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4 ZONEAMENTO AMBIENTAL REGIONAL E INSTRUMENTOS LEGAIS

4.2 SÍNTESE DOS PLANOS DIRETORES E LEIS AMBIENTAIS DOS

4.2.7 Garibaldi

Quando chegaram a Garibaldi trazendo como hábito a viticultura, os imigrantes italianos talvez não tivessem a idéia do efeito que esta contribuição teria sobre a história do Município. Hoje Garibaldi é conhecida como a capital nacional do champanha. A cada estourar é celebrado o trabalho de obstinados, que a cada ano perseguem o ciclo das uvas. Esse trabalho tem como pioneira a família Peterlongo, que em 1913 elaborou o primeiro champanha brasileiro, em Garibaldi.

Através da Lei Complementar nº 3,140 de 18 novembro de 2008, Garibaldi instituiu o Plano Diretor, cujos objetivos são:

I - promover o desenvolvimento sustentável do Município, de forma a ser socialmente justo, ambientalmente equilibrado e economicamente viável, visando garantir qualidade de vida para as presentes e futuras gerações;

140 GARIBALDI. Lei Complementar n° 3, de 18 de novembro de 2008. Institui o Plano Diretor Municipal de Garibaldi e dá outras providências. Disponível em <www.garibaldi.rs.gov.br>. Acesso em 7 out.2016.

II - elevar a qualidade de vida da população, assegurando saneamento ambiental, infraestrutura, serviços públicos, equipamentos sociais e espaços verdes e de lazer qualificados, conforme a necessidade da população; [...]

VIII - proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e construído, do patrimônio cultural, histórico, artístico, paisagístico e arquitetônico;

Respeitado o princípio da autonomia municipal, o Plano Diretor Municipal de Garibaldi assegurará o pleno funcionamento da integração regional entre os municípios que compõem o COREDE Serra, o Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica Taquari/Antas e a AUNe/RMSG, no que tange às funções públicas, objeto de gestão comum, que são:

I - saneamento ambiental, especialmente as questões dos resíduos sólidos, do abastecimento de água, do esgotamento sanitário e da drenagem urbana;

II - transporte público e estrutura viária intermunicipal e regional; III - turismo;

IV - planejamento do uso e ocupação do solo, especialmente nas regiões limítrofes;

V - preservação e conservação ambiental, estabelecendo unidades de conservação regionais;

VI - informações regionais e cartografia;

VII - integração social, especialmente programas de educação, cultura, saúde e habitação;

VIII - integração econômica.

O art. 16 do Plano de Garibaldi define que, para o uso adequado do solo, deverão ser mantidas as Áreas de Proteção Permanentes (APPs) de margens de rios e de declividade. Com base nas legislações federal e estadual, deverá ser elaborado um Plano de Águas, com vistas a indicar novas bacias de captação de abastecimento. Ainda, será elaborado Inventário do Patrimônio Ambiental do Município, com estudo de Cobertura Vegetal do Município. Define que as áreas de produção primária deverão se adequar às áreas de preservação permanente, às bacias com fins de abastecimento, às áreas de interesse turístico e de patrimônio cultural e ambiental. Ainda assevera que o Poder Executivo Municipal deverá dialogar com os municípios vizinhos sobre as

questões que ultrapassam os limites municipais, e buscar usos adequados nas zonas limítrofes.

Figura 19 - Zoneamento urbano das águas do Município de Garibaldi

Fonte: Plano Diretor de Garibaldi, 2008, versão consolidada em 2016.

Para garantir a qualificação ambiental a partir da infraestrutura,141 temos o zoneamento urbano das águas na Figura 19:

- deverão ser estabelecidas normas de abastecimento de água desde a captação até o consumidor final, a ser definido no Plano de Águas. As

141 GARIBALDI. Lei Complementar nº 12, de 17 de dezembro de 2012. Substitui os mapas 1 e 2

anexos da lei complementar nº 3, de 18 de novembro de 2008. Disponível em: <https://leismunicipais.com.br>. Acesso em 08 nov.2016.

funções de cada parte do Espaço Urbano, são ilustradas no Mapa 2, anexo, estabelecendo as diferentes zonas de uso do solo, a seguir descritas: - Zona Residencial da Barragem: área predominantemente residencial unifamiliar que está situada sobre bacia de captação do lago Santa Mônica, podendo abrigar também as demais atividades nos moldes da lei;

- Zona da Barragem Santa Mônica: área definida pelo divisor de águas da Bacia Santa Mônica, excluídas as áreas que fazem parte da zona residencial da barragem; é uma região de captação de água de abastecimento, visando manter a sua quantidade e qualidade, sendo predominantemente residencial de baixa densidade, é permitida uma economia por lote;

- Zona da Bacia do Barracão: zona definida por parte da Bacia de Abastecimento de água de Bento Gonçalves, visa garantir melhor qualidade e quantidade de água. E inicialmente em 2008 previa lotes grandes de 750 m² que posteriormente foram reduzidos em 2014 para 390 m² ampliando o leque de moradias comercio e industrias de pequeno porte.

