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Para Joan Wallach Scott (1995), a preocupação teórica com o gênero como uma categoria analítica só emergiu no fim do século XX. Enquanto categoria analítica, o gênero é uma forma de falar sobre sistemas de relações sociais ou sexuais, uma tentativa de explicar as desigualdades entre as mulheres e os homens. Enquanto historiadora, Joan Scott defende que as perguntas de pesquisa devem ser direcionadas para como as coisas se passaram, só assim é possível descobrir porque elas se passaram. O núcleo de definição do conceito tem duas partes, interligadas, na realidade, que só para efeitos de clareza expositiva são levantadas em separadas:

1) O gênero é um elemento constitutivo das relações sociais baseadas nas diferenças percebidas entre os sexos;

2) O gênero é uma forma primária de relações significantes de poder.

Joan Scott (1995) defende que, a definição de gênero, enquanto diferenças percebidas entre os sexos, articula quatro elementos relacionados entre si, propondo um processo de construção das relações de gênero que pode também ser utilizado para examinar a classe, a raça, a etnicidade ou qualquer processo social; propondo também clarificar e especificar como se deve pensar o efeito do gênero nas relações sociais e institucionais. Os quatro elementos são:

1) Os símbolos culturalmente disponíveis que evocam representações simbólicas. Para os/as historiadores/as, a principal questão é: que representações simbólicas são invocadas, como, e em quais contextos?

2) Os conceitos normativos que expressam interpretações dos significados dos símbolos contidas nas doutrinas religiosas, educativas, científicas, políticas ou jurídicas trazem a oposição binária fixa do significado do homem e da mulher, do masculino e do feminino. Aqui, a questão deveria preocupar os/as historiadores/as, deveria ser quando e em quais circunstâncias os conceitos normativos são contestados. Entretanto, a história é construída como se essas posições normativas fossem produto do consenso social e não do conflito.

3) Incluir uma concepção de política, bem como, uma referência às instituições e à organização social. O desafio ao/a historiador/a seria fazer explodir essa noção de

fixidez, descobrir a natureza do debate ou da repressão que leva à aparência de uma permanência intemporal na representação binária do gênero. Há necessidade de uma visão ampla que inclua o parentesco (especialmente para as complexas sociedades modernas), o mercado de trabalho (um mercado de trabalho sexualmente segregado faz parte do processo de construção de gênero), a educação (as instituições de educação somente masculinas, não mistas, ou de coeducação fazem parte do mesmo processo), o sistema político (o sufrágio universal masculino faz parte do processo de construção do gênero).

4) Identidade subjetiva que leva a refletir sobre a construção da identidade generificada. Joan Scott concorda que a psicanálise fornece uma teoria importante sobre a reprodução do gênero, mas discorda da pretensão universal da psicanálise, pois homens e mulheres reais não cumprem sempre, nem literalmente, os termos das prescrições de sua sociedade ou de nossas categorias analíticas. Faz-se necessário examinar as formas pelas quais as identidades generificada são substantivamente construídas e relacionar seus achados com toda uma série de atividades, de organizações e representações sociais historicamente específicas.

Partindo para a segunda parte da definição do conceito, o gênero enquanto forma primária de dar significado às relações de poder, Joan Scott defende que por meio do gênero, o poder é articulado e tem sido uma forma persistente e recorrente de possibilitar a significação do poder no ocidente, nas tradições judaico-cristãs e islâmicas. Nestes termos, as diferenças entre os corpos, relacionadas ao sexo, são constantemente solicitadas a testemunhar e legitimar as relações sociais e as realidades, que não convém com a sexualidade. Assim, as diferenças sexuais são postas como legitimadoras da diferenciação.

