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2.2 Mentoria

2.2.3 Funções da Relação de Mentoria

Para Kram (1985), as funções de mentoria constituem aqueles aspectos do desenvolvimento da relação que aprimoram o progresso e o crescimento individual. Estes papéis são as características essenciais que diferenciam o desenvolvimento de uma relação de mentoria de outras relações de trabalho.

Em uma organização, enquanto as funções de carreira agregam vantagem no desenvolvimento hierárquico do indivíduo, as psicossociais afetam os sujeitos de forma pessoal. Entretanto ambas ajudam o mentorado a enfrentar as mudanças nos estágios da sua carreira e da sua vida (KRAM, 1983).

Essas funções sofrem influência da necessidade do mentorado, da percepção do mentor sobre a necessidade do mentorado e da habilidade e motivação do mentor em satisfazer as necessidades do mentorado. As funções de desenvolvimento de carreira impactam na promoção, compensação, socialização e aspirações do mentorado. Já as funções psicossociais envolvem facilitação da socialização do mentorado na organização, senso de competência e eficácia no papel profissional, além de terem impacto na satisfação no trabalho, estresse no trabalho, comprometimento, rotatividade etc. (RAGINS, 1997).

Pode-se dividir as funções de mentoria em duas categorias: as funções de carreira que são cinco (patrocínio, exposição-visibilidade, coaching, proteção e tarefas desafiadoras), que constituem aqueles aspectos da relação que aprimoram os laços de aprendizagem e preparam para o progresso na organização; e as funções psicossociais que são quatro (modelo, aceitação-e-confirmação, aconselhamento e amizade), que constituem aqueles aspectos da relação que aprimoram o senso de competência, a identidade e a efetividade no papel profissional.

Algumas delas são observadas mais freqüentemente do que outras, e uma determinada relação pode prover poucas ou muitas destas possíveis funções de mentoria (KRAM, 1985). Abaixo quadro ilustrativo das funções de mentoria.

Figura 2 (2) - Funções de Mentoria. Fonte: KRAM (1985)

Conforme apresentado no quadro acima, as funções de mentoria podem ser divididas em duas categorias, as de carreira e as psicossociais. Assim em uma organização, enquanto as funções de carreira agregam vantagem no desenvolvimento hierárquico do indivíduo, as psicossociais afetam os sujeitos de forma pessoal.

Nesta mesma visão, Carr (1999 apud SALGUES; DIAS; MORAES, 2004) ressalta que o mentor pode desempenhar vários papéis, como ajuda na tomada de decisão na carreira, estímulo e apoio na realização de tarefas e no equilíbrio pessoal e profissional, sendo um catalisador do crescimento e ajudando no desenvolvimento de autoconfiança e de comportamentos positivos. Zey (1991) complementa que as funções de mentoria podem ser organizadas numa hierarquia, de acordo com a contribuição que cada uma traz para o desenvolvimento gerencial do mentorado.

Funções de carreira e psicossociais não são totalmente distintas, ou seja, em determinada situação, o mentor pode implementar, simultaneamente, uma função de carreira e uma psicossocial. O mentor provavelmente estará dando suporte para o progresso na carreira e, ao mesmo tempo, aprimorando o senso individual de competência e eficácia no papel gerencial (KRAM, 1985).

A seguir será descrito o significado de cada função presente nas relações de mentoria, sendo apresentadas em primeiro lugar as funções de carreira e logo a seguir as funções psicossociais.

Funções de Carreira:

As funções de carreira são aqueles aspectos do relacionamento que aumentam a aprendizagem dos conhecimentos e preparam para o avanço na organização (KRAM, 1985).

a) O patrocínio é o apoio público do mentor ao mentorado, sendo crítico para o desenvolvimento do mentorado na organização;

b) O papel de exposição-visibilidade envolve determinar responsabilidades que permitem ao mentorado desenvolver relações com pessoas-chave na organização que podem julgar seu potencial para promover avanços na carreira;

c) O coaching aprimora os conhecimentos e entendimentos do mentorado para que ele possa navegar eficazmente no mundo corporativo. Bennetts (1995) afirma que o termo mentor é usado freqüentemente de forma incorreta, e muitos programas de mentoria organizacional estariam mais relacionados a coaching e resultados organizacionais do que ao desenvolvimento de pessoas.

d) A função de proteção acontece em algumas situações em que a visibilidade não é interessante, sendo mais vantajoso o mentor assumir os contatos com as pessoas de níveis mais altos;

e) O papel de promover tarefas desafiadoras é uma função efetiva do mentor para com o seu mentorado. Os trabalhos desafiadores, apoiados com treinamento técnico e feedback de performance, desenvolvem competências específicas e senso de realização profissional.

