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1 INTRODUÇÃO

2.5 QUADRO-SÍNTESE DE RELAÇÕES

Com base no estudo sobre os diversos conceitos e autores relevantes para a realização deste trabalho, foi delineado um quadro com as relações entre os principais conceitos e teorias sobre os fatores presentes na relação afetiva usuário−produto. Os conceitos foram relacionados no intuito de concentrar as visões principais e, desse modo, facilitar a elaboração dos instrumentos de coleta de informações junto ao público-alvo da pesquisa.

A elaboração do quadro partiu do princípio de que, independentemente do tipo de produto avaliado na relação afetiva usuário−produto, há uma série de questões que devem ser sempre consideradas. O quadro contempla a dimensão estético-simbólica e a

dimensão prático-utilitária, dada a relevante influência dos fatores relativos a essas dimensões nas decisões de compra e na construção do sentimento de apego ao produto.

Após um estudo aprofundado sobre os aspectos práticos, estéticos e simbólicos dos produtos e sobre os fatores que influenciam o comportamento humano, ficaram evidentes a complexidade do assunto em questão e as limitações implicadas ao tentar delimitar e categorizar cada fator aqui estudado. Ou seja, quanto mais se aprofunda em cada um dos fatores estudados, mais tênue vão se tornando os seus limites e mais evidentes se tornam as suas interseções.

Portanto, a proposta do quadro visa não deixar algum aspecto relevante à margem das considerações, como também procura proporcionar uma visão integrada sobre os assuntos aqui estudados, considerando que os diversos fatores relativos às dimensões estudadas interferem entre si.

Portanto, ao isolar completamente uma dimensão da outra, ou um fator de outro, perder-se-ia a oportunidade de fazer um estudo mais próximo do que realmente ocorre na relação usuário−produto. Assim, o Quadro 3 a seguir procurou estabelecer relações entre os autores, as teorias e os conceitos considerados essenciais para o estudo da relação afetiva usuário−produto no intuito de direcionar a elaboração das questões utilizadas nesta pesquisa.

Q u a d ro 3 – Q u a d ro -s ín te s e d e r e la ç õ e s F o n te : In te rp re ta ç ã o p ro p o s ta p e la a u to ra .

O Quadro 3 relaciona os conceitos apresentados neste capítulo de fundamentação teórica e está dividido de acordo com duas dimensões: estético-simbólica e prático-utilitária, as quais são relacionadas ao significado simbólico e ao significado utilitário (ALLEN, 2006).

A dimensão estético-simbólica remete ao significado simbólico dos produtos, o qual emerge no campo das emoções e da afetividade e se reflete nos sentimentos de desejo e de apego ao produto. Assim, o julgamento do significado simbólico de um produto é afetivo e se dá por meio da avaliação global que o usuário faz sobre esse, a qual se baseia principalmente em seu potencial expressivo (ALLEN, 2006). A dimensão prático-utilitária remete ao significado utilitário dos produtos, o qual se situa no campo das necessidades instrumentais e pode favorecer o apego ao produto por meio do seu desempenho e sua qualidade funcional. Nesse sentido, o julgamento do significado utilitário se dá a partir da avaliação que o usuário faz sobre o potencial instrumental do produto, isto é, por meio da capacidade que o produto tem em cumprir a finalidade a que se propõe (ALLEN, 2006).

As dimensões dos produtos também são relacionadas às funções do produto com base em Löbach (2000), aos níveis de processamento cerebral do prazer propostos por Norman (2008), aos tipos de emoção definidos por Desmet (2003), aos tipos de prazer e aos seus benefícios baseados em Jordan (1998, 2000), aos fatores determinantes do apego propostos por Mugge, Schoormans e Schifferstein (2008) e aos princípios fundamentais do amor baseados em Russo e Hekkert (2008).

Alguns autores (JORDAN, 2000; NORMAN, 2008) adotam o termo “prazer” tanto em relação aos fatores estético-simbólicos quanto em relação aos fatores prático-utilitários, e a terminologia adotada pelos autores foi respeitada e mantida no quadro apresentado. Porém, com o propósito de diferenciar o uso do termo, esse foi substituído,

sempre que possível, por “satisfação” quando relacionado ao desempenho e à usabilidade do produto e mantido quando associado ao sentido de prazer desinteressado relacionado à dimensão estética. Desse modo, foi adotado o princípio de que a dimensão estético- simbólica proporciona prazer, enquanto que a função prático- utilitária proporciona satisfação.

O quadro apresentado expõe uma síntese dos conceitos abordados neste capítulo, os quais remetem a questões importantes que foram consideradas na elaboração dos instrumentos desta pesquisa, e, portanto, contribuiu como um instrumento de consulta rápida sobre os aspectos a serem observados na elaboração dos instrumentos e, também, na análise e discussão dos resultados.

Entretanto, é necessário ressaltar que algumas das relações apresentadas entre os conceitos, feitas com base nas definições dos autores investigados e direcionadas aos interesses desta pesquisa, não são unívocas e, portanto, podem ser relacionadas a partir de outras associações.

O prazer fisiológico, por exemplo, foi associado à dimensão estético- simbólica mediante a função estética em virtude da definição proposta por Jordan (2000), que relaciona o prazer fisiológico aos órgãos sensoriais, e em razão da compreensão de que o prazer sensorial gerado pela aparência de um produto se alinha à sensação prazerosa, sem finalidade utilitária, proporcionada pela função estética.

Já a interação física prazerosa, por exemplo, poderia ter sido associada ao prazer fisiológico em um primeiro momento e, consequentemente, à função estética. Nesse caso, porém, foi associada à função prática em razão da definição proposta pelos autores (RUSSO; HEKKERT, 2008), a qual enfatiza as propriedades táteis dos produtos e, em virtude do exemplo por eles mencionado, valoriza mais sua usabilidade.