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Maternidade, paternidade, parentalidade: as responsabilidades familiares

4.2 TRABALHO REPRODUTIVO: A FAMÍLIA

4.2.4 Maternidade, paternidade, parentalidade: as responsabilidades familiares

Mudanças mais qualitativas, deste momento de transição, podem ser observadas quando as análises são focalizadas na maternidade, na paternidade e na parentalidade. Segundo Lucila Scavone (2004), as transformações pelas quais os padrões de maternidade vêm passando, nos últimos trinta anos, devem ser pensados em conexão com o avanço da industrialização, da urbanização e com a globalização econômica, que contribuiu para acelerar a difusão de novos padrões de comportamento e consumo. A autora também demarca as mudanças que vem ocorrendo na vida privada, especialmente na família e nas relações de gênero, com a emergência de novos modelos de sexualidade, parentalidade e amor. E principalmente, a partir dos métodos contraceptivos e conceptivos.

De fato, a maternidade foi considerada durante muito tempo o eixo central da situação – que o feminismo marxista denominava – de opressão das mulheres, pois sua realização determinava o lugar que elas ocupavam na família e na sociedade. Assim, a recusa consciente da maternidade – pela contracepção e/ou aborto – significava muito mais do que negá-la como fatalidade biológica, mas, também, a possibilidade de conquistar a emancipação. (SCAVONE, 2004, p.48)

Os métodos contraceptivos colocados como elementos que proporcionam maior autonomia às mulheres e beneficiaram-nas socialmente dissociando de forma eficaz a sexualidade da reprodução, possibilitam novas escolhas de vida, além da maternidade.

Em termos gerais, queremos demarcar, a partir do entendimento de Lucila Scavone (2004), que de uma maternidade caracterizada pela fatalidade biológica, passamos ao que a autora denomina de maternidade reflexiva; de um modelo tradicional no qual a mulher é definida essencial e exclusivamente como mãe para um modelo moderno de maternidade, e também como mãe, entre outras possibilidades; há proles reduzidas e planejadas. Esta seria a maternidade reflexiva, ou seja, a mulher escolhe o momento da maternidade e esta escolha vem exercendo indiretamente seus efeitos sobre o modelo tradicional de paternidade, que vai sendo substituído por um modelo contemporâneo com maior participação do pai (do pai ausente para o pai presente). Nestes termos, segundo a autora, a escolha reflexiva do (a) primeiro (a) filho (a), aparece influenciada diretamente pelo grau de formação da mãe e pelo seu envolvimento na carreira profissional.

A autora também demarca a maternidade como um fenômeno social marcado pelas desigualdades sociais, raciais/étnicas e pela questão de gênero. Em decorrência disso, as mudanças e implicações sociais de vivenciar a experiência da maternidade não atingem da mesma forma todas as mulheres, países e culturas, apesar de existir um modelo de maternidade preponderante nas sociedades ocidentais contemporâneas.

O fato é que a experiência da maternidade na sociedade brasileira está em processo de mudança, e no atual contexto tanto a possibilidade de realizar uma escolha mais reflexiva da maternidade, quanto à valorização da criança, variam em intensidade de acordo com as condições socioeconômicas culturais de cada mulher e homem, sugerindo as múltiplas influências nesse processo de mudança.

Neste contexto, ser ou não ser mãe ou pai, passou a ser uma decisão racional. A escolha da maternidade está ligada a numerosas causas que, isoladas ou conjuntamente, se explicam no ponto de intersecção do biológico, do subjetivo, do afetivo e do social. Em relação aos fatores especificamente sociais, estão as condições econômicas e culturais das famílias; os projetos e as possibilidades profissionais das mulheres. Entretanto as condições materiais não determinam, geralmente, a escolha da maternidade, embora definam suas características e possibilidades.

Entretanto, mesmo sendo fato a maternidade reflexiva, isso não significa que quando a mesma acontece, as responsabilidades familiares com o cuidado já não recaia social, cultural e psicologicamente sobre a mulher. Nesse sentido, a busca pela realização da maternidade não se faz sem conflitos: desde a decisão de querer ou não ter filhos (as), até o assumir os efeitos secundários, à saúde pelo uso das tecnologias reprodutivas disponíveis, as mulheres percorrem uma trajetória que as coloca no clássico dilema trabalho profissional versus responsabilidades familiares, pois continuam sendo as principais responsáveis nesse processo. Se o modelo da maternidade reflexiva pode diminuir a ambiguidade entre vida profissional e vida familiar, para as mulheres não a esgotou. Entretanto, a maternidade continua sendo afirmada como um elemento muito forte da cultura e identidade feminina pela sua ligação com o corpo e com a natureza.

