Capítulo I Disposições gerais
2. A gestão dos recursos faunísticos obedece aos princípios previstos nos artigos 5º e 54º, com as necessárias adaptações.
Artigo 123.º Obrigações do Estado
São obrigações do Governo no domínio dos recursos faunísticos:
a) Assegurar o uso sustentável e a gestão integrada dos recursos faunísticos;
b) Adoptar e assegurar a aplicação de legislação sobre caça e sobre o comércio de
produtos da caça;
c) Assegurar a adopção de medidas de ordenamento faunístico e das medidas de
ordenamento florestal e do território com elas relacionadas e garantir a sua execução;
d) Aprovar os planos faunísticos nacionais;
e) Assegurar que seja realizada a inventariação e classificação do património
faunístico e genético e a avaliação periódica do estado destes recursos;
f) Assegurar a definição das espécies da fauna selvagem que podem ser caçadas
em cada período;
g) Prevenir os riscos de a sustentabilidade dos recursos faunísticos e da sua
diversidade biológica ser prejudicada por excesso de caça ou por degradação de habitats;
h) Adoptar as medidas de incentivo à criação de fazendas de pecuarização com
vista a contribuir para o repovoamento faunístico e a gestão sustentável dos recursos faunísticos;
i) Assegurar a coordenação institucional, em especial no que respeita à
compatibilidade das medidas de gestão de recursos faunísticos com as medidas de ordenamento do território e florestal e de gestão de recursos hídricos, bem como com o exercício de actividades económicas com impactos na sustentabilidade dos recursos;
j) Assegurar o financiamento do sistema de conservação e gestão de fauna
selvagem;
k) Assegurar a participação dos cidadãos na preparação das decisões sobre fauna
l) Assegurar a fiscalização das actividades económicas relativas a recursos
faunísticos;
m) Assegurar a cooperação com outros Estados na protecção dos recursos
faunísticos, em especial no que respeita à gestão conjunta de recursos partilhados, à conservação de espécies migratórias e à compatibilização das medidas de conservação e ordenamento a nível nacional com as medidas tomadas por outros Estados ou organizações subregionais, regionais e/ou mundiais;
n) Assegurar a cooperação com outros Estados na prevenção, fiscalização e
repressão do actividades ilícitas relativas aos recursos faunísticos, em especial o tráfico ilegal de espécies protegidas.
Artigo 124.º
Dos recursos faunísticos partilhados
O Governo deve assegurar a cooperação com os países limítrofes na gestão de recursos faunísticos e seus habitats partilhados e na prevenção, fiscalização e repressão de actividades ilícitas, em especial de caça e de comércio ilegal, nos termos da legislação dos países interessados.
Artigo 125.º
Das espécies migratórias
O Estado deve assegurar a conservação das espécies migratórias da fauna selvagem terrestre e de habitats adequados nas suas rotas de migração, nos termos estabelecidos nos planos de ordenamento faunístico.
Artigo 126.º
Ordenamento faunístico
O uso e gestão dos recursos faunísticos, incluindo a concessão ou reconhecimento de direitos sobre recursos do domínio público, devem obedecer ao que vier estabelecido nas medidas de ordenamento faunístico previstas na presente lei e seus regulamentos e na legislação sobre ordenamento do território.
Artigo 127.º
Regimes de autorização prévia
A realização de actividades económicas relativas a recursos faunísticos, em especial a caça, está sujeita a controlo pelos organismos competentes do Estado segundo regimes de contrato de concessão, declaração prévia e licença de exercício de actividades, nos termos definidos nesta lei e seus regulamentos.
Artigo 128.º
Avaliação de impacte ambiental
No caso de projectos que tenham implicações significativas na sustentabilidade dos recursos faunísticos, nos seus habitats ou na sua diversidade biológica, bem como nos interesses das comunidades locais, não serão celebrados os contratos ou emitidas as autorizações previstos nesta lei sem que seja previamente realizada, pelo organismo competente do Estado, avaliação de impacto ambiental nos termos da legislação em vigor e desta lei e seus regulamentos.
O disposto no número anterior é ainda aplicável a projectos de grande dimensão relativos a coutadas e fazendas de pecuarização, nos termos a definir em regulamento.
