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Neste capítulo, analisamos o conhecimento luta enquanto fenômeno cultural, concebido nos costumes, valores e hábitos socialmente acumulados e desenvolvidos pelas necessidades mais básicas até as mais complexas durante a existência humana. Os elementos históricos, epistemológicos e pedagógicos investigados em torno do conhecimento Luta contribuíram e ampliaram as reflexões do objeto de estudo, bem como resignificaram a compreensão do termo e suas implicações para a Educação Física enquanto uma área que explica os significados historicamente produzidos pelos seres humanos nas manifestações e expressões corporais, nas relações com a natureza, com os homens e consigo mesmo.

Assim, como a história possibilitou a constituição cultural dos seres humanos através dos conflitos e contradições sociais, expressando os sentidos e significados corporais, a dimensão ética e filosófica da relação homem com o próprio homem, homem e sociedade, e homem com outros homens, houve a necessidade de estruturar certos conceitos das manifestações humana sobre a luta. No entanto, “talvez não seja possível encontrar consensos em relação às definições de cada uma das terminologias porque, provavelmente, não é possível definir o que são lutas” (RUFINO, 2012, p. 38). Os termos axiológicos e polissêmicos, empregados para conceituar a luta, são a prova da constituição dos valores e produção cultural dos seres humanos para tornar esse conteúdo da Educação Física um fenômeno. Para nós é possível atentar para a compreensão e o objetivo dos termos utilizados para caracterizar esse fenômeno sem cercear seus valores simbólicos.

Nossa intenção é trazer reflexões e inquietações aprofundadas para enriquecer o debate sobre as implicações históricas e teóricas do ponto de vista conceitual e epistemológico, assim como na organização de elementos pedagógicos que auxiliem a luta nas diversas experiências corporais humanas.

Consideramos que a luta é um “(...) fenômeno tão dinâmico, tão múltiplo e plural que defini-la seria, em parte, uma forma de limitar o entendimento” (Idem). No entanto é imprescindível uma reflexão ampliada das representações sociais do ato de lutar pelos homens e mulheres ao longo da evolução da humanidade.

Nessa relação de pontuar e analisar profundamente os termos empregados para o ato de lutar, considerando que as “formas de autodefesa são, provavelmente, tão antigas quanto à espécie humana”, segundo Melo et al (2010, p. 105)

Na história da humanidade registra-se que o homem sempre expressou gestos motores para mostrar superioridade frente às exigências do meio, seja por sobrevivência, por superação de inimigos ou para manutenção do espaço territorial. Os diversos momentos da evolução do homem podem evidenciar, de certa forma, uma transição no aperfeiçoamento dos gestos e sua organização no sentido de regulamentá-los em formas mais elaboradas até caracterizar o que denominamos de artes marciais na atualidade.

As representações que os seres humanos construíram ao longo da evolução da espécie, incidindo na origem humana, nas características históricas de diferentes momentos culturais, implicaram na constituição dos termos teóricos e filosóficos denominados enquanto Luta, Arte Marcial e Esporte de Combate. A ideia não é construir um conceito pronto, acabado e preciso, mas entender por que a humanidade caracterizou, em suas necessidades culturais, diferentes empregos conceituais para denominar a luta.

A discussão adentra na necessidade de o homem construir sua identidade cultural pela luta. É comum o termo Luta estar no diálogo recorrente e dinâmico do jogo social, isso “(...) implica um investimento diversificado de representações e significados, o que por sua vez, lhe confere uma dimensão polissêmica” (FRANCHINI, 2010, p. 01). A sociedade expressa a necessidade de questionar e analisar as implicações da luta para as noções de lutas de classe, dos trabalhadores, pelos direitos da mulher, pela vida, pelos conflitos de guerra. Há necessidade de compreender a representação simbólica do ato de lutar além da ação corporal, do embate físico, justamente porque foi nas relações e conflitos sociais que se estabeleceu esse fenômeno.

Consideramos, segundo Gomes (2008, p. 01), que “(...) as Lutas trazem para o mundo da educação física parcelas de tradição, religião, cultura, filosofia, rituais, disciplina (...)” carregados de sentidos e finalidades que passam pelos “(...) aspectos relacionados ao corpo, movimentos, passíveis de serem transmitidos, preservados e reorganizados às necessidades de cada contexto” até aos conflitos e contradições no jogo político e econômico.

