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FRANCIS GALTON, A EUGENIA E OS PARADIGMAS DO SEU TEMPO 1 O “PAI DA EUGENIA” NA CIÊNCIA DO SÉCULO XIX.

“Quem quiser saber, ao certo, o que vem a ser Eugenia, precisa ler Galton no original”.

ROQUETTE-PINTO.87

A cidade de Sparkbrook, em Birmingham, na Inglaterra, foi um local de íntima ligação para a família de Francis Galton (1822-1911). Em suas memórias, descreve esta aproximação por meio da genealogia paterna, onde Samuel Galton (1753-1832) (avô) e Samuel Tertius Galton (1783-1844) (pai), estiveram intimamente ligados. Este também foi o local do seu nascimento em 16 de fevereiro de 1822.88

A justificativa em traçar essa pequena genealogia de Galton nos remete a importância de seus parentes na sociedade que compunham. Seu avô era um membro da chamada Sociedade Lunar, que contava com a participação de aristocratas e cientistas da época. Além do avô Samuel Galton - que era um “homem de ciência” e um respeitado “homem de negócios” -, participavam desta o Dr. Erasmus Darwin (1731-1802) (médico e avô de Charles Darwin e Francis Galton), o químico e geólogo James Keir (1735-1820), o botânico e médico William Withering (1741-1799), Matthew Boulton (1728-1809) (fabricante de produtos de metal que posteriormente foi parceiro de James Watt (1736-1819) na produção de máquinas a vapor), por exemplo. Como salientou Galton, apesar da sociedade ser composta por poucos participantes, ela possuía um alto requisito para a seleção de seus membros.89

Esta sociedade científica da qual os avôs de Galton participavam não era uma exceção da Inglaterra90. Sua importância além do diálogo científico sugere uma preocupação dos “homens de ciência” e propriedades em torno do diálogo entre eles e, consequentemente, para a

87 ROQUETTE-PINTO. Seixos rolados – estudos brasileiros. Rio de Janeiro: Mendonça, Machado e Cia., 1927, p. 167.

88 GALTON, Francis. Memories of my life. London: Methuen & CO, 1908, p. 2. Para mais detalhes da árvore genealógica de Francis Galton ver também: BULMER, Michael. Francis Galton: pioner of heredity and biometry. Maryland: The John Hopkins University Press, 2003, p. 2; GILLHAM, Nicholas Wright. Sir Francis

Galton: From African exploration to the birth of eugenics. New York: Oxford University Press, 2001, p. 14.

89 Ibid., p. 3.

90Cf.: Robert Schofield nos fornece outros exemplos, como: “Manchester Literary and Philosophical Society, a

Derby Philosophical Society, a Literary and Philosophic Society of Newcastle-on-Tyne, and philosophic clubs in Liverpool, Bristol, Leeds, and many other places” (SCHOFIELD, Robert E. The Industrial Orientation of Science in the Lunar Society of Birmingham. In: Chicago Journals. Isis, Vol. 48, No. 4 (Dec., 1957), p. 409).

disseminação do conhecimento e avanço científico-social-industrial da época. Os colóquios dessa sociedade geraram aproximação de pesquisas e técnicas do que estavam realizando nos campos que atuavam. Prova disso são os interesses em comum como o de James Watt e Matthew Boulton, no que concerne ao maquinário a vapor. Mesmo com uma evidente preocupação aos problemas industriais, as conversações contribuíram para uma exploração da ciência, no seu sentido geral. Para Robert Schofield, “no consideration of the relationship between science and technology during the early years of the industrial revolution can afford to ignore the activities of the Lunar Society”91.

