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APOIO À INOVAÇÃO POR INSTITUTOS PÚBLICOS DE PESQUISA: LIMITES E POSSIBILIDADES LEGAIS DA

4 HIPÓTESES DA PESQUISA E ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS 4.1 Hipóteses da pesquisa

5 LIMITES E POSSIBILIDADES DO APOIO DAS ICTS SELECIONADAS A ATIVIDADES DE INOVAÇÃO

5.4 Gestão de recursos humanos

Recursos humanos são uma questão central na condução de projetos de inovação por ICTs. O envolvimento do corpo técnico de ICTs em atividades de inovação é fundamental no atendimento à demanda de empresas no desenvolvimento de novas tecnologias. A consultoria prestada por técnicos e pesquisadores de institutos de pesquisa é uma das principais demandas por apoio à inovação levadas por empresas a institutos de pesquisa, pois, em geral, empresas que buscam o apoio dessas instituições para o desenvolvimento de novos produtos ou processos têm interesse em acessar o conhecimento específico desses profissionais na solução de seus problemas tecnológicos.

Por sua vez, apesar de tal apoio estar previsto na Lei de Inovação, ou seja, ser permitido ao servidor ou colaborador público envolver-se nesse tipo de atividade, um dos principais desafios da instituição que recebe tal demanda diz respeito à disponibilização desses profissionais nessas atividades de caráter pontual e esporádico, tendo em vista que seu corpo técnico tende a já estar previamente comprometido com suas respectivas atividades de caráter contínuo. Assim como acontece com a gestão de recursos financeiros, a capacidade de alocar recursos humanos adicionais (além daqueles já comprometidos com as atividades finalísticas) é fundamental para o envolvimento das ICTs em atividades de apoio à inovação.

No caso das ICTs públicas, a contratação de seus recursos humanos está condicionada à realização de concursos, conforme previsto na Lei no 8.112/1990, que dispõe sobre o regime jurídico das instituições públicas federais. Tendo em vista a dificuldade em realizar novos concursos para contratação de recurso humano adicional para atender às demandas por novos projetos de inovação, as instituições entrevistadas informaram ser necessário alocar recurso humano externo na realização de tais projetos, seja por intermédio de suas fundações de apoio, seja via contratação de bolsistas de agências de fomento.

A maior parte das ICTs públicas entrevistadas, incluindo INT, Cetem, CBPF, ON e Inpe, contrata bolsistas para complementarem seus quadros técnicos visando ao atendimento a demandas por atividades de inovação. Tais bolsas fazem parte do

26. Para uma análise mais aprofundada sobre as discussões na revisão do marco legal da inovação relacionadas ao Artigo 10 da Lei de Inovação, ver Rauen (2016).

Programa de Capacitação Institucional (PCI), instituído pela Portaria MCTI no

745/2011, que designa recursos do orçamento de bolsas de fomento tecnológico do CNPq para a contratação de bolsistas destinados à realização de atividades de pesquisa em seus institutos. O PCI tem como um de seus principais objetivos “ampliar e melhorar os serviços técnico-científicos oferecidos pelos institutos de pesquisa subordinados, vinculados e supervisionados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação” (Brasil, 2011). Trata-se, portanto, da contratação temporária de recursos humanos complementares ao quadro de servidores (concursados) dos institutos, voltados à execução de atividades de pesquisa não rotineiras.

Além das bolsas, as instituições entrevistadas mencionaram a prática comum de contratação, via fundação de apoio, de profissionais para participarem de atividades e projetos de inovação. Nessa situação, o vínculo é estabelecido com a fundação de apoio e seu pesquisador ou técnico é designado a realizar atividades nos laboratórios e nas unidades específicas das ICTs. De acordo com entrevistados do Inpe, a maior parte da mão de obra alocada em projetos de inovação nesse instituto provém de contratações intermediadas por sua fundação de apoio, a Funcate. Para se ter uma ideia da dimensão desse perfil de contratação, os entrevistados do Inpe informaram que 80% dos recursos humanos do LIT, seu principal laboratório, são contratados pela Funcate.

A contratação de recursos humanos voltados à execução de atividades de apoio à inovação por ICTs também é um tema que suscita questionamentos por consultorias jurídicas e órgãos de controle. De acordo com os entrevistados do Inpe e do DCTA, esses institutos têm dificuldade em alocar recurso humano externo para trabalhar em projetos de inovação, pois a consultoria jurídica que os assessora orienta que a atividade-fim de institutos de pesquisa deve ser realizada pelo corpo funcional da instituição, contratados, portanto, via concurso público, conforme estabelecido na Lei no 8.112/1990. De acordo com entrevistados, o DCTA não possui recurso humano externo contratado via Funcate atuando em seus projetos de inovação. Os recursos humanos externos que o DCTA possui são, em geral, bolsistas de projetos tecnológicos contemplados por editais de fomento, em especial da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), que acabam trabalhando em parceria com as equipes dos laboratórios por tempo determinado.27

Os entrevistados das demais instituições que fizeram parte desta pesquisa afirmaram não ter havido qualquer questionamento jurídico até o momento sobre a conduta de alocação de recurso humano externo em atividades de apoio à inovação, sendo que aquelas atendidas pela Consultoria Jurídica da União no Estado do Rio de Janeiro mencionaram que ela tende a não se posicionar de forma desfavorável

27. Por não ser uma unidade de pesquisa do MCTI, o DCTA não faz parte do PCI; portanto, não pode solicitar bolsas para contratação de profissionais inseridas nesse programa.