Considerando que o fenômeno Luta abrange uma série de modalidades institucionalizadas, regidas pela tradição histórica, passando “(...) pelo processo de criação de técnicas baseadas nas regras de cada uma, isso foi aprendido pelos praticantes, tornou-se tradição e vem sendo transmitido nas mais diferentes culturas”. Houve a preocupação de as gerações primitivas revelarem condições de ampliar as estratégias e motivos para o homem lutar. Esse processo sofreu mudanças durante a evolução da humana. No entanto, “cada modalidade carrega consigo sua história, sua origem, sua vestimenta, suas tradições e características que competem a cada manifestação de Luta” (GOMES, 2008, p. 10).

Mesmo com os princípios condicionais integrados à cultura de cada geração, no intuito de analisar as formas de sobrevivência ou compreensão dos hábitos sociais dos seres humanos, “(...) existem fatores que diferenciam uma modalidade da outra e até uma única modalidade pode ter diferentes vertentes. Porém, a dinâmica interna e algumas técnicas tradicionais de cada uma, muitas vezes, podem ser comuns a outras modalidades”. É diante dessa reflexão que os pressupostos teóricos sobre a luta modificam constantemente, ora entendida enquanto Arte Marcial e Modalidade Esportiva de Combate. Esse processo acontece porque, segundo Trusz e Nunes (2007), o homem está em constante processo de construção de si mesmo, e na medida em que modifica a estrutura política e social, muda toda a relação do homem com ele mesmo e com a sociedade. Pois, compreendemos que

as lutas, em suas mais diversas manifestações ou estilos, estão presentes desde os primórdios da humanidade. Usadas como meio de ataque e defesa ou como disputas e jogos, elas foram ganhando novos elementos, perdendo outros, evoluindo conforme a cultura em que estavam inseridas. A luta é tão antiga quanto a existência do homem no mundo. O homem primitivo lutou pelo alimento, pelo espaço, pelo que se apropriou materialmente e pela companheira. Isto sem falar na luta contra animais. De início, não possuíam armas, usavam apenas sua própria força. (TRUSZ E NUNES, 2007, p. 04).

É dinâmica e instável a compreensão sobre o sentido da palavra luta, uma vez que se direciona para “(...) diferentes significados, de acordo com o contexto na qual é empregada, possibilitando várias possibilidades de uso” (RUFINO, 2012, p. 17), mas a articulação conceitual com referência filosófica e epistemológica apresenta-se como condição imprescindível para a ampliação, não só do conceito, mas do sentido imposto. Diante disso, ainda que os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN‟s) da Educação Física sejam um documento legal e sirvam para nortear a construção de algumas práticas curriculares e pedagógicas dos professores da área, não podemos cair no puro relativismo ou engessamento conceitual, compreendendo que o conceito de luta se restringe, exclusivamente, às “(...) disputas em que os oponentes devem ser subjugados mediante técnicas e estratégias de desequilíbrio, contusão, imobilização ou exclusão de um determinado espaço na combinação de ações de ataque e defesa.” (BRASIL/MEC/PCN, 2000, p. 48)

A luta, em sua dimensão ontológica, consiste na relação direta com a cultura, com a natureza, com o movimento político, econômico e ideológico dos seres humanos. Os conceitos e características do conhecimento da luta têm estreitas afinidades com as esferas simbológicas religiosas, antropológicas, éticas, morais. E isso é o que permite o homem ser diferente do animal ou do ser irracional, porque, diferentemente do homem e da mulher, o

animal não atribui cultura e representações simbólicas às suas manifestações com o jogo, com a luta e outras formas com que o homem organizou e sistematizou valores e significados.

