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4 METODO E PROCEDIMENTOS DE PESQUISA

5.5 INTERPRETAÇÃO DAS RESPOSTAS DAS ENTREVISTAS

5.5.3 Geração de Inovação

A interpretação das entrevistas sugere que o setor de produção audiovisual é inovador nas esferas do Governo, Indústria e Universidade, afinal, todos os entrevistados afirmaram que seus produtos ou empresas inovam. Cada ator inova em seu ambiente de atuação de maneiras próprias de acordo com o papel de cada esfera, apresentando basicamente inovação incremental. Na esfera da Indústria, há uma preferência pela inovação em produto, assim

como na esfera da Universidade e na esfera do Governo há uma incidência maior em inovação organizacional.

Considerando o produto voltado para o cinema ou para a TV, pode-se afirmar que se trata de um produto inovador. Quando se pondera que a inovação é a aceitação do produto pelo mercado, considerando a abordagem de Schumpeter (1985), pode-se considerar inovação uma vez que os produtos chegam até seus públicos. Neste ponto é necessária uma ressalva: o mercado da produção de cinema é composto de segmentos cujos públicos são diferentes e as demais etapas da cadeia produtiva – distribuição e exibição – funcionam de maneira diversa conforme o segmento.

No caso da TV, o produto possui uma audiência altíssima, no entanto, somente uma emissora consegue implementar produções e veiculá-las. Depois da inovação de produto, a inovação de processo é constante na produção audiovisual.

A comparação dos campos de atuação da inovação sugeridos por Schumpeter (1985) com o depoimento dos entrevistados a respeito da inovação apresenta variações. Analisando a primeira abordagem, introdução de novo produto ou mudança qualitativa em produto existente, percebe-se que ela ocorre nas esferas da Indústria, especificamente nas produtoras de filmes e na produção de TV. Esta inovação acontece de forma natural em razão das características do mercado criativo. O entrevistado G, diretor de uma produtora de filmes, reforça a ideia de que a inovação na indústria criativa é intrínseca à produção audiovisual: “[...] eu, como produtora, acho que a inovação é uma das bases da nossa atividade [...]”.

Toda atividade criativa resulta em produtos diferentes esteticamente, não necessariamente melhorados. Não existe uma linha evolutiva, de inovações incrementais desenvolvidas sobre inovações incrementais já existentes e que tornam o produto melhor que o anterior e que, por essa razão, tem a preferência do consumidor. O entrevistado J reforça a ideia de inovação estética como algo natural do processo audiovisual:

As tecnologias vão mudando muito rápido e vão melhorando. E essas melhoras a gente tem que tá atualizado. Uma pela exigência técnica mesmo, do mercado exibidor ou distribuidor. E a segunda é que tu tem que manter essa evolução estética que muitas vezes é ditada pela evolução técnica. Então a gente sempre tá buscando melhorar as linguagens audiovisuais, as estéticas mesmo pra poder buscar uma interação com o público. Então, sem dúvida, acho que o meio todo exige isso. Aqui cabe a reflexão sobre a inovação estética, sugerida pelo entrevistado e não mencionada pelo pesquisador. O entendimento da esfera da Indústria é que a inovação é uma constante no fazer do produtor audiovisual e, portanto, possui características que a relaciona

com a soft innovation uma vez que seus produtos podem ser relançados em novos formatos ou com incrementos estéticos que tenham valor para o público que os consome.

Assim, percebe-se uma estreita relação entre a inovação do produto audiovisual com as abordagens schumpeterianas de inovação de processo e de novos insumos. As novas tecnologias têm uma influência muito forte no resultado final do produto audiovisual, assim como interferem no processo de produção. Por exemplo, o planejamento de um produto audiovisual envolve a escolha de profissionais específicos para aquele trabalho e, após a conclusão, a equipe é desfeita em sua grande maioria. Nesse sentido, o entrevistado G afirma:

Acho que tem inovação quando a gente faz uma parceria com uma outra empresa, a gente, imediatamente vai disparar um processo que é particular, ele foi criado para aquele projeto e as suas metodologias e suas interações são particulares para aquele resultado. Quando eu faço uma coprodução com uma empresa do Uruguai ou Alemanha, ela é diferente do que se eu fizer uma coprodução com a empresa que tá no meu bairro ou com empresa do Rio e São Paulo. Então, são processos de inovação que ocorrem o tempo todo.