à questão, apoiando-se na interpretação de que a abertura de concursos públicos visando à contratação de recursos humanos para o atendimento a demandas pontuais e temporárias de projetos de inovação poderia ferir o princípio da eficiência da administração pública (Brasil, 1988, Artigo 37).

Por sua vez, além do questionamento apontado por sua consultoria jurídica, a alocação de recursos humanos externos nas atividades finalísticas conduzidas pelos laboratórios do Inpe foi objeto de acórdão do TCU. Nele, o tribunal delibera pela ilegalidade da contratação de pessoal via fundação de apoio para a execução desse tipo de atividade “por constituir burla ao instituto do concurso público” (Brasil, 2014b). Além disso, a auditoria do TCU identificou que os profissionais contratados pela Funcate exercem trabalhos similares aos de tecnologistas do plano de carreiras do MCTI, o que representaria terceirização indevida da atividade-fim do Inpe.

Além da dificuldade de terem acatadas pelo MCTI e pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) suas solicitações para a realização de novos concursos públicos com vistas a suprir suas necessidades de recursos humanos, os entrevistados concordam que, no atendimento a demandas pontuais e temporárias de atividades de inovação, concursos públicos não são a melhor forma de contratação de pessoal. Além disso, na visão deles, esse modelo de seleção não é o ideal para provisão de recursos humanos em áreas de pesquisa e inovação, pois, em geral, não se consegue selecionar o perfil de profissional adequado para a condução ou continuidade das atividades previstas.

Observa-se que a alocação de recursos humanos no atendimento às demandas pontuais, de prazo determinado e de caráter específico de atividades de inovação é um desafio aos institutos públicos de pesquisa, que contam com um baixo quan-titativo de técnicos e pesquisadores, em geral já comprometidos com as atividades finalísticas de caráter contínuo das instituições.

Os achados das entrevistas mostraram que a prática adotada visando à supera-ção desses desafios sem prejudicar o atendimento às demandas empresariais (papel das ICTs, conforme estabelecido na Lei de Inovação) é a da contratação temporária de pessoal especializado, seja de forma direta, por meio de bolsas do PCI, seja de forma indireta, via fundações de apoio autorizadas ou credenciadas.

Os questionamentos e as diferentes interpretações de consultorias jurídicas e órgãos de controle sobre a legalidade da prática de contratação de recurso humano via fundações de apoio conferem um componente adicional na insegurança jurídica da interação ICT-empresa, que pode ser prejudicial para a continuidade, no curto prazo, do atendimento por ICTs às demandas privadas por apoio ao desenvolvimento de novas tecnologias, produtos ou processos. Apesar de ter promovido avanços em pleitos antigos, como a alteração do limite do número de horas de dedicação de

professores em atividades de inovação,28 a revisão do marco legal não promoveu avanços na temática da alocação de recurso humano contratado nessas atividades.

Certamente, a solução a essa questão não poderia residir exclusivamente no entendimento de que, para cada demanda empresarial levada a ICTs que esbarrasse em restrições de recurso humano interno, fosse realizado um novo concurso público. Tampouco poderíamos nos amparar exclusivamente no recurso de que todas as contratações adicionais de técnicos e pesquisadores se valessem de prerrogativas de contratações indiretas via fundações de apoio, pois isso enfraqueceria a carreira dos quadros técnicos dessas instituições.

Dessa forma, no que diz respeito à contratação de pessoal especializado, é importante que se encontre um equilíbrio entre as contratações de recurso humano externo para projetos e atividades de inovação (desejáveis, haja vista o caráter pontual e temporário dessas atividades), sem que isso leve a um indesejável, senão ilegal, processo de substituição permanente de servidores das carreiras de instituições de pesquisa no Brasil.

A próxima subseção apresenta os achados de pesquisa relacionados aos mecanismos de incentivo previstos na lei para o engajamento de pesquisadores e técnicos de ICTs em atividades de inovação, como eles têm sido adotados nas instituições entrevistadas e quais são seus impactos no sentido de promover maior interação entre essas instituições e empresas.

5.5 Mecanismos de incentivo para o engajamento de servidores públicos