• Nenhum resultado encontrado

Gestão Escolar Democrática

No documento Aneridis Aparecida Monteiro.pdf (páginas 58-64)

Capítulo 1 A educação e o ensino profissionalizante no Brasil: breve relato

2.3 Gestão Escolar Democrática

O princípio da gestão democrática foi estabelecido já na Constituição de 1988, que usou pela primeira vez o termo “gestão democrática do ensino público” na forma da lei6, quando apresentou no artigo 206 que o ensino seria ministrado com base nos princípios da gestão democrática do ensino público.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), Lei nº 9.394/96, reforçou esta terminologia e este princípio quando ratificou os preceitos constitucionais e especificou, entre outros aspectos, os níveis e modalidades que compõem a educação nacional, a organização do sistema de ensino no país, as formas de financiamento e as competências dos entes federados – União, Estados e Municípios.

A LDB estabeleceu que

Artigo 14 - Os sistemas de ensino definirão as normas de gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios.

I - participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola;

II - participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes7.

      

6 De acordo com a Constituição Federativa do Brasil, no artigo 206, inciso VI. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 23 de janeiro de 2011.

7 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei 9.394/96 – artigo 14. Disponível em:

A concepção de gestão democrática está relacionada à participação dos profissionais da educação em seu fazer pedagógico e à participação da comunidade escolar nos processos decisórios da escola. Isto significa que ela leva à descentralização do poder, no sentido de possibilitar que os diferentes atores do processo pedagógico participem de decisões, diretamente ou por meio de representações, sendo as TIC um meio favorável ao compartilhamento de informações e à tomada de decisões em conjunto.

Trata-se, portanto, da administração do ensino de forma compartilhada com os demais atores envolvidos no processo de aprendizagem, que não apenas o gestor principal, significando também, conforme o Parecer CNE 05/2005,

gestão educacional, entendida numa perspectiva democrática, que integre as diversas atuações e funções do trabalho pedagógico e de processos educativos escolares e não- escolares, especialmente no que se refere ao planejamento, à administração, à coordenação, ao acompanhamento, à avaliação de planos e de projetos pedagógicos, bem como análise, formulação, implementação, acompanhamento e avaliação de políticas públicas e institucionais na área de educação (BRASIL, 2005, p. 8).

No que se refere à legislação do Estado de São Paulo, as Normas Básicas do Regimento Escolar seguem a mesma direção e estabelecem como princípio a gestão democrática. Em seu artigo 9º, capítulo I, título II, afirma que:

Para melhor consecução de sua finalidade, a gestão democrática na escola far-se-á mediante a:

I - participação dos profissionais da escola na elaboração da proposta pedagógica;

II - participação dos diferentes segmentos da comunidade escolar – direção, professores, pais, alunos e funcionários – nos processos consultivos de decisórios, através do conselho de escola e associações de pais e mestres (SÃO PAULO, 1998).

A gestão democrática se firma na medida em que agrega os diferentes grupos da escola comprometidos com o processo educativo. Assim, a gestão escolar também se realiza por meio do conselho de escola, de ações conjuntas com as Associações de Pais e Mestres (APM), de reuniões junto ao grêmio estudantil (representações de alunos).

Observa-se que a tarefa de garantir a articulação da APM, do grêmio estudantil, do conselho de escola, segundo critérios das Normas Regimentais Básicas, é da direção da escola, em que a presença de um gestor democrático nesta tarefa é imprescindível.

Há ainda outro tipo de conselho que compõe uma gestão democrática – os conselhos de classe e série – cujas atribuições, de acordo com o artigo 20, são

I - possibilitar a inter-relação entre profissionais e alunos, entre turnos e entre séries e turmas;

II - propiciar o debate permanente sobre o processo de ensino e de aprendizagem;

III - favorecer a integração e seqüência dos conteúdos curriculares de cada série/classe;

IV - orientar o processo de gestão do ensino (SÃO PAULO, 1998).

Os temas gestão escolar e autonomia têm se tornado foco de discussões e debates políticos e pedagógicos desde a década de 1980. Após anos de ditadura militar, a luta pela (re)construção nacional e pela construção de uma sociedade mais justa perpassa também pelo ambiente escolar, e uma das conquistas no setor educacional foi a liberdade de ação e decisão por meio da Constituição e da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

Diretrizes, normas, programas e políticas garantem o acesso, a permanência, a gestão democrática e o financiamento da educação em diferentes níveis e modalidades. Os governos, quer sejam eles da União, do Estado ou Município, têm conduzido as políticas relacionadas à gestão da educação e incentivado experiências pedagógicas e administrativas, focalizando a gestão participativa nas escolas.