No entanto, algumas transformações podem se constatadas, por exemplo, nos estudos de Christina Sutter e Júlia Bucher-Maluschke (2008), e seu artigo sobre pais que cuidam de filhos:

O pai cuidador parece ser, assim, aquele que recupera em si a capacidade de amar, acolher e cuidar, recalcada por um passado patriarcal, que nega ao

homem essa dimensão própria do seu desenvolvimento humano e psicobiológico. Ao mesmo tempo, percebemos que são homens em transição entre antigos modelos identitários, preestabelecidos, e novas demandas e posicionamentos, embora o fio condutor da masculinidade permaneça apoiado em algum diferencial eleito, tal como ser capaz de proteger e prover a família. (SUTTER e BUCHER-MALUSCHKE, 2008, p.81).

Outra análise apresentada por Lucila Scavone (2004) está relacionada ao conceito de

parentalidade.

[...] trata-se de estudar o posicionamento dos atores sociais dos dois sexos no processo de constituição do laço parental e não mais de partir de uma especificação a priori deste laço segundo o sexo. (COMBES & DEVREUX, 1991, p.5). Este tipo de análise tem como ponto de partida a relação entre os indivíduos adultos (homens e mulheres) com suas crianças, desconsiderando a priori as noções de maternidade e paternidade. Tais estudos constataram ocorrências de um tipo de parentalidade no qual as mulheres continuam tendo uma relação mais comprometida com os filhos (as) do que os homens, sendo assim elas que assumem a maioria das responsabilidades parentais. Por outro lado, na pesquisa de Combes & Devreux (1991), foi observado que alguns homens assumiam também estas responsabilidades, indicando tendências de transformações nas relações parentais e nas relações de gênero. O estado atual dessas pesquisas reflete tanto as mudanças que estão ocorrendo no interior da família e sociedade, como as ambigüidades de fundo que caracterizam a experiência da maternidade. (SCAVONE, 2004, p.180)

Em síntese, as perspectivas em relação à família, à experiência da maternidade e à paternidade apontam um período de transição para a consolidação de um novo modelo cujo ideal deve ser a busca pela igualdade na responsabilidade parental, o que pressupõe uma relação igualitária entre os sexos. Para alcançar esta igualdade, muitos elementos estão em jogo e, entre eles, a emergência de uma nova sensibilidade social que derrube o ideário do determinismo biológico e cultural.

Por outro lado, focalizando nossa análise no controle da reprodução como um elemento de autonomia para as mulheres, evidencia-se que via contracepção, grande parte das mulheres de hoje optam pela não maternidade, adequando-se ao ritmo das sociedades industriais contemporâneas. Lucila Scavone (2004), citando Maria Betânia Ávila (1999), considera que esta saída contraceptiva poderia ser explicada como uma forma de rebelião das mulheres contra as difíceis condições na qual vivem a maternidade. Considerando que as mulheres continuam sendo as principais responsáveis pelos cuidados dos (as) filhos (as) na família e na sociedade, este tipo de escolha pela não maternidade pode estar refletindo tanto a ausência de uma política de saúde reprodutiva que atenda aos interesses das mulheres, como, igualmente, numa esfera mais ampla, as desigualdades sociais existentes no país.

Estudar a articulação entre trabalho, família e vida pessoal, implica conhecer as análises numa perspectiva de gênero, sobre o tempo e os custos dirigidos as responsabilidades familiares para finalmente compreender suas implicações com o trabalho profissional e a vida pessoal.

Cristina Bruschini e Maria Rosa Lombardi (2000) analisaram que o conjunto de atividades desenvolvidas pelas mulheres no âmbito familiar é definido de variadas formas: trabalho doméstico, não remunerado, reprodutivo, trabalho na unidade doméstica, atividades de cuidado não remunerado aos membros da família. As pesquisas tendem a computar o valor destes serviços ou trabalhos pela mensuração do tempo gasto62 para realizá-los.