O gênero, então, um meio de decodificar o significado e de compreender as complexas conexões entre várias formas de interação humana. Quando os/as historiadores/as buscam encontrar as maneiras pelas quais o conceito de gênero legitima e constrói as relações sociais, eles/elas começam a compreender a natureza recíproca do gênero e da sociedade e as formas particulares e contextualmente específicas pelas quais a política constrói o gênero e o gênero constrói a política. (SCOTT, 1995, p.89)

Além disso, a autora chama atenção para a importância de observar que as mudanças nas relações de gênero podem ser produzidas a partir de considerações sobre as necessidades do Estado. Por exemplo, a propósito da ordem familiar como fundamento da ordem do

Estado, a legislação implantou esta visão redefinindo os limites da relação marital, numa época em que a ideologia política conservadora legisla sobre a organização e o comportamento da família, legitimando a dominação, a força, a autoridade central e o poder dominante como masculinos, implantando, por exemplo, o Estado de Bem Estar Social.

O gênero é uma das referências recorrentes pelas quais o poder político tem sido concebido, legitimado e criticado. Ele não apenas faz referência ao significado da oposição homem/mulher; ele também o estabelece. Para proteger o poder político, a referência deve parecer certa e fixa, fora de toda construção humana, parte da ordem natural e divina. Desta maneira, a oposição binária e o processo social das relações de gênero tornam-se parte do próprio significado de poder; pôr em questão ou qualquer de seus aspectos ameaça o sistema inteiro. (SCOTT, 1995, p.92)

Por fim, Joan Scott (1995), defende que as significações de gênero e de poder se constroem reciprocamente, e as mudanças podem ser iniciadas em muitos lugares ou funcionarem como reforço das legitimações: nas revoltas políticas de massa, através de crises demográficas, nos padrões de emprego, na emergência de novos tipos de símbolos culturais assim como novas formas de legitimação das diferenciações entre os sexos. O que determinará o resultado de um ou de outro são os processos políticos, pois atores diferentes e significados diferentes lutam entre si para assegurar o controle.

Quando falo de gênero, quero referir-me ao discurso da diferença dos sexos. Ele não se refere apenas às idéias, mas também às instituições, às estruturas, às práticas quotidianas, como também aos rituais e a tudo que constitui as relações sociais. O discurso é um instrumento de ordenação do mundo, e mesmo não sendo anterior à organização social, ele é inseparável desta. Portanto, o gênero é a organização social da diferença sexual. Ele não reflete a realidade biológica primeira, mas ele constrói o sentido dessa realidade. A diferença sexual não é a causa originária da qual a organização social poderia derivar. Ela é antes uma estrutura social movente, que deve ser analisada nos seus diferentes contextos históricos. (SCOTT, 1998).

O gênero vem assim, cobrir um vazio na historiografia tradicionalmente cega a respeito do sexo e de suas implicações sociais associadas, posto como uma relação complexa e sociocultural vai além da visibilidade à ação das mulheres; implica, principalmente, um problema de relações entre grupos humanos que antes haviam sido omitidas. Desta forma, o conceito de gênero, refere-se ao modo como as culturas organizam e interpretam a diferença sexual entre homens e mulheres através do tempo. Onde, o conjunto concreto de experiências das mulheres não só as coloca em posições subordinadas na sociedade contemporânea, como as excluem do poder, fazendo-as ter uma visão diferente do mundo. Joan Scott explicita:

A história das mulheres, enquanto grupo considerado diferente, é uma parte da história da dominação masculina. Porque são os homens que construíram as regras, que organizam a sociedade etc.. Por outro lado, entretanto, penso que isto conduz a evitar idéias mais complexas como as da subjetividade na história, e também à possibilidade, para as mulheres, de se organizarem contra as regras e as idéias que as aprisionaram na esfera privada do século XIX em uma história a parte. Sim, poderíamos começar falando disso, da dominação masculina, mas há também uma história a ser escrita. Uma história que toma a noção de dominação, de poder desigual, que continua a analisar a atividade das mulheres entre elas, as idéias políticas das mulheres. É verdade que a estrutura social constrói as relações homens/mulheres e a idéia da mulher, mas, ao mesmo tempo, considero que a subjetividade e a criação do sujeito são algo mais complexo do que a dominação. (SCOTT 1998).