Funções Psicossociais:

As funções psicossociais são aqueles aspectos de um relacionamento que aumentam o sentimento de competência, claridade de identidade, e efetividade nos conhecimentos profissionais. Enquanto as funções de carreira servem, primariamente, para ajudar no avanço

dentro da hierarquia da organização, as funções psicossociais afetam cada indivíduo no nível pessoal.

a) O papel de modelo envolve o mentor se colocando como um exemplo desejável e o mentorado se identificando com ele; a modelagem é a mais freqüentemente relatada função psicossocial. As atitudes de um colega sênior, os seus valores e comportamentos fornecem um modelo para o colega júnior copiar. Este último encontra no sênior uma imagem particular de quem ele pode se tornar. À medida que ele aspira a posições de maior autoridade e responsabilidade, ele imagina a si mesmo nestes papéis se identificando com o gerente sênior. Na medida em que o colega júnior vê partes de si mesmo atualmente e idealizado, o colega sênior serve como um objeto de admiração, cópia e respeito.

b) A aceitação-e-confirmação habilitam o mentorado a experimentar novos comportamentos. A relação que promove esta função tem como pressuposto básico encorajar o mentorado a correr riscos não muito familiares, relativos ao mundo do trabalho, trazendo apoio e encorajamento nessas situações de risco. Essa confiança básica torna a tomada de risco menos apavorante para uns do que para outros que não estão tão convencidos de que erros, enquanto um meio para a aprendizagem, não resultarão em rejeição.

c) Aconselhamento é uma função psicossocial que leva o indivíduo a explorar preocupações pessoais que possam interferir com um sentimento positivo de si próprio na organização. Conflitos internos que o colocam estranho consigo mesmo se tornam foco de discussão no relacionamento.

Nesse contexto encontra um fórum no qual pode falar abertamente sobre ansiedades, medos e ambivalências que afetam o trabalho produtivo. Preocupações pessoais nos estágios iniciais da carreira caem em três maiores áreas: como um indivíduo pode desenvolver competência e potencial enquanto também se sentir produtivo e satisfeito em uma carreira recentemente escolhida; como um indivíduo pode se relacionar com pares e superiores sem comprometer valores pessoais e a individualidade; e como ele pode incorporar responsabilidades crescentes e comprometimentos no trabalho com ouras áreas da vida.

Essas tarefas de desenvolvimento envolvem clarificar os relacionamentos de alguém consigo mesmo, com a organização, e com outras esferas da vida. A função de aconselhamento é importante para atender essas tarefas.O aconselhamento é uma função que

capacita o mentorado a explorar interesses pessoais que podem interferir na sua concepção da organização. Através deste processo, o mentorado é capaz de suportar e defender interesses pessoais mais eficazmente.

d) A amizade é caracterizada como uma função de interação social, que resulta em envolvimento mútuo e entendimento, numa troca informal sobre experiências no trabalho e fora dele. A função de amizade permite ao jovem adulto começar a se sentir como um par com um adulto mais sênior (RAGINS, 1997).

Allen, Russell e Maetzke (1997), estudando diversos fatores relacionados à satisfação de mentorados com um programa de mentoria formal de pares, encontraram evidências nos resultados da relação entre o grau de funções de carreira e psicossocial, e a satisfação do mentorado com sua relação de mentoria.

Para Hale (2000) e Mumford (1995), a mentoria é o caminho para o desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e insights. Bennets (1995) conceitua mentoria como o caminho para o conhecimento, habilidades e valores. Para esses autores, as habilidades e conhecimentos são fáceis de planejar e esses aspectos são menos poderosos em termos de aprendizagem individual do que os valores e insights.

Se comparados às funções propostas por Kram (1985), os papéis de carreira têm relação com o que esses autores chamaram de desenvolvimento de habilidades e conhecimento. Entretanto, o insight e os valores são considerados menos planejáveis, mais pessoais e podem proporcionar poderosos ambientes de aprendizagem, dependendo das circunstâncias experimentadas pelo mentorado.

