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GÊNERO, EJA E EPT: O QUE REVELAM AS PESQUISAS ATUAIS

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS: DA PROBLEMATIZAÇÃO AO

1.1 GÊNERO, EJA E EPT: O QUE REVELAM AS PESQUISAS ATUAIS

Apesar da crescente produção acerca da EJA, da ETP e dos Estudos Feministas, esta pesquisa justifica-se pela constatação de trabalhos investigativos que não contemplam as duas modalidades da educação básica e o campo desses estudos relacionados à mulher e às relações de gênero. Constatamos também a ínfima produção acadêmica que explora as interfaces dos estudos dessas modalidades no diálogo com os estudos de Relações de Gênero, etnia, classe, geração, sexualidade entre outras dimensões constitutivas de desigualdades e discriminação.

O estado da arte nas pesquisas do campo da EJA, da EPT35 e das Relações de

Gênero (Ver Apêndice A) e nos artigos publicados em periódicos especializados nos Estudos Feministas, a exemplo dos Cadernos Pagu, da Revista Estudos Feministas e do caderno Espaço Feminino36 revelam a pouca importância dessas confluências

temáticas.

Entretanto, em pesquisas feitas no site da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd) e em outros órgãos de fomento à pesquisa educacional (ANPAE; Capes; GEERGE, GeTec) constatamos alguns estudos nas quais emergem a temática Relações de Gênero, com ênfase na educação básica, mas no nível do ensino fundamental e com foco na alfabetização.

Porém, como já evidenciado, desde 2006, com a implantação do Proeja, há uma produção científica em desenvolvimento devido ao fomento governamental na formação de educadoras/es por meio de cursos de pós-graduação lato e stricto Sensu e no incentivo à pesquisa pelas universidades públicas brasileiras para esse

35 Não encontramos nenhum trabalho com o intuito de fazer um “estudo da arte “ acerca da Educação Profissional, assim organizamos um mapeamento para identificar os estudos de Gênero na EPT (APÊNDICE A).

36 Os Cadernos Pagu é um periódico com publicação semestral pelo Núcleo de Estudos de Gênero da Universidade Estadual de Campinas, desde 1993. A Revista Estudos Feministas, com publicação quadrimestral, está interligada ao Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Santa Catarina desde 1999. O Caderno Espaço Feminino é uma publicação semestral sob a responsabilidade do Núcleo de Estudos de Gênero e Pesquisa sobre a Mulher da Universidade Federal de Uberlândia.

Programa37.

Na busca do mapeamento dessas produções acadêmicas atuais, especificamente dissertações e teses, que tratam sobre o Proeja e sobre o PMMil, defendidas entre os anos de 2010 e 2016, e disponíveis em bancos de dados das universidades e da Capes, foram encontradas 93 dissertações (APÊNDICE B) e 36 teses (APÊNDICE C) que tratam do Proeja. Destas, apenas duas dissertações e duas teses têm como foco as relações de gênero construídas ou explicitadas no interior do Programa.

Com esse mesmo direcionamento, nos atentamos também para o mapeamento dos estudos acerca do PMMil. No levantamento realizado encontramos 20 dissertações (APÊNDICE D) e 3 teses (APÊNDICE E). Pela especificidade para quem se destina o Programa, as discussões sobre Relações de Gênero estão no cerne de sua proposta, embora ao nosso ver, são estudos que perpassam a discussão sem um aprofundamento teórico das questões de gênero, dos movimentos feministas e da História das mulheres, conforme ampla produção já consagrada no meio acadêmico e defendidos pelos movimentos feministas, constituindo, desse modo, em pouca contribuição teórica para a efetivação das políticas na perspectiva feminista.

Assim, nos detivemos também nas pesquisas que avaliam a efetividade do Programa no que concerne ao acompanhamento das egressas e aos seus processos de escolarização com o intuito de avançar no percurso formativo, objetivos caros à proposta do Programa.

