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Unicultural: uma relação entre educação e cultura na região do Matopiba

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – UNIJUÍ

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO NAS CIÊNCIAS – MESTRADO E DOUTORADO

LÍBERA RAQUEL BAZZAN PILLATT

UNICULTURAL: UMA RELAÇÃO ENTRE EDUCAÇÃO E CULTURA NA REGIÃO DO MATOPIBA

IJUÍ - RS 2017

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LÍBERA RAQUEL BAZZAN PILLATT

UNICULTURAL: UMA RELAÇÃO ENTRE EDUCAÇÃO E CULTURA NA REGIÃO DO MATOPIBA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências – Mestrado e Doutorado, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), como Requisito Parcial para Obtenção do Título de Mestre em Educação nas Ciências.

Orientador: Prof. Dr. Paulo Alfredo Schönardie

IJUÍ – RS 2017

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P641u Pillatt, Líbera Raquel Bazzan.

Unicultural: uma relação entre educação e cultura na região do Matopiba. / Líbera Raquel Bazzan Pillatt. – Ijuí, 2017.

82 f. : il. ; 30 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí e Santa Rosa). Educação nas Ciências.

“Orientador: Paulo Alfredo Schönardie”.

1. Educação. 2. Unicultural. 3. Matopiba. 4. Multiculturalismo. 5. Interculturalidade. 6. Hibridação. I. Schönardie Paulo Alfredo. II. Título.

CDU: 37:316.722

Catalogação na Publicação

Eunice Passos Flores Schwaste CRB10/2276

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DEDICATÓRIA

Dedico esta dissertação ao meu esposo, Fábio Roberto Pillatt, e a nossa filha, Paola Bazzan Pillatt, pois sem o apoio e paciência de vocês nada disso seria possível. Muito obrigada!

Dedico também à Faculdade de Balsas, por ter me confiado a oportunidade de cursar o Mestrado, no Programa de Mestrado em Educação nas Ciências da Unijuí. Foi um desafio, representar a Unibalsas que, faz a diferença na vida de muitas famílias, na região do Matopiba.

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AGRADECIMENTOS

Ter a quem agradecer é mais prazeroso do que ter a quem pedir. Por isso, começo agradecendo a Deus por ter dado a vida para todas as pessoas que participaram desta caminhada ao me lado. Mas, principalmente, a vida de meus pais, que sempre me ensinaram que a maior herança que um pai e uma mãe podem dar aos seus filhos é a educação. Obrigada por estarem sempre perto quando precisei.

Ao Fábio Roberto Pillatt, meu esposo, meu companheiro e amigo, pelos muitos incentivos, paciência, tolerância e principalmente força. Sempre o meu porto seguro.

À Paola Bazzan Pillatt, minha filha, razão pela qual levanto da cama todas as amanhãs. Você mudou de cidade, de casa, de amigos, de rotina, tudo para ajudar a mamãe. Obrigada.

Aos meus pais, irmão e avós que sempre estiveram dispostos a ajudar a preencher os finais de semana da Paola e a esperarem o término da leitura dos intermináveis textos. Obrigada por estarem sempre dispostos a esperar e por estenderem os braços para aquele abraço de força e esperança. As suas orações foram e são importantes.

Aos meus sogros e cunhados(as) que também estiveram muito presentes nesta caminhada e auxiliaram muito durante a nossa estadia em Jóia/RS.

À Faculdade de Balsas, por oportunizarem a qualificação de seus docentes e por terem acreditado em mim. Esta transformação e trabalho só foram possíveis porque a Unibalsas realmente acredita, em sua visão, “Ser a ponte para o conhecimento e desenvolvimento regional”. Mais uma vez, a Faculdade de Balsas foi uma ponte para a ampliação de meus conhecimentos e horizontes.

À Camila Sousa e Halleyde Ramalho, por estarem sempre ao meu lado, incentivando e buscando juntas novos conhecimentos. Vocês foram a “força a mais” que eu precisava. Sou muito feliz por terem sido minhas colegas de mestrado e por estarem comigo em uma conquista tão importante como esta.

Aos amigos Carla, Cristian, Leonardo, Isabela, Adriane, Ernani e Suely, você são a minha família no Maranhão e sempre estiveram ao meu lado, mesmo na distância, sempre me auxiliaram, ouviram e me impulsionaram para frente quando o desânimo começava a bater.

À Maria Cecilia e ao João Emídio obrigado por aceitarem cuidar da nossa casa, amigos e família em Balsas enquanto estivemos em Ijuí/RS. E por continuarmos firmes em nossa amizade, após nosso retorno. Obrigada.

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Ao Paulo Schönardie, meu orientador, sou muito grata pela sua paciência e por você acreditar que seria possível. Obrigada por me mostrar a beleza da leitura e da escrita.

Ao Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências, pela atenção disponibilizada e por propiciarem meios para esta construção. Professores, vocês contribuíram para que eu conseguisse compreender a importância desta produção. Cada um dos componentes curriculares tiveram papel importante para que a leitura, a escrita e a pesquisa se realizassem de forma transformadora em minha caminhada. Agora consigo me entender como um sujeito incompleto e, assim, seguirei em frente.

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Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser condicionado, mas, consciente do inacabamento, sei que posso ir mais além dele. Paulo Freire

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RESUMO

A presente dissertação intitulada Unicultural: uma relação entre educação e cultura na região do Matopiba, objetiva, através da pesquisa participante como metodologia, estudar a relação entre educação e cultura com base na Unicultural. Para tanto, delimitaram-se alguns objetivos específicos, entre os quais: evidenciar as características e diferenças culturais presentes na região do Matopiba; compreender a importância da valorização e o uso da cultura como processo educativo; analisar a Unicultural como processo educativo baseado nas matrizes culturais locais; perceber o ambiente acadêmico como espaço de excelência para o pluralismo cultural e tal diversidade como potencial formativo educativo privilegiado; evidenciar, por meio da Unicultural, sua manifestação educativo-cultural e o processo de hibridação cultural que vem acontecendo na região de estudo. Tendo a pesquisa a hipótese de que os processos e os espaços educativos na região do Matopiba contribuem com a construção de uma hibridação cultural, pois a região está se reconstruindo determinada pela matização cultural. Como forma de pensar isto, a contextualização da pesquisa se dá de forma a pensar a cidade de Balsas/MA como um centro do desenvolvimento cultural presente na região do Matopiba, a partir de conceitos teóricos de Cultura, Multiculturalismo, Interculturalidade, Hibridação, Educação e Educação Popular. Assim, tornou-se possível analisar as relações entre as teorias apresentadas e prática da Unicultural. Foi possível destacar que a Unicultural pode ser entendida como uma atividade educacional emancipatória (social), entendendo que a relação estabelecida neste espaço entre educação e cultura pode, sim, contribuir para uma hibridação cultural.

Palavras-chave: Educação; Unicultural; Matopiba; Multiculturalismo; Interculturalidade;

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ABSTRACT

The present dissertation entitled Monocultural: an objective relation between education and culture in the area of “Matopiba”, through research respondents as the methodology, it studies the relation between education and culture based on Monocultural. For this purpose, it was delimited some specific goals, which are: to emphasize the characteristics and cultural differences existent in the area of “Matopiba”; to comprehend the importance of valorization and the use of the culture in the education process; to analyze the Monocultural as an educational process based on local cultural sources; to recognize the academic environment as a space for excellence to cultural pluralism and its diversities as a privileged potential educative formation; to highlight, through the Monocultural, its cultural educative manifestation and the process of cultural hybridization that has been happening in the education field. Since the research brings the theory that the educational process and spaces in the area of “Matopiba” contribute for the development of a cultural hybridization, because this area is rebuilding itself forced by the cultural standardize. In order to think about this theory, the contextualization of the research considers the city of Balsas/MA as a center for the cultural development existent in the area of “Matopiba” coming from Cultural theoretical concepts, Multiculturalism, Interculturality, Hybridization, Education and Popular Education. Then, it was possible to analyze the relation between the presented theories and the experience of Monocultural. It was emancipatory (social), understanding that the relation between education and culture stablished in this space can, indeed, contribute for hybridization cultural.

