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Um pouco adiante na história da educação em Minas Gerais, mais precisamente no início de 1999, a SEE/MG56 delegou às escolas públicas da rede estadual a competência de definir a forma de organização do ensino fundamental.

A análise de alguns aspectos da nova proposta remete-nos às discussões realizadas durante o período de julho a setembro de 1999, com a realização dos Fóruns sobre a Organização do Tempo Escolar, Fórum Mineiro de Educação, em níveis estadual, regional e local.

Após diagnóstico realizado nesse período, os dados do Censo Escolar de 1999 apontavam que a rede estadual de Minas atendia aproximadamente 3 milhões de alunos na educação infantil, ensino fundamental e ensino médio, matriculados em 3.900 escolas, apesar da municipalização do ensino fundamental, crescente nos últimos anos. (Idéias & Debates, vol.1,1999).

Tendo em vista estes resultados e os relatórios dos Fóruns, a SEE/MG apresentou as diretrizes para a área educacional consolidada no projeto Escola Sagarana: Educação para a vida com dignidade e esperança. Em linhas gerais, o projeto apresenta os parâmetros básicos da Política Estadual de Educação, prevendo ações voltadas à correção dos rumos e a adoção de medidas indispensáveis ao reajustamento da rede estadual de ensino. (Idéias & Debates, vol.II,1999,p.22).

Em relação ao conteúdo do documento, o projeto tomando como base o lema “Educação para a vida com dignidade e esperança”, reafirmou o compromisso do governo de garantir uma escola democrática, autônoma e para todos, consolidando-a através dos seguintes fatores:

a) Garantia do acesso e da permanência do estudante na Escola

b) Projeto político- pedagógico que garanta educação de qualidade para todos c) Autonomia e Gestão Democrática da Escola

d) Valorização dos Profissionais da Educação e) Relação da Escola com a Comunidade.

O Projeto Escola Sagarana57 apresenta-se organizado com 27 (vinte e sete) Programas58. A SEE/MG definiu para cada um dos programas, objetivos, metas, estratégias, ações, nível de abrangência e previsão de início/término. Entre os Programas que compõem essa política educacional, e, em atendimento aos objetivos desse estudo, destacamos dois deles: o Programa de Fortalecimento do Ensino Fundamental e o Programa de Educação Continuada. Especificamente, esses programas apresentavam como objetivos principais garantir a universalização do ensino fundamental, assegurar a melhoria do ensino, promover a correção do fluxo escolar e desenvolver novas metodologias, ampliando as oportunidades educacionais. (Idéias & Debates, vol.II,1999,p.56).

Numa análise geral dessa política educacional, verifica-se que o processo de implementação dos programas contou com a participação da equipe da SEE/MG, da comunidade escolar e dos colegiados de escolas e que, aos poucos, as ações decorrentes de tais programas foram acompanhadas e avaliadas pelas equipes das Superintendências Regionais de Ensino.

No que se refere ao projeto político- pedagógico que buscava garantir educação de qualidade, o documento reafirma que um “projeto político-pedagógico de qualidade é aquele em que todos têm a oportunidade de participar do processo educacional, garantindo- se a eqüidade". (Féres, 1999, p.38).

Sem explicitar ações práticas, o documento destaca alguns pressupostos necessários ao entendimento das diferenças individuais dos alunos; à revisão de ações curriculares com ênfase na interdisciplinaridade, e ao processo de avaliação escolar, enquanto processo com progressão continuada. No entanto, em relação à organização do ensino fundamental, a SEE/MG59 atribuía às escolas a responsabilidade de discutirem as diferentes formas de

