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2. APROPRIAÇÃO DE RESULTADOS NA COORDENADORIA REGIONAL DE

2.2 Reflexões teóricas sobre os desafios da gestão escolar no contexto das

2.2.1 Gestão democrática

A Constituição Federal de 1988 estabelece, no artigo 206, a gestão escolar democrática e participativa no ensino público. Quase uma década depois, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB nº. 9.394/96) estabeleceu: (i) a gestão democrática do ensino público; (ii) a participação dos profissionais da educação na elaboração do Projeto Político Pedagógico da escola e (iii) a participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares e equivalentes.

No entanto, antes da promulgação dessas leis, o modelo de gestão que se havia instaurado nas instituições escolares era um modelo estático de escola, na qual, para Lück, o papel do diretor era o de “guardião e gerente de operações estabelecidas em órgãos centrais” (LÜCK, 2000, p.13). Desse modo, o diretor seria aquele capaz de receber as informações dos órgãos centrais e repassá-las à comunidade escolar. Era um modelo de gestão pautado na centralização, no autoritarismo e na burocratização do trabalho escolar, pois não havia espaço para discussões e mudanças, cabendo à escola apenas cumprir as demandas dos órgãos superiores.

O novo modelo de gestão é dinâmico e pautado no princípio da participação das pessoas, em que cada um faz parte das tomadas de decisão referentes ao trabalho desenvolvido na escola. No entanto, muitas vezes, esse processo de mudança de um modelo para o outro não é tarefa fácil, pois, acostumados a um modelo mais burocrático, os atores escolares sentem dificuldades com essa mudança. Na verdade, isso acontece porque a escola ainda está em momento de transição de um modelo para o outro (MACHADO, 2015). De acordo com Lück (2000), isso ocorre porque

(...) a escola se defronta muitas vezes, ainda, com um sistema contraditório em que as forças de tutela ainda se fazem presentes, ao mesmo tempo em que os espaços de abertura são criados, e a escola é instigada a assumir ações para as quais ainda não desenvolveu a competência necessária (LÜCK, 2000, p.14)

Entretanto, no cenário atual da educação, em que o ensino deve ser ministrado com base no princípio da melhoria da qualidade da educação, não mais é possível fomentar uma gestão pautada na centralização, no autoritarismo e na burocratização do trabalho escolar, pois é preciso que o trabalho de melhoria da qualidade da educação seja realizado em conjunto, por meio da participação, para que se obtenham resultados satisfatórios.

Com o processo de democratização do ensino, conceitos como descentralização, autonomia e responsabilização passaram a organizar a dinâmica do ambiente escolar. São conceitos interdependentes e que não podem ser dissociados, pois não há como descentralizar sem a autonomia e a responsabilização.

A descentralização está relacionada com o entendimento de que apenas localmente é possível promover a gestão da escola e do processo educacional pelo qual se é responsável, pois qualquer esforço centralizado e distante estaria fadado ao fracasso (LÜCK, 2000). Nesse sentido, as instituições escolares passaram a construir seu próprio projeto político pedagógico e a gerir recursos por meio da participação da comunidade escolar. Assim, as escolas passaram a ter mais autonomia, ou seja, poder de decisão sobre as ações nelas desenvolvidas no que diz respeito aos aspectos pedagógicos, administrativos e de recursos. No entanto, se as escolas passaram a ter mais autonomia e participação, também surgiu cobrança por melhores resultados e por melhoria da qualidade da educação, “materializada por metas a serem cumpridas pelas

escolas, e a responsabilização dessas pelo seu sucesso ou fracasso” (MACHADO, 2015, p.10). Por isso, as instituições escolares passaram a serem responsabilizada por seus resultados.

Portanto, a descentralização pressupõe autonomia, por sua vez, autonomia pressupõe participação e responsabilização pelos resultados. Nesse sentido, Lück (2000) elucida que o fundamento da gestão democrática pressupõe a ideia de participação, isto é, do trabalho associado de pessoas, analisando situações, decidindo sobre o seu encaminhamento e agindo sobre elas, em conjunto (LÜCK, 2000, p.27).

À luz desse entendimento, o gestor escolar assume um papel importante nesse processo, sendo ele o articulador das ações que contribuem para a promoção de uma gestão democrática por meio de experiências que conduzem a esse fim. Lück diz que “um diretor de escola é o gestor da dinâmica social, um mobilizador e orquestrador de atores, um articulador da diversidade para dar-lhe unidade e consistência, na construção do ambiente escolar adequado a aprendizagem” (LÜCK, 2000). Assim o gestor escolar é aquele que deve incentivar a participação, o diálogo, a autonomia, o trabalho organizado em equipe, em que todos se sentem responsáveis pelos resultados da escola. No entanto, o trabalho do gestor é difícil e complexo, pois abrange várias dimensões da instituição escolar, seja ela a gestão pedagógica ou a gestão administrativa. Dentre essas dimensões, consideramos a dimensão pedagógica a mais importante, não obstante esta não poder estar desassociada da dimensão administrativa, ou seja, uma depende da outra.

