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Garantia constitucional portuguesa e o tempo de duração da prisão preventiva

3.1 Crise no processo penal português

3.1.4 Garantia constitucional portuguesa e o tempo de duração da prisão preventiva

Portugal, assim como o Brasil, possui um Supremo Tribunal Federal, que tem por objetivo a guarda da Constituição, o qual os lusitanos chamam de Tribunal Constitucional.160

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D'ALMEIDA, Francisco. Breves considerações sobre a necessidade e meios de melhorar as prisões de Portugal. Revista do Ministério Público de Lisboa, Lisboa, v. 24, n. 95, p.195-199, jul./set. 2003. p. 195.

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“(...) O Tribunal Constitucional é um órgão de soberania, independente dos demais poderes do Estado, tendo como função primordial a de zelar pelo exercício regular das funções do Estado e pela defesa dos direitos fundamentais dos cidadãos. (...) Destaca-se nuclearmente a de fiscalização da constitucionalidade das leis, no âmbito da qual são tomadas decisões que,

A Constituição da República Portuguesa prevê em seu artigo 28161 normas gerais sobre como às autoridades devem proceder em relação a prisão preventiva. Essas diretrizes devem ser observadas com o máximo rigor, pois, além de rezar sobre um dos princípios elementares dos direitos humanos (direito à liberdade) está normatizado na própria Constituição portuguesa.

Como ressaltado no próprio artigo de lei, a prisão preventiva deve ter natureza excepcional, e devido a essa previsão, que outras tantas medidas estão disponíveis para serem utilizadas antes de sua aplicação. Essas medidas devem ser analisadas com a devida parcimônia, pois, como já visto, é também preocupante em Portugal o excesso de sujeitos submetidos ao encarceramento.

As “medidas de coacção” previstas no código de processo penal português estão elencadas do artigo 196 ao artigo 203. Dessa forma, é possível notar a possibilidade de aplicação das outras medidas que possam surtir o mesmo efeito, porém com menos prejuízo ao sujeito.

Além de ressaltar que a prisão preventiva deve ser aplicada somente depois de analisadas as medidas cautelares diversas, o número 4 do mesmo artigo 28 da Constituição da República Portuguesa, assevera que a prisão preventiva se sujeitará as prazos estabelecidos em lei.

Diante dessa previsão da Constituição Portuguesa, é que o artigo 215162 do código de processo penal lusitano estabelece o prazo máximo de duração da prisão preventiva. Esses muitas vezes, vão ter repercussão direta nas condições de vida dos cidadãos. (...)” (PORTUGAL. Tribunal Constitucional Portugal. Constituição da República Portuguesa. Disponível em: http://www.tribunalconstitucional.pt/tc/apresentacao.html. Acesso em: 20 fev. 2013.)

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Artigo 28.º - (Prisão preventiva) - 1. A detenção será submetida, no prazo máximo de quarenta e oito horas, a apreciação judicial, para restituição à liberdade ou imposição de medida de coacção adequada, devendo o juiz conhecer das causas que a determinaram e comunicá-las ao detido, interrogá-lo e dar-lhe oportunidade de defesa. 2. A prisão preventiva tem natureza excepcional, não sendo decretada nem mantida sempre que possa ser aplicada caução ou outra medida mais favorável prevista na lei. 3. A decisão judicial que ordene ou mantenha uma medida de privação da liberdade deve ser logo comunicada a parente ou pessoa da confiança do detido, por este indicados. 4. A prisão preventiva está sujeita aos prazos estabelecidos na lei. (PORTUGAL. Tribunal Constitucional Portugal. Constituição da República Portuguesa.)