Key words: Education; Monocultural; “Matopiba”; Muiticulturalism; Interculturality;

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LISTA DE SIGLAS

Apud. - designar a origem de uma citação indireta Coord. – Coordenação Dir. - Diretor DP&A – Editora DN – Diário de Notícias Dr. – Doutor ed. – Edição

EDUFBA – Editora da Universidade Federal da Paraíba et al. – Entre outros

Etc.- dando seguimento.

IES – Instituição de Ensino Superior in. – Dentro

ISSN - International Standard Serial Number MA – Maranhão

MATOPIBA – Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. n.- Número

nº. - Número

NPPGE – Núcleo de Pesquisa Pós-Graduação e Extensão. NUDIC - Núcleo pelo Direito à Cidade

org. – Organização orgs. - Organização p. – Página

PPGEUFPB – Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal da Paraíba Prof. – Professor

REC. Revista Espaço e Currículo Reimp. – Reimpressão

RS – Rio Grande do Sul

SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem UFPB – Universidade Federal da Paraíba UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro UNIBALSAS – Faculdade de Balsas

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UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Vol. – Volume

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Identificação da região de estudo: Matopiba. ... 16

Figura 2 - Ponte de madeira que liga o centro de Balsas ao bairro Trizidela. ... 36

Figura 3 - Vista panorâmica da faculdade de Balsas. ... 41

Figura 4 - A faculdade de Balsas ... 43

Figura 5 - Acadêmicos e comunidade externa interagindo com a unicultural ... 44

Figura 6 - Peças que indicam os costumes, as crenças da cultura afro-brasileira ... 44

Figura 7 - Ambiente interno da faculdade foi recriado de forma a induzir os participantes a refletirem sobre a cultura indígena ... 45

Figura 8 - Apresentação de escolas municipais na Unicultural ... 46

Figura 9 - Interação da comunidade externa com a Unicultural... 46

figura 10 - Réplica de uma balsa, representando um dos primeiros meios de transporte das pessoas da cidade de Balsas... 65

Figura 11 - Demonstração de danças típicas de culturas indígenas do Maranhão ... 65

Figura 12 - Apresentação de teatro ... 66

Figura 13 - Apresentação de teatro em homenagem ao cinema ... 66

Figura 14 - Adesivos pelo saguão de entrada da faculdade, com letras de músicas e seus intérpretes ... 67

Figura 15 - Imagem representando a mata brasileira ... 67

Figura 16 - Imagem do túnel contendo elementos da cultura afro-brasileira ... 68

Figura 17 - Imagem que demonstra o saguão de entrada da Unibalsas e as possibilidades de interação do público com o tema da unicultural ... 69

Figura 18 - Imagem que representa o público interno e externo interagindo com as atividades da Unicultural. ... 69

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 15

1 A FORMAÇÃO HISTÓRICA E EDUCACIONAL DE UMA SOCIEDADE GLOBALIZADA COMPOSTA POR IDENTIDADES E CULTURAS DIFERENTES . 21 1.1 GLOBALIZAÇÃO: SUA RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO E A CULTURA ... 22

1.2 IDENTIDADE E SUA RELAÇÃO COM A CULTURA NA CONSTITUIÇÃO DO MATOPIBA ... 26

1.3 A MIGRAÇÃO DE NORTE A SUL, NA CONSTITUIÇÃO DA REGIÃO MATOPIBA30 1.3.1 Matopiba para além de uma fronteira agrícola: historicamente um núcleo de encontro cultural entre sulistas e sertanejos ... 33

1.3.1.1 Balsas no centro do Matopiba: um núcleo de relações culturais entre sertanejos e sulistas. ... 34

1.3.1.2 Fragmentos da história migratória do Sertanejo/Nordestino e do sulista/gaúcho ... 37

1.4 FACULDADE DE BALSAS, IDEALIZADORA DA UNICULTURAL: UMA ATIVIDADE QUE INCENTIVA A RELAÇÃO ENTRE EDUCAÇÃO E CULTURA ... 41

2 MULTICULTURALISMO, INTERCULTURALIDADE E HIBRIDAÇÃO, CARACTERÍSTICAS DE SOCIEDADES QUE POSSUEM UMA CULTURA DIRETAMENTE RELACIONADA COM A EDUCAÇÃO ... 47

2.1 CULTURA: TRANSFORMA E SIGNIFICA ... 48

2.1.1 Uma sociedade modelada pelo Multiculturalismo ... 51

2.1.2 Interculturalidade: um mundo de várias culturas ... 52

2.1.3 Hibridação, uma das formas de desenvolvimento da sociedade ... 54

2.2 A EDUCAÇÃO E SEUS DESAFIOS PARA COM AS RELAÇÕES CULTURAIS ... 55

2.3 A EDUCAÇÃO POPULAR NA UNICULTURAL ... 57

3 A RELAÇÃO ENTRE EDUCAÇÃO E CULTURA COM BASE NA UNICULTURAL ... 61

3.1 A CULTURA COMO PARTE DO PROCESSO EDUCATIVO ... 61

3.2 UNICULTURAL, UM PROCESSO EDUCATIVO BASEADO NAS MATRIZES CULTURAIS LOCAIS: SUA MANIFESTAÇÃO EDUCATIVO-CULTURAL ... 63

3.3 A UNICULTURAL COMO UM PROCESSO EDUCATIVO CONTÍNUO ... 70

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INTRODUÇÃO

A diversidade cultural notoriamente presente na região do Matopiba1, especialmente na cidade de Balsas/MA, é também refletida no interior do campus da Faculdade de Balsas - UNIBALSAS. Seus quadros discente, docente e de colaboradores possuem origens culturais diversas e estas se manifestam no cotidiano da instituição, o que permite pensar a cultura inserida nos processos educacionais e a ocorrência de uma hibridação cultural nesta região. Estes aspectos educacionais é que possibilitam pesquisar a relação entre educação e cultura, a Unicultural2 na região do Matopiba.

O debate cultural retrata as formações históricas da sociedade, sua construção sociocultural, suas negações e afirmações em relação a uma cultura heterogênea típica de um país colonizado por diferentes vertentes culturais. Segundo Candau; Moreira (2011, p. 17) “a sociedade busca, historicamente, a eliminação física do ‘outro’, ou sua escravidão, que também é uma forma violenta de negação de sua alteridade”.

A cada dia que passa a sociedade se modifica, seja por interesses pessoais, profissionais, por imposição, em virtude da economia do país ou até mesmo pelo que se conhece por “modismo3”. Um bom cenário para encontrar essas mudanças, que são acompanhadas e notadas pelas diferenças culturais dos habitantes locais, muitas vezes oriundos de processos migratórios, é a região do Matopiba com Balsas/MA, ao centro. A região é um exemplo de que não existe uma cultura homogênea no Brasil.

A cidade de Balsas/MA configura-se como ponto estratégico da região conhecida como Matopiba, considerada uma das principais fronteiras agrícolas do Brasil. Ela é responsável por abastecer em produtos, serviços e profissionais cerca de 700 mil hectares desta região. O setor terciário (comércio e serviços) bastante desenvolvido faz da cidade um núcleo de intenso movimento (UNIBALSAS, 2010, p. 19).

1 Matopiba: Convergência entre os Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. 2

Unicultural: evento anual promovido pela Faculdade de Balsas, desde o ano de 2008, que busca valorizar a cultura com apresentações teatrais, música, dança, literatura e exposições.

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Figura 1 - Identificação da região de estudo: Matopiba.

Fonte: Jornal do Tocantins, 2015.

Em Balsas/MA, é possível evidenciar as diversas culturas existentes neste país. Pois nessa cidade em expansão, encontram-se pessoas de diferentes locais do Brasil, com interesses diversos e culturas diferentes umas das outras. É nesse contexto que está inserida a Faculdade de Balsas - Unibalsas, instituição de ensino superior que teve sua criação motivada pela falta de oferta de cursos superiores na região de influência geopolítica da cidade de Balsas, o que induzia os jovens a se deslocarem para outras regiões do país em busca da formação superior almejada. O cenário era, portanto, caracterizado pela evasão das pessoas dessa região, seguida da necessidade de contratação de mão de obra qualificada de outros estados em virtude da falta desses profissionais e dos altos índices de crescimento econômico da região. Visando modificar essa realidade e alavancar o crescimento econômico regional, a Faculdade de Balsas foi concebida (UNIBALSAS, 2010, p. 08).

