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4 METODO E PROCEDIMENTOS DE PESQUISA

4.2 TÉCNICA DE COLETA DE DADOS

A fase da técnica de coleta de dados, também definida como delineamento da pesquisa por Gil (2011), corresponde a um momento decisivo, pois a técnica adotada significa uma aproximação da realidade, uma vez que procura revelar um quadro real que dá forma ao objeto de análise. A formulação correta da técnica a ser utilizada, portanto, é determinante para o sucesso da pesquisa. Assim, o autor apresenta duas modalidades de coleta: as fontes de papel (pesquisa bibliográfica e documental) e os dados fornecidos pelas pessoas. O autor deixa claro que esta classificação não deve ser considerada rígida, pois algumas pesquisas apresentam características próprias e podem não se enquadrar especificamente nas classificações apresentadas na teoria (GIL, 2011).

De acordo com os objetivos gerais e específicos propostos pela pesquisa, a coleta de dados obedeceu a critérios baseados na metodologia científica e foi pautada pelo recolhimento de dados primários e secundários em duas etapas distintas e concomitantes.

Na primeira etapa, a coleta de dados foi direcionada à identificação dos atores componentes do setor audiovisual e sua caracterização, e das interações estabelecidas e disponibilizadas em ambiente acessível. Para isso, a coleta envolveu pesquisa documental de dados primários e secundários. A pesquisa documental, segundo Gil (1991), visa trabalhar com material que ainda não foi analisado. Além disso, ela permite o entendimento de situações e a geração de conceitos com base em uma visão interna sem que o pesquisador precise buscar informações fora do contexto para chegar a uma conclusão, aproximando-o da realidade (ROESCH, 2006). Conforme Forster (1994), além de argumentar que os documentos possuem um valor em si mesmo, o autor afirma que para um procedimento de pesquisa documental fazem-se necessários alguns critérios como o acesso, a verificação de sua autenticidade, a categorização dos documentos, além da análise e utilização dos dados. Além disso, Gil (2011) apresenta uma lista de vantagens do uso das fontes documentais. Segundo o autor, a pesquisa através de documentos possibilita (1) conhecimento mais objetivo do passado; (2) investigação dos processos de mudança social, cultural e relacionamento das estruturas sociais; (3) obtenção de dados com menor custo do que experimentos e levantamentos devido à existência do material consultado e (4) obtenção de dados sem o constrangimento dos sujeitos, oferecendo, assim, um retrato fiel da realidade sem a interferência das emoções de uma entrevista.

O objetivo nesta etapa foi complementar a segunda etapa da pesquisa procurando identificar atores ou interações que a entrevista porventura não conseguisse detectar.

Na segunda etapa, a pesquisa buscou, através de entrevistas individuais em profundidade com experts selecionados em cada uma das esferas do sistema de inovação – Governo, Universidade e Indústria – com um questionário semiestruturado para coletar os dados primários, identificar atores, papéis desempenhados e as interações existentes.

A entrevista, com o intuito de compreender o mundo, pelo olhar de Gaskell (2008), é o ponto de entrada para o cientista social que introduz esquemas interpretativos para compreender o universo dos respondentes. Além disso, a entrevista serve para esclarecer significados que não foram estruturados anteriormente a partir das suposições do pesquisador (ROESCH, 2006). A entrevista, como forma de interação social e pela sua flexibilidade em conduzir uma investigação, possibilita a obtenção de informações sobre o ponto de vista das pessoas acerca dos fatos, situações ou fenômenos (GIL, 2011).

Para a pesquisa, foi adotada a entrevista com questionário semiestruturado, ou seja, o entrevistador seguiu um roteiro dividido em duas partes: a primeira era composta de perguntas comuns a todos os entrevistados de todas as esferas e a segunda era formada por questões

direcionadas às características da esfera ao qual o entrevistado pertencia. Assim, o roteiro apresentava uma estrutura parcialmente rígida, permitindo que se cruzassem dados comuns às esferas por um lado e descobrindo os pontos de vista específicos de cada esfera por outro. As perguntas abertas permitiram que o entrevistado oferecesse resposta particular e livre sobre a situação, além de possibilitar a interferência do entrevistador quando fosse necessário dissecar algum ponto específico da entrevista.

