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A) Fotoproteção: Estudo do Consumo de Protetores Solares e dos Hábitos de Proteção dos

3. A Radiação Solar

A pele humana encontra-se exposta ao Sol desde o nascimento, pelo que está sujeita aos seus efeitos benéficos e nocivos, que podem ser evitados se forem tomadas as devidas precauções durante a exposição solar. O espetro da radiação solar que atinge a Terra pode ser dividido em RUV (10%), radiação visível (RV) (40%) e radiação infravermelha (RIV) (50%), sendo que a exposição a estas radiações varia com a latitude, a altitude, a camada do ozono, a nebulosidade e a altura do ano [34].

A nível da saúde humana, a radiação RUV é a que se encontra mais associada a consequências nefastas [34], pelo que lhe será conferido um maior destaque. Por outro lado, a radiação RV (400- 800 nm) é relativamente inócua, enquanto a RI (800-120000 nm) causa sensação de calor, podendo conduzir à desidratação e potenciando os efeitos adversos das radiações UV [34].

3.1. Radiação ultravioleta

Dentro da radiação ultravioleta, podem distinguir-se os raios ultravioleta A (UVA), subdivididos em UVA 1 (340-400 nm) e UVA 2 (320-340 nm) e que constituem 8% da RUV que atinge a superfície da Terra, os raios ultravioleta B (UVB) (280-320 nm) e os C (UVC) (100-290 nm) [35]. As radiações que representam maior perigo, as UVC são absorvidas pela camada do ozono, pelo que não atingem a superfície terrestre, ao contrário das UVA e UVB, que são capazes de penetrar a pele, embora em profundidades diferentes [35]. Uma vez que a penetração transcutânea é tanto maior quanto maior o comprimento de onda das radiações, as radiações UVA penetram a pele até à derme, enquanto as UVB apenas o fazem até à epiderme [36]. A absorção

Fototipo Tom de pele Queimadura Bronzeado Fator de proteção solar

recomendado

I Pele albina, avermelhada,

com sardas e olhos claros. Sempre Nunca

50+ Muito alta II Pele clara, olhos azuis e

cabelo louro. Com facilidade Ligeiro

50+ Muito alta III Pele clara, com cabelos e

olhos castanhos. Moderada Progressivo

30-40 Alta IV Pele pigmentada com cabelo

e olhos escuros. Mínima Moderado

30-40/25 Alta/Média

V Pele morena, etnia sul-

americana e indiana. Raramente

Castanho intenso

15 a 25 Média VI Pele muito pigmentada, raça

negra. Nunca Escuro intenso

15 Média

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destas radiações é realizada pelos cromóforos da pele, como a melanina, o DNA, o RNA, entre outras moléculas, o que resulta em diversas reações e interações que podem revelar-se benéficas para o organismo, como a produção de vitamina D, ou nocivas, se implicarem a formação de espécies reativas de oxigénio ou a interação direta com o DNA, a nível das pirimidinas [34].

3.2. Índice Ultravioleta

Com o objetivo de informar o público sobre os possíveis efeitos nocivos da RUV, a comunidade científica definiu um parâmetro que pode ser utilizado como indicador para a exposição às radiações UV e que constitui o índice ultravioleta (IUV) [37]. Assim, o IUV é a medida dos níveis da radiação solar que contribuem efetivamente para a formação de eritema na pele humana. Este índice pode ser 2 (Baixo), 3 a 5 (Moderado), 6 a 7 (Alto), 8 a 10 (Muito Alto) e superior a 11 (Extremo) [37].

Em Portugal, os valores médios de IUV encontram-se entre 3 e 6, entre os meses de Outubro e Abril e entre 9 e 10 para o período compreendido entre Maio e Setembro [37]. A acompanhar os valores de IUV, usualmente, encontra-se o tempo máximo de exposição solar e as medidas de exposição recomendados à população (Anexo 37).

3.3.Radiação Ultravioleta e a Pele

A exposição da pele à radiação ultravioleta pode resultar em efeitos agudos ou crónicos benéficos e nocivos [38], que serão explorados seguidamente.

3.3.1. Efeitos Agudos da Exposição à Radiação Ultravioleta

A resposta inicial da pele humana após exposição à RUV inclui:

Eritema – Queimadura solar causada essencialmente pela radiação UVB, constituindo a alteração

mais comum resultante da exposição solar, prolongando-se entre 48 a 72 horas [38]. Neste contexto, definiu-se como Dose Eritematosa Mínima (DEM) a quantidade mínima de energia solar necessária para causar uma reação de eritema, uniforme e delimitada, 24 horas após a exposição solar [39].

Escurecimento imediato e tardio da pigmentação – O escurecimento imediato é conseguido

graças à ação da radiação UVA, desenvolvendo-se nos primeiros minutos de exposição, enquanto o tardio se deve à ação da radiação UVB, prolongando-se por 24 horas. Ambos os casos resultam da foto-oxidação e redistribuição da melanina existente, não havendo síntese da mesma [38].

Bronze tardio – É induzido pela radiação UVA e UVB, podendo ser observado a partir do

terceiro dia após o início da exposição solar. Neste caso, como existe estimulação da tirosinase, há síntese de nova melanina [38].

Hiperplasia epidérmica – Processo adaptativo que resulta de uma exposição excessiva à

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Formação de radicais livres – As espécies reativas de oxigénio (ROS) que são induzidas pela

RUV podem incluir o peróxido de hidrogénio, singletos de oxigénio e o radical superóxido. Danos no DNA, proteínas e membranas celulares são os principais efeitos nocivos causados por estas moléculas, que se pensa serem responsáveis pelo potencial mutagénico dos raios UVA. As ROS são também responsáveis pela peroxidação lipídica das membranas celulares, o que conduz à libertação de citocinas inflamatórias e fatores de crescimento que alteram o colagénio e a elastina da matriz extracelular, conduzindo à perda da integridade da estrutura da pele [31].

Síntese de Vitamina D – A exposição solar, em particular aos raios UVB, constitui uma das vias

mais importantes para a obtenção de vitamina D endógena, essencial para a manutenção da homeostasia do cálcio, por conversão do 7-desidrocolesterol em vitamina D3 [31].

Ação sobre problemas dermatológicos – A radiação solar é benéfica para condições como a

dermatite seborreica, eczema atópico e psoríase. No entanto, pode desencadear o aparecimento de Herpes simplex, rosácea e vitiligo [40].

3.3.2. Efeitos Crónicos da Exposição à Radiação Ultravioleta

As consequências da exposição crónica excessiva à RUV mais frequentemente observadas são:

Fotoenvelhecimento – A radiação UVA, como penetra mais profundamente na pele, é a principal

responsável por esta condição, que envolve o aparecimento de rugas, angiectasias e comedões, bem como a perda de elasticidade da pele [38].

Imunossupressão – A RUV pode causar imunossupressão por alteração da migração das células

de Langerhans e da produção dos linfócitos T supressores [38].

Fotocarcinogénese – A indução de mutações no DNA, aliada à imunossupressão, que impede o

sistema imune de reconhecer células malignas, faz com que a RUV esteja intimamente ligada com o aparecimento de melanoma e carcinoma das células basais e escamosas [38].

Hiperpigmentação – Em resposta aos raios UV, a produção de melanina pode tornar-se mais

intensa em alguns locais, originando o aparecimento de manchas mais escuras que contrastam com o tom natural da pele [38].

Complicações oculares – É estimado que todos os anos cerca de três milhões de pessoas percam

a visão por danos causados pela radiação solar. São ainda muito comuns problemas como as cataratas e as conjuntivites [34].