A proposta pedagógica da Faculdade de Balsas está sustentada em princípios constantes na legislação educacional, das Diretrizes Curriculares Nacionais, bem como na concepção de aprendizagem como um processo de mudança fundamentado na troca de experiências. Portanto, a Faculdade de Balsas visa não apenas preparar seu estudante para o mercado de trabalho, mas despertar-lhe uma percepção crítica e empreendedora em relação aos problemas encontrados em sua região de influência geopolítica, assim como na sociedade vigente (UNIBALSAS, 2010, p. 22). Através da educação, a instituição busca proporcionar ao estudante o entendimento de que é preciso assumir sua herança cultural, para poder pensar criticamente o local onde se vive e, a partir daí, poder contribuir para sua transformação.

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17

Nesta dissertação reflete-se sobre a relação entre educação e cultura, a Unicultural na região do Matopiba, tendo como campo de estudo a cidade de Balsas/MA, rica em diversidade cultural. Estuda-se a Unicultural, que é um evento anual promovido pela Faculdade de Balsas desde o ano de 2008. O evento busca valorizar a cultura local e regional com apresentações teatrais, música, dança, literatura, exposições, etc., vinculadas à temática que é escolhida a cada ano. Ele ainda conta com a participação maciça da comunidade interna e também da comunidade externa regional. Esse evento faz parte do calendário letivo da instituição como instrumento educacional, por entender que:

não há educação que não esteja imersa nos processos culturais do contexto em que se situa. Neste sentido, não é possível conceber uma experiência pedagógica ‘desculturalizada’, isto é, desvinculada totalmente das questões culturais da sociedade. Existe uma relação intrínseca entre educação e cultura (CANDAU; MOREIRA, 2011, p. 13; grifo do autor).

A preocupação da relação existente entre educação e cultura é que proporciona a continuação da Unicultural, que objetiva fomentar a inserção das mais diversificadas culturas dentro do contexto acadêmico científico, para que, com isso, seja possível disseminar nos acadêmicos os diversos meios de percepção sobre a multiculturalidade que vive a sociedade da região do Matopiba nos tempos atuais.

Assim, o propósito detsa pesquisa se assenta na hipótese de que os processos e os espaços educativos na região do Matopiba contribuem com a construção de uma hibridação cultural, pois a região está se reconstruindo determinada pela matização cultural. Os sujeitos que “antes” tinham uma identidade estável, centralizada em si e na cultura da sociedade em que estavam inseridos, hoje já não possuem mais essa mesma centralidade. Sofrem agora as influências da globalização, o choque de culturas que está lenta e constantemente se fundindo, se misturando, de forma a influenciar mudanças na vida e na identidade dos sujeitos.

O contato entre culturas exige um mínimo de atenção e esta é a proposta de análise desse trabalho. Qual o nível de atenção que a instituição de ensino superior, Unibalsas, está disponibilizando para promover uma aceitação da possível miscigenação da qual ela faz parte e também é responsável, considerando as atividades culturais como processos de ensino-aprendizagem, vinculados à sociedade?

Essa análise oferece elementos para pensar em uma educação popular que usa o conhecimento já existente como ponto de partida para ver e enfrentar o mundo, além de reconstruir ou se apropriar de conhecimentos durante a realização de práticas sociais. A apropriação de conhecimentos durante as práticas sociais apresenta, conforme Freire (1988, p.

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69), que “a educação é comunicação, é diálogo, na medida em que não é a transferência de saber, mas um encontro de sujeitos interlocutores que buscam a significação dos significados”.

A pesquisa objetiva estudar a relação entre educação e cultura com base na Unicultural. Para tanto, alguns objetivos estão delineados, como o de evidenciar as características e diferenças culturais presentes na região do Matopiba; compreender a importância da valorização e o uso da cultura como processo educativo; analisar a Unicultural como processo educativo baseado nas matrizes culturais locais; perceber o ambiente acadêmico como espaço de excelência para o pluralismo cultural e essa diversidade como potencial formativo educativo privilegiado; evidenciar, através da Unicultural sua manifestação educativo-cultural e o processo de hibridação cultural que vem acontecendo na região de estudo.

A metodologia a ser utilizada para o desenvolvimento da pesquisa proposta é de forma qualitativa. Está dividida em duas partes, sendo a primeira constituída pelo referencial acerca do tema e a segunda, pelo embasamento empírico. A pesquisa participante é utilizada como método por ser considerada, conforme Demo (1984, p. 29), “aquela que privilegia a relação prática com a realidade social, buscando nisso uma via de descoberta e de manipulação da realidade”. A construção dos ‘dados’ é feita através de observações, registros por meio de fotografias, atas de reuniões e documentos disponibilizados pela Instituição (filmagens, folders, pesquisas de satisfação, relatórios e pela constituição de um diário de campo). Para tanto, o trabalho está estruturado em três capítulos.

No primeiro capítulo, a contextualização da pesquisa se dá de forma a pensar Balsas como um centro do desenvolvimento cultural presente na região do Matopiba, tratando assim, de forma contextualizada, o conceito de migração, os motivos de sua ocorrência, o que a migração tem por objetivo e as suas consequências para as regiões por ela afetadas. Também é tratada aqui a história do Matopiba antes das migrações, durante as migrações e após as migrações até os dias atuais.

Em continuação ao primeiro capítulo apresenta-se um levantamento histórico da cidade de Balsas, a sua estruturação com a chegada dos Gaúchos4, trabalhando com o conceito

4

A chegada dos gaúchos é ponto com o qual me identifico no texto, bem como no destaque à cultura e educação. Sou gaúcha do interior e vim para Balsas em 2007, desde o início da Faculdade de Balsas. Me formei na primeira turma do Curso de Ciências Contábeis, fiz pós-graduação, tive oportunidade de realizar o Mestrado e retornar para a Unibalsas para ser professora. Acompanho a Unicultural desde sua criação e atualmente como parte do corpo docente. E por fazer parte dos processos migratórios e de hibridação, que me entendo condicionada a auxiliar a região do Matopiba a ser mais do que uma fronteira agrícola, ser um campo de estudo

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de gaúcho, suas contribuições para a região de Balsas e do Matopiba. O conceito do Sertanejo será também apresentado no trabalho, mostrando qual influência estes sofreram pelos migrantes, especialmente gaúchos, e quais são suas características atuais.

A partir desta discussão será relatada a constituição da Unibalsas, justificando sua estruturação na cidade de Balsas. Também serão abordadas quais mudanças foram realizadas na região após seu funcionamento e como a Unicultural fomenta a relação entre educação e cultura no processo de ensino-aprendizagem.

No segundo capítulo, o texto aborda os conceitos teóricos de Cultura, Multiculturalismo, Interculturalidade, Hibridação, Educação e Educação Popular. Tais conceitos estão embasados teoricamente em autores como Hall (2014), Brandão (2002), Canclini (2007; 2008), Freire (2014), Pimenta e Anastasiou (2002), Silva (2016), Pessoa (2013), Santos (2015), Streck et. al. (2014), Silva e Machado (2013), Gohn (2013) e Torres (2013).

A cultura será apresentada a partir do conceito de Brandão (2002), pensando em uma cultura que transforma e significa. Estas seriam as culturas que se encontram hoje na região do Matopiba, pois transformaram e continuam transformando essa região. Em conjunto com o conceito de cultura, será tratada a importância das demonstrações culturais na perspectiva da necessidade do indivíduo de adaptar-se ou readaptar-se a um lugar, a uma sociedade, a uma nova cultura. Também será tratado o multiculturalismo como uma característica das sociedades atuais, vinculado a interculturalidade que implica no reconhecimento do diferente, no reconhecimento do “outro”.

