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5 A RELAÇÃO ARQUITETURA E ARTE NO INHOTIM

5.2 PAVILHÕES DE INTEGRAÇÃO

5.2.5 GALERIA LYGIA PAPE

O projeto de arquitetura da Galeria Lygia Pape é de autoria de Maria Paz e Thomaz Regatos, que formam o escritório Rizoma Arquitetura (Belo Horizonte, MG). Os arquitetos criaram vários projetos para o Inhotim: o restaurante Oiticica; a loja botânica; a Galeria Psicoativa; a biblioteca; a olaria; o laboratório; a nova recepção e a Galeria Anish Kapoor, em construção. Projetada no ano de 2010, a Galeria Lygia Pape foi aberta ao público visitante do Inhotim em 2012.

A edificação tem área construída de 441,00m² e se encontra em um terreno ladeado por uma encosta de morro (Fig. 109) próximo à entrada dos visitantes do Inhotim e à capela da antiga fazenda, reformada em 2014.

Figura 108 - Vista externa do pavilhão.

Uma faixa de mata nativa separa a entrada do Inhotim do terreno onde foi implantado o pavilhão (Fig. 110) de forma que o visitante não consegue ver o cubo de concreto retorcido que abriga a obra da artista carioca Lygia Pape (1927–2004).14

A figura 111 mostra a sequência (de fora para dentro) de quadrados que compõem a edificação da seguinte maneira: O grande quadrado da base, delimita o piso e também é a

14 No Rio de Janeiro, onde construiu sua trajetória, Pape integrou os grupos Frente e Neoconcreto, participando

ativamente da renovação que marcou a arte brasileira naquele período. A recepção das ideias construtivas das vanguardas europeias levou à formulação de uma síntese original, culminando na 1ª Exposição de Arte Neoconcreta e no manifesto do movimento, que Pape assinou em 1959, juntamente com Amílcar de Castro, Ferreira Gullar, Franz Weissmann, Lygia Clark, Reynaldo Jardim e Theon Spanudis. O texto versa sobre o resgate da liberdade de experimentação, questionando os parâmetros racionalistas do projeto construtivo e recuperando a dimensão subjetiva da obra. (Fonte: http://www.inhotim.org.br/inhotim/arte- contemporanea/obras/galeria-lygia-pape/. Acesso em 25 de maio de 2015).

Figura 109 - Vista do pavilhão entorno

Foto: Isaias Ribeiro, 2012

Figura 110 - Vista externa e entrada.

Foto: Isaias Ribeiro, 2012

vedação para o exterior. O quadrado em projeção nos indica a rotação sobre o quadrado da base. Ainda temos um quadrado que representa uma parede delgada que isola a Ttéia da circulação (escura) e permite a entrada ao espaço da obra. O quadrado central delimita o piso onde foi instalado o trabalho feito de luz. Pelo desenho, podemos identificar a área na qual estão os equipamentos de iluminação e refrigeração do pavilhão.

Os arquitetos escreveram sobre o projeto, destacando o processo de concepção:

O projeto da Lygia Pape foi um projeto atípico para o Rizoma. Ele foi concebido a partir de conversas com a curadoria do Inhotim e de pesquisas sobre a obra da artista, já falecida. A iluminação e ventilação naturais não eram interessantes para este projeto, já que se tratava de uma obra de luz, que exigia um prédio hermeticamente fechado. As primeiras premissas de projeto dadas pela curadoria, então, foram de ter um cubo, de 21x21 metros e altura de 6m, fechado. Pelo fato do platô onde o edifício seria implantado ser pouco maior do que o próprio edifício, a implantação já estava de certa forma definida. Precisávamos encontrar uma maneira de minimizar o impacto do encontro súbito do visitante com um paredão de 6m e o recurso utilizado foi o de diminuir o quadrado da laje do teto e girá-lo em relação ao quadrado de piso, que deveria ser mantido com 21x21m. Essa estratégia fez com que a fachada ficasse triangulada tridimensionalmente, afastando o observador do edifício, criando um respiro maior (http://cargocollective.com/rizomaarq/).

