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9.1.1 Participantes

Responderam ao instrumento 466 participantes, sendo 51% mulheres (n = 238) com média de idade de 23,5 (DP = 8,3). Dos que responderam, 84% (n = 374) eram estudantes universitários, 9% (n = 41) possuíam até o ensino médio e 7% (n = 30) haviam concluído o ensino superior. Os moradores de Brasília representam 51% (n = 236) da amostra, enquanto que os moradores de Aracaju são 49% (n = 230) dos participantes. Foi perguntado também quantos banheiros havia na residência e se havia um banheiro no quarto. Foi relatado em média 2,48 (DP = 1,66) banheiros por residência e 75% dos participantes não tinham banheiro no quarto.

9.1.2 Instrumento

Foi construído um instrumento composto de duas escalas (vide Apêndice C), tendo duas variações, uma para cada gênero. A primeira escala contém 45 itens que tratam do comportamento de uso do banheiro público, mensurada a partir de uma escala tipo Likert de 5 pontos (de 1 = quase nunca a 5 = quase sempre) e a segunda escala, com 20 itens, que

tratam de aspectos da estrutura física do banheiro público, mensurada a partir de uma escala tipo Likert de 5 pontos (de 0 = nada a 4 = totalmente). Finalizando o instrumento indagou-se sobre os dados demográficos. As escalas foram construídas seguindo as fases de elaboração de instrumento recomendadas por Pasquali (2001). Apenas a primeira escala será tratada no presente estudo por atender aos seus objetivos.

A escala ECEBP trata dos comportamentos de utilização do banheiro público criados a partir de quatro temas: (A) relação com o ambiente físico, (B) cordialidade, (C) percepção de consequência e (D) nojo do banheiro público. Além dos 43 itens relacionados aos temas, a escala masculina contém dois itens específicos referentes ao uso do mictório e a feminina contém dois itens específicos referentes ao descarte de absorvente íntimo e de papel higiênico (vide Apêndice E). A Escala foi denominada Escala de Comportamentos Ecológicos no Banheiro Público (ECEBP).

9.1.3 Procedimento teórico

Para montar os itens da ECEBP foi feito primeiro o procedimento teórico (Pasquali, 2001). No procedimento teórico são tratadas as definições constitutivas e operacionais de cada um dos construtos. A definição constitutiva trabalha no nível abstrato e é feita por meio de outros construtos, em termo de conceitos próprios da teoria em que ele se insere. A definição operacional trabalha no nível empírico e é a tradução concreta, em termos comportamentais, dos construtos previamente definidos. Os quatro temas são definidos a seguir.

(A) Relação com o ambiente físico

Definição constitutiva: para a psicologia ambiental a relação pessoa-ambiente físico é bi-direcional, ou seja, o comportamento influencia o ambiente físico e o ambiente físico influencia o comportamento. Todo comportamento é ambiental, porque ocorre em um determinado ambiente físico com uma determinada duração. Ele pode ser classificado em comportamento pró-ambiental, que se

Estudo 4: Escala 77

refere ao comportamento que causa o menor dano possível ao ambiente físico ou então, que traz benefícios (Steg & Vlek, 2009). E, ao contrário, pode ser classificado em comportamento anti-ambiental, que é aquele que causa danos ao ambiente físico. No presente trabalho esses termos são agrupados no termo comportamento ecológico.

Definição operacional: com base na definição constitutiva esse construto é subdividido em três características. A primeira, cuidado com o ambiente físico, aborda o uso do banheiro público seguindo o script de utilização relacionado ao comportamento pró- ambiental. A segunda, não cuidado com o ambiente físico, aborda o uso do banheiro público não seguindo o script de utilização adequado relacionado ao comportamento anti-ambiental. E, finalmente, o terceiro, uso particular do banheiro público, que aborda o uso do banheiro público de forma mais similar a um banheiro privado;

(B) Cordialidade

Definição constitutiva: o comportamento cordial, segundo Leite (1969) é uma aptidão para o social e é utilizado para definir o comportamento do brasileiro. Esse conceito está ligado ao conceito de comportamento pró-social em psicologia e ao conceito de civilidade nas ciências sociais. O conceito de comportamento pró-social “representa uma categoria de comportamentos que são definidos por alguns segmentos significativos da sociedade ou grupo como de benefício geral para outras pessoas” (Penner et al., 2005 p. 366). O conceito de civilidade trata da percepção que os ocidentais, principalmente europeus, têm de si numa perspectiva de superioridade em relação às outras sociedades. Não há nenhuma ação que não possa ser classificada como civilizada ou não civilizada. A expectativa é que todos os indivíduos das sociedades ocidentais se comportem civilizadamente como forma de mediar as relações sociais (Elias, 1934/1994).

Definição operacional: esse construto envolve os comportamentos de cuidado no uso do banheiro público que se reflete em um

cuidado com o/a outro/a usuário/a e que viabiliza a utilização do banheiro;

(C) Percepção de consequência

Definição constitutiva: esse construto se baseia nos conceitos de Dilema Social (Hardin, 1969), Armadilha Social (Constanza, 1987) e Competição e Cooperação (Ribeiro, Carvalho & Oliveira, 2004). Todos esses conceitos envolvem a dicotomia entre o individual e o grupal podendo ser vista também como uma dicotomia público-privado. Tratam da percepção das consequências das ações atuais no futuro, priorizando os ganhos de curto prazo em detrimento dos ganhos de longo prazo. Os ganhos de curto prazo normalmente não permitem que o indivíduo entre em contato com as consequências dos próprios comportamentos que impactam a longo prazo no grupo.

Definição operacional: esse construto envolve a percepção da possibilidade de retorno ao mesmo banheiro público que permite ter contato com as consequências das próprias ações, ou seja, a forma com que se utilizou o banheiro previamente impacta nas condições de utilização desse banheiro na próxima visita por aquele (a) usuário (a);

(D) Nojo do banheiro público

Definição constitutiva: é baseada no conceito de nojo definido por Teixeira e Bernardes (2007) como a dimensão simbólica da sujeira, que remete à aversão física e à evitação do contato com o outro e com o que é do outro, principalmente, seus vestígios. Segundo os autores, o pouco zelo pela preservação dos equipamentos, principalmente dos banheiros, deve-se muitas vezes à experiência de “nojo” que esses espaços propiciam.

Definição operacional: esse construto envolve evitar o uso do banheiro público em função da falta de limpeza para evitar a possibilidade em ter contato com a utilização do banheiro feita por outra pessoa. Essa preocupação se reflete numa utilização o mais rápido possível, ou mesmo, na não utilização do banheiro público.

9.1.4 Procedimento de coleta de dados

Os (as) participantes foram abordados individualmente em feiras, pontos turísticos, correios, clínica de atendimento, posto de lavagem de carros, parques de duas capitais brasileiras (Aracaju - SE e Brasília - DF) e foram convidados a participar da pesquisa. Os pesquisadores estavam de posse de prancheta e canetas para auxiliar no preenchimento do instrumento. Participaram também estudantes universitários de três universidades (duas públicas, em Aracaju e Brasília e uma particular em Aracaju), que foram abordados em salas de aula mediante a autorização dos professores e participação voluntária na pesquisa. Todos os participantes receberam uma cópia e assinaram o consentimento informado concordando em participar da pesquisa (vide Apêndice C).