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A gestão de resíduos sólidos foi definida no âmbito da Política Nacional de

Resíduos Sólidos (Lei n° 13.305, de 02 de agosto de 2010), em seu artigo terceiro,

como sendo um conjunto de ações voltadas para a busca de soluções para os

resíduos sólidos, tendo em vista as dimensões políticas, econômicas, ambientais,

culturais e sociais, com controle social e sob a premissa do desenvolvimento

sustentável (BRASIL, 2010).

É válido acrescentar que a Lei nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007, que

estabeleceu as diretrizes nacionais para o saneamento básico, considerou o conjunto

de serviços, infraestrutura e instalações operacionais de limpeza urbana e manejo de

resíduo sólido como integrante do saneamento básico (artigo 3º, inciso I, alínea c).

A mesma lei conceituou o manejo de resíduos sólidos como sendo: “c) limpeza

urbana e manejo de resíduos sólidos: conjunto de atividades, infra-estruturas e

instalações operacionais de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destino final

do lixo doméstico e do lixo originário da varrição e limpeza de logradouros e vias

públicas.” (BRASIL, 2007, artigo 3º, inciso I, alínea c).

Pode-se considerar a gestão uma ação macro em relação ao gerenciamento

de resíduos sólidos, sendo esse conceituado como um conjunto de ações exercidas

nas etapas de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destinação final

ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e disposição final adequada dos

rejeitos, consoante o que determina o plano municipal de resíduos sólidos (BRASIL,

2010).

Essa distinção é importante para definir os atores que participam e executam

cada etapa e ação.

Mas antes de se tratar do tema da gestão é importante apresentar um breve

histórico sobre a noção de gerenciamento no país.

Até a década de 90 a preocupação do poder público em relação aos resíduos

sólidos se resumia a operar o sistema de limpeza urbana, promovendo a varrição,

coleta, transporte e disposição final dos resíduos. Não havia até aquela época a

preocupação efetiva quanto aos aspectos administrativos do gerenciamento de

resíduos, tais como a remuneração pelos serviços de coleta e tratamento, de

aplicação de indicadores de eficiência dos serviços prestados, à segregação e

integração dos resíduos, etc. Cabe citar que não havia instrumentos legais e marcos

de referência institucional e política, ou ainda, instrumentos de financiamento que

pudessem contribuir na melhoria dos sistemas e práticas existentes.

Adiciona-se a esse quadro a população incluída de maneira informal no setor

de resíduos, sendo uma parcela considerável da população marginalizada do

processo econômico e produtivo. Nessa época, década de 1990, foram identificados

mais de 24.000 catadores no Brasil, sendo que uma parcela significativa (22,5%)

correspondia a crianças com idade até 14 anos (ABRELPE, 2003).

Philippi Jr. et al. (2012, p. 230) discorrem que “a presença de crianças e

adultos em lixões realizando o processo de catação do resíduo sólidos, bem como

nas ruas das cidades brasileiras, conferiu uma dimensão social importante à

problemática do gerenciamento dos resíduos sólidos.”

Sobre o histórico o autor acima destaca que

Fóruns nacionais e internacionais explicitaram preocupações ambientais mundiais e a consideração do componente ambiental no cotidiano da sociedade, conduzindo ao crescimento dos movimentos ecológicos e, por consequência, de pressões da sociedade por soluções mais técnicas e economicamente efetivas, a exemplo da reciclagem e da compostagem. A implantação de programas de coleta seletiva ainda era um mistério a ser desvendado. Aos poucos, as experiências positivas foram sendo divulgadas, dificuldades tecnológicas superadas e a articulação com o setor empresarial permitiu viabilizar diversos programas de sucesso. (PHILIPPI JR, et. al., 2012, p. 230).

A gestão adequada e o gerenciamento eficiente de resíduos sólidos numa

sociedade que segue um modelo capitalista de produção, consumo e descarte é ação

fundamental para reduzir os impactos ambientais causadas, bem como, para evitar as

doenças relacionadas aos resíduos. Trata-se de uma dinâmica que visa controlar os

efeitos ambientais e sanitários.

Gama e Silva adverte que a gestão de resíduos sólidos exige coordenação e

sinergia entre os níveis participantes, além de mão de obra especializada,

equipamentos e instalações, custeados com recursos oriundos de todos os

segmentos, aos quais dá-se destaque: à população geradora do resíduos pós

consumo, com campanhas educativas para a separação e acondicionamento

adequado; ao sistema produtivo privado, que é responsável pelo resíduo dos produtos

fabricados e comercializados; às cooperativas de coleta (catadores), que devem

receber tratamento específico sobre coleta, separação e comercialização junto aos

setores de beneficiamento; e, aos municípios, que são os protagonistas na

administração pública pela limpeza urbana, por meio de acordos e parcerias de

gerenciamento do sistema e beneficiamento de resíduos sólidos (GAMA E SILVA,

2012).

A gestão de resíduos sólidos, nas palavras de Mesquita Jr. pode ser

enunciada como a maneira de “conceber, implementar e administrar sistemas de

manejo de resíduos sólidos urbanos, considerando uma ampla participação dos

setores da sociedade e tendo como perspectiva o desenvolvimento sustentável”

(MESQUITA JR., 2007, p. 14).

Considerando o destaque que se tem dado ao discurso do “desenvolvimento

sustentável”

12

, inclusive na legislação, a gestão de resíduos sólidos deve considerar

12 Consoante explana Cristiane Derani o desenvolvimento sustentável “visa obter um desenvolvimento

harmônico da economia e da ecologia, numa correlação máxima de valores onde o máximo econômico reflita igualmente um máximo ecológico, impondo um limite de poluição ambiental, dentro do qual a economia deve se desenvolver, proporcionando, conseqüentemente, um aumento no bem-estar social.” (DERANI, 2001, p. 132/133). Mas vale ressalvar que a expressão “desenvolvimento sustentável” não é isenta de controvérsias e discussões. Nesse sentido, Leff (2001) a trata como um discurso do sistema capitalista, no qual “os potenciais da natureza são reduzidos à sua valorização no mercado como capital natural” (p. 25). Carvalho (1991) assevera que o discurso ecológico oficial carregado pelo desenvolvimento sustentável “produz uma fala onde clama pela preservação do meio ambiente, comprometido de antemão com as regras do capitalismo industrial” (p. 25). Agoglia (2014) sintetiza a crise de identidade conceitual do termo “usado tanto para identificar e promover alternativas à crise existente, como para justificar a tese neoliberal de crescimento ecologicamente tolerável” (p.88, tradução nossa). O que se observa são diversas roupagens da sustentabilidade, por vezes contraditórias, de acordo com o interesse vigente, e que pode esvaziar seu discurso. Na presente dissertação será usado o termo, em função de sua ampla e conhecida utilização, inclusive pela legislação que ora se estuda, mas com a ressalva que se apresenta.

a participação ampla e em cooperação do poder público, dos representantes da

sociedade, de ONGs, setor informal, catadores, comunidade, enfim, todos os

integrantes do ciclo da geração e/ou gestão dos resíduos.