O processo de coleta de dados apresentou os seguintes passos: (1) desenvolvimento e validação do roteiro semiestruturado para entrevista; (2) contato com os entrevistados para apresentação e agendamento de entrevistas; (3) registro as entrevistas em áudio e (4) transcrição as respostas.

A construção do questionário obedeceu à diferença de funções entre as esferas e, portanto, estabeleceu dois tipos de questões: as perguntas gerais, iniciais no processo da entrevista que abrangem informações sobre a generalidade do sistema, e as perguntas específicas, construídas de forma diferente para cada uma das áreas. Assim, foram propostos três questionários parcialmente distintos que possuíam 13 questões para os entrevistados da esfera do Governo, 16 questões para os entrevistados da esfera da Universidade e 14 questões para os entrevistados da esfera da Indústria.

As questões comuns aos entrevistados das três esferas referiam-se aos objetivos de identificar os atores do sistema e identificar as interações que ocorrem nele, conforme apresentado no Quadro 7. A primeira questão é a mais importante, pois tem como objetivo identificar os atores envolvidos, através do ponto de vista do entrevistado e de suas relações com o mercado. As questões 2 e 3 reforçam o questionamento para que o entrevistado discorra mais sobre o assunto.

Quanto ao objetivo de identificar interações dentro do sistema, as questões 4 a 7 procuraram englobar qualquer atividade de envolvimento e troca entre os atores. Elas compreendem interação entre as esferas, interação dentro das esferas e procuraram identificar o tipo de interação, além de questionar se houve algum tipo de rede, atividade cooperativa, evento ou espaço de troca de informações, recursos, tecnologia, conhecimento, etc. Neste caso, não importa qual é o conteúdo da troca, mas sim, se ela ocorre. Portanto, além do objetivo principal da questão, há também o intuito de descobrir através do questionamento se o ator entrevistado atende às exigências teóricas sobre o sistema de inovação de Etzkowitz (2003) e da OCDE (2005). No caso das questões 4 a 7, há também uma busca por responder se existem atividades de forma conjunta e interações entre as áreas públicas e privadas.

Quadro 7 - Questões gerais para os representantes das três esferas

Objetivo Roteiro

Identificar os atores

1. Baseado no gráfico do sistema apresentado anteriormente, quais são os atores que integram o setor do audiovisual, especificamente nas atividades de TV, vídeo e cinema, no estado do Rio Grande do Sul? Você concorda com os atores apresentados?

2. O que motivou a escolha dos atores que você sugeriu?

3. Quais outras pessoas poderiam contribuir para a identificação dos atores do setor audiovisual?

Identificar as interações

4. É possível identificar a existência de interações entre os atores selecionados entre esferas do Governo, da Indústria e da Universidade (há interação/não há interação)? Que tipo de interação?

5. É possível identificar a existência de interações entre os atores selecionados dentro da mesma esfera? Que tipo de interação?

6. Existe algum tipo de rede ou atividade cooperativa entre os atores identificados? 7. Existe algum evento que reúna os atores do setor audiovisual e promova um espaço

de troca e interação? Que evento é esse e quais os atores que dele participam? FONTE: Elaborado pelo autor.

As questões seguintes, apresentadas no Quadro 8, possuem característica específica direcionada para cada uma das esferas. São perguntas que buscaram identificar se a interação do ator com os demais gerou inovação para a empresa e/ou para o mercado. Assim, conforme o modelo de Etzkowitz (2003) e da OCDE (2005), cada esfera possui funções diferentes e, portanto, necessita de questões direcionadas para estas funções. Assim, de uma forma geral, existiram dois objetivos preponderantes: o primeiro referia-se à verificação da relação de causalidade entre interação e inovação e o segundo estava ligado à comprovação do cumprimento das funções exigidas pela respectiva teoria. Para se obter uma ideia mais precisa dos objetivos das questões cabe verificar cada objetivo de forma detalhada. A questão 8 era a mesma para as três esferas. Através dela buscou-se identificar se houve provimento de recursos de qualquer natureza para a esfera do Governo, se houve difusão de conhecimento por parte da esfera da Universidade e se a esfera da Indústria desenvolveu novos produtos ou serviços para a geração de riqueza. Na verdade, estes objetivos também estão implícitos nas questões 10 e 12 da esfera do Governo, nas questões 9, 10, 11, 13, 14 e 15 da esfera da Universidade e nas questões 9, 11, 12 e 13 da esfera da Indústria.