A partir desse mapeamento feito, analisamos cuidadosamente cada uma das produções visando identificar quais ponderam sobre questões de gênero, e especialmente sobre a escolarização feminina. Nos trabalhos sobre o Programa Mulheres Mil, procuramos ainda aqueles que trazem informações sobre o itinerário das egressas. Utilizamos como base de dados o portal da Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) que, desde 2002, reúne teses e dissertações defendidas em universidades brasileiras e de pesquisadores brasileiros produzidas no exterior. Realizamos também uma pesquisa complementar nos bancos de dados de

37 Conforme apontado nas considerações iniciais desse relatório, a implantação do Proeja veio alicerçado por ações interligadas: oferta de cursos técnicos de nível médio para o público da EJA; qualificação para a/os docentes, por meio de cursos lato e stricto sensu e o incentivo à pesquisa fomentado pelo programa de Apoio ao Ensino e à Pesquisa Científica e Tecnológica em Educação Profissional Integrada à Educação de Jovens e Adultos do MEC, contemplado no edital Capes/MEC- Setec 03/2006 (OLIVEIRA; PINTO, 2012).

instituições que não constavam como provedoras do BDTD.

Para o levantamento de dados e realização da revisão de literatura, a busca se deu com as palavras-chaves ou categorias de análise: “Mulheres Mil”; “PMM”; “Proeja” e “Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos” nos campos título, assunto e tag. Refinamos a pesquisa para publicações defendidas entre 2010 e 2017 e realizamos uma pesquisa tomando cada palavra-chave “Mulheres Mil” - “PMM” e “Proeja” – “Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos”. Como o cruzamento das buscas apresentavam duplicações, mesclamos os resultados e eliminamos as repetições. Tornou-se necessário uma leitura do trabalho para que fosse possível identificar se cada dissertação e tese trazia alguma discussão sobre gênero e educação feminina. Passamos a considerar aqueles trabalhos que estavam disponíveis integralmente já que apenas o resumo do trabalho seria insuficiente para a análise proposta.

No levantamento realizado que discute o PMMil (APÊNDICES D e E), encontramos 20 dissertações e 3 teses. Apenas 5 dissertações (OLIVEIRA, 2013; OLIVEIRA, 2014; ARAÚJO, 2015; NASCIMENTO, 2015; TELES, 2015) tiveram como foco o acompanhamento das egressas que participaram de cursos do Programa e como essa oferta teve impacto na geração de renda por meio da qualificação, mas sem se deter se houve ou não a garantia do itinerário escolar. Os demais trabalhos tratam de outros aspectos do Programa ou das experiências docentes sem avançarem para a análise de como a participação no Programa afetou a vida profissional e/ou pessoal das educandas e de seus processos de escolarização formal.

As teses que encontramos nessa revisão de literatura (APÊNDICES D e E) embora tenham sido desenvolvidas no âmbito do Programa, não valorizam a importância da oferta de tal política no contexto mais amplo das induções das políticas de inclusão para o público feminino. Depreendemos que os dois trabalhos apenas utilizam o público do Mulheres Mil como cenário para discussão de suas temáticas e seus interesses de pesquisas.

Apesar de o Programa ser relativamente recente, nos chama atenção o baixo número de produções já que, só no projeto piloto, o PMMil foi implantado em instituições federais de 13 estados da região Norte e Nordeste, no ano de 2007 e, a partir de 2012, se estendeu a outras regiões brasileiras. Assim, a quantidade de pesquisas

desenvolvidas em nível de pós-graduação é pequena, especialmente nas Instituições que acolheram o Programa ainda no projeto piloto. Se pensarmos, ainda, que um dos objetivos propostos é o acompanhamento das egressas e a garantia de seus itinerários formativos, o número de pesquisas se mostra insuficiente para atender tal demanda.

Destacamos que o acompanhamento das egressas do PMMil é essencial para analisar sua implementação enquanto política pública e para que seja possível identificar se o Programa alcançou os objetivos gerais de inclusão social e de igualdade de gênero por meio da qualificação profissional e do acesso à educação. Além disso, é importante ter dados de como cada curso em cada instituição influenciou alguma mudança na vida das mulheres envolvidas favorecendo sua emancipação e o seu empoderamento, conforme enunciam os objetivos do Programa. Em sentido mais amplo, é necessário também compreender a abrangência social do Programa para além das mulheres beneficiadas, buscando investigar os possíveis reflexos nas comunidades atendidas.

