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Gestão da Escola Municipal Emiliano Zapata sob a ótica do MST

I. A EDUCAÇÃO NO MST

4.6.4 Gestão da Escola Municipal Emiliano Zapata sob a ótica do MST

O MST deu esse nome para a escola em homenagem ao mexicano Emiliano Zapata que lutou em prol da classe trabalhadora. Para o Movimento, esse nome é mais valorizado de que o nome oficial de escola, porque representa um nome de militância e dedicação ao povo. De acordo com o estudo feito por Honorato isso fica bem evidenciado:

Para o Movimento a escola se chama Escola Municipal Emiliano Zapata, nome este em homenagem ao líder Zapatista Mexicano. Como é o setor de educação do MST que dá as linhas político-pedagógica e administrativa da escola, todos os educandos, bem como os educadores reconhecem a escola com o nome do revolucionário Zapatista (HONORATO FILHO, 2006, P. 62).

O trabalho é realizado de forma coletiva, conforme se pode observar na fala de uma funcionária do apoio escolar: “Aqui nóis trabáia é no coletivo. Num tem uma pra fazer a merenda e outra pra limpar. As duas faz o trabalho juntas. Enquanto nóis tá limpano, o portero ta lavano os banheiros pra nóis. Aí termina tudo junto” (anotações do diário de campo, 09/04/10).

A gestão cumpre determinações do MST no sentido de tentar fazer com que aconteça a implementação da proposta pedagógica e realiza reuniões com todo o grupo da escola, sempre no coletivo. A escola tem a seguinte estrutura organizacional, todos fazendo parte do coletivo pedagógico da escola:

Gráfico 2 – Estrutura organizacional da Escola Municipal Emiliano Zapata

Coordenação de área: articula as questões político/ideológicas e pedagógicas do MST

com as questões administrativas e pedagógicas oficiais, organiza as reuniões de planejamento, é responsável pela parte burocrática da escola junto aos órgãos da burocracia estatal, estabelece parceria da escola com a comunidade, cuida da implementação da proposta pedagógica do Movimento na área de sua responsabilidade, participa das reuniões do coletivo de educação e faz com que as determinações deste aconteçam na escola.

Secretária escolar: cuida da parte documental e auxilia a coordenação de área nas

questões pedagógicas e de disciplina dos alunos.

Educadores: lidam diretamente com os educandos fazendo o trabalho de mediadores

do conhecimento. Articulam o currículo escolar formal com os objetivos pedagógicos e políticos/ideológicos do MST. EDUCADORES E EDUCANDOS SECRETÁRIO ESCOLAR COORDENAÇÃO DE ÁREA APOIO COLETIVO PEDAGÓGICO DA ESCOLA

A coordenação de área passa por algumas dificuldades para realizar o seu trabalho de mediação entre MST e SEMED, pois em conversa com a coordenadora sobre o seu relacionamento com a Secretaria Municipal de Educação, a resposta foi: “Sempre nas reuniões ou atividades desenvolvidas pela SEMED, ou somos avisados quando a reunião já está acontecendo ou não somos avisados. Dificilmente a comunicação chega antes” (anotações do diário de campo em 09/04/10).

Retrata, assim, a forma de tratamento dispensado pela SEMED à gestão da referida escola, o qual parece ser de descaso.

5 A GESTÃO E A BUROCRACIAD APRESENTAÇÃO E APRECIAÇÃO

DOS DADOS EMPÍRICOS

Ai de nós, educadores, se deixarmos de sonhar sonhos possíveis... Eu diria a nós, educadores e educadoras, ai daqueles e daquelas entre nós, que pararem com sua capacidade de sonhar, de inventar a sua coragem de denunciar e anunciar. Ai daqueles e daquelas que, em lugar de visitar de vez em quando o amanhã, o futuro, pelo profundo engajamento com o hoje, com o aqui e o agora, ai daqueles que, em lugar desta viagem constante ao amanhã, atrelem a um passado de exploração e de rotina. Paulo Freire

Para coleta dos dados empíricos foi necessário utilizar mais de um instrumento, pois como a pesquisa trata de vários enfoques, privilegiar apenas um ou outro elemento não daria conta de atingir os objetivos propostos. Assim, foram utilizadas pesquisas qualitativas e quantitativas. A utilização do diário de campo foi indispensável para anotar os dados da observação participante na escola e na comunidade, ou seja, nas conversas com os pais em suas residências, ou mesmo andando pela escola com o olhar atento de pesquisadora, observando como acontece o processo pedagógico nos tempos e espaços escolares, como nas reuniões de pais e mestres e nos dias de planejamento que aconteceram.

Foram feitas entrevistas semi-estruturadas com alunos, pais, professores, membros da direção e coordenação do MST das esferas nacional, estadual e regional, secretário municipal de educação, secretário escolar, cujos roteiros se encontram em anexo, tendo sido realizadas de acordo com horários pré-estabelecidos. Os entrevistados sentiram-se à vontade, sendo que, no decorrer do processo apareceram outras pessoas querendo ser entrevistadas. Porém, não foi possível atendê-las devido ao curto espaço de tempo de realização da pesquisa, com exceção de dois membros da direção nacional do MST, que estiveram na Regional Sudoeste, dentre eles, o secretário nacional do Movimento. E por estes serem os responsáveis pela burocracia do MST a nível nacional, concluiu-se que uma entrevista com essas lideranças seria de grande importância para elucidar questões burocráticas no Movimento, contribuindo assim, para alcançar os objetivos dessa pesquisa. O roteiro de entrevista desses membros da direção nacional foi o mesmo realizado com a direção regional e estadual porque estes sujeitos não estavam previstos no processo por imaginar que seria difícil conseguir tal contato devido ao fato de eles morarem em regiões distantes do local da pesquisa e esta não contar com financiamento para viagens. Porém, como se fizeram presentes na região para atividades relacionadas aos movimentos sociais do campo, foram solicitados para contribuir com a pesquisa e não se negaram.

Os questionários foram aplicados para os educadores dos três turnos e apenas para os educandos do noturno. A escolha desses educandos deu-se por que, nesse turno, o alunado é composto de pais de alunos, de pessoas do assentamento que não são pais, e também por pessoas que são de comunidades circunvizinhas e que procuram a escola do assentamento para estudar. Acredita-se que devido às diversas origens desses sujeitos, foi possível ter um resultado mais consistente nesse instrumento de pesquisa porque são opiniões diferenciadas sobre a escola e a gestão do MST.

A análise documental foi realizada na escola, sempre questionando a secretária escolar, no caso de dúvidas. Vale salientar que não houve nenhuma dificuldade em ter à disposição os documentos solicitados, bem como cópias destes. Porém, foram colocadas em anexo apenas as que foram avaliadas pela pesquisadora como sendo de maior relevância.

A. ANÁLISE QUANTITATIVA DOS DADOS:

Como amostragem foram aplicados 37 questionários aos alunos, os quais foram subdivididos em 3 partes: a primeira, sobre a caracterização do sujeito, a segunda, sobre a formação, e a terceira, sobre a relação com a escola e a gestão. Foram entregue questionários para preenchimento também para todos os 15 professores, porém, apenas 5 devolveram. Por isso, não foram analisados os dados dos professores, porque, com esse número reduzido de questionários recebidos, não atingíriamos os objetivos determinados para tal instrumento de coleta. O objetivo da aplicação de tal instrumento para os alunos foi o de conhecer o público pesquisado e, como acontece a gestão da escola, procurar identificar se estes sujeitos a vêem como democrática ou autoritária, e o que eles pensam sobre a proposta do MST. Tais dados, depois de compilados e tabulados, possibilitaram várias abordagens da escola a partir da visão de seus educandos.

1. Caracterização dos sujeitosD o questionário foi aplicado apenas para 37 alunos que

estavam presentes na aula no dia da aplicação deste instrumento de coleta. Os gráficos abaixo apresentam primeiro o número quantificador e em seguida a percentagem, quando for o caso.

a) Quanto ao sexo: São 15 educandos do sexo masculino e 22 do sexo feminino.

b) Quanto ao local de residência: Destes alunos, 27 são do assentamento e 10 moram em outras localidades, conforme se observa no gráfico. Porém, todos moram no campo, facilitando, assim, o trabalho com a educação do campo proposta pelo MST.

c) Quanto à autodeclaração de cor da peleD dos 37 alunos que responderam ao questionário, 20 se intitulam pardos; 8 declaram-se negros; 7 se apresentam como brancos e 2 não se declaram.

