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CAPÍTULO 2: Projeto Pedagógico

2.3 Documento norteador: Projeto Pedagógico

2.3.2 Concepções sobre o Projeto Pedagógico

2.3.2.1 Gestão Democrática e Projeto Pedagógico

A concepção de Projeto Pedagógico transcende a idéia de agrupamento de planos de ensino e atividades outras. Transcende também a dimensão regulatória ou meramente técnica, voltada para a burocratização das instituições. Segundo Libâneo (2001, p.125), o Projeto Pedagógico “deve ser compreendido como instrumento e processo de organização escolar.”

Entretanto, deve-se ficar atento ao fato de que um Projeto Pedagógico é o desencadeador de discussões constantes, pois ele não pode enrijecer o processo; deve, ao contrário, desenvolver competências e, por isso mesmo, precisa ser espaço de crítica e criatividade, não um depositário de idéias, uma vez que permite potencializar o trabalho, os objetivos, o exercício da participação democrática.

Sob essa compreensão, deve ser construído coletivamente, contando com a diretividade de um membro que lidere sua confecção, pois, quando é elaborado sem a participação dos demais membros da comunidade, adotado como uma imposição, na maioria das vezes, não chega a sair do papel.

Construir um Projeto Pedagógico de maneira coletiva ajuda a superar o imobilismo e a resistência à mudança, bem como o individualismo e o isolamento; lembrando que só será realmente colocado em prática, se for assumido por todos.

Veiga e Resende (1998, p.15) destacam que o processo de construção de um Projeto Pedagógico “envolve e abrange crenças, convicções, conhecimentos da comunidade escolar, do contexto social e científico, levando a um compromisso político e pedagógico coletivo”.

Muito importante é a participação do corpo docente nesse processo de elaboração do Projeto Pedagógico, uma vez que cada professor não é apenas um ministrador de disciplinas, mas um importante profissional, um formador de opiniões alguém que, na prática, é quem concretiza o Projeto na sala de aula. Também é muito significativo que o docente saiba qual o perfil de profissional que a Instituição de Educação Superior definiu para formar, pois, dessa forma, poderá contribuir para essa construção por meio da disciplina que ministra, colaborando para um trabalho articulado com as demais disciplinas, que, em seu conjunto, contribuirão para a formação integral do futuro profissional.

Um Projeto que não tenha suas raízes no “chão” da Instituição, contanto com o apoio e o envolvimento da comunidade acadêmica, se reduz a um documento verticalizado e desconectado da realidade na qual a Instituição está inserida.

Veiga e Resende (1998, p. 29) fazem esse destaque:

O projeto político-pedagógico deve nascer do chão da escola, da necessidade dos sujeitos que fazem parte do processo educativo; não deve haver qualquer tipo de convencimento ou mobilização para que trabalhem mais, antes se deve proporcionar aos mesmos as condições necessárias para refletir o fazer pedagógico de forma consciente e coerente.

Dessa forma, como importantes características pertinentes aos Projetos Pedagógicos podemos apontar que o mesmo:

- seja construído coletivamente;

- tenha na organização do trabalho pedagógico a possibilidade de resolver ou minimizar os conflitos e as contradições;

- deixe claro o compromisso com a formação do cidadão;

- use o trabalho coletivo como meio de superação das dificuldades da realidade escolar;

- valorize os princípios de autonomia, solidariedade e estímulo à participação em projetos comuns e coletivos;

- promova a articulação de todos os sujeitos e ações diretamente envolvidos na realidade institucional;

- constitua-se como processo em permanente construção.

Na Educação Superior, a implantação dos Projetos Pedagógicos sempre foi muito burocrática, pois eram construídos sem a participação da comunidade acadêmica. Em tese, os Projetos Pedagógicos deveriam desenvolver uma grande interação entre todos os profissionais e os diferentes ambientes de uma instituição, solicitando uma participação efetiva de todos os membros da IES no “como fazer” o Projeto.

Esse processo de ação e reflexão dos seus diversos membros, procurando uma articulação entre o que é desejado e entre o que é possível realizar, reduz as distâncias entre valores, discursos e ações; entre ações administrativas e acadêmico-pedagógicas. Conforme destaca Masetto (2003, p.61), “a discussão é a estratégia por excelência para veicular as críticas e proposições de professores, alunos, funcionários e profissionais da área que vivenciam os problemas do dia-a- dia”.

Essa, aliás, é uma característica que se apresenta agora sim, como sendo muito importante à organicidade dos Projetos Pedagógicos, pois, ainda segundo Masetto (2003, p. 61):

Articulam-se organicamente professores, disciplinas, alunos, horários de disciplinas e de atividades, carga horária, uso dos espaços e dos recursos existentes na Instituição, políticas de ensino, de formação continuada de professores, técnicos e funcionários, promoção na carreira, política de titulação, atividades de interação com a sociedade, política de informática, e assim por diante. Articulação orgânica de acordo com os objetivos e as metas que tiverem sido estabelecidos.

Um Projeto Pedagógico que se paute por uma construção coletiva, traz em seu interior as sementes de um processo de inovações e rupturas com estruturas burocráticas e autoritárias, favorecendo o florescimento de uma Gestão Democrática e participativa. Esse, por sinal, é o maior desafio de um Projeto Pedagógico: a construção do novo na educação, de um novo projeto, de uma nova política, de uma nova gestão, de uma nova administração.

Assim, para essa construção “do novo”, romper com limites de liberdade e autonomia é imprescindível, pois as Instituições de Educação têm necessidades urgentes de reorganização administrativa e pedagógica, pautadas por pressupostos mais democráticos que os vividos até hoje.

É no processo de construção coletiva do Projeto Pedagógico que é possível desencadear um processo de análise da administração, da gestão e seus meandros de relações de poder, das posições, dos valores, das idéias e outros. Superar idéias já sedimentas de comodismo, descrença e resistências são um obstáculo considerável para se alcançar um patamar de reflexões mais aprofundadas sobre o modelo de homem, de sociedade e qual escola se pretende alcançar.

Em suma: é no envolvimento de todos os atores acadêmicos que se encontra o caminho para superar essas dicotomias e alcançar patamares de maior autonomia e democracia interna.