Já em 2009, em estudo realizado sobre a difícil conciliação do trabalho e da família, para mães trabalhadoras urbanas de baixa renda, Maria Cristina Bruschini e Arlene Ricoldi

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Segundo a Pesquisa sobre Padrões de Vida, os afazeres domésticos estão entre as atividades que mais consomem tempo dos entrevistados, com uma média semanal de 30 horas, variando segundo o sexo - 36 horas as mulheres, ante 14 horas os homens -, idade, cor, instrução e rendimento domiciliar per capita. De acordo com a pesquisa,79% das mulheres se dedicam a esses afazeres, em comparação com 29% dos homens e, para as mulheres, há diferenças relevantes segundo o grupo etário, principalmente quando associado a cor, região, local do domicílio e instrução. [...] Há maior dedicação aos afazeres domésticos com o aumento da idade; mulheres pretas e pardas gastam neles mais tempo do que brancas; mulheres do Nordeste, assim como aquelas das áreas rurais, gastam mais tempo do que as mulheres do Sudeste e as das áreas urbanas porque, como no meio urbano, no Sudeste também há maior presença de domicílios mais bem equipados de eletrodomésticos, que reduzem o tempo dedicado às tarefas domésticas. Finalmente, mais do que a renda domiciliar, a escolaridade das mulheres tem grande efeito sobre o tempo que elas gastam nos afazeres domésticos. Enquanto as que têm de quatro a sete anos de estudo gastam 37 horas semanais, o tempo consumido pelas mais instruídas (doze anos ou mais) cai para 28 horas. Ao levar em consideração o tempo gasto simultaneamente com o trabalho remunerado e os afazeres domésticos, os diferenciais de gênero se intensificam, porque, na população ocupada, enquanto os homens gastam em média 46 horas semanais com as duas atividades, as mulheres consomem ao todo 61 horas. (BRUSCHINI E LOMBARDI, 2007, p. 51).

Conforme dados mais gerais a respeito do tempo de dedicação aos afazeres domésticos, o diferencial de gênero se apresenta com clareza. Enquanto na população total este número foi de 21,9 horas semanais, o das mulheres foi cerca de 27 horas e o dos homens pouco menos de 11 horas. As mulheres costumam ter jornadas mais curtas na atividade produtiva e arranjos de trabalho mais precários que os dos homens, fato já confirmado na literatura sobre gênero. O tempo global gasto, ao somar atividades produtivas ou remuneradas com as reprodutivas, revela que, enquanto os homens gastam um número maior de horas por semana do que as mulheres nas atividades consideradas produtivas (49 horas eles e 43 horas elas), a contrapartida das mulheres é que o tempo delas em atividades domésticas, na esfera da reprodução, é bem maior do que o deles (21 horas elas, 10 horas eles). Ou seja, o tempo total gasto é muito mais elevado entre elas (63,6 horas) do que entre eles (58,6 horas). [...] As trabalhadoras mais jovens, que são chefes de família e tem filhos muito pequenos, são as mais sobrecarregadas, porque não contam nem mesmo com o auxílio dos cônjuges em seu cotidiano doméstico e no cuidado com as crianças. Em contrapartida, aparece um discurso, sobretudo entre algumas trabalhadoras que já foram casadas, que esses cônjuges “dão muito trabalho”, na forma da alimentação, da limpeza e arrumação da moradia e no cuidado com as roupas. Para todas as que têm filhos muito pequenos, casadas ou chefes de família, as creches são, sem dúvida, a melhor estratégia de cuidado infantil enquanto trabalham. [...] As trabalhadoras mais velhas, cujos filhos são maiores, descrevem um cotidiano menos pesado, no qual os filhos mais velhos, principalmente as filhas, colaboram, tanto nos afazeres domésticos propriamente ditos, quanto no cuidado com os irmãos menores. As preocupações e os cuidados, entretanto, não são poucos. Concentram-se sobretudo na atividade dos filhos quando não estão na escola, razão pela qual sugerem a adoção das seguintes políticas pelos governantes: escolas em tempo integral, com tempo e ajuda para fazer as lições de casa, lazer nas escolas nos finais de semana, para toda a família, portões fechados e segurança em geral nas escolas, educação física no período escolar, evitando uma circulação indesejável das crianças, a qual poderia acarretar o contato com más companhias, drogas e outros problemas. (BRUSCHINI E RICOLDI, 2009, p. 106)

definem o trabalho doméstico como o conjunto das atividades voltadas para a casa e a família cuja responsabilidade, tradicionalmente, é atribuída às mulheres se não diretamente, ao menos delegando e distribuindo funções, bem como cobrando resultados. São atividades como:

