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2.4 Vegetação Urbana e a Ocupação do Solo nas Cidades

2.4.3 Gestão da Vegetação Urbana

No ambiente urbano as principais áreas de desenvolvimento da vegetação são os parques, jardins, quintais e vias públicas, porém com o crescimento das cidades ocorre a valorização do solo que força a uma redução de áreas ocupadas pela vegetação, principalmente, nas áreas particulares. Por outro lado, as áreas públicas como calçadas, parques e ruas se tornam as áreas de referência para garantir a expansão e qualidade da vegetação urbana.

Como resultado do reconhecimento da importância da vegetação urbana e o papel decisivo das áreas públicas, tem se tornado cada vez mais comum a formação de equipes específicas, legislações e guias que buscam garantir a manutenção e a implantação da vegetação nessas áreas. A vegetação urbana como parte do dinamismo urbano, se apresenta como um dos elos mais frágeis ao desenvolvimento das cidades por ser facilmente modificado e apresentar uma lenta recuperação. Os desmatamentos urbanos impulsionados pela especulação imobiliária ou por ocupações clandestinas demonstram a fragilidade ambiental que as áreas verdes urbanas apresentam, pois em poucas horas importantes áreas podem ser derrubas antes que a burocracia do Estado possa garantir a sua proteção. Infelizmente após o desmatamento as áreas se tornam extremamente vulneráveis as constantes invasões ou medidas escusas da gestão pública ou judiciárias onde, áreas muitas vezes até então protegidas, se tornam disponibilizadas para grandes empreendimentos imobiliários. A questão se agrava ao relacionarmos que a perda dessas áreas provavelmente nunca mais será recuperada, pois não haverá novas áreas para substituírem as perdidas e o crescimento das cidades favorece a ocupação contínua do solo e assim a sua impermeabilização.

2.4.3.1 Áreas Verdes

As áreas públicas são, na maioria das grandes cidades, as mais importantes quanto a questão de vegetação urbana, porém é necessário qualificar essas áreas de forma mais objetiva garantindo assim o reconhecimento da relevância específica delas como recursos naturais. De acordo com Zanim et al (2007) as “áreas verdes” em uma cidade podem ser consideradas como áreas livres, de uso público e que apresentam uma vegetação arbustiva ou arbórea. Restringir o porte da vegetação ao se considerar “áreas verdes” se deve ao fato da forte presença de gramados nas cidades. De acordo com Attwell (2000) apud MOURA; NUCCI (2005) as áreas gramadas podem ser consideradas “desertos verdes” devido a sua baixa diversidade, dispendiosa manutenção além dos limitados benefícios quando comparada a vegetação de maior porte. De acordo com Mascaró (2005) apud COSTA; FERREIRA (2006) o termo “área verde” define a formação de áreas por indivíduos arbustivos ou arbóreos nativos e com função de perpetuar a espécie com coerência ambiental e a serviço da população. Segundo Demattê (1997), Llardent (1982) e Nucci (2001) apud HARDER et al (2006) as áreas verdes devem está relacionadas a recreação e saúde na forma de parques, jardins ou praças.

Contudo, como já ressaltado nas grandes cidades a capacidade de implantação de grandes áreas verdes está muito limitada, por isso têm se buscado conciliar a implantação de áreas verdes menores, porém em maior número como forma de reduzir a escassez dessas áreas. Outra importante medida que deve ser aplicada para proteger e ampliar as áreas verdes urbanas é a manutenção e proteção das Áreas de Preservação Permanente – APP – que são áreas protegidas por lei em torno dos corpos hídricos (JESUS; BRAGA, 2005).

2.4.3.2 Etapas de planejamento da gestão de áreas verdes

O dinamismo no crescimento das cidades gera uma metamorfose contínua da paisagem urbana. O Estado deve acompanhar e balizar essa dinâmica de forma a garantir o ordenamento desse crescimento aplicando normas ao desenvolvimento das cidades para o benefício da sociedade e proteção ao meio ambiente para garantir a qualidade de vida almejada pela sociedade.

A vegetação urbana, pela sua multi-interação com os outros elementos da paisagem urbana, demanda a formação de um planejamento que almeje a concepção, implantação, manutenção e gestão (Jesus; Braga, 2005). As etapas de formação de um plano de gestão da vegetação urbana (quadro 9) busca garantir interação harmoniosa com outros projetos em paralelo como os de sistemas de transportes viários, drenagem urbana e redes de cabos aéreos e subterrâneos.

Cada etapa é fundamental, pois apresenta sua função específica para garantir um projeto que gere uma resposta positiva aos anseios do Estado e, principalmente, da sociedade.

QUADRO 09 – Etapas para o planejamento da Gestão da Vegetação Urbana

ETAPAS PARA O PLANEJAMENTO DA GESTÃO DA VEGETAÇÃO URBANA

Concepção Implantação Manutenção Gestão

Busca definir o modelo ser implantado. Definirá área, tipo de vegetação e projetos paisagísticos. Implanta o projeto, se adequando a realidade. Garanti a manutenção do projeto dentro do pré-estabelecido. Contínua adequação do projeto a novos cenários buscando obter os resultados.

Assim, é possível obter resultados positivos para as principais qualidades (figura 2.15) que garantem a presença e manutenção de áreas verdes úteis à melhoria da qualidade de vida da população.

Fonte: Jesus; Braga, 2005.

FIGURA 2.15 – Fluxograma de planejamento da gestão de áreas verdes urbanas

2.4.3.3 Índice de Área Verde (IAV) e o Percentual de Área Verde (PAV)

Mensurar as áreas verdes no que concerne a sua representatividade na qualidade de vida dos moradores das cidades é complexo e dispendioso. De acordo com Oliveira (1996) apud HARDER (2006) algumas metodologias buscam gerar um inventário da vegetação

urbana com o cadastramento do número de indivíduos arbóreos ou a avaliação das condições fitossanitárias da vegetação, por outro lado existem aqueles que se preocupam com a avaliação da utilização do espaço pelo público, do perfil dos usuários e dos aspectos perceptivos em relação à arborização.

Porém é necessário ir além da quantificação de indivíduos ou a forma de utilização dos espaços verdes, para isso qualificar os conjuntos de áreas verdes nas cidades de forma que se obtenha a perspectiva da dimensão da relação do meio natural e construído. Como forma de tentar identificar a penetração do meio natural no ambiente construído são aplicados índices que buscam representar numericamente o equilíbrio entre o tamanho das cidades e as áreas verdes, sendo esses dependentes ou independentes da demografia. Dois índices têm amplo destaque na literatura de referência sobre vegetação urbana: IAV (índice de áreas verdes) e o PAV (percentual de áreas verdes).

O IAV é um indicador dependente de fatores demográficos que leva em consideração áreas de acesso livre e com funções sociais e de lazer, funcionando como um dos indicadores da qualidade de vida de uma determinada região. O índice de forma simplificada é formado a partir da relação em termos de superfície de área verde/habitante, sendo representado pela seguinte fórmula desenvolvida por Costa e Ferreira (2006) (eq. 3):

O IAV pode ser representado de forma mais refinada ao se aplicar áreas de influência ao tipo de vegetação, assim obtendo resultados mais precisos na área em estudo.

O PAV constitui-se um indicador de qualidade ambiental independente de fatores demográficos, e inclui a vegetação tanto arbórea/arbustiva, quanto a vegetação de porte herbáceo. O PAV representa o percentual do solo ocupado pela arborização, sendo representado pela seguinte fórmula desenvolvida por Costa e Ferreira (2006) (eq. 4):

superfície de áreas verdes (eq. 3) IAV = ---

Dependendo da necessidade técnica ou do tipo de trabalho a ser realizado é possível variar esses índices de modo a obter resultados referentes a casos específicos como em Zanin et al (2007) que aplicou índices sobre Índice de Áreas Verdes Públicas (IAVP) e Harder et al (2006) que aplicou sobre as praças da cidade de Vinhedos -SP.

Em áreas com elevada declividade se deve observar com atenção a diferença de projeções entre áreas planas e inclinadas para reduzir a subestimativa nos resultados nas áreas projetadas.

Os resultados obtidos da aplicação do índice PAV permitiram identificar quais proporções quantitativas de áreas verdes nas cidades garantem um ambiente mais favorável aos moradores citadinos. O valor de PAV tido como adequado por diversos autores de acordo com Moura; Nucci (2005) varia em torno de 30% de área verde nos centros urbanos. Como já enfatizado, esse valor só poderá ser válido se for garantida que essa distribuição seja homogênea na cidade, principalmente, de espécimes arbóreos e arbustivos e que haja cobertura permeável sob as copas.

A utilização desses índices não pode ser considerada de forma indiscriminada como comparativo para qualquer área, pois os valores obtidos estão relacionados as características intrínsecas de cada área, assim se deve partir da caracterização da área para identificar as potencialidades.

Por outro lado, aplicação do IAV no Brasil se apresenta problemática ao apregoar um valor para o IAV de 12 m2 por habitante a partir de dados da UNO, FAO, OMS ou PNUMA de forma arraigada entre discussões e mesmo em trabalhos científicos sobre a questão, porém Cavalheiro; Del Picchia (1992) apud Harder et al (2006) e Jesus; Braga (2005) afirmam que não há valores fixos defendidos por tais instituições quanto a área mínima verdes para cada cidadão na área urbana.

(AV+A+PÇ+PQ+B) (eq.4) PAV = ---

Área da Região Urbana Onde: AV = áreas verdes A = arborização PÇ = praças PQ = parques B = bosques