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SOLUÇÃO DO PROJETO INTEGRADO PARÂMETRO ASSUNTO

1. CARACTERIZAÇÃO DA MASSA MINERAL

1.6.2. Geologia local

A cartografia geológica realizada incidiu, sobretudo, na área de afloramento dos calcários que tipicamente apresentam aptidão para a produção de blocos. No Anexo I apresenta-se o Mapa Geológico da AIE da Cabeça Veada à escala 1:2000, bem como os perfis geológicos produzidos pelo LNEG (Figura II.6).

Em termos genéricos e utilizando alguma da já mencionada terminologia local, na AIE da Cabeça Veada ocorrem, da base para o topo, as seguintes unidades geológicas:

Vidraços da Base. Calcários micríticos (mudstones, wackstones e floatstones) de cor creme e

cinzenta, de tons claros a escuros. As bancadas têm espessura decimétrica, sendo que a possança total desta unidade é bastante elevada, na ordem dos 300 m. Contudo, aflora apenas parcialmente, estando truncada por uma falha de orientação geral NNE-SSW. Estes calcários têm correspondência com a Formação de Serra de Aire, cuja idade abrange todo o Batoniano. Foi definida por Azêredo (2007) que a considera equivalente à unidade Calcários Micríticos de Serra

de Aire da Folha 27 C - Torres Novas, da Carta Geológica de Portugal à escala 1:50 00025. Nesta

unidade diferenciaram-se também níveis lenticulares de calcários mais ou menos dolomitizados. Por se encontrarem nas imediações de vários acidentes que recortam a região, deverão ser o resultado da circulação de fluídos ricos em magnésio ao longo de níveis de calcários mais suscetíveis a este tipo de alteração. A espessura de alguns destes níveis de calcários dolomitizados poderá alcançar 20 m.

Calcários Ornamentais. São calcários biolitoclásticos pelóidicos de granularidade fina a

grosseira (grainstones e rudstones). Apresentam cor creme de tom mais ou menos claro e textura marcada por laminações paralelas e oblíquas, mais ou menos evidentes e organizadas em feixes de espessura decimétrica a métrica. A espessura das bancadas é de difícil apreciação pela dificuldade de distinguir, em paredes verticais, os estratos dos feixes de laminações sedimentares. Na realidade, as bancadas deverão corresponder a corpos maciços, com possanças superiores a 20 m. Em termos económicos, são os feixes de dimensão métrica que condicionam a dimensão dos blocos. A possança total da unidade rondará os 130 m. Tem correspondência com o Membro de Pé da Pedreira da Formação de Santo António-Candeeiros; equivalente lateral da unidade Vidraços de Base, mas cuja idade abrange o Caloviano26. O

Membro de Pé da Pedreira data do Batoniano superior e tem correspondência com a unidade Calcários de Pé da Pedreira definida na Folha 27-C C - Torres Novas, da Carta Geológica de Portugal à escala 1:50 00027. A variedade comercial produzida na AIE da Cabeça Veada toma o

nome de Semi Rijo de Cabeça Veada. Quartau (1998) diferenciou no interior desta unidade um nível biostromático de granularidade bastante grosseira, com espessura constante próxima de 1 m.

Vidraços do Topo. Idênticos aos Vidraços da Base, fazendo parte, do ponto de vista regional, da

mesma unidade litostratigráfica.

Jurássico Superior. São calcários micríticos mais ou menos margosos e bioclásticos

(wackstones e packstones) de cor cinzenta, tendencialmente escura. Ocorrem em bancadas de espessura decimétrica.

Estruturalmente, as bancadas das unidades do Jurássico Médio, onde se incluem os Calcários Ornamentais, apresentam-se orientadas NNE-SSW com inclinações na ordem dos 40º para Este. Contatam, a Oeste, por intermédio de uma falha com os calcários do Jurássico Superior. Esses apresentam-se com orientações muito diversas e inclinações na ordem dos 20º a 30º, denunciando dobramentos vários. Junto à referida falha, tendem a paralelizar-se com ela, com inclinações para Oeste.

Essa falha, designada por Falha de Valverde, apresenta uma geometria e cinemática de falha inversa, com o Jurássico Médio a cavalgar o Jurássico Superior. O Jurássico Médio apresenta-se truncado por ela, o que é particularmente visível ao nível da unidade Vidraços da Base (a Sul) e dos Calcários Ornamentais (a Norte). Já de um ponto de vista mais regional, ao nível da Depressão da Mendiga, esta falha apresenta uma geometria de falha normal invertida, pois, sobre o Jurássico Médio aflora o Superior, na região central dessa depressão.

25 Manupella et al., 2006.

26 Azêredo, 2007. 27 Manupella et al., 2006.

A Falha de Valverde apresenta-se rejeitada por outras duas falhas, com orientação WNW-ESE. Uma na região Norte da AIE da Cabeça Veada, com uma movimentação aparente em desligamento esquerdo e outra, a Sul da AIE, com movimentação semelhante. A primeira termina no interior da unidade Calcários Ornamentais, provavelmente dando origem a ligeira flexura, conforme denunciado pela modificação no andamento do contato com os Vidraços do Topo. A segunda falha limita o afloramento de Calcários Ornamentais a Sul.

Assim, de modo sintético, a unidade Calcários Ornamentais dispõe-se em monoclinal basculado cerca de 40º para Este, estando, nessa direção, limitado superiormente pelos Vidraços do Topo. Para Oeste está limitado pelos Vidraços da Base ou pela Falha de Valverde.

Uma estrutura filoniana orientada NNW-SSE atravessa os Vidraços do Topo e os Calcários Ornamentais, desenvolvendo-se, sobretudo, nestes últimos. Na realidade, não se trata de um verdadeiro filão, ou seja, não aflora uma rocha ígnea subvulcânica. Verifica-se, sim, uma forte alteração metassomática dos calcários: cor escura intensa, aspeto mais ou menos vitrificado, e localmente, desagregado. Provavelmente, essa alteração terá correspondência com a circulação localizada de fluídos hidrotermais associados às verdadeiras estruturas filoneanas que ocorrem nas imediações da AIE da Cabeça Veada. Essa circulação localizada terá ocorrido ao longo de fraturas pré-existentes com a mesma orientação.

Para ocidente da Falha de Valverde, já nos calcários do Jurássico Superior e no prolongamento da estrutura anterior, ocorre uma outra com as mesmas caraterísticas, mas de menores dimensões.

No que respeita à fraturação, está representada por duas famílias principais de fraturas. Uma apresenta-se orientada WSW-ENE e outra segundo NNE-SSW, sendo que a primeira é a que se mostra mais persistente e condicionadora da exploração. Os espaçamentos destas famílias, medidos nos locais de maior intensidade de fraturação, são, regra geral, superiores a 2 m. Localmente estão representadas por corredores de fraturação de extensão variável.

Fonte: LNEG (2013).