1) Tarefas relativas aos cuidados com a moradia, espaço no qual se passa a vida familiar cotidiana;

2) Tarefas de alimentação e higiene pessoal, como cozinhar, lavar pratos e outros utensílios, costurar, lavar e passar roupas;

3) Prestação de serviços físicos e psicológicos aos membros das famílias, assim como o cuidado com as crianças, os idosos e os incapacitados da família;

4) Administração da unidade doméstica, com atividades que vão desde o pagamento de contas até a administração do patrimônio, bem como a aquisição dos bens de consumo necessários para a casa e a família;

5) Manutenção da rede de parentesco e de amizade, que reforçam laços de solidariedade e de convivência.

Ainda segundo as autoras, os estudos sobre o tempo tem tido um papel importante no sentido de desvendar pequenas e fragmentadas atividades que, de outra forma, teriam permanecido invisíveis, ou seja, dão visibilidade ao trabalho doméstico e, geralmente, denunciam que as mulheres trabalhadoras têm um cotidiano exaustivo, com pouco ou nenhum tempo para descanso, lazer e/ou aperfeiçoamento profissional.

Nesta tese, considera-se que o termo trabalho doméstico não é totalmente adequado para definir trabalho geralmente das mulheres, relacionado às responsabilidades familiares. Pois o trabalho doméstico é um termo usual do Direito do Trabalho e se refere a uma profissão, na qual o trabalho doméstico63 é remunerado, e pode ser externalizado/delegado, nos termos de Helena Hirata e Daniele Kergoat, mas o cuidado de/as responsabilidades para com as crianças/idosos/dependentes são responsabilidades jurídicas e morais dos pais/mães, as quais devem ser compartilhadas entre os cônjuges ou entre pais e mães. Principalmente, quando se quer questionar os âmbitos psicológicos e a dimensão da afetividade da dominação, relações de poder na família. No tocante ao objeto de estudo desta tese, será utilizado o termo

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Trabalhador doméstico - Suas atividades se restringem quase exclusivamente ao âmbito da casa, em afazeres que historicamente estiveram ligados às habilidades consideradas femininas, tais como cozinhar, limpar, lavar, passar e cuidar de crianças. Embora seja mais reconhecido pela execução de serviços gerais em domicílio privado, o termo também se refere a cozinheiras, governantas, babás, lavadeiras, vigias, motoristas, jardineiros, acompanhantes de idosos, caseiros, entre outros.

responsabilidades familiares, extrapolando o âmbito do privado para o âmbito público das relações sociais entre os sexos e a conjugalidade.

Em termos legais, trata-se de um momento propício para estabelecer relações sociais entre os sexos, com base na igualdade, pois Constituição Federal de 1988 inaugurou o paradigma familiar fundado nos seguintes pilares: comunhão de vida consolidada na afetividade e não no poder marital ou paternal; igualdade de direitos e deveres entre os cônjuges; liberdade de constituição, desenvolvimento e extinção das entidades familiares; igualdade dos filhos de origem biológica ou socioafetiva; garantia de dignidade das pessoas humanas que a integram, inclusive a criança, o adolescente e o idoso.

O Projeto de Lei Nº 2.285/2007 – Estatuto das Famílias, No Título III - Das Entidades Familiares, Capítulo I- Das Disposições Comuns defende:

Art. 15. É dever da entidade familiar assegurar à criança, ao adolescente e ao idoso que a integrem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Art. 16. As pessoas integrantes da entidade familiar têm o dever recíproco de assistência, amparo material e moral, sendo obrigadas a concorrer, na proporção de suas condições financeiras e econômicas, para a manutenção da família.

Nesse sentido, pode-se argumentar que os questionamentos devem ser sobre os âmbitos psicológicos da dominação, a dimensão da afetividade, e a dimensão moral do cuidar

de, ou sobre as responsabilidades jurídicas64 dos cuidadores que perpassam as relações sociais entre os sexos.

