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Fragmentos da história migratória do Sertanejo/Nordestino e do sulista/gaúcho

1 A FORMAÇÃO HISTÓRICA E EDUCACIONAL DE UMA SOCIEDADE

1.3 A MIGRAÇÃO DE NORTE A SUL, NA CONSTITUIÇÃO DA REGIÃO MATOPIBA

1.3.1.2 Fragmentos da história migratória do Sertanejo/Nordestino e do sulista/gaúcho

O sertão é um lugar seco, geralmente habitado por pequenos povoados que, por sua vez, são compostos por indivíduos que não tiveram a chance de sair do local de origem ou que optaram por permanecer ali. Esses moradores eram, em sua grande maioria, possuidores de uma cultura que não os permitia abandonar a terra onde nasceram, ou ainda foram, durante uma vida toda, submissos aos seus patrões e não souberam viver longe dali, onde entendiam estarem seguros das injustiças do mundo.

Com a atividade de pastoreio tornando-se cada vez mais procurada pela facilidade do trabalho, os sertanejos foram tornando-se vaqueiros e adentraram o sertão em busca de melhores pastos e água em abundância (rios, riachos e lagos). Este deslocamento do litoral para dentro do continente foi fundamental para o início dos vilarejos e, posteriormente, das cidades, sendo Balsas/MA um exemplo desse deslocamento. Porém, outro ponto precisa ser levado em consideração, junto a esse desenvolvimento econômico e territorial veio também o

crescimento populacional. Os currais, além de serem criatórios de gado, se tornaram local de convivência familiar e ali as famílias foram igualmente com o gado tornando-se numerosas. Com o aumento da mão de obra e com a diminuição do trabalho iniciou-se a migração dos mais jovens para fora desses locais em busca de emprego, posteriormente em busca de educação.

A concentração industrial pós Segunda Guerra Mundial motivou Nordestinos a migrarem para as regiões Sul e Sudeste. Esse movimento foi muito intenso, principalmente entre as décadas de 1960 e 1980. Os Nordestinos constituíram a principal mão de obra para a construção civil e para os setores industriais que empregavam trabalhadores com menor qualificação. A construção de Brasília na década de 1960 foi um dos motivos que levou os Nordestinos a deixarem os sertões em direção ao Brasil Central.

Com tudo isso, o sertanejo se dividiu em duas frentes: uma parte da população ficou no litoral e outra adentrou no território. De acordo com Ribeiro (1995, p. 355), “(...) na verdade, a sociedade sertaneja do interior distanciou-se não só espacial, mas também social e culturalmente da gente litorânea, estabelecendo-se uma defasagem que as opõe como se fossem povos distintos”.

A religiosidade singela é uma característica típica do sertanejo que adentrou no continente “desencadeado pelas condições de penúria que suporta o sertanejo, mas conformadas pelas singularidades do seu mundo cultural” (RIBEIRO, 1995, p. 355). Essa penúria que suportava o sertanejo deu início ao cangaço, que serviu como forma de justiça e migração. Cada integrante do bando tinha sua justificativa própria, vingar uma ofensa a sua honra ou da família, fazer justiça com as próprias mãos. Cansados de serem injustiçados e viverem sempre de forma humilde ou humilhante, buscaram explorar uma forma de serem ouvidos.

A realidade dos sertões distantes e esquecidos foi sendo alterada. Os “poderosos fazendeiros” do passado já não governam como antes. Foram sendo lentamente “desarmados” pelo crescimento econômico e cultural dessa região. As estradas começaram a cortar suas terras, e a transportar gente, alimentos e muita informação. Também vieram com as estradas, mais migrantes em busca de terras férteis e baratas. Passados alguns anos e com o crescimento econômico e cultural regional, o sertanejo começou a comunicar-se com o mundo “externo”, fazendo com que os sertanejos que migraram na época de 1960 retornassem para “casa” e consigo trouxessem uma nova realidade, um novo saber sobre sociedade e trabalho, ao ponto de que hoje as pessoas não mais necessitam sair de sua região por falta de educação, saúde e empregos.

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Depois dessas mudanças, “nos últimos trinta anos, uma descoberta tecnológica11 abriu novas perspectivas de vida econômica para os cerrados” (RIBEIRO, 1995, p. 363). Mais uma vez isso fez brotar a esperança dos sertanejos por melhorias na região, oportunidades de emprego, de bons salários, um reconhecimento por pessoas que vêm de outras realidades para transformar a realidade dos sertões. Essa transformação da realidade local está se dando, principalmente, através da educação, por meio da qual, sulistas e sertanejos estão comunicando-se mais, permitindo conhecer-se e reconhecer-se por meio da integração dos povos, das identidades e da cultura.

Se de um lado há migração nordestina para o Centro-Oeste e Sudeste nas áreas urbanas, de outro lado tem os sulistas migrando para o Norte, para a área rural. Com o crescimento do agronegócio, as monoculturas avançam em direção à região Norte, chegando aos Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí, Bahia, com o cultivo principalmente da cultura da soja. Junto com esse crescimento do agronegócio, as monoculturas avançaram em direção à região Norte com a chegada principalmente dos sulistas.