Na busca por publicações sobre o Proeja, encontramos 129 produções com 36 teses e 93 dissertações (APÊNDICES B e C). Como o objetivo do nosso trabalho perpassa questões de gênero no Proeja, realizamos uma análise em busca das pesquisas que abordam os dois temas relacionados. Apenas uma dissertação (FREITAS, 2014) e duas teses (GODINHO, 2012; LIMEIRA, 2015) têm como objetivo principal discutir como as relações de gênero são tratadas no Proeja. Freitas (2014), apresenta um quadro alarmante da ausência de discussões sobre as questões relacionadas à mulher no estado do Paraná e como nas produções sobre o Proeja esses problemas ficam relegados a estereótipos construídos sócio-histórico-culturalmente.

A tese de Godinho (2012) centra seu tema de pesquisa na experiência escolar das mulheres estudantes do Proeja. Além de um estudo etnográfico criterioso, o trabalho contextualiza historicamente, por meio dos estudos de gênero, os silenciamentos dos saberes das mulheres e apresenta um quadro do tensionamento entre o saber escolar e o experiencial dessas educandas em sala de aula no Proeja. Ainda infere que a relação desses saberes estabelecidos pelas estudantes contribui para o desenvolvimento de práticas educativas emancipatórias no contexto escolar.

Limeira (2015) tem como objeto mostrar a reinserção no mercado de trabalho artesanal das artesãs egressas do Curso Técnico de Artesanato do Instituto Federal

de Ciências e Tecnologia de Alagoas. Embora identifique o trabalho de bordado das artesãs como um trabalho tipicamente feminino e o grupo investigado seja de mulheres, as questões de gênero são tratadas de modo relativamente superficiais, pois não foi o foco do trabalho.

Entre as demais dissertações e teses podemos ainda encontrar aqueles que reconhecem as questões de gênero como fator a ser analisado para compreender a presença feminina no Proeja (APENDICES B e C). Entre as dissertações três realizam uma análise do ingresso no Programa e chegam a comparar o acesso do público feminino e masculino ao curso que foi foco da pesquisa, mas não fazem nenhuma problematização nesse sentido. Outros três trabalhos consideram que as questões de gênero interferem na interrupção dos estudos, pois, historicamente, cabe à mulher assumir a casa e as/os filhas/os, é a inferência feita sobre o assunto.

Oito trabalhos consideram que o público do Proeja é composto de sujeitos que foram marginalizados por inúmeros fatores, inclusive por questão de gênero, mas também não avançam nas discussões sobre a problemática posta. Assim, das 93 dissertações, apenas duas tratam diretamente das relações de gênero nos cursos do Proeja, já sinalizadas e 19 assumem alguma perspectiva sobre a questão em foco. Ou seja, apenas 20,4 % das dissertações encontradas sobre o Programa tratam, de alguma forma, sobre a influência das relações de gênero nesse âmbito escolar.

Entre as teses, quatro trabalhos trazem dados comparativos entre a quantidade de educandos e educandas do gênero masculino e feminino, mas não problematizam as diferenças apresentadas do ponto de vista desses estudos. Assim, entre as teses, encontramos apenas dois trabalhos dedicados a como se estabelecem as relações de gênero no Proeja e outros 4 que assumem que essa relação interfere na permanência e no retorno de mulheres ao ambiente escolar.

A partir desses resultados, acreditamos que esse estudo se mostra essencial por sua contribuição com os Estudos Feministas nas interfaces com a produção do campo de estudos da EJA e Trabalho e Educação. Pretendemos dar visibilidade à inserção feminina nos cursos técnicos profissionalizantes numa Instituição Federal de Educação Tecnológica e, nessa medida, contribuir para a (re)formulação de políticas públicas pelo Estado e/ou de ações afirmativas conduzidas por organizações ligadas à questão da mulher, no que diz respeito ao seu processo de escolarização e formação técnico-profissional.

2 ESTUDOS FEMINISTAS E PROCESSOS DE ESCOLARIZAÇÃO: