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CAPÍTULO V – RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.3 CONDIÇÕES DE SAÚDE E SEGURANÇA

5.3.1. Ginástica laboral e a moldagem

Observamos que em muitas empresas a adoção de programas de atividades físicas executadas por seus funcionários - colaboradores, trabalhadores – que objetivam uma melhora na

disposição para o trabalho, prevenção de doenças relacionadas ao mesmo, assim como diminuições das dores, reestruturação de posturas inadequadas durante e após as ações laborais. Para tanto, novas práticas de gestão foram implementadas, estando entre elas a preocupação, estruturação e efetivação de programas como a Ginástica Laboral que almejavam a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores (BARRETO & MARTINS, 2007).

Em muitas empresas essa atividade é adotada, principalmente visando benefícios à saúde do trabalhador e também o aumento da produtividade nas organizações. No entanto, essa prática que deveria auxiliar no bom desempenho do trabalhador, pode se tornar fonte de estresse e insatisfação (ALEVATO, 2005).

A maioria dos entrevistados, trinta deles, contou que não faziam nenhuma atividade física prévia a atividade laboral. Vinte e nove, desses trinta, contaram que a usina para a qual trabalham não exigia que seus trabalhadores fizessem a chamada ginástica laboral, portanto não a realizavam. E um dos trabalhadores que presta serviço para uma usina que tem a ginástica laboral (ou aquecimento, como a atividade é conhecida pelos trabalhadores) como atividade obrigatória, relatou que se recusava a realizá-la. O seu relato segue a seguir:

Eu num faço não, fica todo mundo lá se esticando, parece uns bobo... Não vou ficar lá igual bobo... Eu não gosto disso. Ai a usina me fez assinar um papel dizendo que eu não ia fazer, e eu assinei... Agora não sou mais obrigado a fazer (JOILSOM, 2010).

Cinco trabalhadores entrevistados contaram que costumam fazer alguns minutos de alongamento, por conta própria em suas residências, para sentirem-se melhor, e aquecerem-se antes do início do trabalho.

Faço de manhã, logo que acordo, me alongo, pra esticar os nervo (NELSOM, 2010)

E onze dos trabalhadores relataram que faziam a atividade antes de iniciarem o trabalho, pois essa atividade era de condição obrigatória. Desses onze trabalhadores, dois disseram que não gostavam da atividade, mas continuavam fazendo-a, pois caso recusassem, precisariam assinar um termo de responsabilidade, o qual isentariam o empregador de futuros contratempos, e isso lhes causavam uma preocupação, pois temiam futuras consequências.

A ação da usina de fazer com que os trabalhadores assinassem um termo de responsabilidade, isentando a contratante de eventuais problemas, era causa de um mal estar entre os contratados. Pois os trabalhadores, muitas vezes sem condições de interpretar o conteúdo do termo, manifestaram o temor de que isso os prejudicasse futuramente de alguma forma.

Em contrapartida, a usina usava a situação em seu favor, pois era de interesse da contratante que o trabalhador fizesse a ginástica laboral para que ele pudesse produzir mais e melhor, evitando distensões musculares causadas pelo trabalho.

Sabemos, como descrito por Barreto e Martins (2007), que essa atividade física tem inúmeros benefícios físicos para o trabalhador e consequentemente, o trabalhador estando em melhores condições físicas tende a trabalhar melhor, de modo que a produção tenderá a aumentar. Porém, esse termo tornou-se um instrumento do exercício do poder da organização, utilizado de forma coerciva.

Segundo Foucault (1979), um novo mecanismo de poder apóia-se mais nos corpos e seus atos do que na terra e seus produtos. É um mecanismo que permite extrair dos corpos tempo e trabalho mais do que bens e riqueza. É um tipo de poder que se exerce continuamente através da vigilância e não descontinuamente por meio de sistemas de taxas e obrigações distribuídas no tempo; que supõe mais um sistema minucioso de coerções materiais do que a existência física de um soberano. “Finalmente, ele se apóia no principio, que representa uma nova economia do poder, segundo o qual se deve propiciar simultaneamente o crescimento das forças dominadas e o aumento da força e da eficácia de quem as domina” (FOUCAULT, 1979, p. 188).

O domínio, a consciência de seu próprio corpo só puderam ser adquiridos pelo efeito do investimento do corpo pelo poder: a ginástica, os exercícios, o desenvolvimento muscular, nudez, a exaltação do belo corpo... tudo isto conduz ao desejo de seu próprio corpo através de um trabalho insistente, obstinado, meticuloso, que o poder exerceu sobre o corpo das crianças, dos soldados, sobre o corpo sadio. Mas, a partir do momento em que o poder produziu este efeito, como consequência direta de suas conquistas, emerge inevitavelmente a reivindicação de seu próprio corpo contra o poder, a saúde contra a economia, o prazer contra as normas morais da sexualidade, do casamento, do pudor. E assim, o que tornava forte o poder passa a ser aquilo por que ele é atacado... o poder penetrou no corpo, encontra-se exposto no próprio corpo... (FOUCAULT, 1979, p.146)

A próxima figura representa o local onde os trabalhadores eram deixados, antes de iniciarem as atividades laborativas, para realizarem as atividades físicas. O local ficava ao fundo do último ponto de ônibus em que os trabalhadores deviam aguardar para serem transportados. Quando o ônibus chegava ao local, todos os lavradores deviam descer e fazer a atividade física. Após a atividade, retornavam para o transporte e seguiam rumo ao local em que realizariam o corte da cana.

Figura 24: Foto ilustrativa do local em que os trabalhadores realizam a ginástica laboral.

Crédito: Aline Almussa

A maioria dos trabalhadores, que contou realizar a atividade relataram que sentiam-se bem e mais dispostos para a realização das atividades laborais. No entanto, há de se pensar no trabalhador que não se sente à vontade na atividade. Dessa forma, a atividade da ginástica laboral pode funcionar como estressor no ambiente de trabalho, deixando o trabalhador insatisfeito, e provocando um aumento de sua ansiedade (ALEVATO, 2005).