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4.6 Capacidades das FDS para enfrentar riscos e ameaças da contemporaneidade e se

4.6.4 GASTOS NA POLÍCIA DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE E O SEU

A PRM dispõe de armamentos em número suficiente para os efetivos atuais, porém, pelas suas características, não se adequa à sua missão de manutenção da lei e ordem, o que faz com que, em muitas ocasiões, tenha de recorrer a equipamentos para missões especiais, dando o espectro psicológico de guerra para os cidadãos devido ao armamento usado, para além da insegurança que isso representa em termos operacionais.

No que concerne aos equipamentos de uso individual, designadamente cassetetes, algemas, apitos, coletes à prova de balas, lanternas, escudos, gás lacrimogêneo, balas de borracha e material específico de controle de massas, a PRM não dispõe desses meios em

números suficientes, o que tem feito com que a atuação da polícia em determinadas missões não seja adequada ao princípio da proporcionalidade dos meios e da força a se aplicar na manutenção da lei e ordem (MOÇAMBIQUE, 2003, p. 33).

Quanto a meios circulantes, a PRM tem cerca de 321 viaturas, entre ligeiras e pesadas. Deste total, cerca de 62% estão em bom estado (200), 7% em estado regular (22) e 31% (99 viaturas) estão em condições de irreparabilidade. Para além disso, nota-se uma larga diversificação de marcas de fabricação,algo devido, por um lado, à falta de uma política de transportes na PRM, e por outro à constatação de que a Comissão Central de Compras do Ministério do Plano e Finanças guia-se pelo critério dos preços mínimos,não pela política de cada setor. A diversidade excessiva de marcas de viaturas e equipamentos, em geral, dificulta o processo de gestão de peças e sobressalentes para manutenção, reparação e mesmo quanto aos mecânicos (MOÇAMBIQUE, 2003, p. 35).

No que se trata de infraestruturas, para a realização das suas funções, a Polícia moçambicana dispõe em todo o território nacional de 11 Comandos Provinciais, correspondentes ao número de províncias que o país possui, 154 Comandos Distritais, também correspondentes ao número de distritos que o país possui, 65 Esquadras localizadas em zonas urbanas das cidades e vilas e 307 Postos Policiais situados majoritariamente nas zonas rurais e na periferia das cidades. Dentro da Polícia, há brigadas especializadas no combate a crimes específicos: a Brigada Antidrogas, a Brigada Contra o Furto de Veículos e a Brigada Contra o Crime Organizado.

O recrutamento da Polícia depende do preenchimento dos requisitos constantes no seu Estatuto, que prevê três escalas profissionais, exigindo em cada uma delas a verificação de requisitos de ingresso gerais e especiais. Para o ingresso na escala básica da PRM, por exemplo, é preciso ter habilitações literárias mínimas da 10ª classe e idade entre os 19 e 30 anos, além de dois anos de estágio; para o escalão superior, exigem-se habilitações literárias mínimas equivalentes à 12ª classe e idade mínima de 18 anos e máxima de 22 anos. A conclusão de um curso superior de Ciências Policiais ou equivalente é o requisito de base para a ascensão de Oficial de Polícia. O quadro da PRM no período em análise era de cerca de 20.782 profissionais distribuídos em suas categorias hierárquicas, nomeadamente: oficiais generais (6), oficiais superiores (238), oficiais subalternos (2.695), sargentos (3.308) e guardas (14.178) (MOÇAMBIQUE, 2003, p. 35).

A formação do policial, definida como a preparação técnico-profissional dos membros da PRM para a realização da sua missão, realiza-se na base de um sistema que garante a continuidade do processo de instrução e educação dos membros da PRM através dos cursos

de formação, de aperfeiçoamento e estágios. Podem frequentar os cursos policiais os cidadãos moçambicanos originários numa base de voluntariedade, aprovação em concursos, havendo aptidão física, psíquica e moral adequados à atividade policial. A formação de quadros da PRM é, em geral, assegurada por instituições de ensino públicas, nacionais e estrangeiras. A formação técnico-policial realiza-se em estabelecimentos de ensino policial dentro e fora do país. No plano interno, a formação de guardas e sargentos é feita na Escola de Sargentos de Polícia e na Escola Prática da Polícia, respectivamente, e a formação de oficiais é realizada na Academia de Ciências Policiais. As três instituições têm a incumbência de realizar cursos de especialização nas diferentes áreas de atividade policial.

Com o fim das hostilidades militares entre o governo da FRELIMO e a RENAMO em 1992,bem como o fim do apartheid na África do Sul no mesmo ano, a Política de Defesa e Segurança de Moçambique pautou-se na modernização das FDS através de leis e regulamentos que definem um conjunto de princípios, objetivos e diretrizes para a defesa eficaz do país. A modernização da força se deu pela capacitação técnica-científica de seus quadros através da criação de centros de formação e instituições superiores de formação das FDS. Apesar de não existirem ameaças evidentes externas e internas para o país, Moçambique continuou com a política de prontidão da força, quer dizer, pondo a força sempre em ensaios de manobras de guerra e de combate ao tráfico de drogas internacional, ao tráfico internacional de seres humanos, ao tráfico de armas de fogo, à pirataria marítima e ao terrorismo.

5 A POLÍTICA DE DEFESA E SEGURANÇA DE MOÇAMBIQUE E AS NOVAS AMEAÇAS (2004-2019)

Este capítulo analisa o processo de mudanças nas políticas de defesa e segurança em Moçambique com relação ao surgimento de novas ameaças à paz e à tranquilidade de pessoas e bens, assim como a própria segurança do Estado: o surgimento de grupos terroristas, algo antes tido como uma miragem em Moçambique; a pirataria marítima; o tráfico de pessoas para extração de órgãos; e o sequestro –, sem deixar de lado a análise dos ataques protagonizados pela RENAMO e pela autoproclama da Junta Militar da RENAMO (um grupo armado que surgiu da cisão da RENAMO e que não concorda com a forma como a RENAMO e o governo estão a conduzira questão da desmobilização e integração dos homens armados da RENAMO às FDS e a sua reinserção na sociedade).

Desta forma, o capítulo analisa as políticas de defesa e segurança implementadas em Moçambique em face dessa nova onda de crimes contemporâneos, com especial enfoque à lei n° 12/2019 de 23 de setembro, lei essa que veio fazer uma revisão da lei número 17/97, de 1 de Outubro que aprova a política de defesa e segurança de Moçambique e a lei número 5/2018 de 2 de agosto, que estabelece o regime jurídico de prevenção, repressão e combate ao terrorismo e revoga 382 do Codigo Penal, aprovado pela Lei n 35/2014. Neste capítulo, analisam-se também a capacidade das FDS para responder a estas ditas novas ameaças (capacidade do pessoal, material bélico e ajuda externa). Para tal, o capítulo aborda os efeitos da globalização e da descoberta de recursos naturais em Moçambique como as principais causas das novas ameaças, e enfatiza a questão da cooperação regional e internacional para lidar com essas questões, consideradas como problemas globais.

Temos de salientar que este capítulo focaliza os governos de Armando Emílio Guebuza e Filipe Jacinto Nyusi, com o objetivo de compreender como eles estabeleceram estratégias e objetivos nas suas políticas de defesa e segurança a fim de perceber como as ameaças são/serão enfrentadas.

5.1 O processo de globalização, a descoberta de recursos minerais e o surgimento de