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Gestão pública, governação e Qualidade

No documento ISABEL MARIA RIBEIRO DA FONSECA DIAS (páginas 50-53)

2.1. Administração Pública Portuguesa

2.1.2. Gestão pública, governação e Qualidade

A Administração Pública caracteriza-se ainda, por uma cultura centrada na criação de estruturas e normas aumentando assim os riscos associados à implementação de sistemas de Gestão da Qualidade, em especial quando se criam novas estruturas e se nomeiam novos responsáveis, pelo que é condição indispensável para o sucesso, a articulação da Gestão da Qualidade com a gestão em geral. Contudo, com excepção de organizações de grande dimensão, não parece desejável a criação de uma estrutura ou funções centradas exclusivamente na garantia da Qualidade. Pelo contrário, esta deve envolver todos os níveis da gestão, da gestão do topo à gestão intermédia, sem prejuízo da especificação das obrigações a ela inerentes. (Sampaio et al., 2011).

O mesmo autor refere ainda, a necessidade de existir uma interacção entre uma boa administração e uma boa governação, uma vez que não é possível uma correcta definição das políticas públicas e, muito menos, um grau de execução das mesmas, sem uma Administração que funcione de forma eficaz e eficiente, ao mesmo tempo que não é possível uma boa gestão pública nos Serviços, sem que exista uma clara e correcta definição das políticas públicas.

O conceito de nova gestão pública19, segundo o comité de gestão pública da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), foi definido como um novo modelo dirigido a desenvolver uma cultura orientada ao desempenho, com uma menor centralização do sector público (Santos etal., 2007), onde a Qualidade tem um papel primordial na elaboração de instrumentos de apoio à decisão dos diferentes utilizadores dessa informação, sendo indispensável a utilização de indicadores para avaliá-la (Mella, 2003).

A necessidade crescente de gerir os recursos públicos de uma forma rigorosa e transparente, associada à necessidade de o fazer de forma eficiente, eficaz e economicamente sustentável, tem impulsionado um conjunto de procedimentos de

19De acordo com Frederichson (1996) e Julve (1998), a nova gestão pública caracteriza-se por ter menos regulação, ter uma gestão orientada para o cliente, ter ênfase na responsabilidade da gestão e modificação para a melhoria, introdução das noções de competência e mercado, adoptar métodos de avaliação e técnicas de gestão, descentralizar e por último, a efectuar a reorganização e implantação da função pública na gestão e reformas.

35 apoio e de avaliação dessa mesma gestão. Por outro lado, os gestores públicos precisam de ferramentas que fundamentem a utilização dos recursos disponíveis, bem como da detecção de possíveis desvios relativamente ao planeado de forma a poderem adoptar as medidas adequadas para as corrigir. Os indicadores de gestão20 podem ser, na opinião de Sánchez e Alonzo (2003), uma destas ferramentas a utilizar pelos gestores públicos.

Segundo Mella (2003), a gestão pública tem de se guiar por princípios de economia, eficácia e eficiência, pelo que se torna necessário a implementação de técnicas de gestão que permitam avaliar esses três princípios. Todavia, muitas vezes, as técnicas de gestão já tão utilizadas no sector privado, não se aplicam directamente na Administração Pública, pois na maior parte dos casos, não se pode medir a actividade em termos monetários, mas sim efectuar uma análise dos custos incorridos e medir o grau de efectividade e satisfação dos utilizadores dos serviços.

Mella (2003) apresenta, num guia, como hierarquizar e relacionar as interrogações que têm de se fazer, de forma a elaborar adequadamente os indicadores de gestão, e que são: i) que actividades se efectuam; ii) o que é que se quer avaliar; iii) quem é o destinatário ou utilizador da informação; iv) qual a periodicidade da avaliação; v) quais são os

standards e vi) qual a tolerância definida.

