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A Geometria como essência da Obra de Arte Durante o período em que Nadir colaborou com Le Corbusier, e

primeiro tesoureiro do grupo foi o Raul David O Nadir apontou o risco para a capa do Catálogo – uma mão aberta, que eu gravei em madeira Fizemos a Exposição no

2.2. Colaboração com Le Corbusier Durante os primeiros tempos em que Nadir se encontrou na capital

2.2.1. A Geometria como essência da Obra de Arte Durante o período em que Nadir colaborou com Le Corbusier, e

após a participação activa em vários projectos, como o Toit-Terrasse, da Unidade de Habitação em Marselha, a fábrica Claude et Duval e o Mo- dulor, fez com que Le Corbusier permitisse, segundo a sugestão de André Wogenscky, a redução da carga horária de Nadir, para este poder pintar. Neste contexto, o arquitecto/pintor deu início aos seu estudos pessoais sobre a essência da obra de arte nos quais estudou a forma geométrica.

Esta característica, inovadora na arte pictórica abstracta, deu-lhe a possibilidade de integrar o meio artístico de Paris, local onde conheceu

Pablo Picasso, Amédée Ozenfant, Alexander Calder, Max Ernst, Giorgio de Chirico, Jean Cocteau (...) e Fernand Léger.105Fernand Lèger, de quem

se tornou íntimo, convidou-o a utilizar o seu atelier para desenvolver as suas obras. Este autor, viria a ter influência na obra de Nadir, pela explo- ração de temas citadinos que comunicavam a evolução urbana das cidades do início do século XX,106 bem como, pela anulação da tridimensionalida-

de que resultou em composições geométricas complexas.

Cada forma pode ser reconhecida de uma só vez por aquilo que representa, pensar que os detalhes de representação

são reduzidos ao mínimo. E devido aos volumes sólidos todas as formas têm carácter de objetos ou fragmentos de objetos.107

105 CEPEDA, João, (2013) Nadir Afonso - Arquitecto, Casal de Cambra: Caleidoscópio, p.60 106 SCHMALENBACH, Werner, (1985) Fernand Lèger, London: Thames and Hudson Ldt, 2ªEdição, 1991,p.20

107Every form can be recognized at once for the thing it represents, though the representational details

are reduced to a minimum. And because of their solid volumes all forms have the character of objects or fragments of objects, Idem, p.16

42. Tridim, ND, Victor Vasarely,

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Embora a abstracção da obra de Lèger, que relacionava objecto/ espaço através da forma geométrica, visível em Formes Mécaniques, Figu- ra 40, a sua intenção plástica resultava de uma posição política e social, nomeadamente exposta nas suas pinturas murais. Esta atitude era contrária à posição de Nadir que apenas queria entender a exactidão da obra de arte segundo a intuição do artista,108 na qual Nadir defendia a ideia de que se a

primeira forma era resultado da intuição, a final era consequência da har- monia da composição.

Outro artista igualmente importante na obra de Nadir Afonso foi Victor Vasarely, Figura 41, uma vez que também procurava a essência da obra de arte segundo o desenho geométrico da forma. Vasarely, tal como Lèger vivia sob uma forte influência do grupo Stijl, algo que é visível na sua obra pela simplificação da estrutura do desenho, como também, pela representação de um cromatismo primário.

Vasarely, foi no seu inicio muito marcado, como muitos dos seus camaradas du Bahaus, tanto pela influência do ‘Stijl’, por Mondrian, sobretudo por Van Doesburg, (...) inspirando-se tanto nos princípios geométricos do espírito construtivista como no espírito das quatro cores findamentais (...) advogando um estu- do progressivo da composição.109

108 AFONSO, Nadir, (1995) Síntese Estética, Porto: Árvore - Centro de Actividades Artísticas, p.17 109Vasarely, il a été très marqué à ses débuts, comme beaucoup de ses camarades du Bauhaus, autant

par l´influence du “Stijl”, par Mondrian, surtout par Van Doesburg, (...) S´inspitant à la fois des prin- cipes géométriques de l´esprit constructiviste et de la théorie des quatre couleurs fondamentales (...) il préconise une étude progressive de la composition. DIEHL, Gaston, (1972) Vasarely, Lugano:

