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1. Introdução

1.2. Ginkgo biloba

A árvore Ginkgo (Ginkgo biloba L.) é o único membro sobrevivente da família

Ginkgoaceae, família esta com origem no período Jurássico. Por esta razão, esta árvore

é considerada um fóssil vivo. Por ser distinta de todas as outras plantas vivas esta árvore insere-se na sua própria divisão, a Ginkgophyta. A Ginkgo biloba é dióica, pode crescer mais de 35 metros de altura e chegar a uma circunferência de até 10 metros. Além disto,

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é capaz de atingir idades superiores a mil anos. Esta árvore é um sobrevivente resiliente em ambientes poluídos, crescendo onde outras árvores sentem dificuldades. É excepcionalmente resistente a ataques por fungos e insectos. A descoberta de anterozóides móveis por parte de um botânico japonês fornece uma conexão crítica entre os ciclos de vida de plantas inferiores e superiores (Stromgaard e Nakanishi, 2004).

A Ginkgo biloba, sendo a árvore mais velha do Mundo, possui uma vasta história do seu uso na medicina tradicional chinesa. Os extractos das suas folhas têm sido usados desde o ano 3000 a.C. para o tratamento da asma e bronquites (Ritch, 2000). O seu uso foi descrito no livro de Liu Wen-Tai em 1505 e no Chinese Materia Medica por Pen Tsao Ching (1578) para o tratamento de sintomas de senilidade dos membros mais velhos da corte real chinesa (Stromgaard e Nakanishi, 2004; Thiagarajan et al, 2002).

O extracto de folha de Ginkgo biloba é actualmente o fármaco de origem vegetal mais vendido na Europa e um dos dez mais vendidos nos Estados Unidos da América (Stromgaard e Nakanishi, 2004; Sierpina et al, 2003). As preparações feitas com base nas suas folhas foram introduzidas no mundo ocidental por volta de 1965 pela companhia alemã Dr. Willmar Schwabe. Mais tarde, esta companhia em colaboração com a companhia francesa Beaufour-Ipsen desenvolveu o extracto de Ginkgo biloba padrão – o EGb761, utilizado em investigação científica e vendido em farmácias e parafarmácias (Stromgaard e Nakanishi, 2004).

O extracto de folhas de Ginkgo biloba possui mais de 60 compostos bioactivos sendo os principais os flavonóides, os glicosídeos, os terpenóides (ginkgolides e biobalide) e o ácido anacárdico (Thiagarajan et al, 2002; Ritch, 2000).

Os ginkgolides (A, B, C, J e M) e o biobalide são compostos exclusivamente encontrados na árvore Ginkgo biloba (Figura 3).

14 Figura 3: Estrutura de cinco ginkgolides e do bilobalide (Fonte: Stromgaard e Nakanishi, 2004).

O estudo dos efeitos dos componentes individuais do extracto de Ginkgo biloba é essencial para fornecer uma documentação científica completa dos seus potenciais efeitos terapêuticos. Mas além do contributo individual de cada composto os efeitos sinergéticos são um ponto importante a considerar. A biodisponibilidade destes compostos é também um parâmetro que deve ser tida em conta. Os flavonóides no extracto de Ginkgo biloba não são capazes de transpor a barreira hemato-encefálica ou, pelo menos, não em quantidade suficiente para exercer efeitos fisiológicos no sistema nervoso central. Já a biodisponibilidade dos ginkgolides e do biobalide é de 70 a 80%, com um tempo médio de vida de 3 a 5 horas. O carácter lipofílico destes torna-os permeáveis à barreira hemato-encefálica e por isto, a presença destas estruturas únicas é decisiva na concretização das melhorias associadas ao extracto de Ginkgo biloba (Stromgaard e Nakanishi, 2004).