A pesquisadora Jenny Uglow escreveu uma interessante obra sobre os homens que participaram da Sociedade Lunar, destacando a importância tamanha para o avanço do conhecimento. Contextualmente, a autora faz uma referência sugestiva, para aquela atmosfera que surgia no país:

Science was popular because it was 'gentlemanly' and cultured, and like all crazes it produced its share of jokes. But is was also a great spur to industry, helping Britain to surge ahead of other European nations. As professor and savants brought their improved mathematics and theoretical knowledge of chemistry, minerals, heat or hydraulics to bear on the ad hoc wisdom of old crafts, so the artisans developed new processes and technologies at an astonishingly accelerated rate. The manufacturers among the Lunar men pounced on the new findings. Their ambitions were unbounded: 'I hate piddling you know', wrote Wedgwood, who also declared that he would 'surprise the World with wonders'.92

Seu avô, além da ciência, era um grande empreiteiro nos negócios, com destaque à suplementação em grande escala de armas para o exército durante a guerra. Conhecido como o “Capitão da indústria”, fundou um banco de auxílio nos tempos de batalha e prosperou em suas finanças. Essa posição, descrita pelo próprio Francis Galton, coloca-o em um grau importante daquela localidade de Birmingham, bem como para a Inglaterra de modo geral. Notamos a influência do seu avô no que tange a sua formação e, portanto, seu apreço e curiosidade pela ciência.

Citamos Charles Darwin (1809-1882) em parágrafos anteriores, e não por acaso enfatizamos o laço familiar entre ele e Francis Galton. Isso pode ser demonstrado pelo próprio Galton em suas memórias ao transparecer o pleno orgulho em fazer parte da família. Do outro lado da árvore genealógica ele cita Dr. Erasmus Darwin, - membro da Sociedade Lunar - e o parentesco com o que ele chamava de the great naturalist. Ele ratifica como sua carga genética parecia ser “especial”, pois além do próprio Galton teria formado outro grande cientista na

91 Ibid., p.415.

92 UGLOW, Jenny. The Lunar Men: The Friends Who Made the Future 1730-1810. London: Faber & Faber, 2003, p. XVI-XVII.

família em diversas gerações. Em suas palavras diz que: “His hereditary influence seems to have been very strong”93, se referindo ao Dr. Erasmus Darwin. Uma frase que pode parecer casual em um livro de memórias revela uma crença de Galton, que será estudada nesse trabalho e que motivou parte da sua vida na busca de identificar os “bem-nascidos”, ou conceitualmente, a eugenia. Como notou Nicholar Gillham, Erasmus Darwin publicou várias contribuições sobre os estudos de plantas e foi sempre visto por Galton com grandes admirações.94

De fato, Galton era crente na contribuição de sua família ao longo das gerações para a ciência, estatística e poesia95, e não à toa, os familiares de Galton acreditavam que ele possuía certa aptidão para a ciência, em especial, a medicina. Investiu em medicina no King's College Medical School, em Londres, mas parece não ter apreciado o curso, mesmo com um ótimo histórico. A mudança veio em 1840, quando se matriculou no curso de matemática na Cambridge University.96

Desde suas passagens na Cambridge University, até suas viagens ao Egito, Sudão e, posteriormente, sob o auspício da Royal Geographical Society a outros lugares da África, como a região da África do Sul, Namíbia e Botsuana, relatados nos livros Narrative of an Explorer in Tropical South Africa97 e The Art of Travel98, nos trazem à tona os contatos de Galton durante o período do seu amadurecimento intelectual. Um caso que chama a atenção foi do seu contato com Herbert Spencer (1820-1903), que contribuirá para o pensamento do darwinismo social e das conceituações do nosso trabalho, no que diz respeito às “evoluções das raças humanas”. Uma interessante relação entre Spencer e Galton aconteceu quando ambos escreveram em um periódico denominado The Reader. Juntamente com Huxley, que ficou responsável por escrever fisiologia, e Spencer, a filosofia, Galton articulou as questões inerentes a “Viagens e Geografia”, devido a sua experiência exploratória. O jornal acabou não publicando por mais de um ano com problemas financeiros e encerrou suas atividades. A criação de um periódico,

93GALTON, Fancis. Memories of my life. op.cit., p. 6-7.

94 GILLHAM, Nicholas Wright. Sir Francis Galton: From African exploration to the birth of eugenics. op.cit., p. 16.

95 Ibid., p. 11.

96 Cf.: KEVLES, Daniel J. In the name of eugenics: genetics and uses of human heredity. Berkeley and Los Angeles: University of California Press, 1985, p. 7.

