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7.3 Discussão 58

7.3.1 Funcionamento dos banheiros investigados 58

Antes de iniciar a discussão propriamente dita, é preciso caracterizar os banheiros pesquisados a partir das observações feitas e dos resultados encontrados. Os banheiros de ambos os prédios podem ser considerados limpos, contém os suprimentos (papel higiênico, toalha e sabão), não há falta de água na pia ou na descarga. Os itens do banheiro funcionam e quando algum item está com problemas ele é interditado. Há espelhos, é amplo, a lixeira fica próxima do porta papel toalha e do porta papel higiênico. Os banheiros são limpos três vezes ao dia, no início da manhã, na hora do almoço e no final do dia. O lixo é recolhido no momento da limpeza e uma vez entre os horários da limpeza. Eles são considerados um dos melhores banheiros da Universidade (vide Estudo 3). A constância dos suprimentos, a mesma equipe de limpeza e a facilidade para conduzir a observação pela proximidade dos prédios e pelo corredor amplo, onde os observadores poderiam permanecer sem serem percebidos, já que os outros alunos utilizam a mesma prática de ficar sentados ou em pé no corredor viabilizou a investigação desses banheiros públicos.

A frequência de lavar as mãos pode ser considerada alta em ambos os banheiros. Mais de 80% dos homens e das mulheres que participaram da pesquisa lavaram as mãos ao frequentar o banheiro. A grande maioria das mulheres também utiliza a descarga, mas menos da metade dos homens a utiliza. Esses dados mostram que a utilização para o comportamento de dar descarga é adequada no banheiro feminino e parcialmente adequada no banheiro masculino. Pode-se avaliar a utilização dos banheiros como parcialmente adequada, já que a maioria dos usuários (61%) não utiliza sabão para lavar as mãos. No entanto, apenas três pessoas não jogaram o papel na lixeira.

A não utilização do sabão para lavar as mãos pode ser devido ao formato dos recipientes de sabão líquido, que não são afixados de maneira correta, o quê dificulta seu manejo. Outra explicação se baseia na

Estudo 2: Experimento 59

presença dos observadores, já que algumas pessoas foram observadas apenas molhando os dedos ou toda a mão, quando perceberam a presença dos observadores. No modelo de regressão logística a presença de pessoas depois da utilização da cabine ou do mictório é um preditor do comportamento de lavar as mãos (Tabela 7.2.2.3).

Com base nos aspectos tratados pela história da higiene, esses dados sugerem que haja dois grupos de pessoas (Vigarello, 1985/1996). Aquelas que lavam as mãos com uma preocupação de limpeza e aquelas que lavam as mãos como uma consequência do contexto social. O uso do sabão pode estar relacionado a como a pessoa avalia esse comportamento: proteção contra agentes externos ao organismo ou etiqueta social de utilização do banheiro. Se avalia esse comportamento como proteção contra agentes externos ao organismo, é fundamental a utilização do sabão. Se avalia este comportamento como etiqueta social, é apenas necessário que desempenhe o procedimento socialmente aceito.

A forma de entendimento desses resultados tem implicações prática, teórica e de método. As implicações prática e teórica se referem à forma de abordagem do comportamento de lavar as mãos. Se a mensagem vai focar na proteção contra agentes externos ao organismo ou vai focar na etiqueta social. A sugestão é que se foque nos dois aspectos, saúde e etiqueta social. No estudo de Judah et al. (2009), ao testar alguns tipos de prompts baseados em diferentes teorias, mostrou-se que o efeito dos prompts é diferenciado para homens e mulheres. Para as mulheres, os prompts mais efetivos foram baseados na teoria do risco e normas e afiliação. Enquanto que, para os homens, foram mais efetivos os baseados nas normas e afiliação, conforto e “disgust” (uma mistura de desagradável com humor). Independente do gênero, os prompts efetivos tratam do aspecto da proteção corporal (teoria do risco e “disgust”) e das normas e afiliação, da pertença a um grupo. Sendo que, o conceito de etiqueta está diretamente associado a pertencer a um

grupo, nesse caso, o grupo que sabe usar bem um banheiro seguindo normas e afiliação. As teorias que possam tratar tanto do aspecto de proteção corporal quanto de normas serão mais bem sucedidas quanto ao objetivo de aumentar o comportamento de lavar as mãos com sabão.

A implicação de método refere-se à forma de coleta dos dados. No estudo de Judah et al. a frequência de lavar as mãos foi investigada a partir da utilização do sabão. No entanto, o presente estudo identificou que nem todos que lavam as mãos utilizam o sabão. Investigar os comportamentos no banheiro público com medidas indiretas necessita de uma prévia observação in locu do comportamento alvo e se as medidas indiretas contemplam as possíveis facetas desse comportamento. No caso do comportamento de lavar as mãos, além da utilização, ou não, do sabão, a duração da ação também é importante para a definição operacional desse comportamento e, consequentemente, para sua investigação.

Não foi possível investigar se existem preditores específicos do comportamento de lavar as mãos sem sabão, em função do tamanho da amostra. E, não foi possível analisar a duração da lavagem em função da qualidade do dado, que muitas vezes não pode ser registrado. Além disso, foi possível observar que o comportamento de descarte do papel- toalha tem relação com o ambiente físico e social, porque o cesto de lixo ficava posicionado de uma maneira que realmente facilitava o seu correto descarte e não se via papel no chão que sugeria uma norma descritiva de que as pessoas naquele ambiente físico não jogam o papel no chão (Cialdini & Reno, 1990).

A frequência de lavar as mãos em ambos os banheiros, feminino e masculino, pode ser considerada alta. O mesmo se aplica para o banheiro feminino em relação a dar descarga. A utilização da descarga no banheiro masculino na cabine se assemelha ao banheiro feminino, a diferença é em relação à utilização da descarga no mictório. Salvo o uso da descarga no mictório, os outros dados sugerem um efeito teto, ou seja, os comportamentos

observados já eram desempenhados em alta frequência, permitindo pouca alteração com a introdução dos prompts. Esse resultado sugere que o efeito teto mascarou o efeito direto dos

prompts.