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Hipótese 2: A utilização de prompts altera o comportamento de lavar as mãos 55

7.1 Método 49

7.2.2 Hipótese 2: A utilização de prompts altera o comportamento de lavar as mãos 55

Lavar ou não as mãos

Para verificar a influência das variáveis antecedentes no comportamento de lavar, ou não, as mãos realizou-se duas regressões logísticas. O primeiro modelo foi utilizado para a comparação com os resultados do Estudo 1. O segundo modelo foi utilizado para investigar as hipóteses do presente estudo.

O primeiro modelo se refere às análises feitas com todos os participantes. Os resultados são apresentados na Tabela 7.2.2.1, que mostra as variáveis antecedentes consideradas conjuntamente no modelo de regressão logística. As variáveis que se apresentaram como preditoras do comportamento de lavar

as mãos são o comportamento de dar descarga (B = 1,639; Wald = 20,130; p < 0,00) e a quantidade de pessoas no banheiro depois que o indivíduo saiu da cabine ou do mictório (B = 0,381; Wald = 4,110; p < 0,043).

Verificou-se pela razão de chances que o maior impacto é da variável referente ao comportamento de dar descarga (OR = 5,148; IC 95% = 2,51 - 10,533). Um menor impacto foi observado pela variável quantidade de pessoas depois que o indivíduo saiu da cabine ou do mictório (OR = 1,464; IC 95% = 1,013 - 2,116). O aumento de 1 ponto no comportamento de dar descarga aumenta as chances em 414% no comportamento de lavar as mãos (Hair et al., 2009). Em outras palavras, quando todas as outras variáveis estão constantes, um aumento de 1 para 2 no comportamento de dar descarga assinala um aumento em torno de 5 vezes nas chances do sujeito ser classificado no grupo que lava as mãos. Já para a quantidade de pessoas depois que o indivíduo saiu da cabine ou do mictório implica em um aumento de 46%.

Tabela 7.2.2.1. Regressão logística predizendo o comportamento de lavar as mãos a partir das variáveis gênero, prompt (cordial ou neutro), quantidade de pessoas antes e depois da entrada na cabine ou mictório, presença ou ausência dos suprimentos (sabão, papel-toalha e papel higiênico), comportamento de dar descarga e fase experimental (linha de base e intervenção).

Variáveis B Wald GL P Exp(B) IC 95%

                Baixo Alto Descarga 1,639 20,130 1 ,000 5,148 2,516 10,533 Nº Pessoas antes -,214 1,406 1 ,236 ,807 ,567 1,150 Nº Pessoas depois ,381 4,110 1 ,043 1,464 1,013 2,116 Interação social -,081 ,025 1 ,874 ,922 ,339 2,508 Gênero ,169 ,197 1 ,657 1,184 ,562 2,497 Suprimentos ,059 ,033 1 ,856 1,061 ,559 2,014 Prompt -,485 2,483 1 ,115 ,616 ,337 1,125 F.Experimental ,375 1,456 1 ,228 1,455 ,791 2,678 Constante ,370 ,486 1 ,486 1,448

O valor inicial do modelo vazio foi de 342,697. Verificou-se que com a introdução das variáveis antecedentes no modelo, o valor diminuiu para 310,171. O modelo de predição explica entre 7 e 13% da variância do comportamento de lavar as mãos e indica que os preditores, como descritos, diferenciam

quem lava as mãos e quem não as lava (Omnibus, χ²gl = 8, N = 431 = 32,52; p < 0, 000).

O modelo foi capaz de classificar corretamente com uma taxa de 86%. Sendo capaz de classificar corretamente quem lava as mãos em 95%, mas não é capaz de predizer quem não

lava as mãos, por ter um percentual de apenas 3,4% de predição correta.

Pode-se concluir, comparando as Tabelas 6.2.2.1 (Estudo 1) e 7.2.2.1, que a intervenção dos prompts altera a função de outras pessoas no banheiro público para o comportamento de lavar as mãos, quando há pessoas logo após a saída do indivíduo da cabine ou do mictório. Como se pode observar na Tabela 6.2.2.1, as variáveis preditoras do comportamento de lavar as mãos, além da variável dar descarga, foram local do banheiro e suprimentos. Com a introdução no modelo de regressão logística da variável fase experimental, ou seja, a intervenção nos banheiros com os prompts, a variável pessoas depois que o indivíduo saiu da cabine ou do mictório passou a ser preditora do comportamento de lavar as mãos, ao invés, da localização e da presença de suprimentos (Tabela 7.2.2.2).

