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A obra de arte no Movimento Moderno A Obra de Arte é um dos temas principais de investigação no Mani-

ciam-se entre si como, a rigor, fazem o mesmo trabalho

1.3.2. A obra de arte no Movimento Moderno A Obra de Arte é um dos temas principais de investigação no Mani-

festo sobre a Osmose das Artes, uma vez que reflecte a essência e a alma do artista, primeiro teorizada e exposta nos seus estudos e finalmente objectivado na matéria construída. Neste contexto, e após a análise da interpretação teórica da Obra de Alberti, nos subcapítulos, 1.1 e 1.2., que restruturou não só a Arte mas inclusive a óptica do observador, interessa neste subcapítulo entender a relação entre Homem e Arte face às adversidades da revolução industrial.

No início do século XX, entre 1905 e 1914, deu-se o início da reforma plástica das vanguardas, que iria influenciar de modo directo o Movimen- to Moderno bem como as obras arquitectónicas que surgiram neste período. Neste seguimento, destaca-se em primeiro lugar os fauves, que com o recurso a cores fortes e primárias pintaram temas bidimensionais, tendo como refe- rência a obra de Van Gogh. Paralelamente, neste período começam-se a de- senvolver os primeiros estudos cubistas e abstraccionistas com Pablo Picasso e Wassily Kandinsky, (Cronologia A). Apesar de se saber que estes artistas influenciaram o pensamento arquitectónico através de experiências sobre a abstracção das composições e do movimento, deles deve-se reter que essa influência foi praticamente nula no início da sua obra.

Nenhuma dessas experiências tem uma ligação (...) com a arquitectura, pelo contrário, parece que os pintores - dessa geração - com exceção dos futuristas - preferem abandonar as relações com os outros campos de atividade e concentrar suas energias nos problemas da pintura pura.48

48 BENEVOLO, Leonardo, História da Arquitectura Moderna, São Paulo: Editora Prespectiva S.A, 3aEdição, 2001, p.382

Pintura

Ar

quitectura

Impressionismo, 1860

Impressão do real Fig. A - Impressão, nascer do sol, Monet, 1872

Neoimpressionismo, 1880

Cores puras, em pontilhismo Fig B - A Sunday on La Grande Jatte, Seurat, 1884

Fauvismo, Futurismo, Expressionismo, 1904

Cores violentas Fig C - Dance, Matisse 1910

Cubismo, 1907

Decomposição da matéria Fig. D - Guitar, Glass, and (...), Braque, 1919

Surrealismo, 1920

Místico e o mundo irreal Max Ernst, Salvador Dali Fig E - Celebes, Ersnt, 1920

Abstraccionismo, 1914

Composições

Fig. F - Delicate Tension No. 85, Kandinsky, 1923 Neoplasticismo, 1917 Composições Geométricas Fig G - Composição XX, T. Van Doesburg, 1920 Bahaus Instituto académico Fig. N - Edifício da Bahaus, 1919 - 1933

Arts&Crafts, 1862 Art Noveau, 1880

Fig. H - La Pedrera, Antoni Gaudí, 1907

Estilo Internacional, Escola de Chicago, 1880

Fig. I - Adler &Sullivan, The Auditorium Building, 1887

Racionalismo Europeu

Eliminação do ornamento Fig. J - Casa Steiner ,

Adolf Loos, 1912

Funcionalismo

Estilo Internacional Fig. L - Vila Savoye, Le Cor- busier, 1928

Funcionalismo

Estilo Internacional Fig. M - Casa Lange, Mies van der Rohe, 1927

Movimento Orgânico

Estilo Internacional Fig. O - Casa da Cascata, Frank Lloyd Wright, 1939

Esta reforma reflecte-se com a resposta dos artistas à formalização do desenho e da perspectiva, em contraste com a comercialização da fotografia, que permitiu aos pintores criar obras sensíveis ao seu interior, e aos arquitec- tos desenvolver a sua obra associada ao crescimento da engenharia.

A linguagem formal do pintor do século XX é, deste modo, consequ- ência dos acontecimentos marcados nos séculos anteriores que provocaram no pintor uma vontade de procurar a sua linguagem individual na qual explorou valores já compreendidos desde o Renascimento, como a harmonia. Este perí- odo destaca-se especialmente por esta alteração da percepção óptica do artista sobre a obra de arte, uma vez que explora nos seus estudos a decomposição das formas e materializa-as em matéria.49

A obra de arte no Movimento Moderno caracteriza-se, no caso da pin- tura, pelo surgimento de obras livres, investigações individuais e experimen- tais, onde os pintores desenvolvem a sua obra segundo estudos de execução, virando-se para o seu interior, tal como Picasso afirma, Um quadro não é pen- sado e estabelecido desde o momento inicial.50Apesar de no cubismo Picasso

visionar a matéria além do visível e com isso representar o irreal, no abstrac- cionismo, Kandinsky projecta-se na própria tela como um “olhar interior”, num limbo entre a aparência e o real, tal como o próprio descreve, a verdadei- ra abstracção que os cubistas não conseguiram chegar, visto que a arte é o fer- mento que fez crescer a massa do mundo: tais épocas estão hoje longínquas. Até que elas não voltem, o artista deve manter-se distante da vida oficial.51

49 Idem, p. 382 50 Idem, p.384 51 Idem, p.390

A obra de arte no Movimento Moderno

Cronologia A, objecto de estudo realizado pelo autor

52

Com a I Guerra Mundial, vários artistas tiveram uma atitude inter- ventiva e terminaram a participar na guerra resultando no desaparecimento de algumas vanguardas, como o Futurismo. Em simultâneo deu-se início ao Dadaísmo, que tal como o Futurismo associava-se a partidos políticos. Em contrapartida, surgiram vanguardas como o Surrealismo que se manifestava pela dissociação política e pela entrada num mundo introspectivo. Esta nova manifestação originou o afastamento de alguns artistas relativamente a outras vanguardas anteriores (como é o caso de Max Ernst), e por fim, o desenvolvi- mento de uma linguagem pessoal.

