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A FUNÇÃO DOS PROFISSIONAIS QUE CUIDAM DOS BEBÊS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Observando os estudos teóricos sobre a evolução das escolas de educação infantil em seu contexto histórico, percebe-se que as mudanças ocorridas versam sobre a questão da educação e do cuidado. Ao discorrer teoricamente sobre esses dois pontos, fica anunciado que na educação infantil, desde a mais tenra idade, os profissionais estão convocados a assumir um lugar de suplência no cuidado e educação das crianças. Cuidar e educar implica em participar da constituição e subjetivação psíquica das crianças, humanizando, criando um espaço onde sejam fornecidas as condições para que possa ocorrer um desenvolvimento saudável.

Segundo Mariotto (2009), as transformações ocorridas nas instituições de educação infantil estão relacionadas a aspectos metodológicos e curriculares. Tais aspectos demandam do profissional uma reflexão sobre sua função e seu lugar nesse sistema institucional e dessa forma, a creche tem cada vez mais se aproximado da educação. A autora afirma que o profissional que acolhe os bebês é o cuidador30, “aquele que insere a criança no mundo formal do conhecimento

pedagógico e ensina as primeiras experiências de uma aprendizagem formal” (MARIOTTO,2009, p.102).

Tendo em vista que as escolas de educação infantil recebem crianças de zero a seis anos, percebe-se que há suplência nos cuidados. Zen e Andrade (2016) anunciam que para que a suplência possa ser possível é relevante que o Outro não seja anônimo, que se coloque como referência para a criança e que possa ser seu interlocutor. As autoras anunciam que “as interações têm funções essenciais para a psique garantindo a ligação de competências de afetos e representações; o postulado central é de que o estilo interativo afeta o desenvolvimento do bebê” (ibid. p. 87).

Lucero e Vorcaro (2018) afirmam que a subjetivação do Outro primordial interfere na forma como a cultura será transmitida ao bebê, propiciando a cada ser humano uma experiência singular de relação com a linguagem. As autoras escrevem que desde o nascimento, lidamos com um organismo que possui um funcionamento biológico, este, pode ser afetado por diversas situações e um

outro que se ocupa primordialmente do bebê, que está submetido a uma série de valores culturais que interferirão de forma direta nos cuidados primordiais.

Pensando no lugar dos profissionais da educação infantil, Crespin (2016) situa a questão crucial da suplência, da falta ou ausência dos pais, que versa sobre a qualidade do trabalho das instituições que acolhem as crianças. A autora comenta que se deve colocar, principalmente, a questão de “como e de que lugar os profissionais da educação infantil podem cuidar de uma criança da qual não são mães” (CRESPIN,2016, p.18).

A função materna, segundo Barbosa (2018), incide na capacidade do Outro materno tomar o bebê a partir de um desejo endereçado, sustentado no cuidado à certas operações que pertencem ao processo de constituição do psiquismo, tais como alienação e separação. A autora afirma que as instituições de educação infantil participam de forma ativa dos tempos precoces da vida de uma criança e operam no processo de constituição do sujeito.

Estar em uma posição de endereçamento implica disponibilidade. Oliveira (2011) aponta a relevância do trabalho dos profissionais que cuidam das crianças ressaltando que esses profissionais necessitam “paciência e capacidade de expressar afeto”, pois, na relação com as crianças pequenas, os profissionais acabam “reeditando suas próprias experiências infantis” (Ibid., p.31).

Ao refletir sobre o interesse da pedagogia pela psicanálise, Freud (1913/2008) evidencia que para ser educador é necessário um comprometimento por empatia com a alma infantil. O autor afirma que os adultos não compreendem as crianças porque deixam de compreender sua própria infância. Escreve, então, que

Nossa amnésia do infantil é uma prova do quanto nos alienamos dela. A psicanálise descobriu os desejos, formações do pensamento e processos do desenvolvimento infantil; todos os empenhos anteriores foram irritantemente incompletos e errados porque não valorizaram um fator de importância inapreciável: a sexualidade nas suas exteriorizações corporais e anímicas (FREUD, 1913/2008, p. 191, tradução nossa)31.