Em continuidade ao capítulo, será trabalhado o conceito de hibridação partindo do pensamento de que a hibridação é uma das formas de desenvolvimento das sociedades atuais. Esta ideia está sustentada em Canclini (2008) sobre a perspectiva de que os sinais que representam a possibilidade da existência de uma hibridação é a combinação de estruturas ou práticas sociais que existiam separadamente e começam a se combinar, gerando novas práticas e novas estruturas.

Em conjunto com esses aspectos e características culturais, multiculturais e interculturais está a educação, que em acordo com Pimenta e Anastasiou (2002) deve incluir as crianças e os jovens nos avanços civilizatórios, mostrando a eles a importância de se viver em sociedade, com valores e princípios, e respeitando os diferentes. Para reforçar a ideia de incluir as crianças e os jovens na sociedade, trabalhou-se o conceito de educação popular, a

sobre a possibilidade das diversas culturas se encontrarem e se modificarem em virtude de uma boa convivência

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qual pode ser vista e entendida em vários lugares e de muitas maneiras. Esta educação surge para questionar a ordem do ensinar e do aprender, conforme Streck e seus coautores (2014). Por meio desta inversão, se pode incluir a Unicultural na educação popular e vice e versa.

No terceiro e último capítulo, será descrita a relação existente entre educação e cultura, demonstrando que não é algo espontâneo e sim uma construção histórica, a qual demanda tempo, dedicação e práticas que envolvam os diferentes sujeitos em um ambiente moldado no respeito desta diferença. Essas práticas são caracterizadas pela Unicultural, pois este espaço proporciona o encontro entre as diferentes culturas, a educação e o convívio coletivo entre os sujeitos.

Na sequência do capítulo, são apresentadas cada uma das edições da Unicultural, com ano, tema e as atividades que foram realizadas no decorrer de cada uma das edições. Em seguida, apresenta-se a análise das edições da Unicultural com os temas trabalhados na dissertação. Por fim, encontra-se a demonstração da relação entre educação e cultura na Unicultural, ressaltando, mais uma vez, que tal atividade educativa pode ser entendida no âmbito da Educação Popular.

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1 A FORMAÇÃO HISTÓRICA E EDUCACIONAL DE UMA SOCIEDADE

GLOBALIZADA COMPOSTA POR IDENTIDADES E CULTURAS

DIFERENTES

O tema principal para o desenvolvimento da pesquisa é a relação entre educação e cultura, a Unicultural na região do Matopiba. Defendendo que o debate cultural retrata as formações históricas da sociedade, sua construção sociocultural, suas negações em relação a uma cultura heterogênea típica de um país colonizado por diferentes vertentes culturais. Esta diversidade cultural é bastante presente na região do Matopiba, especialmente na cidade de Balsas/MA e refletida também no interior do campus da Faculdade de Balsas (Unibalsas).

Sobre as formações históricas da sociedade, o primeiro capítulo discorre de forma contextualizada o conceito de globalização, pensando-a a partir de um fenômeno que vai se modificando ao longo do tempo e, principalmente, modificando a realidade da educação, da cultura e da identidade social. Traz também para reflexão as formações históricas, os conceitos de migração e imigração evidenciando os motivos de suas ocorrências e as consequências destas para a região do Matopiba.

Em continuação a este capítulo é apresentado um levantamento histórico da cidade de Balsas/MA, o conceito do sertanejo, suas características, evidenciando as possíveis influências que os mesmos possam ter sofrido pela chegada de migrantes (gaúchos) a essa região. Também se apresenta o conceito de gaúcho, as alterações ocorridas em Balsas/MA e na região do Matopiba com sua chegada.

A partir dessa discussão é relatada a constituição da Unibalsas, justificando sua estruturação na cidade de Balsas/MA, quais as mudanças realizadas na região após seu funcionamento e como a Unicultural fomenta a relação entre educação e cultura no processo de ensino-aprendizagem. Afinal, a preocupação da relação existente entre educação e cultura é o que proporciona a continuação da Unicultural, que objetiva fomentar a inserção das mais diversas culturas dentro do contexto acadêmico científico, para que, com isso, dissemine nos acadêmicos os diversos meios de percepção sobre a multiculturalidade que vive não só a sociedade balsense, mas a região do Matopiba, nos tempos atuais.

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1.1 GLOBALIZAÇÃO: SUA RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO E A CULTURA

A globalização não é um termo novo, não foi descoberta nos dias atuais5. Trata-se de um “fenômeno” que ocorre há vários anos. Porém, ela vai tomando forças e vai alterando realidades, de forma cada vez mais rápida e mais profunda. A globalização é capaz de realizar mudanças na educação, na cultura e na identidade de uma sociedade. Ela ainda pode transformar lugares e sociedades a tal ponto de provocar migrações em “massa”. É como escreve Santos (2015, p. 17): “vivemos num mundo confuso e confusamente percebido”. E em um ato de tentar entender essa confusão em que se vive, em função da globalização, é que a região do Matopiba, com Balsas/MA ao centro, torna-se um bom cenário a ser analisado.

Atualmente, não se faz mais necessário sair de casa para conhecer outros países, para saber as notícias de sua cidade e do mundo. As relações entre pessoas não mais necessitam ocorrer por meio de encontros físicos6, podem ser por meio virtual. As propagandas de internet e telefonias apresentam as possibilidades de se comemorar datas importantes (ou de valor sentimental) com os familiares como aniversários, natal, reveillon, por meio da tecnologia. Por exemplo, uma pessoa está no Maranhão e seus pais no Rio Grande do Sul, mas todos unidos via internet para celebrar o seu aniversário.

Para Bauman, a globalização “atualmente” está na ordem do dia:

uma palavra da moda que se transforma rapidamente em um lema, uma encantação mágica, uma senha capaz de abrir as portas de todos os mistérios presentes e futuros. Para alguns, ‘globalização’ é o que devemos fazer se quisermos ser felizes, para outros, é a causa da nossa infelicidade. Para todos, porém, ‘globalização’ é o destino irremediável do mundo, um processo que nos afeta a todos na mesma medida e da mesma maneira. Estamos todos sendo ‘globalizados’ – e isso significa basicamente o mesmo para todos (1999, p. 7; grifos do autor).

Assim como para Bauman, também para Höffe (2005, p. 5), a palavra globalização, “apresenta-se revestida de emoções contraditórias, em parte esperanças e em parte temores”. O que mostra que a globalização está presente no cotidiano e é uma realidade na vida de todos, não é um ato ou fenômeno que ocorre isoladamente nem escolhe raça, cor, idade ou classe social. Está presente na sociedade em geral e serve também como ferramenta classificatória nos dias de hoje. É essa globalização descrita por Höffe que se acredita ter encorajado tantos indivíduos a deixarem seus locais de origem para se aventurarem em outros locais, experimentando assim a convivência com outras culturas, conhecendo outras

5 O termo “atuais” refere-se aos anos 2015/2017, período em que foi escrita a dissertação.

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23

identidades, por vezes tão diferentes das suas e da sociedade de onde veio. Também essa globalização, possibilita olhar para a região do Matopiba como um local cuja característica originária foi alterada com as migrações e hoje possui uma diversidade cultural e de identidade significativas.

Hall (2014) apresenta a globalização como um complexo de processos e forças de mudanças, que deslocaram de forma poderosa as identidades culturais nacionais no fim do século XX. Para explicar ou exemplificar esses processos Hall faz uso dos argumentos de McGrew (1992, in HALL, 2014, p. 39):

a ‘globalização’ se refere àqueles processos, atuantes numa escala global, que atravessam fronteiras nacionais, integrando e conectando comunidades e organizações em novas combinações de espaço-tempo, tornando o mundo, em realidade e em experiência, mais interconectado (grifo do autor).