Com isso, Joan Scott diz não acreditar na ideia de uma subjetividade feminina com relação ao essencial, não crer que exista uma essência das mulheres, uma subjetividade feminina ligada ao corpo, à natureza, à reprodução, à maternidade. Mas, pensa que existe uma subjetividade37 criada para as mulheres, em um contexto específico da história, da cultura, da política. A autora insiste sobre a historicização da subjetividade contra aqueles e aquelas que insistem sobre a diferença das mulheres, uma diferença ou de natureza, ou de cultura, que tornam as mulheres como seres sem história.

Ainda tomando como base as abordagens que consideram o gênero como uma categoria analítica, Sandra Harding (1986), destaca: gênero é mais que uma consequência natural das diferenças de sexo, é uma categoria analítica com a qual os humanos pensam e organizam sua atividade social. Assim, na construção social do gênero intervêm três processos: o simbólico, o estrutural e o individual.

O simbólico: associado ao masculino tem-se a cultura, a mente, a atividade e a objetividade; associado ao feminino tem-se natureza, corpo, passividade, subjetividade.

O estrutural: apela-se aos dualismos de gênero para dividir as atividades sociais; é a divisão sexual do trabalho. Assim, na esfera doméstica (feminino),

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Numa perspectiva crítica, pode-se contra argumentar que a subjetividade criada para a mulher é machista, heterossexual e branca e questionar: como explicar que grande parte das mulheres não se encaixa na subjetividade heterossexual e branca? Como não questionar o determinismo? Como negar que muitas mulheres não tem consciência dos processos de dominação-opressão vividos no cotidiano da sociedade contemporânea, apesar de sua inserção no mercado de trabalho, de acesso à educação e de poder de negociação do âmbito da família e não se veem como vítimas de tais processos? Como negar a diferença entre as próprias mulheres? Reafirma-se assim um posicionamento contrário a qualquer tipo de determinismo, mas reconhece a interferência da cultura e os seres humanos enquanto sujeitos de suas vidas, capazes de fazer escolhas, produtos e produtores da cultura.

o trabalho ligado à reprodução, tudo o que envolve o cuidado da espécie. Na esfera pública (masculino), a política, a produção.

O individual: como características femininas - ser carinhosa, compassiva, gentil, sensível, terna, quente, submissa, passiva, dependente. E como características masculinas - agressivo, ambicioso, analítico, dominante, forte, independente, individualista. Cultivando estes traços, identificando-se com eles, adquire-se uma identidade que acaba constituindo quase uma segunda natureza.

Assim, em Sandra Harding (1983) as categorias como gênero, classe e raça são consideradas variáveis sociais “orgânicas”, com capacidade para criar limites e possibilidades nas práticas sociais da vida diária e na construção das características das instituições sociais e dos esquemas básicos de pensamento. Numa perspectiva relacional, entende-se que essa categoria refere-se aos processos de formação da masculinidade e da feminilidade, o que significa dizer que a atenção não se volta exclusivamente para a mulher em si, mas para as relações sociais nas quais homens e mulheres estão inseridos e, consequentemente, ambos estão amplamente implicados em sua produção e reprodução.

Sendo assim, gênero é aqui, considerado como um fenômeno histórico e social, ou seja, construído pela própria sociedade e em ampla articulação com o desenvolvimento e reprodução da sociedade, que expressa “modos de ser”, ou seja, expressa o padrão de organização de determinada sociedade. Um fenômeno que é parte constituinte da estrutura e da organização da sociedade, tendo consequências mediatas e imediatas para a reprodução social do ser social. Um conjunto de relações sociais que inclui o sexo, porém não é diretamente determinado por este.

Em Heleieth Saffioti (2001), entendemos que a execução do projeto dominação- exploração da categoria social homens exige que sua capacidade de mando seja auxiliada pela violência38. Com efeito, a ideologia de gênero é insuficiente para garantir a obediência das