97 Esta obra é uma narrativa de viagem da trajetória de Galton no Sudoeste africano. Ele pôde entrar em contato com a fauna e flora da região, bem como povos do local, como Ovampos, Damaras, Namaquás, entre outros. Seu relato como viajante/explorador nesta fase da sua vida ajuda-nos a compreender a formação do seu pensamento perante outras civilizações, tendo em vista a sua carga cultural e maneira como enxerga os outros povos. Suas anotações de viagem rendaram-lhe posteriormente uma medalha de ouro pela Royal Geographical Society. Cf.: GALTON, Francis. Narrative of an Explorer in Tropical South Africa. London: John Murray, Albemarle, 1853. 98 Cf.: GALTON, Francis. The Art of Travel. London: John Murray Albermale Street, 1860.

mesmo em um curto espaço de tempo e com expoentes científicos da época, mostra a interação, sua inserção na ciência e o reconhecimento de Galton com os pares.99

Por este contexto, percebemos parte da influência que Galton teve, desde sua família até suas atividades no início de sua formação acadêmica. Essa trajetória abrange um homem da ciência por excelência, dedicando-se também como viajante, estatístico, matemático e geógrafo. Parece agora o momento de entrarmos mais especificamente no contexto da eugenia, e sua influência propriamente dita nas formulações científicas que corroboram com o pensamento acerca da raça e hereditariedade, que passou vigorar com mais ênfase na segunda metade do século XIX. Posto isso, optamos em adentrar nas obras mais importantes de Galton, em que sua tese do “talento hereditário” encontra-se em desenvolvimento e nos permitirá compreender suas observações sobre a eugenia. Nesta tentativa de examinar os estudos de Galton, nos focaremos em quatro obras que se apresentam como importantes fontes, com espaços temporais significativos e amadurecidos da eugenia: Hereditary Talent and Character (1865), Hereditary Genius (1869), Inquiries Into Human Faculty and its Development (1883) e Essays in Eugenics (1909).

A escolha de trabalhar com as citadas obras, e não outras, passa por um rigor de seleção da nossa análise, que não tem a intenção de se apropriar na direção de uma “biografia” de Galton, mas de estudar suas inquirições no que diz respeito a eugenia, hereditariedade, sua posição enquanto ciência de uma época e, incluso nesta redoma, a “questão racial”.

Sendo assim, a primeira, trata-se de artigo denominado Hereditary Talent and Character, o qual podemos considerar como um estudo primário de Galton sobre os traços hereditários. A segunda, em formato de livro, Hereditary Genius, desenvolveu e ampliou a discussão do artigo anterior e efetiva o nascimento do pensamento do “talento por meio da hereditariedade”, para muitos o ideal sobre eugenia - mesmo sem cunhar o conceito ainda - está ali. A terceira obra, Inquiries Into Human Faculty and its Development nos interessa porque foi neste momento que Galton cunha o termo “eugenia”. Apesar de trabalhar as proposições do retrato composto, há uma maturidade conceitual na sua teoria eugênica, isto é, a eugenia para Galton começa a tomar um corpo teórico mais desenhado e complementando as posições sobre o "talento hereditário". Por fim, a última obra é Essays in Eugenics, que nos trará no fim da vida de Galton um entendimento de toda a fase da sua proposta hereditária e da eugenia. Acreditamos que ao término da análise poderemos entender a importância da eugenia para este trabalho e sua contribuição para as pesquisas na temática, tendo em vista a busca por

compreender o pensamento de Galton, que muitas vezes é interpretado com certos reducionismos.

Na obra de Nancy Leys Stepan, A hora da eugenia: raça gênero e nação na América Latina, a autora salienta a contribuição de A origem das espécies (1859), de Charles Darwin, para a empreitada de Galton no estudo da hereditariedade humana, sendo estas, “agrupadas de nova maneira, constituiriam o cerne da eugenia: a importância da variedade hereditária na reprodução doméstica, a sobrevivência do mais apto na luta pela vida e a analogia entre reprodução doméstica e seleção natural”100. Seguindo essa pista, Hereditary Genius compila as ideias mais concisas sobre o que viria a ser a eugenia projetada por Galton, fazendo-se uma obra indispensável para análise da temática. Entendemos, portanto, esta obra como incisiva na elaboração do “talento hereditário” por Galton e da eugenia como um todo.