Artigo 129.º
Sistemas de registo de direitos sobre recursos faunísticos
O Ministério que superintende o sector florestal deve organizar o registo dos direitos sobre recursos faunísticos, quer o registo dos direitos de caça quer dos direitos exploração de coutadas ou de fazendas de pecuarização.
Secção II
Do ordenamento faunístico
Artigo 130.º
Finalidades do ordenamento
O ordenamento faunístico visa a prossecução das finalidades e a realização dos princípios estabelecidos na presente lei e seus regulamentos, em especial a conservação e uso sustentável dos recursos faunísticos.
Artigo 131.º
O ordenamento faunístico rege-se pelos princípios estabelecidos nos artigos 5º e 54º da presente lei.
Artigo 132.º
Medidas de ordenamento faunístico
São medidas de ordenamento faunístico:
a) A classificação das espécies nos termos dos artigos 7º, 15º a 19º e no número 3
do artigo 137º;
b) A elaboração e execução de planos faunísticos nacionais e de planos de gestão
por espécies da fauna selvagem, incluindo espécies migratórias, e por ecossistemas terrestres;
c) A elaboração e execução de planos de repovoamento faunístico e de
desenvolvimento de coutadas e fazendas de pecuarização;
d) A elaboração das listas dos ecossistemas e espécies terrestres em extinção,
ameaçados de extinção ou vulneráveis e elaboração e execução das medidas necessárias à sua regeneração;
e) A determinação dos períodos de defeso;
f) A determinação das quantidades anuais das diferentes espécies e subespécies
de recursos faunísticos que podem ser objecto de caça e a sua desagregação por províncias, tipos de caça e quotas de titulares de direitos de caça;
g) A definição dos tamanhos, sexo e idade das diferentes espécies que podem ser
caçadas;
h) A definição dos métodos e tecnologias a serem utilizados nas actividades
relativas a recursos faunísticos, em especial na caça;
i) A definição de zonas de caça;
j) O licenciamento das actividades e a concessão ou reconhecimento de direitos
relacionados com usos de recursos faunísticos;
k) As medidas de incentivo às actividades de povoamento e repovoamento
l) As medidas de incentivo às empresas angolanas que se dediquem à exploração
faunística sustentável e à prossecução de outros objectivos previstos na presente lei;
m) Os planos de emergência para fazer face a situações imprevistas que ponham
em perigo a fauna selvagem, em especial de combate a incêndios florestais;
n) A promoção da formação profissional dos diversos intervenientes nas
actividades relativas a recursos faunísticos;
o) A definição de regras de segurança e higiene no trabalho específicas do sector
faunístico;
p) O acompanhamento e avaliação do estado dos recursos faunísticos;
q) As medidas de investigação científica de base e aplicada sobre a fauna
selvagem e seus ecossistemas;
r) A promoção de formas de concertação social, em especial com os caçadores e
empresas que se dediquem a actividades de aproveitamento de recursos faunísticos, com as associações profissionais e de defesa do ambiente interessadas, bem como as organizações comunitárias, com vista a assegurar a realização dos objectivos do ordenamento.
Artigo 133.º Planos faunísticos
Os planos faunísticos são parte integrante dos planos florestais e obedecem ao disposto nos artigos 67º e seguintes, com as necessárias adaptações.
Artigo 134.º
Conteúdo dos planos faunísticos
Os planos faunísticos têm o conteúdo que vier a ser definido em regulamento. O conteúdo e execução do plano de exploração faunística a que se refere o número 7 do artigo 67º, bem como o conteúdo do respectivo relatório de execução anual, obedecem às normas que vierem a ser definidas em regulamento.
Secção III
Dos direitos de uso dos recursos faunísticos
Artigo 135.º
Finalidades do uso de recursos faunísticos
O uso dos recursos faunísticos tem, para além dos objectivos definidos nos artigo 13º e 53º, os seguintes objectivos específicos:
a) Contribuir para a segurança alimentar a para a satisfação de necessidades
básicas dos cidadãos;
b) Contribuir para o desenvolvimento económico e social do País, em especial das
zonas rurais, pela geração de emprego e de rendimentos;
c) Assegurar a utilização óptima e sustentável dos recursos faunísticos.
Os recursos faunísticos do domínio público podem ser utilizados para os seguintes fins:
a) Subsistência;
b) Investigação científica; c) Exploração faunística;
d) Turismo e recreação;
e) Prevenção e controlo de doenças por razões de saúde pública humana ou
animal.