É nesse sentido que concordamos com Coletivo de Autores (2009, p. 74), quando afirma, por exemplo, que “a capoeira encerra em seus movimentos a luta de emancipação do negro no Brasil escravocrata. Em seu conjunto de gestos, a capoeira expressa, de forma explícita, a „voz‟ do oprimido na sua relação com o opressor”. Sem nenhuma intenção de gerir um conceito para a luta, ela avança no sentido de estabelecer relações diante das dimensões sociológicas que vão além dos movimentos técnicos que fundamentam a expressão corporal, pois dão sentido aos significados corporalmente estabelecidos pelos negros na esfera política e ideológica em que o país se encontrava no tempo da escravidão. Tal época expressa certa discriminação e preconceito com algo cultural de homens e mulheres que viveram numa situação socialmente desprovida de regalias, em que o único bem material era estabelecido na preservação das relações religiosas enquanto bem cultural.

Acreditamos que “seus gestos, hoje esportivizados e codificados em muitas „escolas‟ de capoeira, no passado significaram saudade da terra e da liberdade perdida; desejo velado de reconquista da liberdade que tinha como arma apenas o próprio corpo” (Coletivo de Autores, 2009, p. 75), que advinha de sua força a possibilidade de tornarem-se livres enquanto seres de cultura, costumes e crenças. Esses elementos apontam a própria história do povo brasileiro e de suas conquistas pela luta. Nesse diálogo, diante da preocupação com os termos e com os usos empregados para caracterizar as representações que a capoeira simboliza enquanto uma luta, passa-se pela preocupação em resgatar a historicidade, de forma orgânica, que cada manifestação de luta consiste, sua expressividade corporal com os seres humanos na contemporaneidade, problematizando suas implicações atuais diante do confronto da origem e história desse fenômeno, bem como nas ações fundamentais e pedagógicas que levem a uma nova síntese dessa luta, criando e recriando novos usos do corpo para lutar.

É preciso, segundo Santos (2009), compreender que os estudos da linguagem corporal, historicamente construídos e resignificados pelos homens e mulheres, contribuem na compreensão do corpo e das práticas culturais. Portanto “tais estudos devem considerar que os sujeitos são situados num contexto histórico e cultural específico, ou seja, os sentidos/significados das práticas corporais estabelecem-se e desdobram-se num sujeito imerso em cultura” (p. 04).

É nesse processo que “os seres humanos estabelecem relações e costumes que são característicos de determinados grupos em um determinado tempo”. Não desconsiderando os conceitos e pressupostos dos PCN‟s da Educação Física sobre a luta, mas questionando a

linguagem corporal dos seres humanos no universo cultural e simbólico, representado por um objeto do real concreto e da relação dialética e histórica dos seres humanos. É um caminho que se materializa pela noção de cultura, explicando as necessidades dos homens e mulheres nos conflitos sociais.

Sendo assim, consideramos que “o significado dos atos realizados por um grupo é justificado pela cultura presente naquele grupo e naquele tempo. Nesse sentido, as práticas surgem e manifestam-se segundo parâmetros da sua sociedade, da sua cultura, do seu tempo. (SANTOS, 2009, p. 05). Nessa relação “o corpo é uma ponte entre o ser humano e sua cultura”. Podemos pensar que a luta é caracterizada por “(...) um signo que se estabelece entre o sujeito e a cultura. O corpo é do ser humano assim como é da cultura. O corpo como uma forma de mostrar o sujeito e a cultura, uma imagem que mostra a sociedade!” (p. 05).

A dinâmica de transmissão de experiências significativas de uma geração para outra não tinha o intuito de sistematizar elementos de ataque, defesa e controle como um fator institucionalizado para a luta, mas de sobressair-se das situações mais inusitadas e perigosas. Em seguida, os seres humanos se apropriaram dos conhecimentos historicamente vividos e estabelecidos culturalmente, explicando os fatores inerentes a sua proeminência enquanto seres históricos e racionais, diante da compreensão do mundo vivido e sua existência concreta. Esse processo possibilitou a sistematização de novas formas de lutas criadas pelos seres humanos.

A luta é uma fuga do contexto real, ou seja, daquilo que é vivido cotidianamente. Os seres humanos não vivem em constante luta, no que se refere à expressividade das técnicas corporais, do ponto de vista da linguagem corporal. Eles travam uma ação corporal por algum objetivo ou necessidade histórica e social e depois retornam para sua vida normal após um confronto. Nessa relação, existem diferentes motivos que foram estabelecidos historicamente. Hoje, há motivos tão diversos na luta, porque a sociedade é diversa. É diante da compreensão sobre esse conceito que tratamos a luta enquanto conteúdo a ser tratado pedagogicamente na Educação Física.