Quando se trata da esfera do Governo, a abordagem mais utilizada é a mudança organizacional seguida da inovação de produto. As instituições governamentais estão buscando interações entre suas pastas para encontrar soluções comuns e, para tanto, estão estabelecendo, dentro de alguns limites burocráticos, relações diferenciadas entre seus atores. Os resultados destas interações são incentivos à produção em forma de editais, leis e fundos, ou estudos de políticas públicas que podem ser considerados produtos inovadores para a esfera governamental.

Para a esfera da Universidade, a inovação está direcionada à produção de conteúdo audiovisual pelos cursos de forma autoral. As entrevistas acusam um distanciamento desta esfera no que se refere à interação com as demais e, portanto, apresenta uma inovação que não possui o mesmo ritmo das outras. Esta esfera basicamente atua na abordagem de novos produtos, pois distribui o conhecimento em novos formatos: produção de conhecimento através de livros, revistas e cursos. No entanto, há alguns indícios que a atuação da Universidade está mudando. Primeiro, a Universidade participa de alguns dos mais importantes eventos inovadores do setor como o TECNA e o Programa Setorial do Governo. Segundo, sua produção audiovisual tem aumentado bastante nos últimos anos. E apesar de ser uma produção essencialmente autoral, os cursos têm buscado produzir mais e participar de festivais.

Por conta que hoje as universidades passaram a ser produtoras, entendeu? Elas têm uma produção muito forte. Cada vez mais. Nesta última seleção que eu fiz, [...] dos 270 curtas inscritos, 94 era do Rio Grande do Sul. Esse é um número significativo. Era quase a metade, e desses 94, eu não tenho dúvida em te dizer que, 50 eram de universidades. Então novamente quase a metade da produção independente audiovisual gaúcha vem de universidades.

Suas TVs universitárias, que poderiam ser os agentes de interação com a esfera da Indústria, apresentam barreiras como visto nas entrevistas e, comparativamente às outras esferas, relacionam-se com menor intensidade com os demais atores.

Em relação ao espaço onde a inovação atua no setor audiovisual, considerando a abordagem de Tidd, Bessant e Pavitt (2008), pode-se perceber que, por forças atuantes no mercado onde o setor está inserido, a inovação está restrita às inovações de processo e produto, quando necessitaria (com possível auxílio governamental) mudar o seu espaço de atuação, passando a atuar em inovação de posição e paradigma (Figura 19). Este ponto de vista é encontrado na fala do entrevistado E que profetiza: “Acho que a inovação também é mudança de paradigma. A inovação passa por mudança de mentalidade.” Estas mudanças estão limitadas pela pressão que as distribuidoras norte-americanas exercem sobre o setor audiovisual. Ou seja, o ideal para o setor seria pensar em inovações de posição e de paradigma, segundo a teoria de Tidd, Bessant e Pavitt (2008), cujo propósito é mudar o contexto onde estes produtos ou serviços são introduzidos e o modelo mental que poderia orientar os atores nas esferas do setor.

Figura 19: O espaço atual e o espaço ideal da inovação no setor audiovisual do RS

Neste sentido, há movimentos do setor que direcionam seus esforços para que se busquem inovações de posição. O setor apresenta algumas ações como o incentivo ao circuito de cineclubes liderado pelo IECINE, a ideia de criar um centro tecnológico onde se trabalhe com as coproduções entre TV e produtoras independentes e o Programa Setorial do Governo para a indústria criativa. E a mudança de paradigma ainda depende de outros fatores que, segundo Tidd, Bessant e Pavitt (2008), podem ser associados a mudanças mais profundas cujo resultado da inovação contribui para esta mudança de pensamento sobre todo o setor.