Vasarely e Nadir travaram ainda uma longa amizade já que parti- lhavam da mesma sensibilidadee espírito crítico, no entanto no que diz res- peito à sua obraNadir afirmou que Vasarely era um grande pintor mas não posso dizer que me tenha influenciado. Ninguém influencia ninguém. Uma pessoa tem de trabalhar sozinha para fazer uma obra original.110

Esta fase de exploração pictórico-formal coincidiu com o período do pré-geometrismo, Figura 42 (embora as primeiras experimentações te- nham sido pintadas no início dos anos 40). Esta obra caracteriza-se pela utilização da forma elementar individual, quadrados, triângulos e círculos; como também pela utilização da cor primária e neutra.111 Neste período, Na-

dir procurou a essência da obra de arte sentida pela sensação de Harmonia.

Ele percebe que “esta matemática existe, ela é própria da arte e do artista, trabalhador intuitivo e sensível e tudo depende do trabalho (...) a percepção intuitiva do homem que trabalha as

formas sente a sua exactidão assim como a relação matemática entre elas, mas o seu raciocínio torna-se impossível de explicar 112

Apesar de Nadir pintar numa fase inicial formas geometricamente elementares, de cores fortes, que nasceram de uma afinidade com Le Cor- busier, Kandinsky, Lèger e Vasarely, numa fase posterior do seu trabalho, desenvolve composições geometricamente complexas,113 que demonstram

o crescimento pessoal do artista, Figura 43. Nesta obra, a presença de Lèger

110 AFONSO, Nadir, (1995) Síntese Estética, Porto: Árvore - Centro de Actividades Artísticas, p.19 111 PINTO DE ALMEIDA, Bernardo, (2016) Nadir Afonso - Chaves para uma obra, Chaves: Fundação Nadir Afonso, p.173

112 Idem, p.173 113 Idem, p.173

43. Composição Geométrica, Nadir Afonso, 1947

44. Spirale Bleu, Nadir Afon- so, 1952-54

é sentida pelos ritmos circulares em repetição, num processo de abandono da forma elementar e na adaptação de composições com formas desinte- gradas. Em Spirale Bleu, Nadir sugere, do mesmo modo que Lèger, uma leitura da forma circular, na qual pinta a decomposição da forma por meio da multiplicação e segmentação da mesma. Assim, o que antes era dese- nho com base em formas simples torna-se desenho complexo.

A sua evolução não permanece, contudo, nas formas da

geometria: a cinética. (…) A arte (…) procurará exprimir não tanto

as formas estáticas da geometria, mas - através de um movimento

(…) as operações reais que as encadeiam e à luz das quais a forma

geométrica não passa de uma sedimento natural. 114

Esta noção que Nadir adquiriu sob a dimensão da forma geométrica foi sentida pela primeira vez devido à sua colaboração com Le Corbusier, uma vez que a sua participação em obras com especial delicadeza lhe tenha permitido desenvolver a sua sensibilidade.115 Neste sentido a colaboração com Le Cor-

busier tornou-se a charneira do pensamento sensível do artista visto que é nes- te momento que Nadir sente pela primeira vez a obra de arte submetida a leis.

No que diz respeito à harmonia das formas que regem a obra de arte, a óptica de Le Corbusier e de Nadir não é inovadora. Na verdade, é recorrente a utilização de formas geométricas associadas à ideia de transcender o espí- rito do Homem, em composições pictóricas, escultóricas, ou arquitectónicas,

114 AFONSO, Nadir, (1999) O Sentido da Arte, Lisboa: Livros Horizonte, p. 65

115 CHOUPINA, António, (2017) Nadir Afonso - Arquitectura sobre tela, coor. Laura Afonso, Câmara Municipal de Chaves, p.51

45. Les Spirales, Nadir Afon- so, 1954

46. Osíris, Nadir Afonso, 1956

Com a natural evolução da arte o artista viu-se obrigado a desenvolver obras que produzissem respostas adaptadas às necessidades do século XX. No caso de Le Corbusier, resultou na adaptação dos projectos ao Modulor.116 Tal

como o próprio afirmou.