Neste sentido, Nóvoa (2006) afirma que a escola atual passa por uma descentralização e por um investimento das escolas como lugares de formação, onde a

autonomia pedagógica, curricular e profissional implica um esforço de compreensão do papel dos estabelecimentos de ensino como organizações funcionando numa tensão dinâmica

entre a produção e reprodução, entre a liberdade e a responsabilidade (NÓVOA, 2006, p. 17).

Cabe à gestão escolar direcionar, mobilizar condições e estabelecer um direcionamento para se obter resultados eficazes e eficientes no ambiente escolar, a fim de sustentar e dinamizar a cultura das escolas, pois é sabido que os problemas como melhoria de condições físicas, investimento em capacitações, metodologias de ensino são inter-relacionados e globais, e não se resolvem se focados individualmente. É necessário agir conjuntamente, pois no ambiente escolar todos os problemas estão interligados e as soluções também estão em conjunto.

Ao ignorar o princípio da gestão democrática as escolas perdem qualidade, pois as decisões sobre elaboração do projeto pedagógico, o destino das verbas e as demais vantagens de uma gestão democrática são compartilhados entre a comunidade e a equipe gestora, fazendo com que todos os atores envolvidos na comunidade escolar sintam-se, de fato, parte da escola. Com a participação de pessoas diferentes, das esferas administrativa, pedagógica e política, a co-responsabilidade pela escola passa a ser de todos, além do comprometimento ético.

Para Bancovsky (2008), cabe ao gestor escolar ter a visão da totalidade e da complexidade da escola, do mundo, de forma geral, para poder proporcionar a todos os envolvidos no processo escolar uma educação com respeito, liberdade e dignidade.

Ainda quanto à gestão escolar, Lück (2000, p. 8) afirma que ela

(...) constitui uma dimensão importantíssima da educação, uma vez que, por meio dela, observa-se a escola e os problemas educacionais globalmente, e se busca abranger, pela visão estratégica e de conjunto, bem como pelas ações interligadas, tal como uma rede, os problemas que, de fato, funcionam de modo interdependente.

A autora ressalta ainda que

é uma dimensão, um enfoque de atuação, um meio e não um fim em si mesmo, uma vez que o objetivo final da gestão é a aprendizagem efetiva e significativa dos alunos de modo que, no cotidiano que vivenciam na escola, desenvolvam

competências que a sociedade demanda, dentre as quais se evidenciam: pensar criticamente, analisar informações e proposições diversas, de forma contextualizadas; expressar idéias com clareza, tanto oralmente como por escrito; empregar a aritmética e a estatística para resolver problemas e conflitos dentre outras competências necessárias para a prática de cidadania responsável (LÜCK, 2000, p. 8).

Assim, o sentido da aquisição dos conhecimentos escolares torna-se mais complexo, uma vez que a aprendizagem do aluno ultrapassa os limites da sala de aula e está focado na escola como um todo. Dessa maneira, o modo como a escola está organizada, seu funcionamento e gestão determinam o sucesso ou não sucesso da aprendizagem dos alunos.

Heloísa Lück (2010, p. 15) ressalta de modo pertinente que

a institucionalização da democracia, associada ao aprimoramento da eficiência e da qualidade da educação publica, tem sido uma força poderosa a estimular o processo de mudanças na forma de gerir escolas no Brasil. A participação da comunidade escolar, incluindo professores, especialistas, pais, alunos, funcionários e gestores escolares, é parte desse esforço, que promove o afastamento das tradições corporativas e clientalistas, prejudiciais à melhoria do ensino, por visarem ao atendimento de interesses pessoais e de grupos.

Podemos afirmar, portanto, que a gestão democrática nas escolas é prevista e também regulamentada por leis; no entanto, cabe ao gestor a realização de uma gestão democrática e participativa. Não basta apenas existir leis que determinem a gestão democrática, pois ela só se efetiva quando o gestor garante mecanismos para que ela ocorra, ou seja, é necessário promover o envolvimento e a participação dos diferentes atores envolvidos no ambiente escolar, respeitando suas peculiaridades e diferentes formas de organização.