Atividades urbanas são ações desenvolvidas de forma compatível com o uso do solo atribuído a cada zona. Assim, na Zona da Barragem Santa Mônica, Zona da Bacia do Barracão e Zona Residencial Vale dos Vinhedos, serão permitidas apenas uma economia por lote e, especificamente, na Zona da Barragem Santa Mônica os lotes resultantes de parcelamento deverão obedecer à área mínima de 1.800m² e testada mínima de 35m (Redação dada pela Lei Complementar nº 20/2014).

Já nas Zonas Garibaldina, Borghetto e Bacia do Barracão, os lotes resultantes de parcelamento deverão obedecer aos critérios presentes na Lei Complementar nº 21/2014, sendo que a Zona Bacia do Barracão os lotes deverão ter área mínima de 390m² e testada mínima de 13m. Para preservação das estruturas ambientais naturais, deverão ser protegidas as estruturas hídricas na sede urbana, formadas pelos rios, córregos, nascentes, banhados, mata ciliar e áreas com declividade e a bacia hidrográfica de abastecimento de água Santa Mônica deverá ser preservada conforme determinações dessa Lei e demais legislações municipais pertinentes.

Conforme Lei Complementar nº 5/2009, o Poder Executivo Municipal deveria realizar, até dezembro de 2010, projetos, revisões, estudos ou planos, podendo, quando couber, ser objeto de lei municipal, a exemplo do Plano das Águas, contendo estudo detalhado de potencialidade hídrica do Município, com fins de abastecimento; estudo hídrico detalhado da Bacia Santa Mônica; do Plano de Saneamento Básico, observada a Lei Federal nº 11.445 de 5 de

janeiro 2007; do Plano de Despoluição do Arroio Marrecão; e delimitação da Área de Proteção Ambiental do Arroio Marrecão.

Em 10 de novembro de 2011 (conforme a Ata 014/2011), o Plano Ambiental do município de Garibaldi foi aprovado pelo Conselho Municipal de Meio Ambiente.

Um ano mais tarde, através da Lei Municipal nº 4.400, de 28 de dezembro de 2012, foi aprovado o Plano Municipal de Saneamento Básico Participativo, destinado a promover a saúde, a qualidade de vida e do meio ambiente, a organizar a e estabelecer as condições para a prestação dos serviços públicos de saneamento básico e sua universalização.

Em seu art. 15, o Plano Municipal de Saneamento prevê que deverá ser compatível com os planos da bacia hidrográfica em que estiver inserido, podendo ser alterado de acordo com o caso e, em seu art. 20, reza que a proposta de revisão do Plano Municipal de Saneamento Básico Participativo deverá estar em compatibilidade com as diretrizes, metas e objetivos:

I - das Políticas Federal e Estadual de Saneamento Básico, de Saúde Pública e de Meio Ambiente;

II – dos Planos Federal e Estadual de Saneamento Básico e de Recursos Hídricos;

III – do Plano de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica Taquari-Antas; [...]

Ao analisar o Tomo IV, que trata da Gestão de Abastecimento de Água, dentro do Plano de Saneamento Básico Participativo, verifica-se que uma das principais prioridades das populações se trata do atendimento de água para consumo humano que, por características dos sistemas, deve apresentar primeiramente quantidade adequada e em seguida qualidade para suprir principalmente o abastecimento de água para o consumo humano. Como a água é um bem a ser preservado pela sua importância, uma situação incômoda no abastecimento são as perdas de faturamento, medida pela relação entre os volumes faturados e os volumes disponibilizados para a distribuição. Tal situação é preocupante, pois segundo Tsutiya,142 os dados da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES) revelam as perdas nos

142 TSUTIYA, Milton Tomoyuki. Abastecimento de água. 2. ed. São Paulo: Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, 2005.

sistemas correspondem a uma média nacional de 40,6%. No estado do Rio Grande do Sul este índice estaria em 36,4%. Para o município de Garibaldi, dados da concessionária indicam que o índice de perdas na distribuição estaria em torno de 30%.