A arquiteta Maria Paz relata que a fase de concepção projetual para espaços expositivos foi iniciada com pesquisas sobre o artista e seu trabalho. O conhecimento sobre a obra auxiliou e orientou a formulação do conceito a ser desenvolvido na arquitetura. Naquele

Figura 111 - Planta do pavilhão

momento, os arquitetos utilizam diagramas que são explicativos das ideias e das estratégias empregadas para solucionar os problemas que se apresentaram durante o início do projeto.

Os estudos para a implantação, posicionamento da entrada e geração da forma da edificação tiveram o auxílio dos diagramas, mostrados a seguir (Fig. 112).

No processo de projetação, alguns diagramas são digitalizados após as tomadas de decisão pelos arquitetos. Estas peças gráficas, que são elaboradas como estudos preliminares, auxiliam na apresentação do projeto para clientes e posteriormente para a publicação em sites na internet e revistas especializadas em arquitetura.

Pelo diagrama conceitual (Fig. 113) vemos que a solução formal do pavilhão se deu por meio do posicionamento e rotação de um cubo quadrado sobre outro que resultou na triangulação de formas que possibilitaram o fechamento das laterais da edificação.

Figura 112 – Estudos para a implantação do pavilhão

Fonte: http://cargocollective.com/rizomaarq/

Figura 113 - Diagrama explicativo do processo de geração da forma.

Na pesquisa realizada sobre o trabalho da artista, os arquitetos constataram “no conjunto da obra de Lygia Pape a grande influência da geometria”, o que também os influenciou ao pensar na estratégia da triangulação adotada para a geração da forma escolhida para o contentor arquitetônico.

Os diagramas auxiliaram os arquitetos a decidir o posicionamento da entrada do pavilhão e as dimensões do piso elevado (10 cm) que serve de suporte para centenas de pregos que amarram os fios metálicos que formam a obra de arte. Observamos que neste tipo de trabalho o artista elabora projetos que orientam a montagem e instalação da sua criação.

Os autores do projeto avaliaram outro aspecto importante na obra que seria abrigada no pavilhão – a Ttéia 1C (fio metalizado, 2002): “é uma obra sem direcionalidade e que induz o visitante a circular em seu redor, revelando gradualmente novos fios de luz” (Fig. 114).

Os arquitetos ressaltam que o “edifício deveria ter o mesmo caráter de falta de direcionalidade, o que foi conseguido através da triangulação da fachada, que é aparente na circulação que leva à obra, e através do giro do teto em relação ao piso”.

Maria Paz e Thomaz Regatos, resumem a criação da galeria:

O visitante é retirado de um mundo exterior (mundo exterior refere-se tanto ao mundo de jardins suntuosos de Inhotim, quanto a uma externalidade psicológica e espiritual) levando-o a um mundo interior, de reflexão, emoção e espiritualidade, que é criado pela obra. O edifício tem caráter de templo. (Fonte: http://cargocollective.com/rizomaarq/).

Figura 114 - Lygia Pape – Instalação Ttéia 1C

As paredes e pisos de concreto aparente podem ser vistos na entrada e no início da circulação (Fig. 115). No interior, pisos e paredes foram pintados de preto. A iluminação do hall de entrada do pavilhão é feita pela luz natural até a porta de entrada da sala principal na qual a penumbra é total. Observamos que a falta de luz na circulação que leva à instalação desorienta o visitante, que reduz sua caminhada até o momento do encontro com a obra feita de luz.

Uma malha de fio de aço serve de suporte para uma espécie de trepadeira, que tende a envolver de vegetação metade da fachada do pavilhão (Fig. 116). O resultado esperado pelos arquitetos é que a edificação se apresente “nascendo” do terreno e se integre à paisagem do parque.

Figura 115 - Vista interna da entrada do pavilhão

Foto: Isaias Ribeiro, 2012

Figura 116 - Vista da facha lateral com vegetação.

Foto: Isaias Ribeiro, 2012

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