Tabela 7.2.2.2. Descrição das variáveis antecedentes em relação à média da quantidade de pessoas antes e depois do usuário sair da cabine ou mictório, frequência total de dar descarga, frequência de dar descarga apenas para aqueles que usaram a cabine, apenas para os homens que utilizaram o mictório, frequência da interação social, gênero, suprimentos, prompt (cordial e neutro) e fase experimental (linha de base e intervenção) em função do comportamento de lavar as mãos.

Variáveis Lavar as mãos antecedentes Sim Não Total

Descarga   Geral S 313 33 346 N 58 27 85 Cabine S 292 30 322 N 23 17 40 Mictório S 20 2 22   N 35 10 45 Nº Pessoas antes   1 0,92 0,99 Nº Pessoas depois   1,28 0,93 1,23 Interação social Sim 41 6 47 Não 330 54 384 Gênero Fem. 253 33 286 Masc. 118 27 145 Suprimentos Sim 251 41 292 Não 118 18 136 Prompt Cordial 226 31 257 Neutro 145 29 174 F. Experimental L. de Base 178 33 211 Intervenção 193 27 220

Corroborando os resultados da regressão logística, a Tabela 7.2.2.2 mostra que havia mais pessoas depois do usuário sair da cabine ou mictório quando o usuário havia lavado as mãos que quando ele não havia lavado as mãos, sendo essa diferença estatisticamente significativa (t = - 2,34; p < 0,02). Esse efeito não foi observado para a quantidade de pessoas antes do usuário entrar na cabine ou utilizar o mictório. Observa-se também que a frequência de não lavar as mãos aumenta quando não se dá descarga. A porcentagem de não lavar as mãos quando se utilizou a descarga é de 11%, enquanto que a porcentagem de não lavar as mãos quando não se utilizou a descarga é de 47%. Pela regressão logística não foi possível identificar qual prompt teve mais efeito. No entanto, observando a Tabela 7.2.2.2, pode-se identificar uma diferença do comportamento de lavar as mãos entre as fases experimentais de linha de base e intervenção, os usuários lavaram mais as mãos durante a intervenção.

O segundo modelo analisou apenas os participantes que utilizaram a descarga na cabine. Os resultados são apresentados na Tabela 7.2.2.3 , que mostra as variáveis antecedentes consideradas conjuntamente no modelo de regressão logística. A variável que se apresentou como preditora do comportamento de lavar as mãos foi o comportamento de dar descarga (B = 1,93; Wald = 21,77; p <0,00). Verificou-se, pela razão de chances, que o impacto da variável referente ao comportamento de dar descarga (OR = 6,90; IC 95% = 3,06 - 15,52) seguiu a seguinte razão: o aumento de 1 ponto no comportamento de dar descarga aumenta as chances em 590% no comportamento de lavar as mãos (Hair et al., 2009). Em outras palavras, quando todas as outras variáveis estão constantes, um aumento de 1 para 2 no comportamento de dar descarga pressupõe um aumento em torno de 6 vezes nas chances

Estudo 2: Experimento 57

do sujeito ser classificado no grupo que lava as mãos.

O valor inicial do modelo vazio foi de 278,958. Verificou-se que com a introdução das variáveis antecedentes no modelo o valor diminuiu para 245,739. O modelo de predição explica entre 7 e 13% da variância do comportamento de lavar as mãos e indica que os preditores, como descritos, diferenciam

quem lava as mãos e quem não lava as mãos (Omnibus, χ²gl = 8, N = 262 = 33,22; p < 0, 000).

O modelo foi capaz de classificar corretamente com uma taxa de 87%, sendo capaz de classificar corretamente quem lava as mãos em 98,4%, mas não sendo capaz de predizer quem não lava as mãos por ter um percentual de apenas 10,6% de predição correta.

Tabela 7.2.2.3. Regressão logística predizendo o comportamento de lavar as mãos com os participantes que utilizaram a cabine a partir das variáveis gênero, prompt (cordial ou neutro), quantidade de pessoas antes e depois da entrada na cabine, presença ou ausência dos suprimentos (sabão, papel toalha e papel higiênico), comportamento de dar descarga e fase experimental (linha de base e intervenção).

