os aplique mais frequentemente [46].

4.3.5. Efeitos Secundários e Controvérsias

A maioria das moléculas que constituem os protetores solares apresentam baixo peso molecular, pelo que após aplicação tópica podem difundir-se através do estrato córneo e causar reações irritativas ou alérgicas, principalmente no caso de protetores orgânicos e com múltiplos constituintes [36]. Assim, podem referir-se como potenciais efeitos secundários do uso de protetores solares as reações fototóxicas (se a RUV iniciar uma reação fotoquímica, originando produtos, que podem causar agressão direta na pele) e as alergias de contacto (se houver ligação a proteínas endógenas e ativação das vias aferentes de apresentação de antigénios pelas células de Langerhans aos linfócitos T) [39].

Existe ainda alguma preocupação com a fotoestabilidade dos protetores, no entanto, sabe-se que a maioria dos produtos usados são fotoestáveis em condições normais de utilização, à exceção da avobenzona e do octinoxato, que, deste modo, nunca devem ser utilizados em conjunto [39].

Por último, ponderou-se que a utilização de protetores solares com FPS elevados poderia impedir uma síntese adequada de vitamina D, o que constituiria uma grande desvantagem para a sua utilização. No entanto, alguns estudos realizados indicam que os protetores solares não interferem com este mecanismo [48].