31 Nuestra amnesia de lo infantil es una prueba de cuánto nos hemos enajenado de ella. El

psicoanálisis ha descubierto los deseos, formaciones de pensamiento y procesos de desarrollo de la niñez; todos los empeños anteriores fueron enojosamente incompletos y erróneos porque habían dejado por entero de lado un factor de importancia inapreciable: la sexualidad en sus exteriorizaciones corporales y anímicas (FREUD,1913/2008 p. 191).

Freud (1914/2008) afirma que por ser psicanalista deveria se ocupar dos processos afetivos e não dos intelectuais, mais pela via do inconsciente do que do consciente. Porém, relembrando sua vida como estudante e suas relações com os seus antigos professores, discorre sobre o tema afirmando que “as atitudes afetivas direcionadas a outras pessoas, tão relevantes para a posterior conduta dos indivíduos, ficaram estabelecidas em uma época muito tenra”32.

Acrescenta que nos primeiros seis anos da infância o pequeno ser humano consolida a índole e o tom afetivo de seus vínculos (ibid. p. 248, tradução nossa). Assim que os educadores se aproximarem dos resultados da psicanálise, diz Freud (1913/2008), perceberão o quanto é mais fácil a reconciliação com certas fases do desenvolvimento infantil e, entre outras coisas, não irão correr o risco de subestimar as emoções que afloram nas crianças. Segundo o autor, os educadores se absterão de tentar sufocar de forma violenta essas emoções quando se informarem de que tais intervenções produzem com frequência resultados não menos indesejados que a mesma má conduta que a educação teme deixar passar na criança (FREUD,1913/2008).

Quando escreve sobre a forma como a educação sufoca as emoções das crianças, Freud (1913/2008) afirma que essa orientação acaba produzindo enfermidades nervosas e perdas na capacidade de produção das crianças. No que diz respeito à orientação das emoções, o autor esclarece que a educação necessitaria colocar um cuidado extraordinário em não cegar estas preciosas fontes de força e fixar a atenção que promova os processos pelos quais essas energias podem se guiar até um bom caminho. Freud (1913/2008) afirma que, ao se apropriar de uma pedagogia esclarecida pela psicanálise é possível esperar uma profilaxia individual da neurose.

A partir dessas postulações, percebe-se que os educadores necessitam estar em uma posição de disponibilidade para escutar as crianças e suas emoções. Percebe-se que o profissional da educação infantil, estará em um posicionamento em que necessita manter uma posição de maternagem, ao cuidar dos bebês. Crespin (2016) ressalta que o desejo de quem cuida dos bebês nas escolas de educação infantil é, certamente, diferente do desejo dos pais, o

32 Las actitudes afectivas hacia otras personas, tan relevantes para la posterior conducta de los

individuos, quedaron establecidas en una época insospechadamente temprana (FREUD,1914/2008, p.248).

que quer dizer que “o profissional se implica de forma diferente, porém, deve investir na criança sem se apropriar dela, acompanhar sem esperar um retorno ou semelhança e nem reconhecimento” (CRESPIN,2016, p. 27).

Relendo Freud, Barbosa (2018) escreve que o autor faz entender a necessidade da compreensão do laço a ser construído entre professor e aluno nos primeiros objetos das relações afetivas. A autora afirma que é importante estar atento à diferença que existe entre o cuidado dispensado à pequena criança pelo Outro parental e pelo Outro da instituição de educação infantil. Barbosa (2018) explica que o Outro parental é o agente que introduz o sujeito na linguagem e desperta nele o gozo através das marcas inscritas no corpo da criança nos primórdios de sua vida e inaugura um caminho pela via do desejo. Na educação infantil, esse Outro inscreve a criança no laço social e na cultura, fazendo a transição entre o mundo particular e o mundo público. Assim, de acordo com Barbosa (2018), o Outro da instituição possibilita que as primeiras marcas que foram inscritas no corpo da criança pelo Outro parental, sejam reinscritas.

Esse Outro referido por Barbosa (2018) está atravessado pela função paterna que as instituições de educação infantil encarnam, cuidando e educando a partir das diretrizes que regulam a ação do professor. Barbosa (2018, p. 343), considera que os profissionais da educação infantil podem ser “tomados como um Outro dentre os vários Outros que se pluralizam nessa transmissão simbólica dirigida à criança” e que apoiam e reforçam o trabalho subjetivo iniciado pela família.