Variáveis B Wald GL P Exp(B) IC 95%

                Baixo Alto Descarga 1,93 21,77 1 ,000 6,90 3,06 15,52 Nº Pessoas antes -0,14 0,50 1 ,478 0,87 0,60 1,27 Nº Pessoas depois 0,32 2,42 1 ,120 1,38 0,92 2,07 Interação social -0,05 0,01 1 ,921 0,95 0,34 2,65 Gênero -0,13 0,09 1 ,768 0,88 0,38 2,03 Suprimentos -0,06 0,03 1 ,873 0,94 0,45 1,96 Prompt -0,57 2,67 1 ,102 0,56 0,28 1,12 F.Experimental 0,41 1,37 1 ,243 1,51 0,76 2,99 Constante 0,25 0,19 1 ,665 1,28

Dar descarga foi o principal preditor do comportamento de lavar as mãos investigando todos os participantes ou apenas aqueles participantes que utilizaram a cabine. Quando pesquisado todos os participantes, a presença de pessoas após dar descarga aparece como preditor. O que não ocorre quando se investiga apenas aqueles que utilizaram a cabine, ou seja, sem os homens que utilizaram o mictório. A relação do uso da cabine com o comportamento de lavar as mãos pode ser observado na Tabela 7.2.2.2, quem não utilizou a cabine lavou menos as mãos proporcionalmente do que quem utilizou a cabine.

Resumindo, pode-se observar na Tabela 7.2.2.2 que a frequência entre a linha de base

n = 178 (84%) e a intervenção n = 193 (88%) aumentou, sugerindo um efeito da intervenção no comportamento alvo. Da mesma forma que para o comportamento de dar descarga, a

análise logística não mostrou a variável fase experimental como preditora do comportamento de lavar as mãos (Tabelas 7.2.2.1 e 7.2.2.3). No entanto, deve-se sinalizar que dos dois tipos de prompts utilizados, cordial e neutro, os dados da Tabela 7.2.1.4 mostram que houve uma pequena diferença entre a frequência de lavar as mãos na condição cordial n = 226 (88%), que foi ligeiramente maior que na condição neutra n = 145 (83%). Além disso, dar descarga continua sendo preditor do comportamento de lavar as mãos após usar a cabine, mesmo após a introdução dos prompts (Tabela 7.2.2.3). E, de forma geral, além de dar descarga, a presença de pessoas após a saída da cabine ou do mictório passa a ser preditor com a introdução dos prompts (Tabela 7.2.2.1).

Para o comportamento de lavar as mãos a variável gênero não parece ser preditora, como pode-se observar na Tabela 7.2.2.2

cujos dados indicam que homens n = 118 (81%) e mulheres n = 253 (88%) lavam as mãos em uma frequência semelhante, com maior frequência para as mulheres. Além do mais, a variável gênero não se mostrou preditiva do comportamento de lavar as mãos em nenhum dos modelos de regressão logística testados.

Pode-se concluir o efeito dos prompts na área pública e privada do banheiro, observando as Tabelas 7.2.1.2 e 7.2.2.2. Como se verifica, com a introdução dos prompts houve um aumento no comportamento de lavar as mãos e uma diminuição no comportamento de dar descarga. Os dados também sugerem que os prompts neutros foram mais efetivos na área pública e que os prompts cordiais exerceram efeito na área privada. No entanto, nenhuma das regressões logísticas confirmou esse efeito.

Resumindo, o comportamento de dar descarga, de modo geral, está mais associado ao gênero feminino, enquanto que o comportamento de não dar descarga, ao gênero masculino. Quando comparado apenas quem utilizou a descarga na cabine, o gênero feminino continua como preditor e, acrescenta-se, quanto maior a quantidade de pessoas fora da cabine quando o usuário sair, maior a chance que ele ou ela dê descarga. Analisando apenas a amostra masculina, utilizar a cabine aumenta a chance de dar descarga. Por sua vez, utilizar o mictório é preditor de não dar descarga. Para o comportamento de lavar as mãos, de forma geral, os preditores são dar descarga previamente e quanto maior a quantidade de pessoas no banheiro na saída da cabine ou do mictório, maior a chance de se lavar as mãos. Quando se analisa, apenas, o comportamento de lavar as mãos após a utilização da cabine, apenas dar descarga previamente é preditor.