• Nenhum resultado encontrado

3 HISTÓRICO DA MICROBACIA HIDROGRAFICA URBANA DO

3.3 PROTEÇÃO DA MICROBACIA HIDROGRÁFICA ATRAVÉS DOS

Bento Gonçalves recebeu seu primeiro Plano Diretor em 1971, que vigorou sem alterações por longos 21 anos. Devido às grandes transformações no desenvolvimento do Município, ocorridas em nível de economia urbana e expansão territorial, em 1992, foi realizada a sua primeira reavaliação.

O autor da Indicação que originou as discussões e revisão do antigo Plano Diretor, o vereador bento-gonçalvense Jauri da Silveira Peixoto, trouxe à cidade em 1984 os engenheiros encarregados do Departamento de Recursos Hídricos da CORSAN, de Porto Alegre, à época Adolfo Contergi e Ítalo Mansueto e o então gerente da CORSAN de Bento Gonçalves, Constantino Bottin, para palestrar sobre a proposta de abastecimento de água da cidade, iniciando os questionamentos e avaliações que culminaram num novo Plano Diretor para Bento Gonçalves.

Esse novo Plano Diretor de 1992 causou impactos na comunidade de investidores, pois foi um plano limitador (em altura, índices, recuos e zoneamentos restritivos), resultando num plano preocupado com a cidade como um todo e com a boa convivência em harmonia.

Na fase de reavaliação do Plano Diretor, através de reuniões com a CORSAN, concessionária responsável pelo abastecimento de água, somado aos conflitos dos usos da terra, se identificou com clareza o que representava a ocupação indiscriminada e acelerada na bacia de contribuição, lado sul do Município, área do atual Bairro Santo Antão, para a captação de água do município.50

50 BENTO GONÇALVES. Relatório de Reavaliação do Plano Diretor de 1992. Prefeitura Municipal de Bento Gonçalves. Arquivo do Instituto de Pesquisa e Planejamento de Bento Gonçalves.

Como elemento inovador, surgido em 1992, tem-se o estabelecimento de um zoneamento ambiental denominado de Zona de Proteção aos Mananciais (ZPM), os quais estavam se deteriorando em virtude das seguintes causas:

1) Implantação de loteamentos (embasada em valores de mercado e topografia, sem uma análise mais profunda por parte do Município dos possíveis danos ambientais), como contribuintes de esgotos ao Arroio Barracão.

2) Parcela ponderável da área urbana edificada que contribui com seus esgotos para a Bacia e, agravando mais o problema, a inexistência de um sistema de esgoto residencial e industrial, que fez com que o regime hídrico do manancial fosse mantido pelos afluentes.

3) A diversificação de usos.

4) Inviabilidade econômica de desapropriar grandes áreas para proteger os mananciais, além do impacto junto àquela parcela da população. 5) Ritmo acelerado das edificações.

6) Ausência de lei municipal para proteção, através de um correto processo de urbanização (como implantação de um sistema de esgoto que proteja sangas, vertentes e demais contribuintes, a partir do nascedouro, preservando o volume de contribuição).

7) Ausência de uma lei similar para os municípios vizinhos de Garibaldi e Farroupilha (que compartilham da mesma Microbacia).

8) Acesso leste, que liga a RST 470 com Caxias do Sul e Farroupilha (área considerada estratégica para implantação de indústrias, pela topografia, acesso e infraestrutura).

Em 1994, em virtude das restrições propostas em 1992, foi nomeada uma comissão para reavaliar esse novo Plano Diretor e, um ano após, em 1995, foi criado o IPURB – Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano, vinculado ao Gabinete do Prefeito, que levou em frente os trabalhos de reavaliação do Plano Diretor, uma vez que se tornou o órgão de planejamento do município.

A partir desse estudo, o zoneamento ambiental denominado de zonas ZPM1 e ZPM2 (Zonas de Proteção ao Manancial) foi mantido. A primeira, ZPM1, pela proximidade aos cursos d’água sofreu maior restrição de uso e ocupação. A segunda, que abrange a área já urbanizada e apresenta uma maior abertura

de usos e ocupação do solo, sofreu restrições menores; salvaguardada, todavia, a proteção ambiental. Em ambas as zonas, os lotes eram maiores que os tradicionalmente conhecidos, de 360,00 m², cujo objetivo era manter em níveis baixos a densidade demográfica.51

Na época dizia-se que as restrições deveriam ocorrer enquanto não existisse um sistema de esgoto eficaz que protegesse as sangas e os córregos contribuintes do Arroio Barracão em direção à acumulação de água para posterior bombeamento e distribuição.

O advento do Estatuto da Cidade,52 estabeleceu diretrizes gerais da política urbana e impôs a muitas cidades brasileiras o enquadramento (até 2006) dos municípios à nova política Nacional de Planejamento Territorial dos Espaços Urbanos e Rurais, oferecendo uma série de instrumentos de gestão para as cidades, em especial, no que se refere à função social da propriedade e a gestão democrática.

Na esteira dessa Legislação Federal, Bento Gonçalves, após dez anos de Plano Diretor estanque e inalterado, aprovou o seu Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado, em 26 de outubro de 2006.

Esse novo Plano manteve, o zoneamento dos Planos Diretores de 1992 e de 1996, no que se refere à Microbacia do Barracão, acrescendo um zoneamento específico para as margens dos arroios, enumerados de 1 a 4, que estavam em ZPM1, a qual passou a chamar-se Zona de Preservação Permanente (ZPP) aos Arroios contribuintes ao Barracão.

Quando da chegada na Câmara de Vereadores do Projeto de Lei que propunha o novo Pano Diretor, resultado de reuniões de comunidades, entidades, conferências municipais e que aplicou a Gestão Democrática na sua construção durante os anos de 2003 a 2005, surgiram várias investidas para derrubar as restrições impostas à ZPP, território que abriga a Microbacia.

Diante dessa forte resistência do Legislativo em aprovar o referido Projeto de Lei, foi necessária a intervenção do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano, redigindo um extenso relatório documentado com vistas a contrapor o

51 BENTO GONÇALVES. Relatório de Reavaliação do Plano Diretor 1996. Op.cit.

teor da Emenda 17,53 num esforço conjunto para justificar aos vereadores o porquê da real necessidade de preservação dos mananciais, conforme se verifica a seguir.

3.4 DA EMENDA 17 versus MICROBACIA HIDROGRÁFICA DO BARRACÃO, ATÉ