Rizzo (2012) afirma que na medida em que as atenções maternais e familiares necessitam ser substituídas por uma instituição, cai sobre esta, a responsabilidade da escolha das pessoas que irão substituir as mães ou a família durante sua ausência. A autora salienta que é relevante estar atento à forma como cada educador exerce sua função, que de modo especial, no caso dos bebês, deve estar afastada a intenção de coerção ou autoritarismo. Rizzo (2012) justifica essa afirmação, esclarecendo que o educador deve ter a conduta de coordenar sua ação à ação da criança, para conhecer as emoções desta e estabelecer uma sintonia para que possa ocorrer uma cooperação mútua. A autora escreve que o educador precisa construir sua autonomia intelectual e

emocional, conhecer e ser curioso no que diz respeito ao desenvolvimento humano (RIZZO,2012).

Os profissionais da educação infantil agem em um tempo precoce quando ocorrem as primeiras inscrições no psiquismo da criança e fornecem apoio a esse trabalho de subjetivação, mesmo que isso se perceba em um tempo posterior, esse resultado da intervenção do Outro terá efeitos em cada criança de forma diferente (BARBOSA, 2018).

Os bebês aderem à rotina da instituição ainda muito pequenos. Mariotto (2009), relendo Freud (1895/2007), escreve que as experiências infantis precoces adquirem um lugar privilegiado na constituição psíquica e também no funcionamento cerebral. A autora afirma que “o marcador do desenvolvimento é o desejo do Outro e não os ponteiros do relógio, visto que os seres humanos têm a infância mais longa e mais dependente”. Sendo assim, é necessário que os cuidadores respeitem os hábitos das crianças sem mudar suas referências, observando suas características e modos de expressão (MARIOTTO, 2009, p. 51-53).

Szejer (2016) afirma que um bebê não é um sujeito privado, é responsabilidade de todos que o cercam, “a insegurança primordial na qual aceitamos acolher nossas crianças pode ter repercussões gravíssimas e diversas” (p.115). Respeitar o tempo de cada bebê, sem preocupação com o relógio implica observar seu comportamento, tomá-lo em sua singularidade, evitar despertá-lo para comer ou impor tempo de sono igual para todos.

Um bebê, além de comer e beber, dorme. A arquitetura do sono é um fator relevante a ser observado pelos cuidadores na educação infantil. Szejer (2016, p.116) enfatiza que “quando despertamos um bebê e o forçamos a comer, nós lhe ensinamos a náusea, a repulsa”. No que concerne ao sono, a autora afirma que o bebê nasce com um ritmo de sono diferente dos pais e cuidadores, irá estabelecer seu ritmo aos poucos e à sua maneira.

Segundo Szejer (2016), o ajustamento do sono do bebê acontece em função de numerosos parâmetros, dentre eles, destaca a luz, os sons, a vida das pessoas que o cercam. A autora considera que perturbar essa primeira adaptação, provoca graves danos ao sono e ao apetite.

Os bebês dormem como filhotes e necessitam de três a seis meses para que possam organizar o sono de forma espontânea, mais facilitada, e

desorganizar esse tempo perturba essa organização. Ao dormir, a bebê secreta os hormônios do crescimento, que aumentam a massa muscular, e os hormônios sexuais, que interferem na morfologia. O sono defende o raciocínio organizado, e a ligação entre a genética, a epigenética, o ambiente afetivo e cultural que serão determinantes para arquitetá-lo (SZEJER,2016).

Portanto, os escritos de Szejer (2016), esclarecem que cada bebê tem um tempo para construir sua rotina, esta, necessita de escuta e disponibilidade de quem o acolhe e participa do processo de subjetivação. Pensando nas instituições de educação infantil, tal pessoa é o cuidador/educador.

A construção do laço afetivo entre o cuidador e os bebês é relevante na medida em que acontece uma melhora na qualidade da ação educativa. Essa qualidade versa sobre a maneira como o bebê é olhado, tocado e de como o educador se direciona a ele. Dolto (2005) esclarece que o bebê entende tudo o que lhe dizemos; ele compreende qualquer linguagem e esse entendimento acontece porque falamos e explicamos tudo o que passa ao seu redor, principalmente no que toca ao momento da inserção na creche.