Quadro 8 - Questões específicas sobre interação e inovação para cada uma das esferas

Objetivo Roteiro esfera Governo Roteiro esfera Universidade Roteiro esfera Indústria

Verificar se a interação gera inovação / Verificar funções da esfera no Sistema de Inovação

8. A sua instituição gerou alguma inovação própria nos últimos dois anos, impulsionada pela interação com os atores citados nesta pesquisa? 9. Há recursos ou

incentivos destinados à produção audiovisual no estado? (ex.: recursos financeiros, legislatórios, incentivos, isenções fiscais, infraestrutura, criação de redes, base de dados ou bibliotecas, financiamento para pesquisa, formação de recursos humanos, incentivos ao empreendedor, facilitação à exportação) 10. Há políticas direcionadas para a tecnologia ou inovação no setor audiovisual, além das apresentadas anteriormente por esta pesquisa?

11. Há mobilidade de pessoas entre as esferas? 12. A interação com outros

atores gerou inovação para o mercado do audiovisual?

13. Gostaria de fazer algum comentário adicional?

8. A sua instituição gerou alguma inovação própria nos últimos dois anos, impulsionada pela interação com os atores citados nesta pesquisa? 9. Há investimentos em

pesquisa na área do audiovisual (TV, vídeo ou cinema)? Se há, qual a origem do investimento? Qual o resultado que esta pesquisa apresentou? 10. Há incubação de

empresas/projetos na área do setor audiovisual nesta instituição? 11. Há investimento em infraestrutura para o audiovisual e a sua produção nesta instituição? 12. Há mobilidade de pessoas entre as esferas? 13. A pesquisa no setor audiovisual gerou inovação para esta instituição?

14. A interação com outros atores gerou inovação para esta instituição?

15. A interação com outros atores gerou inovação para o mercado audiovisual? 16. Gostaria de fazer algum comentário adicional?

8. A sua instituição gerou alguma inovação própria nos últimos dois anos, impulsionada pela interação com os atores citados nesta pesquisa? 9. Há investimentos pelas empresas em áreas como aquisição de máquinas e equipamentos, capacitação de recursos humanos, inovação de produtos, inovação de processos, mudanças organizacionais, marketing, parcerias, absorção de pesquisadores? 10. Há mobilidade de

pessoas entre as esferas? 11. Há geração de inovação

neste setor?

12. A interação com outros atores gerou inovação para esta(s) empresa(s)? 13. A interação com outros

atores gerou inovação para o mercado audiovisual?

14. Gostaria de fazer algum comentário adicional?

FONTE: Elaborado pelo autor.

Houve ainda mais duas questões comuns às três esferas. A primeira delas envolvia a mobilidade de pessoas entre as esferas e a outra era apenas uma abertura para que, caso a entrevista se tornasse demasiadamente restrita às questões apresentadas, o entrevistado tinha a oportunidade de expressar sua opinião sobre o tema questionado de forma livre. No entanto, estas questões que parecem ser iguais em sua formulação, apresentaram respostas diferentes e específicas para cada uma das esferas e por isso foram classificadas como específicas.

Como ferramenta de apoio ao questionário, foi desenvolvido um mapa que era apresentado ao entrevistado antes da entrevista e, através dele, havia uma introdução à temática da pesquisa. Nesta introdução, o pesquisador abordava assuntos como indústria criativa, setor audiovisual e a área da produção, conceitos de inovação, sistema de inovação, ator e interação. Este mapa apresentava as três esferas sobrepostas com os atores previamente identificados até aquela fase da pesquisa, conforme demonstrado na Figura 17.

Figura 17 - Mapa dos atores do sistema de inovação

FONTE: Elaborado pelo autor.

Isso deveu-se a dois motivos: primeiro, o respondente não precisava se esforçar em recuperar todos os atores com os quais ele interagia. Certamente se esqueceria de algum e o mapa facilitou a busca. Segundo, servia para que o respondente visualizasse o universo do qual a pesquisa tratava facilitando, assim, a compreensão da abrangência da pesquisa.

A partir das respostas a estas entrevistas, procedeu-se às análises objetivando avaliar se o setor audiovisual da indústria criativa no estado do Rio Grande do Sul se constitui em um sistema de inovação.