De acordo com Corral e Urieta (2001), esta nova gestão pública obriga a passar duma perspectiva de administrar seguindo instruções, para a perspectiva de gerir e obter resultados, pelo que, para se atingirem estas novas metas, a gestão pública deve adaptar- se à utilização de técnicas e ferramentas habitualmente utilizadas pelo sector privado, tais como, o uso generalizado de indicadores estratégicos e de gestão, necessárias para a avaliação do grau de consecução dos objectivos planeados.

Neste contexto, salienta-se a importância dos indicadores de gestão e a forma como estes devem ser apresentados aos diferentes utilizadores, com o objectivo de analisar,

20 Segundo Fernandes e Guzmán (2003), os indicadores de gestão, são meios através dos quais se pode

declarar a informação relativa aos objectivos de uma organização, à actuação que leva a cabo para atingir esses objectivos, os recursos que consome e que obtém em consequência dessa actividade e ainda, realizar uma avaliação e acompanhamento periódico da situação e do desempenho organizacional.

36 avaliar e comparar a eficácia, eficiência e sustentabilidade económica e, simultaneamente, apoiarem a gestão. Por outro lado, deve haver uma conciliação entre estes indicadores e aqueles que são apresentados no Quadro de Avaliação e Responsabilização (QUAR), imposto pelo Sistema de Avaliação do Desempenho dos Serviços da Administração Pública (SIADAP).21

De acordo com Marques e Almeida (2005) a gestão só pode ser feita havendo uma monitorização e o controlo respectivo. No mesmo sentido, Mella (2003), considera que a gestão de qualquer entidade pública, pelo facto de ter de reger-se pelos princípios de eficiência22, eficácia23 e de economia24, torna obrigatória a implementação de técnicas de gestão capazes de os avaliar.

No que respeita à Qualidade, a actuação dos serviços públicos depende da qualidade das políticas e estratégias definidas nesta área, necessitando assim do empenho e apoio dos políticos, do envolvimento dos colaboradores, dos dirigentes e do público em geral (Ancarani e Capaldo, 2001; Carapeto e Fonseca, 2006). Por outro lado, partindo do pressuposto que a governação não é neutra, antes incorpora escolhas, representando opções entre conflitos de interesses, então o juízo de valor sobre a qualidade da acção pública estará, assim, condicionado pelo conjunto dos interesses em jogo (Sampaio et

al., 2011).

Na opinião dos mesmos autores, Qualidade e gestão não são a mesma coisa, mas têm de ser encaradas de forma conjunta. No âmbito da Administração Pública espera-se da gestão a garantia de um adequado cumprimento da missão de Serviço Público, de acordo com a envolvência conjuntural e com as opções de política, o que significa uma

21 Este assunto será desenvolvido no capítulo 3.

22Sendo o grau de eficiência obtido pela relação entre os recursos consumidos e os bens e serviços

produzidos. O grau de eficiência de actuação de uma instituição será dado pela relação entre os recursos consumidos e os bens e serviços que se produzem (Fernandes, 2000). Ou segundo Caiado e Pinto (2001), é o máximo de rendimento com o mínimo de dispêndio.

23A eficácia é medida, pelo grau de cumprimento dos objectivos previamente fixados e incluídos na sua

missão.

24Economia é a operação que consome os recursos necessários em qualidade e quantidade ao menor custo

37 pertinente e eficaz acção, com uma eficiente utilização dos recursos disponíveis, concretizando objectivos de adequação, eficácia, qualidade e eficiência.

Como visto no capitulo anterior, podemos definir Qualidade como o conjunto das propriedades inerentes aos produtos e serviços disponibilizados que permitem a satisfação dos seus stakeholders, de acordo com os respectivos requisitos de exigência. No entanto, não existe Qualidade sem uma boa gestão, mas uma boa gestão não se esgota em produtos ou realização de serviços com qualidade, não os podendo, todavia, dispensar (Sampaio et al., 2011).

No documento ISABEL MARIA RIBEIRO DA FONSECA DIAS (páginas 50-53)