Identificar as fases das relações de mentoria presentes e sua compatibilidade com o

De acordo com Kram (1983) e como citados na fundamentação teórica, as fases da relação de mentoria são quatro, a saber: Iniciação, cultivação, separação e redefinição.

No presente estudo foram identificadas as fases de cultivação, separação e redefinição conforme apresentamos a seguir:

Destacando a falas de Guilherme a seguir, podemos constatar em sua trajetória que ele cita três pessoas como influenciadores em sua vida, porém somente no âmbito profissional, ocorrido na época em que ele trabalhava fora dos negócios da família. Conforme o relato, houve a relação que partiu para a redefinição, fase onde é terminada a relação e cada um dos envolvidos toma o seu caminho conforme ele cita que não se tornou grande amigo dessas pessoas, mas que as conhece as admira e sempre fala com elas quando as encontra.

[...] Aconselhando não, teve outras pessoas importantes, por exemplo, quando eu trabalhei no Bompreço, João Carlos era um cara que eu via

como ele trabalhava, embora não tivesse aproximação direta com ele, eu via aquele momento, prestava atenção, eu tinha muita admiração. Até hoje é um cara excepcional. […] Teve um cara que me ensinou muito lá, Antonio Bispo, que era controller, na Arthur Andersen teve Marcelo Silva que foi meu chefe, tínhamos uma relação só profissional, ele era um cara excepcional, tanto que hoje ele é presidente das casa Pernambucanas, né? [...] Não que tenha sido decisivo, mas era uma pessoa que eu admirava bastante, me ensinou muita coisa. [...] Foi só na época que eu trabalhava com ele, não teve nada de excepcional, foi uma relação profissional, mas ainda hoje ele é meu amigo, a gente se fala e tal mas nada comparado à influência que meu pai teve na minha vida profissional. [...](GUILHERME, entrevista).

A grande maioria das relações de mentoria dentro da empresa encontra-se na fase de separação, fase essa em que o mentor afasta-se depois de acompanhar muito de perto o mentorado e o mesmo então anda com suas próprias pernas. É o que acontece atualmente com André e Guilherme, porém com o seu maior mentor Cyro, ainda por perto.

[...] Há muitos anos ele não tem função executiva, enquanto a gente tava preocupado com o lado operacional, com o dia a dia do negócio, ele tava sempre vendo o futuro. [...] Ele lê muito, está sempre acompanhando o que acontece no Brasil e no mundo, tem uma visão mais ampla, mais globalizada dos negócios. [...] (GUILHERM, entrevista E).

[...] Não é visionário, é que talvez ele tenha adquirido a técnica de ver quando uma coisa está dando errado, parar e analisar o porque antes que se torne um problema maior. Ainda hoje ele ajuda muito, mesmo não exercendo nenhuma função executiva. [...] (ANDRÉ, entrevista).

Hoje Guilherme e André além de exercerem funções operacionais também tomam as grandes decisões da empresa, porém Cyro, o grande mentor está sempre por perto, na estratégia do negócio, analisando o mercado e prevendo as situações, além de possuir extrema capacidade de antecipação aos fatos, o que se torna um diferencial na rapidez com que a empresa toma decisões e consegue se adaptar às exigências de um mercado cada vez mais competitivo.

Ainda nas relações de mentoria citadas, podemos encontrar a fase do cultivo, onde o mentor dedica especial atenção em seu mentorado, provendo-o das competências necessárias para o seu desenvolvimento. Durante esta fase as expectativas positivas emergem e são continuamente colocadas a prova no dia a dia, e a medida que o relacionamento continua os indivíduos percebem o verdadeiro valor de relacionar-se com o outro.

De uma forma geral, funções de carreira emergem primeiramente com o membro mais velho propondo desafios, treinando, orientando o jovem e à medida que os laços estreitam-se surgem as funções psicossociais. Como estamos falando de uma empresa familiar, onde

geralmente o que encontramos são pais que provêem seus filhos, há uma predominância pelas funções psicossociais.

É o que ocorre quando Guilherme e André investem esforços na preparação de seus filhos, a quinta geração, na intenção de prepará-los para o mercado assim como, para que possam futuramente assumir e dar continuidade aos negócios da família.

[...] Eu oriento os meus filhos e mostro o que eles precisam saber, mas não podemos queimar etapas, né... não adianta ver, tem que viver. [...] A primeira coisa que eu orientei foi arrumar um emprego numa empresa onde eles possam ter uma visão de negócios. Não existe melhor empresa para isso do que a de auditoria. [...] (ANDRÉ, entrevista).

[...] A preparação deles é dar o estudo suficiente, trabalharam fora todos os dois, eu orientei a trabalharem fora, um está fazendo um MBA fora do país, nos Estados Unidos, como eu gostaria de ter feito e não pude. [...] Eu estou preparando assim, estudaram e trabalharam fora, é fazer o que eu fiz, trabalhar fora para adquirir autoconfiança. [...] (GUILHERME, entrevista). Assim sendo, quanto às fases, os relatos nos levam a concluir que estão presentes tanto as fases de redefinição quando Guilherme sai do trabalho no Bompreço e então aqueles que foram citados como inspiradores para o seu crescimento passam a não mais fazer parte de sua vida, são separados e partem para uma relação que ele não considera propriamente de amizade, mas de respeito quando se encontram.

Outra fase identificada é a da separação, que se configura pela independência de Guilherme e André de seu mentor Cyro, onde ambos atualmente têm autonomia para decisão dentro da organização, porém sempre com Cyro participando da estratégia dos negócios.

Finalmente encontramos a fase de cultivo, onde Guilherme e André preparam seus filhos pertencentes à quinta geração de sucessores na família orientando-os e provendo-os das ferramentas necessárias para o futuro comando da empresa. Após a identificação das fases das relações de mentoria, passaremos a identificar as funções de mentoria exercidas no estudo, conforme se apresenta na próxima etapa.

4.7 Identificar as funções de mentoria presentes no estudo e sua compatibilidade com o