O desenvolvimento de insights e valores tem semelhança com os papéis psicossociais propostos por Kram (1985). As habilidades e o conhecimento ficam limitados ao alcance do mentor, enquanto os insights podem tornar-se uma poderosa forma de ajudar o mentorado, visto que a eficácia extrapola os limites do mentor e se desenvolvem à medida que o mentorado faz a ligação entre suas habilidades e conhecimentos, e suas experiências, circunstâncias e ambiente.

Segundo Kram (1985), as características das organizações – sistemas de recompensa, cultura organizacional, desenho de tarefas e sistemas de gerenciamento de desempenho – influenciam o comportamento dos indivíduos em seu ambiente de trabalho. Desta forma, podem encorajar ou desencorajar as relações entre pares e entre superiores e subordinados.

-Que funções de mentoria estão presentes nas relações deste estudo de caso, e as mesmas são compatíveis com o modelo vigente?

Finalizada a apresentação do embasamento teórico para o trabalho, passaremos no próximo capítulo a detalhar a metodologia usada para a realização da pesquisa.

3 METODOLOGIA

O capítulo anterior teve como objetivo central examinar o conjunto de textos científicos que tratam sobre o tema do estudo. A proposta do presente capítulo é apresentar a metodologia que utilizada na pesquisa, abrangendo o delineamento da pesquisa, adescrição das técnicas de coleta dos dados e da análise dos dados, e os limites e limitações do estudo conforme será apresentado a seguir.

3.1 Delineamento da pesquisa

A pesquisa é de base qualitativa, do tipo descritiva, pois tem o objetivo de obter informações e opiniões do universo (ROESCH, 1999). A pesquisa qualitativa é importante para compreender as relações que ocorrem entre atores sociais tanto no âmbito da instituição quanto no de movimentos sociais e as representações de determinado grupo sobre temas específicos De acordo com Minayo (1998) as diferenças entre a pesquisa qualitativa e quantitativa vão além da simples escolha de estratégias de pesquisa e procedimentos de coleta de dados, representam posições epistemológicas diferentes.

A pesquisa qualitativa não considera somente as interpretações das realidades sociais, mas também objetiva uma categorização do mundo social, análise em direção a questões referentes à qualidade e coleta de dados, com estratégias de pesquisa independente. É igualmente relevante, após o levantamento, o direcionamento de análise dos dados obtidos ou o embasamento da interpretação com observações mais minuciosas (BAUER; GASKEL; ALLUM, 2002).

Para Macedo (2002), os métodos qualitativos procuram descrever a cultura do ponto de vista do indivíduo que está dentro dela, ao contrário da perspectiva do indivíduo que está fora da cultura, como pesquisador. Entrevistas sem estrutura, observações e outras técnicas qualitativas são assim desenhadas para compreender o ponto de vista do sujeito. Pesquisadores evitam impor suas próprias categorias ou outras idéias a uma cultura, procurando trazer à tona o sistema de categorias ou idéias que os membros da cultura usam, eles mesmos, para pensar seus mundos.

Procurando resumir as características básicas da pesquisa qualitativa, podemos identificar alguns aspectos essenciais tais como:

_ O ambiente a as pessoas nela inseridas não são reduzidos a variáveis, mas observados como um todo, e ainda o ambiente natural é a fonte direta dos conteúdos e o pesquisador é o instrumento fundamental.

_ A preocupação do investigador está no significado que as pessoas dão às coisas e à própria vida, e ainda porque não partem de hipótese, a priori, utilizam enfoque indutivo na análise das informações. Quando o estudo é de caráter descritivo e o que busca é o entendimento do fenômeno como um todo na sua complexidade, é possível que uma análise qualitativa seja a mais indicada.

• Este estudo terá como objetivo principal aumentar a compreensão e o conhecimento das relações de mentoria nas empresas familiares. Nesse sentido será adotado o método qualitativo de pesquisa do tipo história oral, considerado este mais adequado para explorar e interpretar os fenômenos propostos na pesquisa, através de um estudo de caso, conforme detalharemos a seguir.

3.1.1 Estudo de Caso

O estudo de caso não é uma escolha metodológica, mas uma escolha do que deve ser estudado. Ele se concentra no conhecimento experiencial do caso e a sua atenção é focada para compreender as influências sociais, políticas e de grupo, além de outros contextos (STAKE, 2000).