Dolto (2005) afirma que desde a concepção, o ser humano é um ser de linguagem e dotado de desejo e potencialidades, que podem ser apoiadas ou negativadas. A autora explica que existem potencialidades de desejo, mas este, precisa ser tecido pela linguagem, do contrário, a função simbólica sempre ativa, nos estados de vigília, gira no vazio e não há organização de uma linguagem comunicável. Afirma então que

A acolhida e a comunicação interpsíquica de linguagem são indispensáveis. Não cremos que o bebê seja capaz de entender a palavra, porque ele ainda não consegue emitir sons específicos que falam de seu entendimento das palavras que ouve. Contudo, se prestarmos atenção e sabermos observar sua mímica, ele responde a tudo (DOLTO, 2005, p. 362-363, grifo nosso).

A constituição e subjetivação psíquica de um bebê está relacionada aos cuidados que lhe são direcionados. Percebe-se que escutar, olhar, falar e acalentar são molas propulsoras para a constituição psíquica. Mariotto (2009) escreve que um ambiente enriquecido nos primeiros meses de vida, justamente a partir do vínculo com o outro, no qual o olhar e a palavra têm um espaço privilegiado, coloca em evidência a qualidade desse outro. A autora ressalta que

o aparelho neurofisiológico se abre para esperar o que possa entrar, porém aquilo que entra depende de quem se sente convocado a fazer desse espaço o lugar de um encontro. Mariotto (2009) assegura que a presença do outro é fundamental e a sua consistência discursiva e especular comprovada nos cuidados puerperais determina a construção da geografia psíquica.

Pensando nas instituições de educação infantil e no trabalho dos cuidadores, Mariotto (2009, p.27), sugere que “o adulto cuidador seja ponto de referência para essas crianças em seu vir a ser”. A autora situa duas possibilidades em relação à função do profissional de creche: exercerá sua função a partir de um ideal pedagógico, que favorece o anonimato deste outro a quem a criança é entregue, assim, adota uma prática a partir da perspectiva tecnicista e padronizante, que tende à exclusão do saber. Outra possibilidade descrita por Mariotto (2009), coloca o cuidador como aquele que pode operar de forma ampla pela via da educação como inscrição de marcas simbólicas, que permitem o advento do sujeito e a ocupação de um lugar na cultura, considerando, assim, o desejo como causa.

Trabalhar cuidando e educando, pode render inquietação nos profissionais da educação infantil. Barbosa (2018), ao escrever sobre o trabalho dos educadores e o lugar que lhes cabe no processo de subjetivação dos bebês, ressalta que o trabalho não pode ser confundido com o lugar do pai ou da mãe na constituição subjetiva. A autora esclarece que o educador entra como mais um elemento no processo de transmissão da linguagem, do desejo e da particularidade do gozo. Para sustentar esse lugar de transmissão, o educador precisa operar apoderando-se de um desejo particular e não de anonimato pela criança, a fim de reconhecer que cada criança é singular (BARBOSA, 2018).

Exercer funções parentais, segundo Crespin (2016), ocupar um lugar parental não significa ser pai ou mãe, diz respeito à satisfação de ter participado da construção da criança, de ter acompanhado seu desenvolvimento, ter um orgulho legítimo. A autora sustenta que “tudo isso se torna sensível se houver uma reflexão ininterrupta e um pensamento vivo que dê sentido ao que se faz com a criança” (p.29). Escrevendo sobre a posição dos profissionais nas instituições, Montagna (2011) afirma que o educador estabelece uma relação amorosa e cuidadosa com a criança, exerce sua função a partir de seu trabalho, o que o diferencia dos pais. Essa diferença é relevante porque os bebês

representam para os pais um investimento narcísico, enquanto que para os educadores é o trabalho que ocupa esse lugar (MONTAGNA,2011).

Percebendo a creche como uma instituição de cuidado e educação, Bertron (1997) lembra que não é um depósito de crianças, é um lugar onde as crianças devem ser recepcionadas, cada uma acolhida em sua singularidade. De acordo com a autora, a creche é um lugar “mamãezado”33, onde o desejo de

todos é apoiado na dura tarefa de permitir que as crianças cresçam, e quem delas cuida, responde ao desejo das crianças de serem compreendidas (ibid. p. 283).

