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O livro Geopolítica da Fome (1951) (5) tem a mesma temática, porém o objetivo é ampliar o horizonte geográfico de estudo, ou seja, a avaliação do problema da fome

sendo estudada no mundo inteiro. Os elogios foram grandes, tanto que ele recebeu prêmios pela sua produção, sendo um dos raros livros do mundo consagrado, simultaneamente, com prêmios de destaque nos EUA e na URSS.

Estas duas obras de Josué de Castro representam a sua posição política e intelectual, tanto nacional como internacionalmente. A fome deve ser combatida nos âmbitos do social, do político, como também pelo da ciência e em suas obras critica fortemente a existência de uma teoria que não se pratica.

Paralelamente a essa época surgiu a teoria denominada Neomalthusianismo, que define como estratégia primordial de combate à fome a implantação de políticas severas de controle de natalidade, pois segundo essa teoria a fome existia por causa de um supercrescimento populacional. Porém, Josué de Castro voltou-se contra o argumento básico dessa teoria, considerando que isto, além de não resolver os problemas, condenava os famintos à morte. Acreditava que a atenção das políticas públicas não deveria estar no controle da natalidade, mas antes no combate à fome exclusivamente, pois ao combater a fome a taxa de natalidade mundial tenderia a diminuir naturalmente.

O seu artigo, publicado em 1945, intitulado de Áreas Alimentares do Brasil, foi uma obra que ajudou e impulsionou o sucesso de Geografia da Fome.

Em 1957, lançou três livros: Ensaios de Biologia Social, Ensaios de Geografia

Humana e O Livro Negro da Fome. Este livro provocou também grande impacto uma

vez que deixa clara a sua posição política anti-imperialista, além da crítica que continha a Malthus:

Apresentar a situação alimentar do mundo, com suas graves implicações políticas e sociais, e recomendar a necessidade urgente de que fosse coordenado um movimento de sentido internacional capaz de combater com eficácia os fatores que determinaram a existência da fome universal como a mais típica e a mais trágica manifestação do subdesenvolvimento econômico. O objetivo principal deste nosso ensaio fora o de demonstrar que fome e subdesenvolvimento são uma coisa só [...]. (19, p.01)

Josué de Castro faz uma reflexão semelhante à desenvolvida por Celso Furtado nos anos 50, de que a fome é uma consequência das políticas econômicas produzidas pelos países desenvolvidos, como parte do funcionamento do sistema capitalista e como parte de estruturas arcaicas internas aos países subdesenvolvidos, representadas principalmente por certos setores da agricultura (latifundiários e produção agrícola de subsistência).

Para esses autores, a reforma agráriaseria um importante instrumento capaz de acabar com o subdesenvolvimento e, consequentemente, com o problema da fome das economias do Terceiro Mundo, pois aumentaria a oferta de alimentos e, em longo prazo, criaria um mercado interno amenizando a dependência desses países com os mercados externos, ampliando o consumo de bens industriais, ampliando a relação de consumo entre eles.

Segundo Castro,

Subdesenvolvimento [...] a palavra criei-a em 1949, mas não era com esse sentido que lhe dão hoje. [...] Criei a palavra, mas ela já não é mais aquilo que eu pensava. [...] A minha ideia – quanto a esta palavra – hoje é a mesma, não mudou nada. [...] Subdesenvolvimento é um produto inevitável do desenvolvimento. É o outro lado da medalha. (12, p. 160)

As sugestões elaboradas para o combate à fome representam sua Sociologia da Fome, como demonstra seu artigo Um Prefácio à Sociologia da Fome, de 1960, baseado justamente no prefácio dessa obra. Sua Sociologia da Fome é sinônimo de Sociologia do Desenvolvimento, ou melhor, do Subdesenvolvimento.

Em 1968 ele publica A Explosão Demográfica da Fome no Mundo; em 1969, juntamente com Irving Louis Horowitz e John Gerassi organiza o livro Latin American

Radicalism, um conjunto de ensaios tratando de movimentos nacionalistas e dos

problemas enfrentados pelo continente latino-americano.

Em 1971 lança duas obras: El Hambre - Problema Universal e A Estratégia do

Desenvolvimento, que estão marcadas pelas reflexões sobre temas como

desenvolvimento e subdesenvolvimento.

Com a sua mente aberta à apreensão e conhecimento dos problemas que a sua sociedade vivenciava, foi em busca de saberes externos à sua área e de modo abrangente e interligado. A sua característica mais forte foi a erradicação da fome e isto é reconhecido por Lucien Goldmann, que disse sobre ele: “Não resta dúvida de que a fome é a temática que dá o sentido de ‘totalidade’ à sua obra, posto que aglutina direta ou indiretamente os demais, estabelecendo vínculos com as questões mais periféricas” (20).

Conforme Adriano Moreira, citado por Silva, “a fome transformou-se numa categoria do pensamento moderno em grande parte pela ação de Josué de Castro” (12).

Observa-se que as suas obras refletem esse perfil de conhecimento multifacetado que consegue articular saberes, à sua época, aparentemente

diferenciados, e dar-lhes uma interpretação aglutinadora e de conexões avançadas e aguçadas sobre o seu tempo e o mundo.

Ele via a fome não como uma característica apenas nutricional e biológica, mas também como uma característica geográfica, econômica, política e social. Ele relacionou a fome com o desenvolvimento de um país, apontando-os como altamente interligados. Ele conclui que o subdesenvolvimento é um gatilho para a fome, sendo esta o resultado de um país subdesenvolvido. A fome era algo muito mais social do que se pensava. O subdesenvolvimento e seus estigmas remetem ao tema da exclusão social, uma vez que a fome é socialmente construída.

Em suas últimas reflexões – Fome: um Tema Proibido – ele reitera essa forma de apreensão sócio-histórica da fome:

Este fosso econômico divide hoje a humanidade em dois grupos que se entendem com dificuldade: o grupo dos que não comem, constituído por dois terços da humanidade, e que habitam as áreas subdesenvolvidas do mundo, e o grupo dos que não dormem que é o terço restante dos países ricos, e que já não dormem com receio da revolta dos que não comem. (21, p. 108)

Para Josué de Castro, eram óbvias as consequências que resultavam da fome, podendo-se destacar consequências psicológicas, fisiológicas, econômicas, políticas, culturais e sociais. Castro chamou tais consequências, principalmente as sociais, de

caráter revolucionário da fome.

Ele entendia que os progressos científicos, tecnológicos, econômicos e sociais, nos moldes em que se apresentavam no mundo, eram responsáveis por grandes massas esfomeadas ou excluídas, sem direito à condição básica e mínima para a sobrevivência humana, que é o alimento.

Até então não se tinha uma ideia plena da precariedade em que o país vivia. Pensava-se que o Brasil era um país, onde a população se alimentava bem. E que a fome ocorria somente em cidades e capitais onde a seca era iminente. Não se tinha ideia das áreas endêmicas de fome, como o Norte e principalmente a região açucareira do Nordeste, onde o seu habitante mais popular tinha que lutar contra várias adversidades: o meio geográfico, a ineficiência dos políticos, a monocultura e o sistema latifundiário.

3 A MACROBIOÉTICA NAS OBRAS GEOGRAFIA DA FOME E GEOPOLITICA DA