Em todas essas situações, a clara necessidade pelos estudos de caso surge do desejo de se compreender fenômenos sociais complexos. Assim, o estudo de caso permite uma investigação para se preservar as características holísticas e significativas dos acontecimentos da vida real, tais como ciclos de vida individuais, processos organizacionais e administrativos, mudanças ocorridas em regiões urbanas, relações internacionais e a maturação de setores econômicos (YIN, 2005).

Fleury (1989) comenta que grande parte das pesquisas realizadas sobre cultura organizacional é baseada em estudo de caso. Não apenas na literatura internacional como nos trabalhos realizados recentemente no Brasil, procura-se focalizar a realidade de uma organização, assim, pesquisadores que acreditam que culturas são únicas e específicas a um grupo particular utilizam métodos qualitativos.

De acordo com Gil (1994), o estudo de caso é uma pesquisa caracterizada pelo estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira que permita o seu amplo e detalhado conhecimento, tarefa praticamente impossível em outro tipo de estudo.

Para Yin (2005), quando se tem um fenômeno contemporâneo a ser investigado dentro do seu contexto de vida real e suas fronteiras - entre o fenômeno e o contexto - não estão claramente definidos, uma das formas de pesquisa social que se pode utilizar é o estudo de

FATO Registro em arquivo Documentos Observações (direta e participante) Entrevistas Espontâneas Entrevistas focais Entrevistas e levantamentos estruturados

Convergência de Evidências – (estudo único)

caso. Ainda de acordo com o mesmo autor, o pesquisador de estudo de caso deve ser hábil em saber fazer perguntas, em saber ouvir, ser flexível e adaptável, ter plena compreensão das questões que estão sendo pesquisadas, e tentar evitar que idéias preconcebidas impeçam a possibilidade de novas descobertas, evitando viés.

Abaixo apresentamos quadro ilustrativo sobre a convergência de evidências para um estudo de caso único, baseado nos estudos de Yin (2005).

Figura 3 (3) - Convergência de Evidências – (estudo único) Fonte: YIN (2005).

Para Castro (1977), é muito melhor fazer o uso sofisticado de uma técnica simples, do que procurar técnicas sofisticadas pelo fato de estarem disponíveis. Em contrapartida, existem críticas ao método do estudo de caso, principalmente no que se refere à sua falta de objetividade e rigor científico, uma vez que dependem em grande parte da intuição do investigador, estando, portanto, sujeito a eventual subjetividade. De qualquer maneira, subjetividade é algo inerente ao ser humano. (YIN, 1990).

A falta de rigor metodológico é o alvo de muitas críticas pela academia e a estratégia de estudo de caso, principalmente pelo fato de ainda encontrar muitos pesquisadores negligentes e permissivos à evidências equivocadas e tendenciosas. Outra questão alvo de críticas é a limitação com a generalização, alegando que o estudo de caso oferece pouca base que possibilite replicação, inclusive quando comparado aos experimentos. Um argumento

defensivo a essa acusação “é que os estudos de caso, da mesma forma que os experimentos, são generalizáveis a proposições teóricas, e não a populações e universos” (YIN, 2005).

Quanto à validade e confiabilidade de um estudo de caso Richardson (1999, p 92) diz:

... o cristal combina simetria e substância com uma infinita variedade de formatos, substância, transmutações, multidimensionalidades e ângulos de aproximação. Os cristais crescem, mudam, alteram-se, mas não são amorfos. A cristalização, sem perder a estrutura, desconstrói a idéia tradicional de “validade” (sentimos como se não existisse verdade única).

Assim sendo, acredita-se ser o presente estudo de caso relevante e que poderá contribuir para o melhor entendimento dos processos de mentoria em empresas familiares. A seguir, será detalhado o método utilizado nesta pesquisa: história oral, considerado apropriado para a melhor compreensão do problema e alcance dos objetivos.

3.1.2 História Oral

Foi utilizada como metodologia de pesquisa a história oral. Tal metodologia visa ao estudo e ao registro de acontecimentos, histórias de vida, trajetórias de organizações, enfim de temas históricos contemporâneos que permitam acessar pessoas que ainda estejam vivas. Sua principal técnica de coleta de dados utilizada é a entrevista de história oral, que obtém depoimentos dos entrevistados (VERGARA, 2005).