Quando chegam à creche, as crianças e os pais sofrem uma ruptura. Bertron (1997) assinala que é necessário criar um espaço acolhedor, caloroso, onde pais e cuidadores possam dialogar sobre a criança. A autora explica que são as crianças que falam, que apesar de não terem o verbal, ensinam, e o cuidador deve ter uma atenção flutuante ao máximo, para que as palavras possam ser colocadas onde só se percebe “comportamento”34 (Ibid. p. 284).

Mariotto (2009) retoma o texto do “Projeto”, onde Freud anuncia o outro próximo, o nebenmensch, e relembra que tanto o outro próximo como o cuidador, apresentam algumas características essências para efetuar as funções que propiciem o amadurecimento psíquico e fisiológico da criança. Ao discorrer sobre essas características, Mariotto (2009) escreve que a primeira delas é que o outro precisa ser um semelhante, porém, não um igual, um bebê não pode ser cuidado por outro bebê. Sendo assim, o outro será sempre um adulto semelhante estranho. Assim, percebe-se a discordância necessária desse encontro, comprovando - o como faltoso (MARIOTTO, 2009).

Sobre o encontro com o semelhante, Taulois (2017) escreve que estará alicerçado pela questão das identificações, regulada em uma relação especular com o outro. A autora afirma que, de maneira geral, na creche as crianças apresentam uma tendência a se ligar com outros bebês. Taulois (2017, p.85) escreve que “a multiplicidade de diferentes idades e sexos que compõem um grupo na creche favorece muitos tipos de identificação do eu”. A autora legitima a importância da ação do cuidador, que necessita operar através da palavra, o que possibilitará a formação de um como distinto do outro. Então,

33 Grifo extraído do texto original. 34 Grifo extraído do texto original.

para haver uma distinção entre o eu e o outro, para que um bebê e seu semelhante não funcionem como um, será preciso a intervenção de um Outro, de alguém que possa ocupar um lugar terceiro nessa relação dual, necessária, porém insuficiente, pela própria condição de estar num mundo simbólico dotado de leis próprias (TAULOIS,2017,p.86).

As instituições de educação infantil e os profissionais que cuidam das crianças, precisam pensar o bebê e as crianças pequenas como um sujeito em devir, estruturando-se no quadro de uma relação investida com um outro, que representa para ele o lugar do Outro. Crespin (2016) afirma que é fundamental os profissionais estejam conscientes de que fazem parte desse campo do Outro para a criança, na medida em que cuidam das crianças diariamente e por um tempo razoável (CRESPIN, 2016, p. 32).

Rezende e Sá (2018) apontam que reconhecer o bebê como sujeito de desejo é percebê-lo além de suas necessidades que precisam ser satisfeitas e essa ação traz a dimensão ética ao empreendimento educativo. As autoras acentuam que a alimentação do bebê não pode ser tomada somente pelo campo biológico. Mamar é utilizar o reflexo de sucção para nutrir-se, é modo como a criança expressa seu apetite, a forma como interage com aquele que a alimenta, registra suas experiências de prazer e desprazer, constrói noções de tempo e de corpo.

Colocar palavras em cada ação dirigida ao bebê abre a possibilidade de ele não se sentir anônimo. Szejer (2016, p.74) reforça o valor da palavra esclarecendo que “o ser humano está destinado a falar, e assim, ele é muito sensível às palavras que lhe são endereçadas”. A autora escreve que a palavra é a arma da humanidade, verbalizar e interpretar, constitui para a criança um saber inconsciente, indispensável ao desenvolvimento psíquico e à emergência de seu próprio pensamento. Szejer (2016, p.138) explica que “os bebês não falam, o que não os impede de ouvir e de se expressar de muitas maneiras” e a fala dirigida possibilita o vínculo afetivo, arquitetando o psiquismo.

A voz é um elemento relevante na constituição psíquica da criança. Crespin (2016) afirma que a palavra é fundada pelo ouvido que a ouve, a fala não se reduz à palavra, há uma qualidade particular no endereçamento à criança que a torna audível. A autora enfatiza que as cuidadoras devem explicar o que

vão fazer, falar significa ouvir a criança para emprestar-lhe palavras, o que supõe imaginar o que a criança quer, atribuir sentido ao seu fazer, como a mãe faz, levanta um questionamento, ocorre uma comunicação verbal entre dois sujeitos constituídos (CRESPIN, 2016).

Estando com os bebês, os cuidadores necessitam oferecer um vínculo seguro, a criança só pode aprender se tiver uma base de segurança para ter

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