Os ensaios com extracto de Ginkgo biloba são vários e permitiram descrever várias acções biológicas, nomeadamente: acção vasorreguladora com o aumento do fluxo sanguíneo, melhorias em casos de zumbidos de origem vascular, melhoria cognitiva, da resposta imunitária, protecção contra a apoptose celular, melhoria dos sintomas da doença de Alzheimer em fase inicial e atraso na progressão desta doença, alívio do stresse, efeitos antioxidantes, capacidade de antagonizar o receptor do factor de agregação plaquetária, inibição de episódios agudos de asma, inibição da formação de β-amilóide, melhorias em casos de depressão emocional, glaucoma, tonturas e dores de cabeça, acção reguladora genética, aumento da longevidade, efeito protector na progressão de retinopatias diabéticas (Ritch, 2000), neuroprotecção, efeitos positivos

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em casos de disfunção sexual secundária, doença das alturas e diminuição da vasoactividade em resposta ao frio, melhoria do metabolismo da glicose no cérebro, vertigens e melhoria dos sintomas congestivos da síndrome pré-mestrual (Stromgaard e Nakanishi, 2004; Thiagarajan et al, 2002; Sierpina et al, 2003; Ritch, 2000). O extracto de Ginkgo biloba tem também uma actividade antineoplásica tendo demonstrado um efeito anticlastogénico em estudos com vítimas do acidente nuclear de Chernobyl (Ritch, 2000).

Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) demonstram que, em 2010, 50 a 60% da população mundial com mais de 65 anos sofreu de alguma doença degenerativa. Informação de 2012 aponta já para a existência de 35,6 milhões de pessoas a sofrer de demência estimando-se que este valor duplique até 2030 e triplique até 2050. Para já os tratamentos existentes são pouco eficazes e vitalícios. Para já a OMS recomenda o uso de Ginkgo biloba na doença de Raynaud e síndrome pós flebítica (Sierpina et al, 2003). A primeira actividade biológica significativa dos ginkgolides foi descoberta em 1985 quando demonstraram ser potentes antagonistas do receptor do factor de agregação plaquetária (PAF) (Stromgaard et al, 2004). Os ginkgolides, nomeadamente o ginkgolide B, são responsáveis pela capacidade neuroprotectora, antioxidante, capacidade de captação de radicais livres e de relaxamento do endotélio. Os ginkgolides inibem também a formação de β-amilóide (Sierpina et al, 2003).

O factor de agregação plaquetária está envolvido na modulação de vários processos do sistema nervoso central e periférico. O PAF é produzido por basófilos, neutrófilos, monócitos, plaquetas e células endoteliais, e induz a agregação de neutrófilos, aderência e quimiotaxia. A sua presença aumenta a permeabilidade vascular, a libertação de lisossomas e a síntese de superóxido (Ritch, 2000).

Os níveis de PAF aumentam no Sistema Nervoso Central durante um trauma e nestes casos a acção dos antagonistas do PAF é reduzir o dano neuronal pela limitação do aumento da concentração de iões cálcio induzido pelo PAF. Os inibidores do PAF diminuem o tamanho do enfarte cerebral e aumentam a recuperação da actividade metabólica cerebral após isquemia. (Stromgaard e Nakanishi, 2004; Ritch, 2000). O potencial problema clínico mais importante que envolve a ingestão de Ginkgo biloba está precisamente relacionado com a sua capacidade de inibição do factor de activação

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plaquetária. Posto isto, o uso desta planta medicinal não deve ser concomitante com a ingestão de outros agentes antiplaquetários (Sierpina et al, 2003).

Os ginkgolides A, C e J, mas principalmente o ginkgolide B são antagonistas dos receptores da glicina (GlyRs). Os ligandos dos GlyRs, como moduladores da sua função podem ser usados como relaxantes musculares, agentes sedativos e analgésicos (Stromgaard e Nakanishi, 2004).

Os ginkgolides, particularmente os GA e GB são ainda moduladores da acção dos receptores benzodiazepínicos periféricos (PBR). A função dos PBRs relaciona-se com a proliferação celular, stresse e desordens de ansiedade. Em casos de desordens neurodegenerativas e após danos cerebrais ocorre um aumento no número de PBRs. O efeito neuroprotector dos GA e GB prende-se com a inibição da expressão de PBRs (Stromgaard e Nakanishi, 2004).

Relativamente à sua capacidade antioxidante, os estudos demonstram que o extracto de

Ginkgo biloba protege os neurónios cerebrais expostos a stresse oxidativo induzido por

espécies reactivas de oxigénio: o pré-tratamento destes com Ginkgo biloba prolonga a sua sobrevivência após exposição a um agente indutor de stresse como o peróxido de hidrogénio. O seu potencial antioxidante é comparável ao do ácido ascórbico, glutationa e alfa-tocoferol. Este extracto é um eficaz captador de radicais peroxilo e superóxido além de conseguir captar o óxido nítrico e inibir a sua produção, impedindo a oxidação da oxihemoglobina (Ritch, 2000).