No presente caso acredita-se ser a metodologia mais adequada, pois permite reconstruir redes de relação, padrões de socialização, trajetórias de instituições, comunidades e indivíduos, e privilegia a recuperação do vivido, conforme concebido por quem viveu (ALBERTI, 1989).

“A história oral é uma história construída em torno de pessoas. Ela lança a vida para dentro da própria história e isso alarga seu campo de ação”. Propicia o contato e a compreensão social entre gerações (THOMPSON, 1992, p. 44). A possibilidade de utilizar a história para finalidades sociais e pessoais vem da natureza intrínseca da abordagem oral.

Ela trata de vidas individuais e baseia-se na fala e não na habilidade da escrita, muito mais exigente e restrita. O uso da voz humana, viva, pessoal e peculiar, faz o passado surgir no presente de maneira extraordinariamente imediata. As palavras podem ser emitidas de maneira idiossincrática, através do sentimento próprio de cada pessoa e por isso mesmo são mais expressivas. Elas insuflam a vida na história e com elas se aprende algo mais do que simples conteúdo. Essas palavras, quando gravadas, demonstram como é rica a capacidade de expressão das pessoas de todas as condições sociais. Essa metodologia visa reconstruir uma

experiência humana vivida em grupo e de tendência universal, a partir da totalidade sintética que é o discurso específico de um indivíduo, pois toda prática social humana é uma atividade sintética, uma totalização ativa de todo o contexto social. (THOMPSON, 1992)

Uma vida é uma prática que se apropria das relações sociais (as estruturas sociais), as interioriza e as transforma em estruturas psicológicas, pela sua atividade de desestruturação- reestruturação. O sistema social está plenamente contido nos atos, sonhos, delírios, obras e comportamentos das pessoas e a história deste sistema está inteiramente presente dentro da história da individualidade humana (CARVALHO, 2003).

A história oral também é uma história do tempo presente, pois implica em uma percepção do passado como algo que tem continuidade hoje e cujo processo histórico não está acabado. A presença do passado no presente imediato das pessoas é razão de ser da história oral. Nesta medida, a história oral não só oferece uma mudança para o conceito de história, mas, mais do que isto, ela garante sentido social à vida de depoentes e leitores que passam a entender a seqüência histórica e a sentirem-se parte do contexto em que vivem (ICHIKAWA; SANTOS, 2003).

Outro aspecto relevante é o saber ouvir, que é a característica fundamental do oralista. Entretanto há uma ressalva: o entrevistador não é passivo e nem neutro, na medida em que, com suas perguntas participa e dirige o processo da entrevista, prepara o roteiro, seleciona as perguntas e introduz questões a serem abordadas pelo entrevistado. O documento final, portanto, é o resultado de um diálogo entre pesquisador e pesquisado (ICHIKAWA; SANTOS, 2003).

Há uma grande discussão a respeito do status da história oral. Alguns argumentam que a história oral é uma técnica; outros, uma disciplina; e outros, ainda, uma metodologia. Os defensores da história oral como técnica, interessam-se pelas experiências com gravações, transcrições e conservação de entrevistas e o aparato que as cerca: tipos de aparelhagem de som, formas de transcrição de fitas, modelos de organização de acervo etc.

Alguns defensores dessa posição são pessoas envolvidas diretamente na constituição e conservação de acervos orais. Muitos são cientistas sociais cujos trabalhos se baseiam em outros tipos de fontes, em geral escritas, e que utilizam as entrevistas de forma eventual, sempre como fontes de informação complementar. A essas pessoas, entretanto, somam-se as que efetivamente concebem a história oral como uma técnica, negando-lhe qualquer pretensão metodológica ou teórica (FERREIRA; AMADO, 1996).

Os que atribuem à história oral um status de disciplina baseiam-se em argumentos complexos e, às vezes contraditórios. Contudo todos parecem partir de uma idéia

fundamental: a história oral inaugurou técnicas específicas de pesquisa, procedimentos metodológicos singulares e um conjunto próprio de conceitos; esse conjunto por sua vez, norteia duas outras instâncias conferindo-lhes significado e emprestando unidade ao novo campo do conhecimento. (FERREIRA; AMADO, 1996).

De modo geral, na área teórica, a história oral é capaz de suscitar questões. Formula as perguntas, porém, não pode oferecer as respostas. As soluções e explicações devem ser