Caracterizada pela heterogeneidade étnica, a região Sul do país foi colonizada por espanhóis, portugueses, italianos, alemães, teve também a presença dos Jesuítas em busca de civilizar ou mudar a forma de vivência humana dos índios. “A característica básica do Brasil sulino, em comparação com as outras áreas culturais brasileiras, é sua heterogeneidade cultural” (RIBEIRO, 1995, p. 408). Esta heterogeneidade permanece presente. Por maior que seja a influência europeia na região, a cultura gaúcha tem sua origem por meio dos índios que habitaram esse local sem influência dos brancos durante muito tempo, apesar de, mais tarde, eles conseguirem alterar a vida e os costumes de toda a região.

Após a expulsão dos Jesuítas das Missões, o gado foi alastrando-se e procriando sem muitos cuidados tornando-se quase que selvagem. Os gaúchos dominavam as línguas guarani e o espanhol, assim conseguiam manter contato tanto com os brancos quanto com os índios, o que facilitava a comercialização do gado, da carne e do couro. Inicialmente esses gaúchos não se consideravam nem espanhóis nem portugueses, tão pouco indígenas. Constituiu-se assim uma nova etnia, aberta a receber índios desgarrados de suas tribos pela escravidão ou pela ação dos Jesuítas, brancos pobres e marginalizados. Deu-se então origem a um povo bravo, lutador, mas pobre e marginalizado, que não se enquadrava em nenhum dos povos existentes na época.

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Descoberta tecnológica: no sentido de ser possível realizar plantio e colheita em solos arenosos, em clima seco, de precipitações pluviométricas definidos em um determinado espaço de tempo (novembro a março). Excluindo deste conceito a ideia de tecnologias no sentido de mecanização agrícola.

A população do local foi crescendo e as pessoas não tendo lugar nas áreas pastoris, foram para as cidades viver em terrenos baldios, cada dia mais maltrapilhos e marginalizados. Tornaram-se trabalhadores de changa, biscateiros, chamados ao trabalho em tempos de tosquia, marcação e outras atividades que exigiam um contingente maior de mão de obra, barata. “Assim é que o Rio Grande do Sul experimentou um profundo processo de urbanização sem industrialização, vendo multiplicar-se nas grandes e pequenas cidades uma massa enorme de subocupados, de mendigos e prostitutas” (RIBEIRO, 1995, p. 425). Alguns jovens subocupados buscam na migração para outros locais um destino melhor para si e suas famílias.

Com o passar dos anos a agricultura tornou-se um dos principais nichos de mercado, empregando muitos gaúchos principalmente em épocas de colheita. A agricultura foi se especializando, tornando-se mecanizada, exigindo mão de obra especializada em tratores, em mecânica e na tecnologia que avança na área rural afastando novamente as pessoas e mais uma vez fazendo “sobrar” mão de obra barata. Assim, foi produzido o crescimento no número de pessoas subocupadas que acabam sendo levadas novamente a saírem do campo em busca de oportunidades, que nem sempre existem nas cidades.

As pessoas que saem do meio rural para a cidade possuem uma identidade, uma cultura que por vezes terá que ser esquecida, deixada de lado, adaptada, para que as pessoas possam adaptar-se à nova realidade que se apresenta. A questão é que as cidades, sociedades urbanas, nem sempre estão preparadas para receber agricultores que foram forçados pelo sistema a saírem de suas terras. E tão pouco esses agricultores estão preparados para saírem de seu lugar. Um dos meios que possibilitam a aproximação do meio rural com o meio urbano é a educação. Através da educação é possível mostrar para as sociedades que a integração rural e urbana é possível e necessária. Que nessa integração as identidades e as culturas irão estabelecer um tipo de “conversa”, um contato maior e que será a ponte para que possam viver e conviver juntas em um mesmo ambiente, que novamente está se modificando.

Diante desses fragmentos de história é possível identificar traços da cultura sertaneja e da cultura sulista muito próximos. Ambas são compostas por migrantes, oriundos de outros locais em busca de terras e uma oportunidade de crescimento. Outro ponto em comum é o uso da terra para o sustento de todos, mas principalmente o que une os sulistas aos sertanejos é o desejo de crescimento pessoal e social, fazendo valer sua cultura sempre em respeito à cultura do outro.

Hoje é possível ver universidades preocupadas em manter viva e ativa a cultura brasileira, regional e local, dentro e fora de seus espaços físicos. Essa é uma das preocupações

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da Unibalsas, que desenvolve atividades focadas para a cultura. A Unicultural é uma dessas atividades que foi pensada para manter viva a cultura dos vários povos, que fazem da Unibalsas seu local de ensino, de trabalho, de lazer, de encontros e de reencontros.

1.4 FACULDADE DE BALSAS, IDEALIZADORA DA UNICULTURAL: UMA