No acúmulo de informações e das necessidades utilitaristas, de domínio dos fatores culturais da natureza e dos animais pelos homens, pela sua forma de organização e divisão de classe social pelo trabalho, pela exploração e conflitos travados contra outras culturas em desenvolvimento, bem como a compreensão do uso da luta em outras formas de resignificar sua ação na contemporaneidade, subsidiando outros fenômenos para explicar sua pertinência no campo da Educação Física, foi que a luta se desenvolveu pelas funções culturais humanas.

Segundo Archanjo (2005, p. 05) a luta é caracterizada “(...) por interesses individuais ou de grupos, para manutenção ou oposição a certos aspectos da vida social (...)”. Os descendentes do homem, nos primórdios da criação da humanidade, apresentavam função cultural à luta diante dos mecanismos estruturadores para se perpetuarem enquanto espécie. Era um processo de sobrevivência. Segundo Rufino (2012, p. 31) “em relação à luta pela existência, desde os homens mais rudimentares observa-se que eles tinham que lutar pela sobrevivência”. É necessário considerar que “esses movimentos eram aprendidos por meio da imitação, e foram desenvolvidos pelo método de tentativa e erro, pois não havia um treinamento consciente e sistemático, centrando-se nas atividades de atacar e defender-se” (p. 31). A figura acima nos mostra variações de situações que consistiram nas características básicas para o homem chegar a sua forma mais elaborada de técnicas e fundamentos de luta. Pois,

é importante lembrar que na sua origem as Lutas foram impulso a sobrevivência. Instintivamente os homens lutavam para que o mais forte liderasse e protegesse o grupo, a força da seleção natural, inegável a condição dos primeiros descendentes do homem. Lutaram pelo direito de passar a frente os genes dos mais fortes e aptos. Esta origem da proteção e da sobrevivência não se perdeu com os milênios. O que ocorreu é que as formas de organização social se ampliaram e os confrontos cresceram na mesma medida (...). (ARCHANJO2005, p. 16)

Durante o processo histórico da humanidade, o homem evolui para o domínio de vários tipos de armas, passam de coletores para caçadores. No estudo de Archanjo (2005, p. 12), são apresentadas algumas hipóteses que justificam o desenvolvimento dos seres humanos na história e a ampliação sobre a compreensão de luta, como, por exemplo, “(...) preparar os guerreiros das tribos para o combate contra os inimigos”. Houve um aumento na possibilidade sobre a manipulação e uso de materiais e do trato com os animais. Consequentemente, na exploração e no domínio das armas, resultando na ampliação das estratégias para conquistar campos e/ou territórios inimigos em busca de melhor abrigo, alimento e moradia. A representação principal foi a domesticação das plantas e de outros animais. Foi no domínio e surgimento da agricultura que a relação homem sociedade mudou, consequentemente, as razões culturais sobre os conflitos se ressignificam. Houve, então, “(...) a divisão social do trabalho e as categorias ou funções sociais” (Idem, p. 13).

A relação política e as ideias sobre as estruturas ideológicas, políticas e operacionais em torno do estilo de vida do grupo diversificaram pela necessidade, talvez, de expansão, de maior nível de conhecimento sobre um grupo em detrimento do fator cultural de outros grupos. Surgem daí os primeiros conflitos organizados, cujo fim se materializa pela busca de

território, da supremacia, do status, do avanço territorial. É através das guerras que a luta servirá como manutenção da ordem, das terras e conquistas. Diante a esse conhecimento,

(...) os homens intensificam as campanhas bélicas, as invasões e conquista fizeram dos guerreiros uma classe social indispensável. As atividades guerreiras foi o fato que coloca a Luta, corporal e com armas, na pratica diária da maioria dos povos do mundo nos próximos séculos de existência do homem (ARCHANJO, 2005, p. 15).