2. Quanto à formaçãoD no turno noturno a escola possui 28 alunos na turma de

alfabetização e 42 nas turmas de EJA, nas quais funcionam a aceleração. Estas turmas se caracterizam por poderem acelerar os estudos fazendo duas séries em um único ano. A escola pesquisada possui 1 turma de 5ª e 6ª séries, 1 de 7ª e 8ª séries e 1 de alfabetização. Porém, observa-se pouca frequência, pois apenas 23 alunos da aceleração e 14 da alfabetização estavam frequentes. Esta infrequência coincide com a realidade da EJA a nível nacional quando, geralmente as pesquisas trazem altos índices de faltas, reprovação e evasão nesse turno.

3. Em relação à escola do assentamentoD estas questões ajudam a analisar se existe

uma gestão participativa bem como a visão dos alunos sobre a educação no Movimento. a) Quanto ao conhecimento da gestão da escola pelo aluno: se existe realmente uma gestão participativa e um trabalho coletivo como consta na proposta de educação do Movimento. Faz-se necessário que os alunos conheçam e tenham afinidade com a gestão, uma vez que, de acordo com esta o trabalho, acontece com os alunos ajudando a tomar as decisões. Porém, apenas 10 alunos declaram conhecer a gestão, 5 desconhecem e 22 afirmam que conhecem e comunicam constantemente. De acordo com esses dados é possível perceber que nem todos os alunos conhecem a gestão, ou mesmo, não há a comunicação efetiva ou o diálogo necessário e constante para que o trabalho coletivo aconteça de forma efetiva nesse turno.

b) Participação dos pais e alunos em reuniões na escola: nesse caso, trata-se da participação nas reuniões com alunos, pais e mestres. Observa-se, no gráfico, uma participação nas atividades, denotanto assim, que existe preocupação da gestão em estar sempre convidar a comunidade a estar dentro da escola, ou fazer a gestão tão propagada pelo MST, de ocupação da escola. Porém, vale ressaltar a expressividade do número de pessoas que afirmou não haver reuniões na escola. Uma explicação possível talvez seja que, dentre as

pessoas que responderam os questionários, 10 não moram no assentamento, assim, quando acontecem reuniões ou alguma outra atividade na escola, geralmente eles não participem, de acordo com a coordenação.

c) Quanto à coordenação da escola – existe uma “autonomia” do MST em indicar alguém para coordenar a escola, porém, nem todas as pessoas concordam em serem coordenadas pelo o Movimento. Uma das explicações é que nem todos coadunam com seus ideais político/ideológicos. Mas por se tratar de uma escola de assentamento, percebe-se uma grande aceitação da proposta, o que sugere que o Movimento vem atingindo os seus objetivos de conscientização dos assentados nos seus propósitos.

d) Conhecimento da proposta pelos alunos: numa gestão de ocupação da escola, na qual de acordo com a proposta do Movimento, todas as formas de planejamento devem acontecer de maneira coletiva entre a comunidade, alunos, educadores, funcionários, etc, faz-

se necessário que a comunidade escolar tenha conhecimento da proposta pedagógica. Entretanto, observa-se, no gráfico, que essa participação massiva não acontece no noturno, demandando uma atenção por parte da gestão.

e) Trabalho com os valores do MST na escola: como a escola atende alunos das comunidades circunvizinhas, nem todos os alunos aceitam que sejam trabalhados os assuntos voltados para as questões políticas e ideológicas do MST. Existe também uma incidência de pessoas acima de 50 anos, e que tem valores bem tradicionais, as quais pensam que na escola devem aprender apenas ler e escrever, e que trabalhar com outras questões seriam perda de tempo.

B. ANÁLISE QUALITATIVA: CATEGORIAS

A partir da análise das entrevistas foi possível estabelecer seis categorizações que se repetiram em praticamente todos os sujeitos pesquisados. A identidade dos professores e alunos foi preservada, utilizando nomes fictícios, porém, quanto aos membros do MST e a coordenação da escola foram apresentados os verdadeiros nomes com a permissão destes. Para uma visão preliminar as categorias estão destacadas no quadro abaixo, porém descritas, em seguida, com detalhes sobre as falas e análise das mesmas.

A gestão e a formação - Formação política

- Formação pedagógica

Burocracia - Princípios burocráticos

- Diferentes interpretações do termo burocracia

Autonomia - conquistada

- imposta

Trabalho coletivo - participação

- diálogo

Tratamento diferenciado - preconceito

- discriminação -exclusão

Pedagogia Socialista - transformação social

- mudança

- organização social