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O metamorfismo da Forma Esta dissertação teve como objectivo a investigação do processo

Sonha, rema e continua, num vazio de sombras e perspectivas nulas, num eco vazio mas que ecoa tudo, um silêncio permanente, um olhar que

3. O metamorfismo da Forma Esta dissertação teve como objectivo a investigação do processo

criativo entre a arte de pintar formas e de projectar espaços, segundo a obra do arquitecto/pintor Nadir Afonso. Neste sentido, e apesar da obra de Nadir surgir como o caso de estudo, uma vez que a sua teoria estava directamente associada à prática da sua obra, o Manifesto sobre a Osmose das Artes visa o entendimento plástico do artista aplicado a uma prática de descoberta pessoal e individual. Deste modo, O metamorfismo da Forma, o Ser arquitecto/pintor, pretende expôr essa vontade de relacionar, criativamente, pintura e arquitectu- ra analisando algumas obras pessoais desenvolvidas antes do contacto com a arquitectura, como ainda, obras desenvolvidas durante a dissertação.

Neste sentido, surge desde a infância um interesse pessoal pela arte de pintar formas, embora tal vontade só se tenha intensificado com a entrada no curso de Artes Visuais, em Loulé, complementado com curso de Desenho e Pintura na Accademia D´Arte em Florença. Este acontecimento foi importante pelo facto de se apresentar como charneira dessa vontade Ser pintor(a), ma- terializada posteriormente pelo desenvolvimento de algumas obras pessoais, (identificadas nesta dissertação no Diário Pictórico I). Neste diário é possível observar-se três temas distintos consequência de três influências directas que marcaram o pensamento sensível e plástico de cada obra, como ainda uma curiosidade pelo místico, irreal, sobrenatural e indizível.

Analisemos as figuras 89 e 90, que representam a temática do Ho- mem, nas quais é visível a referência a Salvador Dalí e Frida Kahlo. No caso de Dalí a sua influência é sentida pela tridimensionalidade de um espaço ine- xistente, num deserto não geográfico, perdido no pensamento do artista, vi- sível na obra a persistência da memória. No que diz respeito à influência da 103. A natureza do amor, obra

do autor, Florença, 2014 104. Autor na Accademia D´Arte, Florença, 2014 105. A persistência da memó- ria, Salvador Dalí, 1931 106. As duas Fridas, Frida Kahlo, 1939

obra de Frida, o autor libertou-se dos seus sentimentos pelo meio da pintura reflectindo-se constantemente como uma personagem nos seus temas. Ao contrário de Dalí, Frida não era uma percursora do Surrealismo, na realidade a artista apenas representava os seus medos/dores e crenças através de metáfo- ras pictóricas, embora muitos críticos de arte a incluam neste grupo.

No segundo tema do Diário Pictórico I, a Musa (figuras 91 e 92) hou- ve um afastamento na referência a outros autores, visto que, a idealização da obra decorreu com a concepção da mesma, o que originou um processo criati- vo contínuo e sem recurso a influências externas. Em contrapartida, no último tema exposto, com a temática do Eu, (figuras 93 e 94) deu-se prioridade ao es- tudo de várias linguagens formais, reflectidas igualmente nas obras de outros artistas como Salvador Dalí e Frida Kahlo (já estudados no primeiro tema), e Amadeo Modigliani. A presença de Modigliani nesta temática foi de extrema importância, não só pelo facto de ter surgido durante o curso de Desenho e Pintura na Accademia D´Arte, o que motivou a um interesse pela exploração formal dos artistas de vanguarda associado à composição da figura humana, como ainda um interesse pelo drama existencial na obra de Modigliani, tam- bém conhecido como o último e verdadeiro pintor boémio.160 A presença de

Modigliani é assim sentida pela referência à obra dos pintores simbolistas, na qual o artista retrava com grande sensibilidade a figura humana.

160 Aquilo que procuro não é o real nem o irreal, e sim o inconsciente, o mistério do que há

de instintivo na raça humana, texto foi escrito por Modigliani dos seus cadernos. KRYS-

TOF, Doris, (1996) Amadeo Modigliani, trad. Teresa Curvelo, Lisboa: Publicações e Artes Grá- ficas, 3ªEdição, 2012, p.76

107. Auto-retrato, obra do au- tor, Porto, 2015

108. Lunia Czechowska, Ama- deo Modigliani,1919

109. Accademia D´Arte, Flo- rença, 2014

Os olhos espelhos da alma, desempenham um papel extra- ordinariamente importante na obra dos pintores simbolistas. Quer estejam fechados, mergulhados no sono, abertos ou cegos, eles são sempre um órgão visionário, capaz de se volver tanto para o exterior como para o interior. Este aspecto é significativo no desenvolvimento futuro de Modigliani como pintor.161

Por fim, a última obra exposta no Diário Pictórico I, Entre o céu e o mar, não apresenta nenhuma relação com as temáticas descritas anteriormen- te, o que resulta na sua individualidade e investigação única. Desta maneira a obra caracteriza-se pela expressão de formas inexistentes, indicadas pela mancha, de carácter intuitivo, na qual se procurava um afastamento da lingua- gem surrealista e expressionista dos artistas de vanguarda. Ao contrário das outras obras apresentadas, Entre o céu e o mar enquadra-se numa pesquisa pré-abstracta, de temas irreais e “distantes”. Ainda que indirectamente porque não esteve na referência do desenho desta obra, Entre o céu e o mar relembra a composição de Monet com a Impressão nascer do sol, onde as cores não se dis- tanciam do tom pastel, e o desenho dos barcos que se vão difundindo na obra. As obras presentes no Diário Pictórico I tornam-se importantes no Manifesto sobre a Osmose das Artes, visto que são resultado de uma influência do conhecimento único pela área da pintura, ao contrário dos estudos realiza- dos no Diário Pictórico II, que apresentam um interesse e partilha de conheci- mento entre as duas Artes, numa união que visa a osmose do processo criativo.

161 Idem, p.12

110. Entre o céu e o mar, obra do autor, Loulé, 2014

111. Impressão nascer do sol, Claude Monet, 1872

DIÁRIO PICTÓRICO II

A forma, no sentido estrito da palavra, não é nada mais do que a