Finalmente, Lück (2010) destaca que

a gestão educacional corresponde ao processo de gerir a dinâmica do sistema de ensino como um todo e de coordenação das escolas em específico, afinado com as diretrizes e políticas educacionais publicas, para a implementação das políticas educacionais e projetos pedagógico das escolas compromissado com os princípios da democracia e com métodos que organizem e criem condições para um ambiente educacional autônomo (soluções próprias,

no âmbito de suas competências) de participação e compartilhamento (tomada de decisões conjunta e efetivação de resultados), autocontrole (acompanhamento e avaliação com retorno de informações) e transparência (demonstração publica de seus processos e resultados). A gestão escolar abrange, portanto, a articulação dinâmica do conjunto de atuações como prática social que ocorre em uma unidade ou conjunto de unidades de trabalho, o que passa a ser enfoque orientador da ação organizadora e orientadora do ensino, tanto no âmbito macro (sistema) como micro (escola) e na interação de ambos âmbitos.

A gestão democrática deve se fazer presente nas escolas, pois atualmente é esperado que a escola forme cidadãos participantes e ativos, conscientes de seu papel social; forme o “ser humanizado”; busque não apenas aperfeiçoar o cognitivo, mas também o lado afetivo, moral, social de seu aluno, tornando-o capaz de conviver e respeitar as diversidades; desenvolver nos alunos as habilidades de pesquisar, criar, desenvolver diferentes habilidades por meio de diferentes ambientes de aprendizagem; propiciar situações que facilitem o desenvolvimento de habilidades gerais, competências amplas, versatilidade e capacidade de ajustar-se a novas situações de trabalho (ALONSO, 2003).

Para cumprir tais objetivos, é esperado que o gestor escolar:

 Promova mudanças estruturais – flexibilidade;  Utilize os diferentes espaços de informação;  Faça parcerias com outras instituições;  Incorpore a tecnologia na aprendizagem;

 Viabilize a participação dos alunos nas decisões de forma responsável;

 Estimule a aprendizagem ativa e a participação em projetos;  Propicie o desenvolvimento profissional dos professores e

administradores;

 Favoreça a participação da comunidade na escola – conselhos consultivos;

 Abra a escola para o meio exterior, extraindo do social os elementos necessários ao processo de mudança e renovação da instituição;

 Assuma com responsabilidade os resultados do trabalho escolar – sucesso ou fracasso – e defina a sua política de ação a partir deles;

 Coloque o administrativo a serviço do pedagógico pondo em execução o Projeto Pedagógico da Escola, elaborado com a comunidade escolar;

 Mantenha o currículo e sua implementação no centro das atenções, definindo prioridades em função dele (ALONSO, 2003, p. 35-36).

Devemos, portanto, redefinir papéis em relação aos determinantes histórico-sociais por qual a sociedade passa e adequarmo-nos às exigências atuais desta nova realidade, identificando as prioridades sociais que definem os objetivos das escolas para empenharmo-nos em sua realização e cabe ao gestor organizar e liderar processos e pessoas em busca de tais objetivos.

E, como o gestor escolar é o sujeito principal desta pesquisa, acatamos também a definição prescrita por Almeida e Alonso (2007, p. 16), quando afirmam que ele é um

(...) professor-educador, responsável pelo funcionamento da escola e pelo seu desempenho, em suma, é ele quem organiza, dirige e coordenada todo o trabalho que se realiza na escola, cuidando para que as ações em geral sejam dirigidas a objetivos educacionais previamente estabelecidos pela comunidade escolar. Ele se confunde com a figura do diretor, porém, além deste, outros educadores participam da gestão escolar, mesmo porque é um trabalho que envolve diferentes competências e conhecimentos, exigindo a composição de uma equipe de trabalho.

O gestor tem o desafio, entre tantos outros, de incentivar a comunidade escolar para construir um ambiente permeado pelos avanços tecnológicos, ligado à modernização e globalização da sociedade. Sendo assim, o uso das TIC nos ambientes escolares e suas múltiplas possibilidades proporcionarão aos gestores e comunidade escolar vivenciarem a democracia em diversos aspectos.

No documento Aneridis Aparecida Monteiro.pdf (páginas 58-64)