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1 INTRODUÇÃO

2.1 FUNÇÕES DOS PRODUTOS

2.1.2 Função estética

Falar sobre estética em seu sentido mais amplo e filosófico exige como ponto de partida a compreensão de que “o belo está no centro das reflexões estéticas” (VÁZQUEZ, 1999, p. 38), contudo “a estética não pode se definir como a ciência do belo” (p. 40).

Exige também o entendimento de que o seu estudo envolve considerações acerca da ideia do belo, que remonta à Antiguidade clássica, período no qual a harmonia é pensada como reflexo de uma ordem exterior ao homem (visão objetiva). E, finalmente, exige a compreensão de que a ruptura proporcionada pela estética moderna, ao fundamentar o belo nas faculdades humanas (visão subjetiva), se transformou em uma expressão pura e simples da individualidade para os contemporâneos (FERRY, 1994). Ou seja, a partir do século XVIII, “a determinação do belo como eixo de reflexão estética se desloca do objeto para o sujeito” (VÁZQUEZ, 1999, p. 37).

Em síntese, pode-se dizer que a estética está vinculada à ideia do belo a partir de duas correntes de pensamento distintas. Uma argumenta que a beleza está no objeto e independe de sua relação com o indivíduo, enquanto a outra acredita que a beleza está no olho de quem vê o objeto, o que em outras palavras quer dizer que “a beleza não é nenhuma qualidade das coisas em si mesmas. Existe na mente que as contempla, e cada mente percebe uma beleza diferente” (TATARKIEWICKS apud VÁZQUEZ, 1999, p. 173).

A segunda corrente de pensamento, que fundamenta seus princípios a partir do pensamento de Kant (2010), prioriza o indivíduo e coloca- o no centro da relação estética com os objetos a partir da valorização da experiência estética, a qual só pode se concretizar no sujeito cuja

relação estética, como forma específica da apropriação humana do mundo, não se dá apenas na arte e na recepção de seus produtos, mas também na contemplação da natureza, assim como no comportamento humano com objetos produzidos com uma finalidade prático-utilitária (VÁZQUEZ, 1999, p. 42).

Essa visão, portanto, deixa claro que a relação estética vai além da vinculação entre estética e arte, já que “o estético não se esgota na arte: também ocorre na natureza, nos objetos técnicos e nos produtos utilitários” (VÁZQUEZ, 1999, p. 44).

Mukarovsky (1981, p. 111) argumenta que não há uma só esfera da atividade humana em que a função estética esteja fundamentalmente ausente, mas considera que, fora da arte, a função estética tem, geralmente, um papel secundário. Mas “sempre que a função prática retrocede, um só passo que seja, imediatamente por trás dela aparece, como sua negação, a função estética”.

No escopo deste trabalho importa a relação estética com objetos em que há o predomínio de uma função prático-utilitária, mas que, nem por isso, deixam de proporcionar experiências estéticas aos seus usuários, tendo em vista que qualquer propriedade pode provocar uma resposta estética quando percebida como agradável por um dos sentidos (HEKKERT; LEDER, 2008).

De acordo com Löbach (2000, p. 60), “a função estética dos produtos é um aspecto psicológico da percepção sensorial durante seu uso” e está atrelada à configuração e à aparência do produto, que tanto podem provocar reações positivas quanto reações negativas por parte do usuário.

O autor explica que o uso sensorial dos produtos depende das experiências com as características estéticas, tais como cor, forma e superfície, e da percepção consciente dessas características. Desse modo, pode-se dizer que a função estética está diretamente atrelada aos atributos físicos que configuram o produto, os quais, dependendo da característica do produto, despertam prazer em um ou vários sentidos ao mesmo tempo.

Portanto, a relação estética não se restringe ao domínio visual, a uma apreciação visual sobre a aparência de um produto, ela também pode se dar por meio de outros sentidos, como tato, olfato, audição e paladar. E, desse modo, ao contrário da função prática, a função estética oferece amplo espaço para interpretações pessoais, tendo em vista que cada um desses sentidos funciona de modo subjetivo e envolve juízo de valor.

Portanto, a relação do usuário com a função estética de um produto é particular, mas também é influenciada por seu contexto sociocultural. Para Consiglieri (2000, p. 35), a “apreciação do valor estético depende da idéia que cada observador particulariza sobre as coisas que o envolvem [...], e, por esse motivo, tudo depende do juízo individual do sujeito”.

Esse juízo, por ser subjetivo, está “fundado no sentimento de prazer” e no gosto, o qual “determina o caráter de beleza do objeto” (BASTOS, 1987, p. 178).

No caso da função estética, predomina o caráter espontâneo da experiência sensorial vivenciada de modo particular pelo indivíduo e que lhe proporciona prazer. Vázquez (1999, p. 43) explica que “o estético é o que pode suscitar uma percepção desinteressada” e, ao longo da sua explanação, vai deixando clara a relação da estética com o prazer ou a satisfação sensorial.

Assim, a função estética está relacionada ao prazer proporcionado por aquilo que agrada ao ser humano. Segundo Jimenez (1998, p. 128, grifo do autor), “o homem chama agradável o que lhe traz prazer, bom o que estima ou aprova, belo o que lhe agrada”.

Baxter (1998) argumenta que é a beleza percebida em um produto que o torna atraente, e, nesse caso, são evidenciados atributos tangíveis como forma, cor, material, acabamento, brilho, textura, integração entre os componentes, entre outros. E, segundo Löbach (2000), a compra de produtos industriais muitas vezes é decidida pela estética, que é percebida imediatamente, enquanto a função

prática, na maioria das vezes, só é percebida em casa, quando se utiliza o produto.

A partir do exposto, é possível compreender que o estético é amplo e envolve todo o tipo de prazer e satisfação sensorial, porém, no escopo deste trabalho, a abordagem será direcionada à aparência do produto no sentido de beleza, mais especificamente em seu sentido “mundano”, e não no sentido de um belo metafísico e transcendente.