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Violência contra a mulher pode ser expressa de diversas formas, segundo a Lei nº 11.340 de 7 de agosto de 2006, entre outras: física, psicológica, sexual, patrimonial, moral. E configura-se como uma violação aos direitos humanos. Segundo dados da Agência Patrícia Galvão de 28 de julho de 2011, que envolve a análise de pesquisa realizadas pela Fundação Perseu Abramo, pelo Data Senado e Instituto Avon Ipsos: 6 em cada 10 brasileiros conhecem alguma mulher que foi vitima de violência doméstica. Os principais fatores que contribuem para a violência são: 46% machismo, 31% alcoolismo. Uma em cada 5 mulheres considera já ter sofrido “alguma vez” algum tipo de violência de parte de algum homem, conhecido ou desconhecido. O medo continua sendo a razão principal (68%) para evitar a denúncia dos agressores.

vítimas potenciais aos ditames do patriarca, tendo este necessidade de fazer uso da violência. Mas, nada impede, mesmo que inusitado, o exercício das mulheres na função do patriarca. Sendo assim, o poder é atribuído à categoria social homem; no entanto, este pode utilizá-lo ou não, ou ainda delegá-lo. Nesse sentido, as próprias mulheres podem funcionar como instrumentos do patriarcalismo expressando violência e preconceitos de gênero, contra um homem ou contra uma mulher, agindo através de mecanismo de dominação-exploração por gênero. Não obstante, é importante lembrar que a sociedade humana é complexa e resulta de três hierarquias/contradições, de gênero, de etnia e de classe.

Entendendo exploração-dominação como um único processo, com duas dimensões complementares (coletividade e individualidade), Heleieth Saffioti (2001) admite o uso do conceito de dominação simbólica, de Bourdieu. E nesse, sentido, a própria dominação constitui, por si só, uma violência.

A violência simbólica institui-se por meio da adesão que o dominado não pode deixar de conceder ao dominador (logo, à dominação), uma vez que ele não dispõe para pensá-lo ou pensar a si próprio, ou melhor, para pensar sua relação com ele, senão de instrumentos de conhecimento que ambos têm em comum e que, não sendo senão a forma incorporada da relação de dominação, mostram esta relação como natural; ou, em outros termos, que os esquemas que ele mobiliza para se perceber e se avaliar ou para perceber e avaliar o dominador são o produto da incorporação de classificações, assim naturalizadas, das quais seu ser social é o produto. (BOURDIEU,1998, p. 15, apud SAFFIOTI, 2001, p. 118)

Em termos gerais, Heleieth Saffioti (2001), adverte que as relações entre homens e mulheres devem ser analisadas a partir de dois ângulos: o da coletividade, no qual os homens estão, permanentemente, autorizados a realizar seu projeto de dominação e exploração das mulheres; e o ângulo individual, no qual casais são capazes, embora raramente, de construir uma relação par, igualitária, sem hierarquia. Isto ocorre raramente, uma vez que esta convivência democrática entre homens e mulheres contraria todo o contexto social, mas é preciso nadar contra a corrente, contra os esquemas de gênero39.

No entender de Heleieth Saffioti (2004), o gênero participa do processo de construção dos sujeitos através de sistemas de representação e autorrepresentação, que indicam as

De acordo com a Lei 11.340, de 07 de agosto de 2006, art. Art. 7o , são formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras: violência física, violência psicológica, violência sexual, violência patrimonial, violência moral.

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“... uma prontidão generalizada de um indivíduo para processar informação na base de associações vinculadas ao sexo [...] Especificamente, a teoria [do esquema de gênero] propõe que a modelagem sexual resulta, parcialmente, da assimilação do próprio conceito de self do esquema de gênero”. (SAFFIOTI, 2001, p.119)

condutas aceitas para homens, e os comportamentos admitidos para mulheres, constituindo, portanto, diferenças entre homens e mulheres, homens e homens, mulheres e mulheres. Ou seja, as indicações não se fazem, apenas, a partir da sociedade em relação aos indivíduos, mas também estão inscritas na própria psique dos seres. Isso significa dizer que, o gênero não é tão somente uma construção sociocultural, mas também um aparelho semiótico que através do discurso atribui significados.