O extracto de Ginkgo biloba preserva também o metabolismo mitocondrial e a produção de ATP em vários tecidos e previne alterações morfológicas e os índices de dano oxidativo associado ao envelhecimento mitocondrial (Ritch, 2000).

Sabe-se que o extracto de Ginkgo biloba tem um importante efeito protector contra os danos causados por radicais livres ao nível da peroxidação lipídica em vários tecidos e sistemas experimentais. A este nível a sua acção prende-se com o aumento dos níveis de GSH e da actividade da GSSG reductase (Ritch, 2000).

Alguns estudos clínicos realizados com o extracto de Ginkgo biloba demonstraram a sua eficácia contra o choque séptico induzido por bactérias Gram-negativas e em casos de falha renal pós-transplante (Stromgaard e Nakanishi, 2004).

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O extracto de Ginkgo biloba melhora o fluxo sanguíneo cerebral e periférico, um efeito que tem sido atribuído à fracção não flavonóide. Ocorre ainda a diminuição da viscosidade do sangue e o aumento da deformabilidade dos eritrócitos. Pacientes com doença cardíaca coronária, hipertensão, hipercolesterolemia e diabetes têm melhorado os níveis de fibrinogénio e a viscosidade do plasma após tratamento com este extracto. Este inibe ainda a formação do trombo arterial (Ritch, 2000).

A Ginkgo biloba e o bilobalide inibem a redução, in vitro, da quantidade de ATP, nas células endoteliais, induzida por hipoxia e atrasa o início da glicólise. Suprime ainda o colapso na membrana induzido por hipoxia no cérebro (Ritch, 2000).

O extracto de Ginkgo biloba é útil no tratamento do fenómeno de Raynaud, que ocorre em resposta à hipotermia ou stresse emocional.A Gingko biloba é capaz de aumentar a captação de glucose e a síntese de glicogénio nas células do músculo liso arterial (Ritch, 2000). Os ginkgolides têm efeitos cardioprotectores, sendo o GA o composto mais efectivo (Stromgaard e Nakanishi, 2004).

O bilobalide (BB) modula os principais neurotransmissores do cérebro (glutamato e ácido γ - aminobutírico (GABA)). Exibe também uma actividade anticonvulsiva (Stromgaard e Nakanishi, 2004).

Mas os estudos que utilizam o extracto de Ginkgo biloba estão, neste momento, muito voltados para a sua potencial utilização no tratamento da doença de Alzheimer. Os tratamentos com base nesta planta medicinal permitiram o abrandamento do desenvolvimento dos sintomas cognitivos desta demência e a regressão de certos aspectos cognitivos nos doentes foi atrasada cerca de 7 a 8 meses. Os estudos demonstram também que os efeitos do extracto de Ginkgo biloba são mais expressivos em situações de comprometimento cognitivo leve a moderado em vez de casos de demência severa sugerindo que a sua função será estabilizar ou atrasar o início dos sintomas. Os efeitos clínicos observados podem explicar-se pela descoberta de que este extracto inibe a agregação β-amilóide, que se acredita ser de importância significativa no desenvolvimento desta patologia (Stromgaard e Nakanishi, 2004).

A Ginkgo biloba é geralmente bem tolerada sendo raros os efeitos colaterais, normalmente leves, e incluem náuseas, vómitos, diarreia, dores de cabeça, tonturas, palpitações, inquietação, fraqueza ou erupções cutâneas. Deve ser prestado principal

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cuidado à ingestão de folhas de Ginkgo biloba não processadas pois estas contêm ácidos ginkgólicos que são tóxicos (Sierpina et al, 2003).

Para qualquer um dos efeitos pretendidos com a ingestão de Ginkgo biloba, o tempo de tratamento e a quantidade diária ingerida são factores importantes no surgimento dos efeitos benéficos. As indicações de dosagem são 120 a 140 mg por dia, em duas a três doses (Stromgaard e Nakanishi, 2004).

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