No que diz respeito à arquitectura, surge com a I Guerra Mundial o avanço de técnicas construtivas que previam a resolução urbana das cidades. Neste contexto o arquitecto torna-se mediador entre a situação precária da sociedade e a Arte (associada à concepção plástica da arquitectura), pelo facto de ter que repensar os valores culturais e associá-los à sensibilidade do espaço. Isto resume-se na práctica das teorias desenvolvidas pelos primeiro teóricos arquitectos que relacionavam não só a evolução contínua dos materiais com a estrutura, como ainda tinham em consideração as circunstâncias imprevisíveis.

Essa é a parte mais visível da vanguarda pós-bélica e, para muitos quintessência da “arte moderna”. A outra parte - aquela que

dura além das circunstancias e que conta realmente para o destino da sociedade contemporânea - esforça-se por motivar racionalmen-

te sua ação inovadora, distinguindo aquela que deve ser mantido e aquela que deve ser destruído; a arquitetura moderna começa a par- tir destas linhas.52

É neste período que surgem também os princípios do purismo, 1915- 1917, publicados por Ozenfant em Elan, e por Le Corbusier em Après le Cubisme. Os dois artistas subscreveram a importância do cubismo como fonte de inovação e interpretação das formas primárias, onde entenderam a decom- posição da forma segundo a dimensão do tempo, e associaram-na à arquitectu- ra. Deste modo, ao espaço habitável da arquitectura juntaram conceitos como tempo/movimento, no qual estruturaram o espaço, e posteriormente aplica- ram-no às técnicas desenvolvidas na área da engenheira. Estes dois artistas mais tarde criam a revista L´Espirit Nouveau, embora algum tempo após a sua fundação seguissem caminhos distintos, onde Ozenfant dedicou-se intei- ramente ao desenvolvimento da sua obra pictórica, e o multifacetado Le Cor- busier dedicou-se à arquitectura, à pintura e à escultura.53

Em continuidade, desenvolvem-se práticas plásticas aplicadas ao pro- cesso arquitectónico, como o suprematismo, o construtivismo e o não-objec- tivismo, que põem em prática o pensamento de Malevitch, exposto no seu manifesto, no qual subentendia que, para se evoluir era necessário a criação de uma realidade a partir do zero. Outra vertente da vanguarda também explora- da nesta época, é o neoplasticismo, de T. Van Doesburg e P. Mondrian54 (Cro-

nologia A - Fig. G) uma vez que os seus ideais pretendiam de maneira clara a relação entre as várias artes, numa tentativa de clarificar a sua concepção e formalização, motivo principal de estudo e investigação no Manifesto sobre a Osmose das Artes.

53 Idem, p.428

54 FRAMPTON, Kenneth, (1980) História Crítica de la Arquitectura Moderna, Editorial Gus- tavo Gili, S.A., Barcelona, 7ªEdição, 1993, p.144

Van Doesburg vê claramente que esse processo não serve so-

mente para pintar quadros ou para fazer esculturas abstractas, mas também para reconstruir o ambiente urbano em seu conjuntos, de

acordo com as necessidades técnicas e psicológicas.55

Os neoplasticistas apresentam-se assim como personalidades impor- tantes do Movimento Moderno, visto que idealizavam a arte associada à vida das cidades, já que acreditavam que a arte iria desaparecer como manifestação individual quando o artista atingisse o seu ponto clímax, e assim viveria per- manentemente no espaço da cidade, A arte desaparecerá da vida na medida em que a própria vida ganhe em equilíbrio.56

No que diz respeito à unidade das artes, instala-se no final da I Guerra Mundial, em 1919, a Bauhaus, fundada por Walter Gropius, em Weimar, que defendia a ideia de que tanto o artista como o artesão deveriam ser instruídos segundo o processo das belas-artes, que relembra os ideais de Morris (pionei- ro do desenho moderno) como também a importância de que todas as artes se poderiam relacionar através dos vários artistas instruídos segundo a sua ver- tente que daria origem a objectos mais detalhados e sensíveis para o utilizador.

Todos estes acontecimentos tornam-se importantes nesta dissertação

como introdução ao pensamento estruturante na obra de Nadir Afonso, caso de estudo, extremamente influenciado pelo Movimento Moderno, como refle- xo não só na sua obra teórica, mas observável na sua pintura e arquitectura.

55 Idem, p.124

56 BENEVOLO, Leonardo,História da Arquitectura Moderna, São Paulo: Editora Prespectiva S.A, 3aEdição, 2001, p.398

A Obra de Arte no Movimento Moderno

18. Contra-Construction, Theo van Doesburg, 1923