Com relação às águas superficiais são apresentadas informações relativas às do arroio Marrecão. Com relação à água de poços, consideram-se dados de qualidade de diversos poços distribuídos na zona urbana. A barragem do arroio Marrecão entrou em operação em 1957, e responde por cerca de 30% do volume de águas distribuído, sendo o complemento oriundo dos poços artesianos. A captação de água superficial é realizada na represa do arroio Marrecão, correspondente a 30% do volume de água distribuído, sendo o complemento oriundo de 12 poços artesianos. Garibaldi é uma das cidades turísticas da Serra Gaúcha, parcialmente abastecida por captação de água na represa do arroio Marrecão, que apresenta problemas, os quais têm sido superados por intervenções da CORSAN.

O manancial selecionado para abastecimento da cidade de Garibaldi é o Arroio Marrecão. Através da regionalização de vazões, a CORSAN chegou à conclusão que o Arroio Marrecão e sua bacia de contribuição seriam capazes de reservar aproximadamente 360.000 m³ com área de alague de 51,5 ha. Para tanto, a capacidade de reservação real é de 346.102 m³, muito semelhante à capacidade calculada, confirmando o acerto do método de regionalização.

A demanda atual do Sistema Urbanos de Abastecimento de Água de Garibaldi é suprida por 12 poços profundos com capacidade de 3.616,66 m³/dia ou 41,85 L/s e por ETA situada junto à barragem do arroio Marrecão com capacidade de 1.550 m³/dia ou 17,93 L/s, e, capacidade total de 59,79 L/s. Para o sistema foi elaborada projeção de demanda para 20 anos com horizonte em 2032. A demanda de água para o ano de 2032 será de 117,11 L/s segundo dados da CORSAN.

Observa-se que frente à capacidade atual do sistema, Garibaldi necessita de ampliações de fontes de suprimento desde o ano de 2015. Uma das possibilidades levantadas para suprir a dificuldade de escassez de água, conforme se verifica na Figura 20, segundo diagnóstico da CORSAN, realizado em junho 2008, seria a perfuração de 5 poços profundos, que asseguraria o abastecimento possivelmente até 2027, com vazão total de 26,4 L/s,

disponibilizando 18,64 L/s devido a perdas de 29,41%, o tratamento da água seria simplificado.

Figura 20 – Dificuldade de abastecimento da Zona Rural de Garibaldi, lado Oeste, em Linhas Camargo São Pantaleão e São Gotardo

Fonte: Tomo III Plano Municipal de Saneamento Básico de Garibaldi, 2012/Água, p.98.

Com a previsão de cobrança da água para os próximos anos, sugere-se que o município participe do respectivo Comitê de Bacias do Taquari Antas.

Os recursos da cobrança devem ser aplicados na própria bacia de origem em projetos de melhorias ambientais.

Os custos da revitalização da mata ciliar do Arroio Marrecão podem ser expressos através do plantio de mudas de árvores nativas segundo plano de arborização realizado pelo município em 2012. Em caso de paralisação do serviço de fornecimento de água potável por estiagem severa ou acidente por poluição na captação de água bruta, estima- se que os reservatórios possam suprir a necessidade em condições normais de abastecimento por aproximadamente 8 horas. Logo, ainda dentro deste período, o município deve decretar estado de calamidade pública, sendo que a defesa civil deve acionar

caminhões pipa para trazerem água de municípios vizinhos como Carlos Barbosa, Bento Gonçalves, entre outros, para atender a população.143

Conclui-se que na lei de saneamento básico de Garibaldi, no quesito água não há menção alguma em buscar novas fontes de abastecimento para o município desde que este cumpra com as metas de curto, médio e longo prazo propostas pelo Plano. Não fala em regionalização e cuidados com outras bacias que nascem no território de Garibaldi e avançam para o município de Bento Gonçalves.

O Plano Diretor, em seu zoneamento prevê a Zona da Bacia do Barracão, zona definida por parte da Bacia de Abastecimento de água de Bento Gonçalves, que visa a garantir melhor qualidade e quantidade de água, onde a área mínima de 390m² e testada mínima de 13m e o uso residencial unifamiliar, comércio de médio porte com potencial poluidor baixo, indústria de pequeno porte de baixo potencial poluidor. Um aspecto ambiental importante é a falta de gerenciamento dos recursos hídricos municipais. Este fato é especialmente relevante na barragem do arroio Marrecão, de onde é feita a captação de água para abastecimento público, e cuja qualidade está visivelmente comprometida. Outra questão é a possibilidade de esgotamento deste manancial.