A origem das espécies exerceu uma forte influência para Galton no desenvolvimento da sua teoria da evolução social. De fato, a proximidade pelo parentesco pode ter um significado relevante aos estudos dos dois cientistas, mas deve-se ressalvar o distanciamento de ambos no trato de suas especificidades científicas. Como naturalista do seu tempo, a obra de Darwin desempenhou grande influência para os pares da época, não só na reinterpretação de teorias Lamarckistas e a resignificação das noções do uso-e-desuso, como também acerca de questões pontuais como evolucionismo e hereditariedade, em que está última serviu como modelo para todos os defensores da eugenia.

Em estudos correntes do período, muitos atribuem apenas a Darwin o início da teoria da evolução, mas vale ressaltar a própria afirmativa do autor, da contribuição com uma teoria em desenvolvimento. Em tempo, ele demonstra as formulações Dr. Well (1813) e Sr. Matthew (1831) de que, para Darwin, o precederam no trato com a evolução das espécies.101 Hobsbawm ao versar sobre ciência em A Era do Capital apontou que o próprio conceito de evolução, apesar de novo, era familiar há décadas.102

Este estudo não tem o anseio de uma discussão metodológica sobre a validade ou as novas perspectivas historiográficas da sua obra clássica, porém temos o compromisso na ênfase de examinar uma ciência em desenvolvimento, que contribuiu para a ampliação das pesquisas do seu tempo, gerando novas expectativas a partir de sua elaboração, como por exemplo, o darwinismo social e a eugenia. A origem das espécies carrega um fardo em seu próprio nome

100 Ibid., p. 30.

101 DARWIN, Charles. A origem das espécies. 4ª. ed. Tradução de John Green. São Paulo: Martin Claret, 2004, p. 19-22.

102 HOBSBAWM, Eric J. A era do Capital, 1948-185. 5ª. ed. Tradução de Luciano Costa Neto. São Paulo: Paz e Terra, 2011, p. 383.

no envoltório da discussão da “origem” quando colide com By means of natural selection or the Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life103, ou seja, Darwin falava de uma origem das espécies por meio da seleção natural. Fica claro que a recepção do livro no seu tempo gerou um direcionamento nos estudos e, ao citarmos o darwinismo social de Herbert Spencer e a eugenia de Francis Galton, estamos elaborando formulações de uma ciência situada em meados do século XIX. Doravante, veremos a procedência dos diálogos entre os pesquisadores, que não por acaso comunicavam entre si, como pares da ciência. Ainda assim, recorrermos ao best-seller de Darwin quando for necessário, para complementar as análises que concernem ao contexto entre Galton e o naturalista inglês.

De modo geral, o impacto da tese de Darwin contribuiu para diversas controvérsias e interpretações teóricas sobre sua aplicabilidade no meio social. Nas memórias de Galton, ao tratar sobre seus estudos acerca da hereditariedade, é possível identificar a importância das pesquisas de Darwin para suas formulações e para o contexto científico da época. Diz Galton:

The publication in 1859 of the Origin of Species by Charles Darwin made a marked epoch in my own mental development, as it did in that of human thought generally. Its effect was to demolish a multitude of dogmatic barriers by a single stroke, and to arouse a spirit of rebellion against all ancient authorities whose positive and unauthenticated statements were contradicted by modern science.104

O destaque dessa produção por Galton traduz sua consideração da autoridade no tratamento com a hereditariedade. A importância de Darwin para Galton pode ser corroborada mediante as trocas de correspondências entre ambos. Em suas memórias percebemos essa comunicação quando Galton salienta a estima por seu primo aconselhá-lo sobre seus escritos em Art of Travel, que para ele, “I cannot resist quoting the following letter from my cousin Charles Darwin, the great naturalist, whose opinion as the author of the Voyage of the Beagle was naturally valued by me most highly”105. A página seguinte é enfática ao colocar a resposta de Darwin sobre seus escritos106, pela linguagem é perceptível a proximidade entre ambos, o que não significa que em suas pesquisas individuais sobre hereditariedade tenham tido plena concordância.