Essas novas combinações de espaço-tempo mostram que o mundo está ficando cada vez menor, as pessoas estão mais interligadas por meio das redes sociais, nas redes de telecomunicação. O mundo não para, as notícias são vistas e lidas em tempo real (enquanto acontecem) e isso ocorre em qualquer lugar do mundo. As fronteiras parecem deixar de existir, parecem ficar invisíveis diante de tantas formas de comunicação, entre os diferentes espaços e distâncias. Bauman sugere que não há mais fronteiras naturais ou lugares óbvios a serem ocupados, pois “no mundo que habitamos, a distância não parece importar muito. Às vezes parece que só existe para ser anulada, como se o espaço não passasse de um convite contínuo a ser desrespeitado, refutado, negado” (BAUMAN, 1999, p. 85).

Esse é um dos efeitos da globalização, que possibilita a pessoa ver e acompanhar o mundo sem sair de casa, do escritório, de sua sociedade. Acompanhar tendências de mercado de cunho econômico e social, conhecer realidades de vários pontos de vistas que nem sempre são os seus, mas que lhe ajudam de certa forma em determinadas situações, tomar algumas escolhas para sua vida pessoal e profissional são possibilidades constantes. Um exemplo disso é a escolha da profissão. As redes de telecomunicação (e não somente elas) apresentam diariamente as tendências de diferentes campos de trabalho em diferentes lugares do mundo. As pessoas não precisam sair de casa para conhecer esses lugares, essas realidades e fazer suas escolhas.

Para Höffe (2005, p. 8), a globalização não seria um fenômeno que representa uma mudança de época:

contudo, uma coisa é certa: em parte, por não mais querer, e em parte, por não mais poder viver de outra forma, a Humanidade mune-se de um campo global de

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referências, que se revela sob a forma de uma rede de influências e relações, de interesses momentaneamente comuns e de uma miscelânea de opiniões. Com isso, abre espaço tanto para novas oportunidades quanto para novos perigos e acarreta não só uniformizações, mas também restrições.

Assim, o autor mostra que a globalização também afeta questões culturais e de identidade dos indivíduos e das sociedades. Pode-se pensar na globalização como motivadora de uma heterogeneização cultural ou uma hegemonização cultural. E por que não pensar em uma homogeneização cultural? É possível identificá-la em locais e situações diferentes.

Para Pena (2015, p. 1), a heterogeneização cultural pode ser identificada nas sociedades mais tradicionais, as quais mesmo em contato com outros costumes e tradições, fazem prevalecer os seus, e conseguem algumas vezes disseminar suas tradições para além de suas fronteiras. A hegemonização cultural pode ser identificada através da mídia. As pessoas com seus discursos dominantes conseguem “vender” suas ideias, suas “verdades” e, desta forma, induzem as sociedades a seguirem-nas. Já a homogeneização cultural, pode ser identificada em alguns contextos, em alguns grupos sociais no quais, através das redes sociais ou pelos meios de comunicação, uma característica ou um hábito que seria característico de um lugar pode ser identificado em outro local distante do original.

Esses três “efeitos” da globalização estão diretamente ligados à identidade de cada sociedade e de cada indivíduo. Pois toda alteração cultural reflete diretamente na identidade do indivíduo que compõe a sociedade, a qual está sendo atingida pela globalização e sofrendo assim influências externas.

A educação também sente os efeitos causados pela globalização. Talvez seja possível afirmar que a área da educação é onde mais se concentram as consequências da globalização. É nas escolas que se vivenciam com mais frequência o “choque” de ideias, de gerações, de posses, de desejos, de ambições, de opressão. Cada um reage de maneira diferente à globalização e a escola tem como desafio amenizar essas diferenças, tornando-as menos conflitantes possível.

Conforme relata Soares (2008, p. 199-200) e seus coautores:

o processo de globalização na educação implicou na produção de políticas supranacionais de educação, com a pressão do mercado internacional e das agências transnacionais de regulação, exercendo o controle do patrocínio e do financiamento estatal, pressionando na redução dos serviços públicos com a expansão do privado; criando novos modelos educacionais pautados em exigências de habilidades e competências globalmente exigidas; em novos modos de treinamento técnico voltado para os mercados emergentes; na redefinição da formação do trabalhador necessário à economia global, dentre outros.

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Isso mostra mais uma vez o quanto a sociedade está conectada e interligada. Isso pode servir como uma provocação a pensar sobre as fronteiras, que talvez nem mais existam, ou simplesmente tenham se tornado móveis, conforme os interesses individuais. Mas o que, de fato, essa passagem relata é que um local se deixa influenciar por outro, seja por exigências econômicas, culturais ou mesmo sociais. Hoje as escolas estão preparando seus alunos para o mundo mais competitivo que existe, conhecido por mercado de trabalho. Seja qual for a área, “as questões humanas são de todos e precisam ser pensadas por todos” (SILVA, 2016, p. 88). Porém, nossas universidades tendem a ensinar seus alunos para os exames de Ordem, de Suficiência, para concursos públicos e assim por diante. Em resumo, para serem bons competidores. Depois da vaga alcançada tornam-se bons profissionais e esquecem o lado humano da sociedade.

O processo acelerado de urbanização, o progresso tecnológico e o crescimento do mercado são movimentos sincrônicos à redução do espaço para as questões humanas, que precisam constantemente ser pensadas e resgatadas. Sabe-se que não é a educação que vai ser responsável por mudar o cenário social, mas os sujeitos que dela resultam. Então é imprescindível que levemos os sujeitos da educação profissional e técnica a pensar na complexidade da tecnologia construída por eles mesmos (SILVA, 2016, p. 103).

As transformações pelas quais a educação pública, gratuita e de qualidade estão passando, dão espaço à implantação de mais escolas particulares, as quais restringem o acesso à sua estrutura e seu ensino, através de uma ferramenta muito simples de seleção (exclusão): a mensalidade. Essa expansão das escolas particulares ocorre desde o ensino básico até o ensino superior. Assim, a “educação de qualidade é cada vez mais inacessível” (SANTOS, 2015, p. 20). Nesse cenário, a maioria considera inviável uma educação humanizadora, pois cada vez mais se exigem resultados no ranking das aprovações e as formações acabam se direcionando mais para o lado do técnico.

Como forma de reflexão deste mundo em que se vive ou que se acredita viver, Santos (2015, p. 18) traz uma passagem em sua obra “Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal”:

se desejamos escapar à crença de que esse mundo assim apresentado é verdadeiro, e não queremos admitir a permanência de sua percepção enganosa, devemos considerar a existência de pelo menos três mundos num só. O primeiro seria o mundo tal como nos fazem vê-lo: a globalização como fábula; o segundo seria o mundo tal como ele é: a globalização como perversidade; e o terceiro, o mundo como ele poderia ser: uma outra globalização.

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Não se acredita que a mídia realmente informe, mas sim que manipula as informações que possui e se faz acreditar naquilo que consideram importante e necessário que a sociedade saiba, numa tentativa de “homogeneizar” o planeta. Dessa forma, o que se pode ver e sentir com mais “perversidade” nessa globalização que se apresenta é o desemprego cada vez maior, a fome cada dia mais presente na realidade das famílias e as doenças cada dia mais resistentes e difíceis de controlar. “O mundo como poderia ser”, de Milton Santos (2015), pode ser discutido através da facilidade como os povos e suas culturas estão se misturando com outros povos e outras culturas. Pode se pensar em como tem se tornado fácil a troca e a fusão entre culturas e o consequente nascimento de outras, visando então “um outro mundo, mediante uma globalização mais humana” (SANTOS, 2015, p. 20).

Toda essa globalização, esse pensar um “outro” mundo mais humano de Milton Santos, possibilita refletir sobre a realidade de Balsas/MA e da região do Matopiba. Esta é uma alteração de identidades ou uma aproximação com o surgimento de uma nova cultura? E por que não pensar no surgimento de uma “outra” identidade, composta por várias culturas? Talvez o surgimento de uma nova identidade possa significar uma globalização mais humana.

1.2 IDENTIDADE E SUA RELAÇÃO COM A CULTURA NA CONSTITUIÇÃO DO MATOPIBA

O mundo mais humano que se deseja por meio da globalização, que ocorre diariamente, pode ser identificado também através da educação. Pode ser percebido na relação existente entre educação e cultura, entre a interação de identidades diferentes. Como escrito anteriormente, na introdução, é possível afirmar que a região do Matopiba é um exemplo de que não existe uma cultura homogênea em nosso país. Nessa região se encontram pessoas de vários locais do Brasil, com diferentes interesses, culturas e identidades culturais. Por isso a necessidade de se entender o que é identidade e qual sua importância para as pessoas.