57 A SAGARANA é o termo que designa o projeto da política educacional referente ao período de 1999-2002 no Estado de Minas Gerais. O termo SAGARANA foi criado por João Guimarães Rosa; É um “hibridismo cunhado pelo mais mineiro e universalista dos escritores brasileiros para denominar seu primeiro livro, lançado em 1946, resulta da união do radical germânico SAGA – que significa narrativa épica em prosa, ou história rica em acontecimentos marcantes ou heróicos – com o elemento RANA, que é de origem tupi e representa a de “à maneira de “, “típico ou próprio de”; além de uma inovação lingüística, fica a sugestão de histórias em que o elemento local, regionalista, se associa a uma dimensão maior de interesse universal”. 58 - Os programas implementados em 3.905 escolas estaduais, com uma Receita Orçamentária prevista com: a)recursos do Tesouro; b) Cota estadual do Salário Educação; c) Convênios, acordos e ajustes; d) Operações de Crédito com o Banco Mundial; e) Recursos diretamente arrecadados; f) Recursos do FUNDEF; g) e outros recursos vinculados. (Idéias & Debates, 1999, 80).

organização escolar em ciclos, séries, fases, períodos e ou semestres, adotando os recursos pedagógicos de classificação, reclassificação, progressão parcial ou continuada, aceleração de estudos, avaliação contínua e cumulativa de desempenho do aluno, não sendo permitida, porém, a promoção automática.

A organização do ensino fundamental não estava relacionada à lógica da aquisição de conhecimentos em seqüência, e sim, à formação humana do aluno, intrínseca ao projeto educativo. Como bem expressa Féres (1999).

“Trata-se de uma forma flexível de organização do tempo na escola, que favorece a continuidade do processo educativo, a aprendizagem, o trabalho coletivo do professor, a execução do currículo interdisciplinar e a progressão continuada”. (Féres,1999, p.44)

Nesta direção, dentro do Programa de Fortalecimento do Ensino Fundamental, a organização do sistema escolar deu-se a partir da realização dos Fóruns e consultas às escolas estaduais. Segundo a SEE/MG os resultados apresentados foram: 60% das escolas estaduais optaram pela organização do ensino fundamental em ciclos; 33% em regime de seriação; 3% em seriação e ciclos escolares e, 4% das escolas não haviam se definido.(SEE/MG,1999).

A adoção dos ciclos em todo o Estado, na gestão anterior, havia causado inúmeros protestos por parte dos professores, devido à falta de disciplina dos alunos, ocasionada pela ausência de controle utilizado no regime de seriação, através das notas e reprovação. Esta é uma das justificativas apresentadas pelo Secretário de Educação60 em relação à não obrigatoriedade da organização escolar em ciclos.

Nessa perspectiva, a legislação orientava que o regime de ciclos deveria se estruturar com base em outro paradigma: – organizar o tempo e o espaço da escola fundamental no mesmo ritmo e nos ciclos do desenvolvimento humano: infância, pré - adolescência e adolescência, ou seja, a proposta previa a distribuição das atividades escolares em 3 (três) ciclos:

• Ciclo Básico com crianças de entre os 7 e 9 anos de idade, os três primeiros anos de escolarização;

• Ciclo Intermediário para crianças entre 10 e 12 anos, equivalente ao quarto, quinto e sexto ano de escolarização;

• Ciclo Avançado para adolescentes entre 13 e 14 anos, formado pelos dois últimos anos do ensino fundamental.

As escolas que optaram pelo regime misto organizaram-se por ciclos até o final do sexto ano de escolarização e regime de seriação no sétimo e oitavo anos. (Rodrigues, 1999, p.30).

No plano das ações estratégicas, o Programa de Educação Continuada previa promover a correção do fluxo escolar e reduzir a incidência de defasagem idade-série dos alunos do ensino fundamental e do ensino médio, ampliando as oportunidades educacionais. Desta forma, a SEE/MG instalou Centros de Educação Continuada (CESEC) em várias regiões do Estado e foram criados Postos de Educação Continuada (PECONs) em todo o Estado. Estes programas substituíram os projetos implantados na gestão de Eduardo Azeredo, lembrando que os projetos “Acertando o Passo” e o “A caminho da cidadania” se destinavam à reintegração de alunos em defasagem idade-série, no ensino regular.

A análise do Relatório da Gestão 1999/2002, referindo-se às Ações da SEE/MG de Minas Gerais, possibilitou compreender que, no que se refere à gestão da educação, este período caracteriza-se por uma gestão que apresenta uma estrutura administrativa e pedagógica de concepção e características eminentemente técnicas. Segundo avaliação da SEE/MG, os princípios da Escola Sagarana garantidos nos programas e ações com o objetivo de propiciar educação de qualidade para todos, permitiram avanços significativos nos campos pedagógico, administrativo e financeiro.