Outro fator importante, revelado por Archanjo (2005), foi em torno da organização e origem do estado, pois ocorreu pela ampliação dos conflitos travados na guerra. “Quando nossos ancestrais lutaram pelo poder de seu grupo, o fizeram inicialmente de forma instintiva” (Idem, p. 17), sem nenhuma preocupação em registrar um acontecimento social que servisse de elementos históricos e antropológicos para a humanidade. O que mais interessava era a luta pela existência e perpetuação da espécie, livrando-se de perigos constantes de predadores. A forma instintiva na luta pelos ancestrais estava ligada à função utilitarista do modo de produção humana. É importante compreender que

Nossos ancestrais em um dado momento passaram a utilizar este conhecimento, a luta, para outros fins que não o puro instinto de defender-se. Eles sintetizaram este conhecimento acumulado, assim como também o fizeram com outros, tais como: a linguagem, o uso de utensílios, as estratégias para a caça etc, e passaram para as gerações posteriores, que por sua vez, a cada nova descoberta, ampliavam e sintetizavam os conhecimentos em níveis mais altos e forma a aumentar os recursos das próximas gerações (IDEM).

No entanto, apesar da sua utilidade guerreira e de toda essa mobilização da luta enquanto um processo civilizador, ela passou a tomar outros significados e funções no acúmulo histórico, como, por exemplo, foram as festas fúnebres (jogos fúnebres), festividades populares, a educação da nobreza. Segundo Archanjo (2005), foi diante da organização das estruturas sociais e do ressignificar da luta contemporânea, através das diferentes modalidades nos jogos olímpicos, como também na prática de exercícios profiláticos e higiênicos, que a luta serviu enquanto atividades diversas.

Entendemos que a luta envolve a relação de costumes e hábitos culturais dos seres humanos provocados pelas atividades primitivas, religiosas, sagradas, bélicas, profanas, utilitaristas e simbólicas, travadas nas contradições sociais do homem consigo mesmo, com outros homens e com a natureza, caracterizando-se pelas implicações corporais, explicadas nas necessidades históricas e ampliadas de geração para geração. É um processo de transmissão cultural dos seres humanos promovida pela exercitação das técnicas corporais.

Do ponto de vista das produções acadêmicas, muito tem sido discutido sobre o termo Arte Marcial, como também nas mídias, em torno dos eventos artísticos, principalmente, da cultura estrangeira, mais especificamente nas práticas orientais. Mas a compreensão do termo ainda não está bem clara do ponto de vista teórico, histórico e filosófico. Segundo Franchine (2010, p. 2)

Arte Marcial faz referência a um conjunto de práticas corporais que são configuradas a partir de uma noção aqui denominada de “metáfora da guerra”, uma vez que essas práticas derivam de técnicas de guerra como denota o nome, isto é, marcial (de Marte, deus romano da guerra; Ares para os gregos).

Sendo assim, existe um complexo sistema simbólico dentro do termo Arte Marcial, uma vez que, se as artes marciais envolvem certas representações do modo que os seres humanos travavam na guerra, a própria guerra tem sua origem ontológica e humana na luta. Podemos afirmar que toda arte marcial é uma luta? Sim! E toda luta é uma arte marcial? Do ponto de vista, filosófico, não! Não podemos caracterizar a luta como arte marcial, uma vez que sua essência existencial não foi influenciada pela disputa planejada, estruturada por elementos estratégicos para um combate pré-estabelecido, ideologicamente, pelos conflitos travados pelos homens. Nem pelo fato de ser um meio para atingir certos prestígios políticos e sociais, como é o caso da guerra, que resulta no avanço político e econômico de um país, ou de prestígios culturais de uma tribo, ou pela soberania ideológica de um partido ou movimento político.

O termo luta se justifica pelas necessidades mais básicas do homem: existir e se desenvolver enquanto espécie humana. Ainda que haja certa representação de busca pela existência na guerra, que é mais comum na luta, na arte marcial, os padrões políticos e culturais já estão desenvolvidos; o que há no processo da guerra é a preocupação de repassar as formas mais desenvolvidas num combate, nas experiências sobre as formas de conquistas territoriais, políticas e de honra, travadas na guerra. O sentido mais amplo e antigo do termo luta é a própria luta pela sobrevivência do homem e da mulher enquanto espécies humanas de