Consequentemente, são as relações sociais que definem “o eu em relação ao outro40”, destacando suas similitudes e diferença, principalmente em um contexto onde as identidades são flexíveis e estão em constante mutação. Relações estas que na sociedade contemporânea são, em sua maioria, marcadas pela desigualdade, pela diferença e pela diversidade. Assim, o discurso dominante sobre os gêneros, difundido pela Igreja, pela família, pelo Estado, pelo mercado de trabalho também são reproduzidos pela mídia moldando quem é e como pensa, bem como, o espaço no mundo do trabalho e na família destinado a homens e mulheres.

Destarte, os debates apresentados até aqui, não invalidaram o gênero enquanto categoria analítica construída socialmente na qual intervém o simbólico, o estrutural e o individual, mas numa perspectiva crítica, dialética e feminista das relações sociais entre os sexos demanda que se considere nas pesquisas, o contexto, a sociedade e o individuo não apenas, nos processos de construção de identidades masculinas e femininas, mas principalmente, quanto ao desejo e a ação dos sujeitos.

Com este propósito, referenda-se que é necessário considerar as múltiplas vidas em conflito o que implica adentrar no terreno da subjetividade, do cotidiano, do individual, das representações sociais, da linguagem, do sentido e da ação do sujeito. Implica, consequentemente, questionar as abordagens generalizantes, mesmo as situadas política e ideologicamente através do método dialético41. E é nesse sentido que se justifica a

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Abre-se, portanto, espaço para o debate com conceitos como: alteridade, empoderamento, reflexividade e socialização.

41 Numa perspectiva epistemológica dialética de uma visão de mundo, Michel Lowy defende que:

[...] não existe nada eterno, nada fixo, nada absoluto. Não existem idéias, princípios, categorias, entidades absolutas, estabelecidas de uma vez por todas. Tudo o que existe na vida humana e social está em perpétua transformação, tudo é perecível, tudo está sujeito ao fluxo da história. [...] Para Marx, aplicando o método dialético, todos os fenômenos econômicos ou sociais, todas as chamadas leis da economia e da sociedade, são produto da ação humana e, portanto, podem ser transformados por essa ação. [...] São leis que resultam da ação e da interação, da produção e da reprodução da sociedade pelos indivíduos e, portanto, podem ser transformadas pelos próprios indivíduos num processo que pode ser, por exemplo, revolucionário. (LOWY, 1985, p.14-5) Aplicando o método dialético às ideologias/às utopias/às visões sociais de mundo, entende-se que todas elas são produtos sociais e, por isso, têm que ser analisadas em sua historicidade, no seu desenvolvimento e transformação histórica. Portanto, as visões de mundo têm que ser desmistificadas na sua pretensão a uma validade absoluta. Uma vez que não existem princípios eternos, nem verdades absolutas, todas as teorias,

comunicação entre os paradigmas e o conceito de relações sociais entre os sexos, apresenta-se mais flexível reagindo a uma postura vitimista e determinista, preocupado com a totalidade do ser social, numa perspectiva dialética, crítica e feminista considerando o contexto, a trajetória e o desejo dos sujeitos, um movimento autorreflexivo da teoria.

Assim, submete-se o conceito de gênero às críticas, e destaca-se que o contexto das sociedades deve ser respeitado nos objetos de pesquisa, que os processos de transição da identificação dos sujeitos contemporâneos não excluem ou abolem os processos coletivos históricos de dominação de classe, de gênero e de raça presentes em determinados contextos sociais, mas não são suficientes para generalizar a vitimização e o determinismo, seja ele qual for, pois os sujeitos agem, pensam e podem apresentar deslocamentos ou garantir permanências no que diz respeito às diferenças e ao desejo em suas relações entre os sexos, as quais, no que se referem ao desejo íntimo, podem ser homossexual, heterossexual, bissexual ou transexual; podem significar a reprodução da espécie como forma de realização pessoal e não, como uma armadilha, entre outros.

Por fim, esta tese afirma que os sistemas econômicos, políticos, culturais e de gênero, interagem e produzem experiências sociais, históricas e individuais. É preciso, portanto, conhecer as experiências de homens e mulheres avançando para como essas experiências surgiram e em quais contextos econômico, cultural e social.

3.2 O SUJEITO DO FEMININO, CONTRA O DETERMINISMO SOCIAL E