A gestão pedagógica refere-se a todo e qualquer processo que vise à construção do conhecimento, para o qual exige ações, metodologia de ensino, elaboração de projetos, planejamento, acompanhamento de prática pedagógica, rendimento, aprendizagem e indicadores. Já a gestão administrativa abrange a área burocrática da escola e diz respeito à organização de recursos físicos, materiais, financeiros e humanos da instituição. Nesse sentido, são áreas que se complementam e que exigem esforços coletivos para o alcance da melhoria da organização da escola, daí a importância da gestão democrática participativa.

Conforme já dito anteriormente, o gestor é aquele que deve incentivar a participação e o trabalho organizado em equipe, para que haja melhoria da aprendizagem dos alunos, pois somente um trabalho organizado em conjunto

poderá alcançar melhores resultados. Porém, estamos diante de um grande desafio que é a implantação de um modelo democrático participativo de gestão.

Nesse sentido, Lück (2000) apud Lück (1998) elucida que

A participação, em seu sentido pleno, caracteriza-se por uma força de atuação consistente pela qual os membros da escola reconhecem e assumem seu poder de exercer influência na dinâmica dessa unidade social, de sua cultura e dos seus resultados. Esse poder seria resultante de sua competência e vontade de compreender, decidir e agir em torno de questões que lhe dizem respeito (LÜCK, 2000, p.27)

Portanto, a democratização do ensino trouxe mudanças importantes que direcionam o trabalho de gestão com ênfase na descentralização, na autonomia e na responsabilização. Assim, o modelo estático, caracterizado pela centralização, burocracia e autoritarismo, vai dando lugar a um novo paradigma educacional mais dinâmico e flexível. Com isso, uma nova forma de gestão vem pouco a pouco ganhando o espaço escolar, demandando uma escola em que as decisões sejam compartilhadas e tomadas em conjunto e buscando o envolvimento de todos os atores para a melhoria da aprendizagem.

Nesse contexto, as avaliações externas vêm adentrando as escolas, tendo como premissa o diagnóstico da qualidade da educação por meio de seus resultados em testes padronizados. Dessa forma, as escolas passaram a utilizar os dados das avaliações externas para planejar as ações em prol da melhoria da aprendizagem de seus alunos, principalmente por causa da atribuição de consequências simbólicas ou materiais para os agentes escolares, quando da articulação dos resultados das avaliações externas a políticas de responsabilização (BONAMINO e SOUZA, 2012).

Diante disso, as escolas enfrentam o desafio da melhoria educacional de seus alunos, para que possam obter melhor desempenho nos testes em larga escala, o que demanda a necessidade de apropriação dos resultados das avaliações externas por gestores, equipe gestora e professores das escolas. Isso porque, ao identificarem as habilidades não adquiridas por seus alunos, em determinados conteúdos, poderão planejar ações que contribuam para a melhoria da aprendizagem destes e, como consequência, o desempenho nos testes será melhor.

Cabe destacar que, para a efetivação de ações de melhoria de desempenho dos alunos, a liderança do gestor escolar e o trabalho desenvolvido por sua equipe gestora são importantes no processo de condução da apropriação

dos resultados dos testes em larga escala. Nesse sentido, a efetivação de uma gestão democrática participativa na escola poderá contribuir com o processo de apropriação dos resultados das avaliações em larga escala.

Esse processo se realiza por meio de espaços de reflexões e diálogos, por meio da participação de todos os atores, levando-os a repensar as ações em prol de melhoria, o que acontece quando todos começam a se sentir responsabilizados pelos resultados obtidos pela escola. Nesse sentido, Lück (2010) assevera que “o processo educacional só se transforma e se torna mais competente na medida em que seus participantes tenham consciência de que são responsáveis pelo mesmo” (LÜCK, 2010, p. 80).

Diante disso, o gestor e a equipe escolar possuem o papel de promover a participação de todos os atores da escola para que todos tenham consciência de que sua participação no processo de tomada de decisões e planejamento de ações em prol de melhoria da aprendizagem dos alunos é importante, ou seja, todos são responsáveis pelos resultados da escola.

Diante disso, a próxima subseção apresenta a gestão estratégica como caminho para implantação da gestão democrática participativa na escola, o que poderá contribuir para o processo de apropriação de resultados das avaliações externas nas escolas.