[A] aplicação sistemática das medidas harmoniosas do Mo-

dulor cria um estudo de agregação unitário que se pode qualificar de textural. Com efeito, tanto a fachada como os volumes no interior, as superfícies dos pavimento, dos tectos e das paredes, a influência decisiva dos cortes por todo o edifício, são intimamente gerados pela coerência das medidas, e todos os aspectos e, consequentemente, to- das as sensações se encontram harmonizados entre si. Sentimo-nos

assim, bastante perto das obras da natureza que surgem de dentro para fora, unindo nas três dimensões todas as diversidades, todas as intenções tornadas impecavelmente harmoniosas entre si.117

No caso da obra de Nadir Afonso, o artista adquiriu a percepção que objecto geométrico poderia evoluir na simplificação da sua forma segundo o pensamento de que, quanto menos elementos definissem a obra maior a sua re- lação geométrica.118 É no seguimento deste pensamento que Nadir desenvol-

veu os períodos posteriores ao Pré-geometrismo, num paralelismo que visava o questionamento da forma geométrica. Primeiro com Período Barroco, Figura 44, com recurso à voluta, influência directa da arquitectura barroca portuense, e posteriormente com o Período Egípcio, Figura 45, no qual

116 CHOUPINA, António, (2017) Nadir Afonso - Arquitectura sobre tela, coor. Laura Afonso, Câmara Municipal de Chaves, p. 51

117 LE CORBUSIER, Le Modulor, trad. Marta Sequeira, Lisboa: Orfeu Negro, 2010, p.102 118 AFONSO, Nadir, (1999) O Sentido da Arte, Lisboa: Livros Horizonte, p.67

47. Estudos de estruturas arquitectónicos com murais decorativos, Nadir Afonso, 1954

estudou a presença estática da linha curva. Estes doisperíodos caracteri- zaram-se essencialmente pela presença de motivos arquitectónicos que se demonstraram inexistentes desde os seus estudos na Escola Portuense de Belas Artes.

Deste modo, o período barroco exprimiu uma linguagem plástica de formas disformes, com recurso a ritmos ribombantes que aludiam a for- mas puramente abstractas; e no período egípcio, Nadir evocou temas mi- tológicos e escrita hieroglífica. Apesar de complexificar a forma elementar e desenvolver outras linguagens formais para além do Pré-Geometrismo, só durante a sua colaboração com Oscar Niemeyer é que permitiu o ama- durecimento destes dois períodos, visto que com Niemeyer a linha curva se mostrava livre e espontânea, Figura 46.

É certo que a experiência capaz de compreender esta me- tamorfose assenta também no colaboração de Nadir com dois arquitectos que revolucionaram os processos da arquitetura: Le Corbusier e Oscar Niemeyer.119

A Obra de Nadir Afonso adquiriu assim, um relacionamento entre a prática projectual da arquitectura e a concepção plástica da pintura, na qual se reflectiu sobre a essência da obra de arte,120 muitas vezes expressa

na matriz do desenho, evocando a forma geométrica e a linhaexpressiva.

119 PINTO DE ALMEIDA, Bernardo, (2016) Nadir Afonso - Chaves para uma obra, Chaves: Fundação Nadir Afonso, p.133

120 Idem, p.143

Manifesto sobre a Osmose das Artes

48. Monumento para Sagres, projecto de Nadir Afonso, em colaboração com Eduardo Ta- vares, António Soares, Carlos Dória, António Costa e Jorge Oliveira, 1954-55

2.3.

De São Paulo a Paris