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O FUTURO DO DESIGN EM ESPECULAÇÃO

Fig. 35 Software Adobe PageMaker 6.0 lançado em 1995 pela Adobe. Automated Graphic Design, de Francisco Laranjo, 2016 →

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destino – ao produto final. A especulação acentua-se nos finais de 2017 quando, conta Laranjo, a Adobe lança o

Adobe Automated Cloud (AAC). Nesta altura, a automatiza-

ção torna-se mais do que uma realidade, a empresa estava já preparada para oferecer serviços de design gráfico de forma completamente autónoma. Foi graças a anos de vigilância dos seus utilizadores e à recolha de inúmeros dados relativos ao processo de design gráfico que a Adobe criou algoritmos que automaticamente geravam soluções gráficas. A versão do designer tradicional deixa de existir e o trabalho deste passa a ser gestão e supervisionamen- to de bots(5). Com a automatização instalada, Laranjo vai

além da centralização no design expondo o quotidiano da sociedade. Cenários como a existência de ACS’s – lojas de cidadão automatizadas –, na qual as pessoas se dirigem para obtenção de serviços em diferentes áreas, como é o caso do design gráfico, são exemplo da realidade auto- matizada entretanto enraizada na sociedade do futuro. Aqui, um cidadão pode obter instantaneamente um pack completo de branding a um custo reduzido. O trabalho humano é assim facilmente substituído por um bot devi- do ao desequilíbrio existente na relação preço-rapidez de execução entre um e outro. A precariedade alimenta a au- tomatização. Laranjo finaliza o artigo em duas notas, uma ainda dentro do âmbito especulativo e outra enquanto alerta para o presente. “Agora, em 2025, os designers são gestores de dados”, o design clássico desmorona-se, dan- do lugar a uma prática de nichos em países que baniram o trabalho automatizado – dá o caso do Equador – ou para clientes com fobia à tecnologia. A prática do design que não é automatizada é aquela que não é fácil de ser replica- da, que se envolve na análise cultural, social e política do contexto em que trabalha. Laranjo prevê que também esta será desconfigurada por bots em breve. Exteriorizando-se da especulação, o autor reconhece que no princípio da dé-

PERSPETIVAS DE EVOLUÇÃO DA PRÁTICA

Bots, ou robots, são aplicações de software que simulam acções humanas. (5) Fig. 36 Relação preço/ rapidez entre o trabalho automatizado e o trabalho humano. € € € € Trabalho automatizado Trabalho humano branding x2 branding x1

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Ainda que a dependência da tecnologia seja menor no caso do gráfico em contraste com os media digitais – podem ainda pro- duzir-se peças gráficas através de métodos tradicionais –, esta assume um papel cada vez mais relevante. A instantaneidade na produção de peças gráficas e a fácil reversibilidade das mesmas – a generalidade dos ficheiros é passível de ser re-editada – tor- nam a tecnologia uma ferramenta chave no desenvolvimento do design gráfico. Na perspetiva de Ramos, casos como o

rebranding do Spotify, para o qual se criou um software

que automaticamente gera duotones personalizados, e o da Casa da Música, pela Sagmeister and Walsh, onde se fez uso de um software que capta as cores do cartaz e as aplica diretamente no logótipo, mostram a tecno- logia como grande aliada dos designers gráficos. Em contrapartida, o uso antecipado ou inconsciente da tecnologia restringe a capacidade de observar o mundo à nossa volta e, as- sim, todo o pensamento crítico que devemos produzir enquanto designers. É importante percebermos o lado positivo e o lado negativo do impacto da tecnologia e sabermos como quebrar a ligação com o imediatismo.

Fig. 37 Spotify – imagem visual da aplicação reformulada pela agência de design Collins.

Gaudii: An Automated Graphic Design Expert System (2010)

é um sistema capaz de gerar automaticamente soluções de design gráfico utilizando princípios e técnicas reco- nhecidas de campos da Computação Evolutiva e da Lógica Difusa. Gaudii é uma ferramenta automática de criação de

GAUDII: DESIGN GRÁFICO AUTOMATIZADO

DEBATE 01

cada de 2010 estava já iminente a automatização, mas “os designers estavam muito ocupados a financiar a nostalgia no Kickstarter através velho e bom Modernismo (…) [na vez de] debaterem e lidarem com problemáticas políticas que mais tarde viriam a dar forma à maneira como traba- lhamos, pensamos e vivemos.” (Laranjo, 2016)

67 Fig. 38 Modelos pré- concebidos apresentados na abertura do programa Microsoft PowerPoint.

design gráfico que, segundo os autores, pretende facilitar o processo de design oferecendo ao praticante soluções pré-concebidas editáveis para uso futuro. O processo con- siste em quatro etapas principais – Análise e Processa- mento; Produção Genética; Núcleo de Conhecimento Es- pecializado; Composição –, com um tempo final por item gráfico de aproximadamente 5 segundos. Relativizando os resultados gráficos conseguidos, o projeto demonstra uma vertente futurística que não deve ser subvaloriza- da. Gaudii apresenta resultados consistentes por meio de um sistema automatizado que oferece soluções gráficas despersonalizadas do toque criativo humano. Apesar de oferecer uma escala de opções bas- tante reduzida, o projeto compro- va um enorme potencial na criação de material gráfico completamente automatizado. O designer gráfico participa no processo como con- dutor dos resultados etapa-a-eta- pa, através da introdução das suas preferências e seleções. O sistema não pretende, contudo, retirar as competências do designer gráfico, mas sim, complementá-las. Gaudii visa servir de auxílio ao designer na sobrecarga de trabalho disponibilizando bases gráficas pré-concebidas que lhe facilitam a visuali- zação do produto final e reduzem a quantidade de tempo necessária para a concretização de um projeto gráfico. Tal como Gaudii que, mais do que soluções gráficas pré- -concebíveis, oferece uma base (template) de exploração gráfica, tantos outros são agora os programas que ofere- cem condições semelhantes. Na abertura de programas como Keynote, Microsoft Word ou Microsoft PowerPoint – entre outros da mesma categoria – estão imediatamente disponíveis templates prontos usar. Esta pré-concepção gráfica tem por objetivo simplificar e reduzir o tempo do trabalho de criação.

PERSPETIVAS DE EVOLUÇÃO DA PRÁTICA

Gaudii: An Automated Graphic Design Expert System, de Carlos Morcillo, David Vallejo, Victor Jose Martin et. al, 2010 →

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A tecnologia viabiliza meios e ferramentas, dá-nos acesso ao mundo e permite que o mundo tenha acesso a nós. Mas, a certa altura, como uma criança que aprende com os pais e vai desen- volvendo as suas próprias capacidades e autonomia, também a