O conceito de identidade que se faz uso nessa dissertação, não é o de Registro Geral ou Carteira de Identidade, como também é conhecida. Trata-se aqui da identidade como característica social, cultural, visual, de gênero e pessoal. Mostrando assim que identidade pode ser entendida como uma marca individual, que foi construída ou está em constante construção/modificação, conforme as influências externas. Essas influências externas podem ser a educação recebida e vivenciada no cotidiano, a sociedade em que se vive e se encontra em constante modificação, a cultura que se observa/vive/revive e é modificada, e a

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globalização. Todas essas influências acabam por modificar, moldar, criar e recriar a identidade do indivíduo.

Diante de tanta influência sobre a identidade, Hall (2014) chama a atenção para a possibilidade de se estar vivendo uma “crise de identidade”, que surge a partir do seguinte argumento: “as velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o mundo social, estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo moderno, até aqui visto como um sujeito unificado” (HALL, 2014, p. 9). Para o autor, a identidade cultural na modernidade seria um dos possíveis meios para entender essa possível “crise”. Crise essa que a região do Matopiba, vive a mais de 30 anos, com a vinda de muitos imigrantes de diferentes locais do Brasil. Essa região que antes era composta por uma cultura homogênea, na qual as famílias, na sua maioria, vivenciavam cada dia uma nova despedida de um membro indo desbravar outras realidades, em busca de melhores condições de vida, agora se modificou. As despedidas continuam para algumas famílias, mas o cenário que se percebe hoje é de reencontros, muitos filhos retornaram para suas casas. Esses retornos de familiares e essa vinda de pessoas “novas” /diferentes modificam cada dia mais a realidade do local. Essas pessoas trazem em suas bagagens mais do que roupas e recordações, trazem mudanças boas e ruins, a globalização, novos aprendizados, diferentes culturas, traços de uma identidade que antes não possuíam ou que eram desconhecidas por aquela sociedade.

Para Hall (2014, p. 10-11), há três concepções de identidade. A primeira seria o sujeito do Iluminismo, um indivíduo “totalmente centrado, unificado, dotado das capacidades de razão, de consciência e de ação [...]. O centro essencial do ‘eu’ era a identidade de uma pessoa”. A segunda concepção é a do “sujeito Sociológico onde o núcleo interior do sujeito era formado na relação com outras pessoas importantes para ele, que mediavam para o sujeito os valores, os sentidos e os símbolos dos mundos que ele/ela habitava”. A terceira concepção é a do “sujeito Pós-moderno contextualizado como não tendo uma identidade fixa, essencial ou permanente”. Esse estudo refere se a terceira concepção de identidade que Hall descreve. Acredita-se que essa terceira concepção descreve a região do Matopiba e a cidade de Balsas/MA. A partir do momento em que decide “sair” ou “deixar” o local onde tem familiares e amigos de longa data, para ir para longe morar, firmar residência, construir novos caminhos, já basta para identificá-los como sujeitos sem “identidade fixa”. Quando uma pessoa muda de rua, de bairro, de cidade, de estado ou país, está livre de identidades permanentes, apresenta-se aberto ao novo, ao desconhecido e principalmente à experiência de aprender o “novo”, a identificar identidades e culturas diferentes das suas, aprender a ser

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diferente. Identifica-se assim quem vem para a região do Matopiba, um indivíduo disposto a aprender a ser e a fazer diferente.

O sujeito pós-moderno tem sua identidade cultural diretamente relacionada com a globalização e essa se modifica e causa modificações cada dia mais rápidas. As sociedades se modificam ao ritmo que recebem as informações de outros lugares, o que ocorre de forma muito rápida atualmente, devido aos vários meios de comunicação existentes. Woodward (2013, p. 21) defende que “a homogeneidade cultural promovida pelo mercado global pode levar ao distanciamento da identidade relativamente à comunidade e à cultura local”. Este distanciamento pode causar o desaparecimento da identidade de uma sociedade, pois como as pessoas migram com maior facilidade, elas também levam consigo sua identidade cultural e com isso auxiliam para a modificação da identidade do local para onde vão.

A identidade para Woodward (2013, p. 11) “é marcada pela diferença, mas parece que algumas diferenças são vistas como mais importantes que outras, especialmente em lugares particulares e em momentos particulares”. A cada dia as sociedades se dizem diferentes umas das outras. Porém, essas diferenças são “passageiras”, pois quando menos se espera as sociedades se modificam e constituem uma aparência semelhante umas com as outras. Por exemplo, um churrasco “tipicamente gaúcho”, a costela assada no chão, é feita no Maranhão da mesma maneira que no Rio Grande do Sul, porém por maranhenses. Esse feito já pôde ter sido visto como uma afronta assim como poderá vir a ser o motivo de discórdias entre culturas e ou aproximações entre elas. Diante de inúmeras identidades disponibilizadas nos dias atuais, o indivíduo é livre para modificá-la conforme sua realidade e pode reconstruir cada uma delas para seu uso. É o que se considera que aconteça entre as culturas dos sertanejos e sulistas, durante o convívio entre elas, as mesmas podem fazer uso ou transformar a cultura entre si para uso comum.

O sujeito que migra assume diferentes identidades em diferentes momentos de sua vida, para Hall (2014, p. 12) “a identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente é uma fantasia”. Não há no indivíduo uma única identidade ou uma identidade fixa, verdadeira, conforme o sistema de significação vai mudando, o indivíduo vai se identificando com alguma dessas mudanças e assim de forma temporária ou não, altera sua identidade. Para Woodward (2013, p. 19) “a cultura molda a identidade ao dar sentido à experiência e ao tornar possível optar, entre as várias identidades possíveis, por um modo específico de subjetividade”. Woodward faz ainda uso da argumentação de Rutherford (1990, p. 19-20, in WOODWARD, 2013, p. 19) “[...] a identidade marca o encontro de nosso passado com as relações sociais, culturais e econômicas nas quais vivemos agora [...] a identidade é a

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intersecção de nossas vidas cotidianas com as relações econômicas e políticas de subordinação e dominação”.

Os meios de telecomunicação controlam, em grande parte, essa relação econômica e política de subordinação e dominação. As identidades culturais que são transmitidas de uma sociedade para outra nem sempre condizem com a realidade, por vezes são transmitidas por interesses econômicos e políticos muito além do que se pode descrever. Com essa influência da mídia em mostrar os fatos como sendo a realidade de cada local, o que seria então a identidade nacional, se cada lugar do país é diferente? Como se pode ter uma identidade nacional única para toda a nação?

Hall (2014, p. 35) questiona se todos da sociedade estariam mesmo pertencendo a uma única e “grande família nacional”:

não importa quão diferentes seus membros possam ser em termos de classe, gênero ou raça, uma cultura nacional busca unificá-los numa identidade cultural, para representá-los todos como pertencendo à mesma e grande família nacional. Mas seria a identidade nacional uma identidade unificadora desse tipo, uma identidade que anula e subordina a diferença cultural? Essa ideia está sujeita à dúvida, por várias razões. Uma cultura nacional nunca foi um simples ponto de lealdade, união e identificação simbólica. Ela é também uma estrutura de poder cultural.