O que é ético nas relações de conjugalidade e nas responsabilidades familiares? A família não confia no Estado para entregar seus filhos aos cuidados da creche; também se submete em alguns casos aos maustratos de profissionais desqualificados quando são contratados para os serviços domésticos; na sociedade brasileira, a iniciativa privada, ainda, caminha a passos lentos nos serviços de cuidados integrais e quando existem são muito caros. Os resultados destes dilemas da família recaem, principalmente, sobre a mulher trabalhadora, mãe que precisa qualificar-se para permanecer e ascender profissionalmente enquanto os

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Definidas na legislação social, como por exemplo, no Estatuto da Criança e Adolescente, no Estado do Idoso, entre outros.

filhos são pequenos. Por outro lado, abrir mão da maternidade também se configura como uma situação paradoxal para algumas mulheres.

Para identificar aspectos desta problemática é necessário conhecer como se configura o trabalho profissional, as responsabilidades familiares e a vida pessoal numa perspectiva das relações entre os sexos, na ordem patriarcal. O conceito, principal, que favorece esta analise é basicamente a divisão sexual do trabalho no contexto do trabalho docente onde se encontram mulheres e homens com um nível de escolaridade elevado, economicamente estáveis, produtores do conhecimento científico e, portanto, um espaço supostamente onde a mulher tem um nível de empoderamento mais elevado, favorecendo o conhecimento das nuances da divisão sexual do trabalho neste contexto de profundas mudanças.

5 RELAÇÕES ENTRE OS SEXOS: PERMANÊNCIAS, DESLOCAMENTOS E MUDANÇAS NO CONTEXTO DO TRABALHO DOCENTE NA UFS/SE.

A apresentação e análise dos dados consideram as transformações contemporâneas no mundo do trabalho na universidade, a partir da neoprofissionalização do sistema de educação superior, a ênfase na produção do conhecimento para o economicamente útil a partir de altos padrões de produtividade, e o cotidiano do trabalho docente a partir da sobreimplicação em um contexto flexível.

Esta seção objetiva através da análise do perfil dos docentes efetivos da Universidade Federal de Sergipe/Campus São Cristóvão identificar se no espaço que se propõe universal, como a Universidade, em pleno século XXI os processos androcêntricos, de dominação patriarcal e discriminação por gênero ainda estão presentes no que diz respeito à inserção, permanência e progressão no trabalho acadêmico, à qualificação profissional, à produtividade e acesso aos espaços de poder na estrutura administrativa. Isto é importante porque diante da maior inserção da mulher no magistério superior, é necessário conhecer quais os espaços ocupados por homens e mulheres.

Desta forma, à medida que são apresentados os dados do perfil, são explicitados conceitos e pontuados dados sobre a constatação da divisão sexual, da segregação horizontal, da segregação vertical e como originalidade desta pesquisa, da identificação da segregação paralela, do fenômeno teto de lona e da precarização do trabalho docente no magistério superior. Tais constatações ratificaram, portanto, a existência dos processos androcêntricos, de dominação patriarcal e discriminação por gênero, na Universidade Federal de Sergipe.

Os resultados constatam como permanência:

1) Divisão sexual e segregação horizontal do trabalho docente. 2) O gueto das ciências exatas.

3) Os estereótipos de gênero.

4) Segregação vertical na carreira do magistério superior e o teto de vidro.

Os deslocamentos identificados não podem ser considerados como favoráveis às condições de igualdade entre os sexos, referendam, entretanto, o agravamento das condições de trabalho feminino, são eles:

2) Salários menores como consequência da segregação paralela, ou seja, a falta de titulação em nível de doutorado.

Da mesma forma, as mudanças identificadas não apontam condições de igualdade entre os sexos, apontam que as mulheres enfrentam e resistem aos processos de dominação e exploração. Assim, as mudanças constatadas são:

1) Algumas mulheres estão abrindo mão da maternidade.

2) Em nível de pós-graduação constata-se a alta produtividade feminina.

3) A precarização do trabalho docente, constatada a partir do trabalho docente substituto, no qual as mulheres são maioria.

Nesta dimensão, considerada institucional e estrutural, os dados comprovam que a universidade não apresenta preocupação com a articulação da vida profissional com as responsabilidades familiares dos docentes e funcionários, como é tratada no Relatório OIT/PNUD 2009, numa perspectiva da conciliação de ambas as esferas, como corresponsabilidade social, entre homens e mulheres, mas também entre Família, Estado, mercado e sociedade em geral, pois não existem espaços como creches, por exemplo; consta- se expressões de preconceito pelos pares para com mulheres e não são privilegiadas áreas de pós-graduação em nível de doutorado que interfiram na segregação paralela, sofrida pelas