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Golpes de Estado e Instabilidade Polí tica na África Ocidental

Antes de falar dos golpes de Estados ocorridos na região Ocidental de África, é importante definir, caracterizar e apresen- tar as causas e consequências deste fenó- meno.

Bobbio (1983, p.555) refere que o signi- ficado da expressão Golpe de Estado mudou com o tempo e que o fenômeno, nos nossos dias, manifesta notáveis diferen- ças em relação ao que, com a mesma

palavra, se fazia referência três séculos atrás. As diferenças vão, desde a mudan- ça substancial dos actores, quem o faz, até a própria forma do acto, como se faz. Contudo, apenas um elemento se mante- ve invariável, apresentando-se como o tra- ço de união (trait d'union) entre estas diversas configurações: o Golpe de Estado é um acto realizado por órgãos do próprio Estado.

O golpe de Estado é uma queda repentina e ilegal, com a apreensão do aparelho governativo de um Estado atra- vés do uso da violência ou ameaça real do seu uso, por parte de elementos de soberania de um mesmo governo. Muitas vezes, esse processo é liderado por militar, político, governantes ou figuras bem- sucedida no Estado num curto espaço de tempo. O organismo que controla o apare- lho do Estado depois do golpe é tipica- mente guiado diretamente ou indireta- mente por membros das forças armadas (King, 2005, p.11).

O golpe de Estado, de forma simples, pode ser definido como sendo uma tenta- tiva ou tomada ilegal de poder político com derrube do líder ou governo de maneira inconstitucional e com recurso a força de forma repentina e inesperada (Encarta, 2002). Os golpes de Estado cons- tituem uma das formas de manifestação da violência política. Em África, os golpes de Estado foram uma das primeiras mani- festações de conflitualidade. Esta manifes- tação de violência política foi acompa- nhada de conflitos internos que devido a sua dimensão e intervenientes, provoca- ram desequilíbrio na relação entre os Esta- dos e consequente instabilidade. Das cau- sas mais frequentes dos golpes de Estado que a literatura dispõe, destaca-se o atra- so económico, erosão da legitimidade das lideranças civis, conflito entre militares e governo, contexto internacional favorável, entre outros.

Na África Ocidental podem-se se encontrar estas causas associadas a ape- tência pelo poder, característica peculiar

de muitos líderes africanos. Na zona oci- dental do continente africano, todos os membros da CEDAO – Comunidade Eco- nómica Para o Desenvolvimento da África Ocidental, expecto Senegal e Cabo Ver- de, sofreram uma tentativa de golpe ou um golpe de Estado consumado e passa- ram por essa experiência de violência polí- tica.

O Benim sofreu cinco golpes de Esta- do: 1963, 1965, 1967 e 1972. No Burkina Faso, também, ocorreram cinco golpes: 1980, 1982, 1983 e 1987. Na Costa do Mar- fim, dois casos de golpes tiveram lugar, um em 1999 e ou em 2011. Na Gâmbia, somente houve uma situação deste tipo de violência política, em 1994. Na Guiné Conacri, segundo Estado a tornar-se inde- pendente na África Negra, houve dois casos de golpe em 1984 e 2008. A Guiné Bissau viveu quatro situações de golpe de Estado, com a primeira a ocorrer em 1980, seguido de 1999, 2003 e 2012. Na Libéria, golpes de Estados ocorreram por duas vezes: um em 1980 e outro 10 anos depois, em 1990. O Mali viveu três casos de golpes: 1968, 1991 e 2012. Já no Níger, os golpes de Estado ocorreram em 1974, 1996, 1999, 2010. A Nigéria e a Serra Leoa são os Esta- dos da região com mais golpes de Estado registados; na Nigéria: 1966, 1966, 1975, 1983, 1985 e 1993 e na Serra Leoa: 1967, 1968, 1992, 1996, 1997 e1998. Por último, no Togo há registo de dois golpes de Estado, um em 1963 e outro quatro anos depois, em 1967 (Lopéz, 2001, p.186-191.

Todo esse histórico de intentonas e gol- pes de Estados consumados demostra uma região marcada por violência e insta- bilidade. Os sucessivos golpes de Estado têm influenciado negativamente a estabili- dade política dos Estado daquela região do continente africano e, consequente- mente, o funcionamento da CEDEAO2. Fer-

rão (2004:229) refere que devido ao eleva- do nível de conflitualidade permanente na região, os chefes de Estado da CEDEAO decidiram criar uma estrutura militar que se encarregasse como uma força de interpo-

sição da paz – ECOMOG, onde o papel fundamental resume-se na intervenção armada, peaceenforcement3 e a manu- tenção da paz, peacekeeping4.

Em muitos dos casos de conflitos ocorri- dos na CEDEAO, os mesmos são resolvidos por via da violência. O fenómeno ocorre, muitas vezes, porque, de modo geral, não se verifica o equilíbrio de poder político entre os vários actores políticos; a legitimi- dade dos decision-makers é muito baixa ou erode com facilidade; o reconhecimen- to e valorização da interdependência entre os vários seguimentos é pouco notá- vel e este aspecto é acompanhado pala existência de instituições pouco credíveis e pouco fiáveis, onde e compreensão mútua quase que não existe.

Não obstante do ECOMOG ser a estru- tura militar mais interventiva no continente africano, com sucessos na intervenção na Libéria, Serra Leo, em 1990, e o patrocínio dos acordos de Lomé e Yamossoukro, em 1991 na perspectiva de Khobe (2000:11), citando Malan (2000, p. 103-121), citado por Ferrão (2004), as rivalidades e profun- das suspeições entre a classe dirigente dos Estados daquela região complicam o ambiente político nos Estados, isoladamen- te, e na região, como um todo. Estados- membro opõem-se ou dificultam as opera- ções do ECOMOG, devido a rivalidade, proeminência ou crédito que se dá a um Estado ou grupo de Estados para lidar com situações de violência política ou instabili- dade. Há receios e algum susto dos pequenos Estados da região do poderio dominante e hegemónico da Nigéria.

A instabilidade política que se vive nos Estados da zona Ocidental de África influencia sobre maneira a coexistência pacífica efectiva na região. King (2007, p. 29-30) diz que a paz é uma condição políti- ca que assegura a justiça e estabilidade social através de instituições formais e infor- mais, práticas e normas. Nesta perspectiva, pode-se notar que, na região, existem insti- tuições para garantir a paz, segurança e estabilidade – ECOMOG, mas existem difi-

culdades para assegurar a estabilidade desejada.

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