Se analisar o passado, a unificação das culturas na maioria das vezes ocorreu de forma violenta (sem haver um tipo de negociação, troca ou acordo), um exemplo, são os Jesuítas que de certa forma “impuseram” a sua cultura aos índios apresentando a eles outras formas de trabalho, religião, moradia (a relação entre Jesuítas e Indígenas foi uma relação de poder, marcada pela ocorrência de uma hibridação cultural a qual ocorreu de ambos os lados). Em análise, as sociedades foram compostas por diferentes classes sociais, etnias, gêneros, hábitos. A desigualdade há muito tempo vem ocorrendo entre as classes sociais, se não fosse assim não se teriam tidos escravos. As mulheres eram vistas como “guardiãs do lar” e ainda hoje as sociedades continuam sustentando esse mesmo tratamento, percebendo o papel das mulheres como responsáveis pelos cuidados sobre a família. “Em vez de pensar as culturas nacionais como unificadas, deveríamos pensá-las como constituindo um dispositivo discursivo que representa a diferença como unidade ou identidade” (HALL, 2014, p.36; grifo do autor). A identidade precisa da diferença para existir e se constituir. Uma identidade nacional pode estar relacionada com a língua, com as leis, mas não ser usada para unificar costumes, crenças, pois as sociedades modernas são compostas por diferentes culturas, a sociedade que compõem a região do Matopiba é um exemplo disto. A diversidade existente está diretamente ligada à

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migração que ocorre para aquele local e estas culturas, na maioria das vezes, interagem de forma pacífica e em constante troca umas com as outras.

Para Hall (2014, p. 36), “as nações modernas são, todas, híbridos culturais”. Concorda-se com Hall, pois se entende que essa hibridação seja o resultado da integração constante que ocorre entre as sociedades, em um mundo onde a diversidade faz parte do dia a dia destas, de forma muito presente em todos os âmbitos. As pessoas atualmente transitam mais entre as sociedades, se atualizam mais diante de tanta informação. Isto tudo faz com que “novas” identidades sejam criadas, alteradas, reorganizadas e seguidas, destruídas e abandonadas, por um mundo que está em constante modificação.

As modificações que ocorrem com as identidades podem ser vistas e acompanhadas de perto na região do Matopiba. Um dos motivos que possibilita esse acompanhamento é a constante migração que ocorre para aquele local. Existe o frequente conhecimento de pessoas vindo para essa região e saindo para outros locais. O processo de migração e imigração é constante e muito notável na região do Matopiba, principalmente na cidade de Balsas/MA.

1.3 A MIGRAÇÃO DE NORTE A SUL, NA CONSTITUIÇÃO DA REGIÃO MATOPIBA

As migrações podem ser consideradas responsáveis pelo início das cidades, das sociedades, da cultura e da identidade de um lugar. O que permite pensar sobre isso é a história de cada lugar. Um exemplo disto é a constituição da cidade de Balsas/MA, que tem sua origem às margens de um rio, na migração de um baiano foragido da seca. Essa convivência entre as diferentes culturas e identidades é que fomenta pensar no surgimento de uma hibridação cultural.

A migração por sua vez está relacionada com a globalização. Sendo motivada em maior parte pelas necessidades econômicas, por isso as pessoas se espalham pelo globo. “Essa dispersão das pessoas ao redor do globo produz identidades que são moldadas e localizadas em diferentes lugares e por diferentes lugares” (WOODWARD, 2013, p. 22). Essas identidades podem desestabilizar identidades e serem facilmente desestabilizadas também, “o conceito de diáspora é um dos conceitos que permite compreender algumas dessas identidades – identidades que não têm uma ‘pátria’ e que não podem ser simplesmente atribuídas a uma única fonte” (WOODWARD, 2013, p. 22, grifo do autor). Para entender a importância ou a necessidade de se ter uma identidade, ou simplesmente para saber qual o papel desta na vida das pessoas, considera-se de grande valia entender o que de fato é

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migração e através desta saber o que ocorre entre as sociedades e culturas que se deslocam de um lugar a outro e como são vistas pela sociedade que as recebem.

Para Souza (1980, p. 33) a migração interna:

é um processo social resultante de mudanças estruturais de um determinado país, que provocam o deslocamento horizontal de pessoas de todas as classes sociais, que, por razões diversas, deixam o seu município de nascimento e vão fixar residência noutro. O processo migratório não é algo mecânico que ocorre entre um polo de expulsão e outro de atração. Nasce e se desenvolve num contexto social historicamente determinado.

Diante do exposto, o termo migração será usado durante a escrita por se entender que seja o mais adequado perante o tema que se estuda e também porque os indivíduos não são fixos de uma sociedade, as pessoas transitam muito entre os estados. Um exemplo disto, são os indivíduos mais jovens, eles mudam de local de tempos em tempos sempre à procura de melhores condições (econômicas, sociais) ou de algo diferente, algo “novo”7

. Este fluxo migratório é bastante presenciado na região do Matopiba, onde há uma circulação constante de pessoas que chegam e que partem.

Essas migrações ocorrem no país desde antes do descobrimento do Brasil. E desde então os motivos que levaram aos deslocamentos das sociedades continuam os mesmos, na essência, até os dias atuais. A procura por áreas férteis para expansão, por mão de obra qualificada, por oportunidades de melhorias financeiras, por melhores escolas, melhores condições de vida. Tudo isso leva ao deslocamento das sociedades, justificando ou problematizando a migração que ocorre entre os Estados brasileiros. O deslocamento dessas sociedades se dá cada vez de forma mais rápida e fácil devido aos meios de transportes disponíveis e da telecomunicação, que permite conhecer um pouco do local de destino sem antes ter estado lá.

Define-se aqui, conforme Souza (1980, p. 35), o migrante “como sendo aquele indivíduo, de qualquer classe social, que resolveu abandonar o seu município de nascimento para fixar residência noutro”. Sempre levando em consideração que “o processo migratório envolve pessoas de todas as classes sociais” (SOUZA, 1980, p. 34). Assim como a globalização, também o ato migratório não escolhe classe social para ocorrer. Os indivíduos acabam, por necessidade ou não, migrando para outras regiões do país com o passar do tempo e conforme as influências recebidas no decorrer deste.

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Esse é um dos motivos que sinalizam a necessidade de atenção com os migrantes, pois eles carregam consigo sua cultura, seus costumes e tradições. Mesmo que não se queira assumir, a cultura segue junto das pessoas para onde quer que se vá. Ter uma identidade cultural se faz necessário na caminhada junto à sociedade. Para Ribeiro (1995, p. 267), “nenhum povo vive sem uma teoria de si mesmo. Se não tem uma antropologia que a projeta, improvisa-a e difunde no folclore”. As sociedades precisam do passado para se manterem vivas, mesmo que as pessoas se considerem seres do mundo e para o mundo, necessitam conhecer e reconhecer sua origem. Isto ocorre simplesmente para entender ou repensar seus comportamentos junto à sociedade.

A região do Matopiba, com Balsas/MA ao centro, é composta por vários indivíduos vindos de muitas regiões do país, todos ou na sua grande maioria, vindos em função da agricultura. São vários os relatos de pessoas que saíram da região Sul do país para cultivar terras na região do Matopiba. Essa região é conhecida pela vasta diversidade cultural, mas principalmente pelo seu potencial agrícola, sendo considerada atualmente pelo Governo Federal como a mais nova fronteira agrícola do país, por meio do Decreto 8.447 de 06/05/2015 (Brasil, 2015, p. 02). Essa visão agrícola vem de anos anteriores desde o tempo da coroa onde o que mais se cultivava na época eram as grandes lavouras de cana-de-açúcar para os engenhos e um pouco mais tarde a criação de gado, inicialmente para o consumo dos engenhos e depois como atividade econômica.

Essa atividade agropecuária de criação de gado levou muitas pessoas a migrarem para o Norte e o Nordeste do Brasil, para trabalharem como “vaqueiros”, e os próprios vaqueiros costumavam migrar com o gado para outros lugares em busca de comida e água.

Com o gado e com os bodes crescia a vaqueirada, multiplicando-se à toa pelas fazendas, incapaz de absorver lucrativamente a tanta gente nas lides pastoris, pouco exigentes de mão de obra. Assim é que os currais se fizeram criatórios de gado, de bode e de gente: os bois para vender, os bodes para consumir, os homens para emigrar (RIBEIRO, 1995, p. 345).

A população foi aumentando, as famílias de vaqueiros foram procurando alternativas para a sua sobrevivência e o que se deu foram lavradores que trabalhavam em um regime de meação (cultivavam a terra “arrendada” e deveriam entregar ao dono da terra metade da colheita como pagamento). Com o aumento da população também aumentou a mão de obra que, por mais precária que fosse, foi requisitada em todo território brasileiro.