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Artigo 215.º - Prazos de duração máxima da prisão preventiva - 1 - A prisão preventiva extingue-se quando, desde o seu início, tiverem decorrido: a) Quatro meses sem que tenha sido deduzida acusação; b) Oito meses sem que, havendo lugar a instrução, tenha sido proferida decisão instrutória; c) Um ano e dois meses sem que tenha havido condenação em 1.ª instância; d) Um ano e seis meses sem que tenha havido condenação com trânsito em julgado. 2 - Os prazos referidos no número anterior são elevados, respectivamente, para seis meses, dez meses, um ano e seis meses e dois anos, em casos de terrorismo, criminalidade violenta ou altamente organizada, ou quando se proceder por crime punível com pena de prisão de máximo superior a 8 anos, ou por crime: a)Previsto no artigo 299.º, no n.º 1 do artigo 318.º, nos artigos 319.º, 326.º, 331.º ou no n.º 1 do artigo 333.º do Código Penal e nos artigos 30.º, 79.º e 80.º do Código de Justiça Militar, aprovado pela Lei n.º 100/2003, de 15 de Novembro; b) De furto de veículos ou de falsificação de documentos a eles respeitantes ou de elementos identificadores de veículos; c) De falsificação de moeda, títulos de crédito, valores selados, selos e equiparados ou da respectiva passagem; d) De burla, insolvência dolosa, administração danosa do sector público ou cooperativo, falsificação, corrupção, peculato ou de participação económica em negócio; e) De branqueamento de vantagens de proveniência ilícita; f) De fraude na obtenção ou desvio de subsídio, subvenção ou crédito; g) Abrangido por convenção sobre segurança da navegação aérea ou marítima. 3 - Os prazos referidos no n.º 1 são elevados, respectivamente, para um ano, um ano e quatro meses, dois anos e seis meses e três anos e quatro meses, quando o procedimento for por um dos crimes referidos no número anterior e se revelar de excepcional complexidade, devido, nomeadamente, ao número de arguidos ou de ofendidos ou ao

prazos prevêem diversas situações, sendo que o máximo que o sujeito poderá ficar preso é pelo tempo de 4 (quatro) anos, o que se denota da conjugação dos números 3 e 5 do mesmo artigo 215.

Esse prazo não poderá ser prorrogado, pois diante do número 7, do artigo 215, mesmo que haja outros processos criminais, o máximo que o sujeito poderá ficar preso preventivamente será esse período. Não haverá a possibilidade de haver um prazo indeterminado para a duração da prisão preventiva. O artigo anteriormente citado é taxativo ao elencar as hipóteses e o tempo de duração da prisão preventiva.

Uma observação importante a ser feita é que caso esse prazo máximo expire, poderá ainda o juiz submetê-lo a outras medidas previstas nos artigos já citados, o que se extrai do artigo 217, 2, do código de processo penal português.163 Dessa forma, é possível perceber que mesmo o prazo sendo longo, pelo menos em Portugal, o sujeito estará ciente que não ficará preso sem o devido julgamento por mais de 4 (quatro) anos, claro que dependendo do crime esse prazo pode ser muito menor.

Quando da análise das normas dispostas no processo penal brasileiro, é possível perceber que não foi inserido esse prazo máximo de duração da prisão preventiva. Na verdade, na PL nº 156 (Projeto do Novo Código de Processo Penal), consta tanto o prazo máximo de duração como também a previsão de reexame, porém pecou o legislador por já não ter inserido essas alterações na recente mudança que trouxe a Lei 12.403/11.164

carácter altamente organizado do crime. 4 - A excepcional complexidade a que se refere o presente artigo apenas pode ser declarada durante a 1.ª instância, por despacho fundamentado, oficiosamente ou a requerimento do Ministério Público, ouvidos o arguido e o assistente. 5 - Os prazos referidos nas alíneas c) e d) do n.º 1, bem como os correspondentemente referidos nos n.os 2 e 3, são acrescentados de seis meses se tiver havido recurso para o Tribunal Constitucional ou se o processo penal tiver sido suspenso para julgamento em outro tribunal de questão prejudicial. 6 - No caso de o arguido ter sido condenado a pena de prisão em 1.ª instância e a sentença condenatória ter sido confirmada em sede de recurso ordinário, o prazo máximo da prisão preventiva eleva-se para metade da pena que tiver sido fixada. 7 - A existência de vários processos contra o arguido por crimes praticados antes de lhe ter sido aplicada a prisão pr eventiva não permite exceder os prazos previstos nos números anteriores. 8 - Na contagem dos prazos de duração máxima da prisão preventiva são incluídos os períodos em que o arguido tiver estado sujeito a obrigação de permanência na habitação. (PORTUGAL. Código de Processo Penal.)

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Artigo 217.º - Libertação do arguido sujeito a prisão preventiva – (...) 2 - Se a libertação tiver lugar por se terem esgotado os prazos de duração máxima da prisão preventiva, o juiz pode sujeitar o arguido a alguma ou algumas d as medidas previstas nos artigos 197.º a 200.º, inclusive. (...) (PORTUGAL. Código de Processo Penal.)

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3.2 Medidas cautelares diversas como alternativa à prisão preventiva no Brasil e em