É importante ressaltar que esta gestão, no tocante ao desenvolvimento educacional, priorizou ações de capacitação de diretores, especialistas, professores e técnicos das Superintendências Regionais de Ensino. Estas ações atenderam diferentes níveis e modalidades de ensino, tais como: educação infantil, ensino fundamental, ensino médio, educação a distância e educação especial. (SEE/MG,Relatório da Gestão 1999/2002,p.74).

Algumas estratégias de gestões anteriores tiveram continuidade, acompanhando o movimento das políticas educacionais em discussão, como por exemplo, o Programa de Capacitação de Dirigentes (PROCAD), o Programa de Capacitação de Professores

(PROCAP), o Sistema de Avaliação da Educação Pública (SIMAVE), todos destinados à capacitação em serviço e ao processo de acompanhamento, monitoramento e avaliação das ações do sistema educacional mineiro, coerente com os princípios da Escola Sagarana.

No entanto, há um conjunto de ações que diferem na trajetória das políticas educacionais das gestões em questão, como sejam as parcerias e os vários mecanismos de integração e programas desenvolvidos em conjunto com as instituições de ensino superior em Minas Gerais. Entre essas ações destacam-se: o Seminário “Travessia para o Futuro”, em parceria com a PUC-MG, destinado a buscar alternativas para a valorização da escola pública, formação, capacitação e educação continuada para os profissionais da educação, processos de avaliação do corpo discente, reforma do ensino médio e os mecanismos para ingresso no ensino superior. Outra iniciativa, o Projeto Veredas – Formação Superior de Professores61 – destinado à qualificação dos professores dos anos iniciais do ensino fundamental das redes estaduais e municipais do Estado, estruturou-se tendo como eixo a valorização dos profissionais da educação, utilizando metodologias de educação a distância. Tem-se expandido no sentido de contribuir para a melhoria do desempenho dos professores e, conseqüentemente, do ensino.

No sentido de viabilizar estes programas a SEE/MG integrou atividades envolvendo centros, fundações e instituições do ensino superior. Entre elas destacamos: Centro de Referência do Professor de Belo Horizonte, com pólos regionais em 6 (seis) municípios, Universidade Estadual de Montes Claros, Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), Fundação Helena Antipoff, Fundação Educacional Caio Martins e Centro Universitário de Varginha (UNIS).

Embora, sem aprofundar na avaliação de todos os programas da Escola Sagarana, é importante apontar que as taxas de distorção idade-série na rede estadual de Minas Gerais, apresentadas no Censo Escolar da Educação Básica/2001, indicam redução nos índices de repetência. No entanto, as taxas de distorção idade-série 37,4% em 1996; 33,5% em 2000 e 29,9% em 2001, muitas vezes decorrentes da repetência, ainda constituem um desafio.

61 O Projeto Veredas atende em torno de 14 mil professores das redes estaduais e municipais do Estado. Foi elaborado no marco do Programa Anchieta de Cooperação Interuniversitária (PACI), proposto por um grupo de universidades que formam a Red Unitwin/UNESCOde Universidades em Islãs Atlánticas de Lengua y Cultura Luso-española (Red ISA). (SEE/MG,Relatório da Gestão 1999/2002,p.49).

(MEC/INEP/SEEC, 2001).

As ações da SEE/MG na gestão 1999/2002 guardaram, sempre, coerência com os princípios definidos no projeto da Escola Sagarana: democracia, humanismo, cidadania e responsabilidade social, como fundamentos da ação política.

Há de se ressaltar os avanços desta gestão, em sintonia com os novos tempos e com as novas tecnologias, visando à inserção dos educandos no mercado de trabalho e à compreensão dos processos de mudança social. Mesmo suspendendo a liberação de novas parcelas do financiamento com o Banco Mundial em 1999, muitos programas voltaram a ser mantidos com recursos externos, projetos estes pertencentes ao Programa Pró- Qualidade do governo anterior, porém, com outras denominações.