103 Cf.: DARWIN, Charles. Origin of species by means of natural selection, or The preservation of favored races

in the struggle for life. New York: P. F. Collier, 1902.

104 GALTON, Fancis. Memories of my life. op.cit.., p. 287. 105 Ibid., p. 162.

106 Em resposta a Galton, segue o trecho da carta de Darwin: "DowN, jan. 10, ?1855 "My dear Galton, I received your kind present yesterday. I always thought your idea of your Book a very good one, and that you would do it capitally, and from what I have seen my forethought is, I am sure, quite justified. I hope that your volume will have a large sale, but what I fully expect is that it will have a long sale, and if you save from some disasters half a dozen explorers, I feel sure that you will think yourself well rewarded for all the trouble your volume must have cost you. Believe me, my dear Galton, yours very truly, C. Darwin” (Ibid., p. 163).

Nesse “divisor de águas científicas”, observa-se como a aproximação teórica de Darwin com Galton tornou-se profícua, mas não duradoura. Darwin procurou esboçar a teoria de transmissão dos caracteres, conhecida como “pangênese”, na crença de que esta era um mecanismo de transmissão hereditária por meio das “gêmulas”, que seria transferido de pai para filho e poderia ser alterada pelo ambiente. Em suma, o trabalho era impreciso, e pelos estudos dos caracteres, o meio ambiente não poderia influenciar na carga hereditária para viabilizar a teoria da melhoria das raças. Podemos ressaltar o ímpeto de Galton em demonstrar seu experimento na carta a Darwin a seguir. Em 12 de maio de 1870, Galton relata:

Meu estimado amigo Darwin. Boas notícias “coelhísticas”! Um coelhinho das últimas ninhadas tem uma pata branca. [...] {O}s filhotinhos se aglomeraram mostrando apenas a parte traseira e a cabeça, mas, em algum momento, o pé. A mãe recebeu uma transfusão cinza e branco, e o pai, de preto e branco. Isso, lembre-se, é de uma transfusão de apenas 1/8 parte de sangue estrangeiro em cada pai e mãe; agora, depois de muitos experimentos fracassados, melhorei muito o método de operação e estou começando a fazê-lo nas outras jugulares de meu estoque. Ontem operei dois que estão passando bem hoje e que agora têm 1/3 de sangue estrangeiro em suas veias. No sábado espero obter sucesso ainda maior, e continuarei adiante,

não importa quantos coelhos eu faça perder a vida, até obter pelo menos ½ de sangue estrangeiro. O experimento não é justo para a Pangênese, enquanto eu não chegar lá. 107

Na biografia sobre Galton, Karl Pearson (1857-1936), pesquisador e amigo do eugenista, nos diz que a partir desses experimentos do cientista acerca das pangêneses reduziram os contatos entre Darwin e Galton, encontrando após esse período pouco material da comunicação entre ambos.108

Autor de In the name of eugenics: genetics and uses of human heredity, Daniel Kevles acredita que a formulação de Darwin pela pangênese por meio das gêmulas e as experimentações de Galton com coelhos, possibilitaram acreditar que os caracteres poderiam ser passados de geração para geração. Não vinculados a Galton, os estudos de August Weismann reforçaram a ideia do “germoplasma”, o que daria respaldo das transmissões de caracteres para os postulados do que viria a ser a eugenia.109

Como pontuou Valdeir Del Cont, esta crença na teoria da pangênese de Darwin poderia receber tratamento especial, e que através das gêmulas resultaria em uma possibilidade de comprovação empírica desta herança. Isto, para o autor, que ao citar Galton, diz que ele

107 BURKHARDT, Frederick; EVANS; Samanta, PEARN, Alison. A evolução: cartas seletas de Charles Darwin, 1860-1870. Tradução Alzira Vieira Allegro. São Paulo: Editora UNESP, 2009, p. 280-281. [Grifo nosso]. 108 Cf.: PERARSON, Karl. The life, letters and labours of Francis Galton. v. 2. Cambridge: University Press, 1924, p. 156.

[...] propôs a sua teoria da herança em estreita sintonia com o desenvolvimento do debate biológico em curso, no sentido de oferecer um procedimento científico que, pela utilização de instrumental laboratorial e matemático/estatístico, pudesse