Para Silva (2015, p. 1), “as migrações estiveram e ainda estão relacionadas ao ciclo econômico, que atraem a população que busca conquistar melhorias econômicas e benefícios

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sociais”. Como forma de demonstrar essa relação, Silva descreve as migrações ocorridas no país por acontecimento histórico, conforme segue.

No século XVII o que motivou o deslocamento da população do litoral nordestino em direção ao Sertão e proximidades do Brasil Central, foi a pecuária extensiva. A pecuária naquela época era usada para atender as necessidades dos engenhos. Para o século XVIII, a atividade de mineração, foi a responsável pelo deslocamento da população do Nordeste e de São Paulo em direção à região das Minas Gerais (SILVA, 2015, p. 1).

A atividade cafeeira, na segunda metade do século XIX, é uma das responsáveis pelo movimento interno ocorrido em direção ao Estado de São Paulo, pelos mineiros e baianos. Os Nordestinos que migram em direção à Amazônia, são em sua maioria retirantes do Sertão nordestino. Motivados pelo declínio da borracha, muitos dirigem se para a região Sudeste. Essa migração ocorre no fim do século XIX e início do século XX (SILVA, 2015, p. 01-02).

Em sintonia a todas essas movimentações migratórias, também ocorre no século XIX na região de Balsas/MA a migração de vaqueiros, de vendedores, bem como de pessoas esperançosas à procura de um lugar próspero ao desenvolvimento econômico e social. Assim como o primeiro morador do vilarejo “Vila Nova”, que com o passar do tempo torna-se a cidade de Balsas/MA, conforme será relatado na sequência. Posteriormente a constituição de Balsas/MA, já no século XX na década de 1970, é que os sulistas iniciam sua migração para a região Norte e Nordeste do país, em busca de terras férteis para a constituição de suas fazendas e cultivo agrícola. Esse tipo de migração propiciou relações econômicas (terra x produção x mão de obra), mas, para além disso, relações culturais e de identidades se fortaleceram.

1.3.1 Matopiba para além de uma fronteira agrícola: historicamente um núcleo de encontro cultural entre sulistas e sertanejos

Para que se compreendam os encontros entre as diferentes culturas, é preciso antes aceitar que somos parte da história dessas culturas, que somos integrantes de uma ou de várias sociedades. Silva (2016), elenca aspectos históricos das transformações estruturais na sociedade brasileira que se enquadram também para pensar a sociedade que compõe a região do Matopiba:

cientes de que somos frutos das gerações anteriores e que, mesmo sendo parte de um mundo em contínua construção e reconstrução, a sociedade contemporânea, os

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sujeitos que integram essa sociedade foram constituídos no meio social de que fizeram parte e assim se forma cada nova geração, carregada de tradição, dos ensinamentos e dos princípios transmitidos (SILVA, 2016, p. 89).

Através do conhecimento do passado é que se faz possível compreender o presente, compreender o porquê das migrações e porque se deram tais encontros culturais que possibilitam pensar o surgimento de uma nova cultura. Para que se consiga entender o Matopiba para além de uma fronteira agrícola, é preciso ver Balsas/MA como um núcleo de relações culturais entre sertanejos e sulistas, através de fragmentos da história migratória do Sertanejo/Nordestino e do Sulista/Gaúcho.

1.3.1.1 Balsas no centro do Matopiba: um núcleo de relações culturais entre sertanejos e sulistas.

A migração e a história fazem parte da vida das pessoas. Quem conhece a história de sua cultura e origens possui dados ou fragmentos de memória que possibilitam a compreensão das transformações causadas pela globalização em sua sociedade, em sua cultura, em sua identidade, em sua educação. Assim como escreve Pereira (2014, p. 04), “sem este conhecimento estamos fadados a ficar eternamente no esquecimento, sem saber quem somos, de onde viemos e sem valorizar os migrantes que aqui chegaram e alavancaram o desenvolvimento e o progresso que nos ladeiam”. Por entender a importância da história das sociedades é que este subcapítulo foi escrito.

Balsas/MA, assim como muitas cidades deste país, foi constituída por migrantes, pessoas que identificaram nas margens do rio um sinal promissor de desenvolvimento. O que no início dos tempos era apenas um local de descanso para os vaqueiros e seus rebanhos foi aos poucos se tornando um pequeno vilarejo. Inicialmente, apenas habitavam esse local as pessoas que tinham ali suas casas de comércio, que eram frequentadas pelas comitivas que transitavam de um lugar a outro com seus rebanhos.

Segundo relata Pereira (2014) em seu livro “Balsas Fragmentos de Memórias”, o primeiro nome dado ao vilarejo foi “Vila Nova”. Este nome foi dado pelo primeiro morador do local, um baiano, flagelado da seca, que montou ali sua casa de comércio onde vendia fumo e cachaça para os vaqueiros que passavam. Com o passar dos anos, Vila Nova foi crescendo e muitos comerciantes também começaram a passar por aquele local. Até que um dia um desses comerciantes perdeu seus animais de carga, devido uma doença que os atacara. Para o comerciante não perder suas mercadorias e conseguir chegar ao destino final, construiu

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uma balsa com talos de Buriti8. Desse dia em diante as pessoas começaram a utilizar esse tipo de transporte fluvial para deslocarem-se de uma margem a outra do rio e principalmente para irem a outras cidades e vilarejos mais distantes. Para longas distâncias, as balsas usadas possuíam cobertura de palha de coco para proteger os usuários do sol e da chuva, uma base de areia para poder ser feito o fogo que servia tanto para aquecer a comida quanto para aquecer os passageiros durante a noite. O rio, no qual a cidade cresceu às margens, e a própria cidade começaram a serem chamados de Balsas, motivados pelo uso constante e intenso das balsas como meio de transporte.

O rio que deu início à cidade de Balsas/MA sempre foi utilizado pelos moradores e visitantes da cidade. O clima propício para banhos foi um aliado para que se dividisse o rio em portos, para evitar que homens, mulheres e crianças utilizassem o mesmo local para “banhar”9

, proporcionando assim uma maior liberdade para a diversão, sem constrangimentos entre gêneros e idades. Outra utilização do rio se dava pelas lavadeiras, que ganhavam dinheiro lavando, nas margens do rio, as roupas dos moradores e visitantes da cidade. A diversão às margens e dentro do rio, bem como sua utilização pelas lavadeiras, ainda é possível de ser vista e apreciada junto ao rio Balsas.

Sobre a educação local, no ano de 1929 foi constituída a primeira escola (cadeira de letras como era chamada na época) de Balsas/MA, com o apoio de padres e mantida com auxílio dos moradores da época. Posteriormente a isto, em 1952, chegaram à cidade quatro padres que, preocupados com a educação da população, criaram um educandário feminino, o qual foi entregue para as Irmãs Franciscanas Capuchinhas. Foi construído por eles o hospital da cidade, que recebeu o nome de Hospital São José, o seminário São Pio X e a pedra fundamental da Catedral Sagrado Coração de Jesus. O hospital permanece funcionando até os dias de hoje, bem como o seminário que transformou-se em uma escola mista, que atende alunos a partir do 1º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio, que funciona no regimento Marista.

Com os avanços da construção civil, Balsas/MA ganhou, em 1956, a ponte de madeira, que liga ainda hoje o centro da cidade ao bairro Trizidela. A ponte que foi construída inicialmente para ligar uma margem à outra é um marco histórico do lugar, pois possibilitou a união dos povos que habitavam essas margens, um povo que nem sempre foi unido, que nem

8 O termo buriti é a designação comum das plantas dos gêneros Mauritia, Mauritiella, Trithrinax e Astrocaryum,

da família das arecáceas (antigas palmáceas). Mais especificamente, o termo costuma se referir a Mauritia

flexuosa (Mauritia vinifera Mart.), uma palmeira muito alta (wikipedia).

9 Destaco este termo, pois as pessoas desta região o utilizam em maior frequência para definir o ato de tomar

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