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Gestão democrática e de qualidade: seus significados e alcances

significados e alcances

O processo de redemocratização política, que foi marco característico da década de 80 no Brasil, tornou evidente que as mudanças a serem efetuadas nas áreas econômica, social, cultural, política e educacional de uma sociedade que pretende, efetivamente, tornar-se democrática, demandam a existência de uma estrutura descentralizada e participativa para a administração de seus serviços, exigindo para sua implementação, que sejam consideradas tanto a orientação como as perspectivas decorrentes da fundamentação dos processos da gestão democrática, conforme mostrado por Giubilei (2001, p.188-189):

A b u s c a d a c o n so l id a ç ã o d o E s ta d o D e mo c r á t ic o n o B r a s il, q u e p er me ia to d o s o s se g me n t o s d a so c i e d a d e b ra sil e ir a , d e ma n d a u ma e s tr u tu r a d e sc e n tr a li z a d o r a e p a r tic i p a tiv a p a r a a ad min is tr a ç ã o d e s e u s se rv i ç o s, c o m n o v o s mo d e lo s i n stit u cio n ais e o r g an iz acio n a is, d e mo d o a c o n tr ap o r - se à q u e l a s q u e d ã o s u s t e n t a ç ã o à s p ol í t i c a s p ú b l i c a s , ma r ca d ame n te c e n tr a liz a d o r a s e a u to r itá r ia s e c e d e m lu g a r à q u e las v o lta d a s p a r a o s c i d a d ã o s c o m e f e tiv a p a r tic i p a ç ã o n o p ro c e s so d e to ma d a d e d e c is ã o .

Essa necessidade de mudança é consolidada pela Constituição Federal de 1988 em seu Art. 205, ao estabelecer que:

A e d u c a ç ã o , d ir eito d e to d o s e d ev e r d o E s tad o e d a fa mí lia, s e r á p r o mo v id a e in c e n tiv a d a c o m a c o la b o r a ç ã o d a s o cie d ad e, v is an d o a o p len o d ese n v o lv ime n to d a p e s s o a, se u p r e p a r o p a r a o e x e r c íc io d a c id a d a n ia e s u a q u a lific a ç ã o p a r a o t ra b a lh o .

Na mesma constituição, em seu TÍTULO VIII - Da Ordem Social, Capítulo III - Da Educação, da Cultura e do Desporto e Seção I - Da Educação, no seu Art. 206, fica estabelecido que o ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: inciso VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei e VII - garantia de padrão de qualidade.

A Lei Federal 9394/96, LDBEN - Diretrizes e Bases da Educação Nacional em seu TÍTULO II - Dos Princípios e Fins da Educação Nacional Art. 3º, determina que o ensino será ministrado com base nos seguintes princípios em seu inciso “VIII – gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino, e IX - garantia de padrão de qualidade”.

Estas determinações da Lei maior mostram-nos o começo de mudanças propugnadas para a organização e administração dos sistemas de ensino, apontando para o quadro de uma descentralização que venha a norteá-lo, ficando mantida pela legislação a coordenação federal, estabelecendo-se um regime de colaboração entre os sistemas de ensino dos estados, distrito federal e municípios, mesmo que, para a sociedade, isto signifique diminuição de sua participação na organização da educação.

Foi a partir da década de 90 do século XX, notadamente que se sentiu a mudança nas orientações educativas no âmbito federal, estadual e municipal. O primeiro aspecto que merece ser destacado é o fato de as propostas de reformas educativas, na sua grande maioria, serem congruentes com os compromissos assumidos pelo Brasil na Conferência Mundial de Educação para Todos, realizada em março de 1990, em Jontiem, na Tailândia, e na Declaração de Nova Delhi de dezembro de 1993 no atendimento à demanda para a universalização do ensino básico.

São proposições que convergem para novos modelos de gestão do ensino público, calcados em formas mais flexíveis, participativas e descentralizadas de administração dos recursos e das responsabilidades que, segundo Oliveira (1997, p.91), são percebidos na desr egulamentação de serviços e na descentralização dos recursos, posicionando a escola como núcleo do sistema.

S ão mo d e lo s a lice r çad o s n a b u s ca d e melh o r ia d a q u a lid ad e n a e d u ca ç ão , e n te n d id a c o mo u m o b je ti v o me n s u r á v e l e q u a n tificá v e l e m te r mo s e sta tís tic o s , q u e p o d e rá se r a lca n ç a d o a p ar tir d e in o v a çõ es in c re me n ta is n a o r g a n iza ç ão e g e s tã o d o tr a b a lh o n a e sc o la . E mb o r a o t e r mo q u a lid ad e ap r e s e n te u m c a r á te r v a g o , p o d e n d o v a r ia r se u s ig n ific a d o e m d ifer en te s c o n tex to s , n o g er a l , es ta p r e o c u p a ç ã o v e m s e n d o a s s o c i a d a à b u s c a d e o timiz a ç ã o d o s v ín c u l o s en t re ed u ca çã o e n ec e ss id ad e s r e q u e ri d as p e la s n o v a s r e laçõ e s d e p r o d u ç ão e co n s u mo . ( O L I V E I R A , 1 9 9 7 , p . 9 1 ) .

Cabe aqui contrapor a visão de qualidade referida por Oliveira (1997), visto que Silva (1996) já reafirmava a importância de defini-la, afirmando, porém, ser preciso renovar e revigorar a tradição democrática de qualidade em educação, desenvolvida durante anos de luta por educadores envolvidos com a teoria e a prática educacional:

E ss a t ra d ição se b ase ia n u ma c o n c ep ç ão s o cio ló g ic a e p o l í t i c a d a e d u c a ç ã o , e s u a n o ç ã o d e q u a l i d a d e e s t á e str e ita men te v i n c u la d a a o c o mb a te à s d e s ig u a ld a d e s , à s d o min aç õ es e à s in ju s tiç a s d e q u a lq u e r ti p o . N e s sa p e r sp ec tiv a, a q u ali d ad e é u m c o n ceit o in e s cap a v elmen te p o l í t i c o . ( S I L V A, 1 9 9 6 , p . 8 3 ) .

Qualidade em educação deve ser um conceito a ser compreendido dentro da totalidade de abrangência da ação educativa (como processo político-cultural e técnico-pedagógico de formação social) de construção e distribuição dos conhecimentos científicos e técnicos socialmente significativos e relevantes para o cidadão.

Nesse sentido, o estabelecimento de ações coletivas e equilibradas devem promover o desenvolvimento humano sustentado na

qualidade de vida, devendo também estar nas preocupações e nos esforços teóricos no campo da administração da educação.

Sander (1996, p.75-78) apresenta-nos o tema como possível, na medida em que se observam “[...] distintas tradições filosóficas e distintos compromissos praxiológicos, pensar em distintas perspectivas ou dimensões de qualidade de vida, como: qualidade formal, qualidade política, qualidade instrumental, qualidade sustentada, qualidade individual e qualidade coletiva [...]”, em que “[...] Qualidade Formal = instrumentos e métodos; Qualidade Política = finalidades e conteúdos; Qualidade Instrumental = processos, procedimentos, métodos educativos; Qualidade Sustentada = aspectos políticos e culturais da ação educativa; Qualidade Individual = subjetividade e autonomia criadora e Qualidade Coletiva = socialização de conhecimentos socialmente válidos”.

Ao rever a concepção de qualidade na educação, devemos lembrar que os problemas educacionais não dependem unicamente do controle de qualidade, nem de um gerenciamento eficaz e sim da diversidade social, econômica, cultural e histórica que, em sendo estrutural e conjuntural, determina os limites de ação dos dirigentes educacionais.

A estratégia por excelência para a promoção da qualidade na educação está na participação da sociedade, comprometida com a conquista da democracia, mediante a prática efetiva dessa mesma democracia, que possibilita enfrentar as desigualdades econômicas, políticas e culturais, armazenadas com o desenvolvimento humano.

É necessário, para obtermos toda essa configuração em torno do administrador na educação, o realinhamento de valores e conceitos que o consideram um educador preocupado mormente com a organização do trabalho escolar e o fato de ser um coordenador de pessoas independentes. Atualmente, este modelo de gestão está, segundo Libâneo (2001, p.99), na “[...] maneira de ver a organização escolar, que não excl ui a presença de elementos objetivos, tais como as formas de poder externas e internas, a

estrutura organizacional, e os próprios objetivos sociais e culturais definidos pela sociedade e pelo Estado”.

Por este perfil de administrador é que poderemos identificar o verdadeiro gestor educacional, aquele que, por meio de um trabalho eficaz, poderá, ao longo de sua gestão, influenciar as bases das políticas públicas para educação e contribuir de forma positiva para uma visão mais holística4 da educação dentro da sociedade que a adota, de modo que venha a lançar luzes sobre as ações a serem desenvolvidas, de forma que resulte em atender ao chamamento das necessidades sociais da educação.