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Gostaria de agradecer ao Professor Lúcio Sousa pelo seu apoio.

| MIgRAçãO dE RETORnO: O PROgRAMA dE APOIO AO RETORnO

1 Gostaria de agradecer ao Professor Lúcio Sousa pelo seu apoio.

1. O RETORnO nO PROCESSO MIgRATóRIO: dEFInIçãO E dIMEnSõES dO COnCEITO

O conceito de processo migratório resume, segundo Castles (2003), “(…) os conjuntos complexos de factores e interações que conduzem à migração internacional e influenciam o seu curso (…)”, afectando “(…) todas as dimensões da existência social”, com as suas dinâmicas próprias (Castles, 2003: 21, tradução nossa). Este percurso é, de acordo com Rocha-Trindade [et al.] (1995: 37), citada por Sousa (1999), constituído por diversas fases (Figura 1): a intenção de partir, os preparativos de partida, a viagem, a primeira instalação, a inserção, momento em que se opera a decisão de efetuar uma fixação definitiva ou o regresso. No caso da opção pelo regresso surge, por fim, a fase da reintegração no país de origem, com a qual se dá o denominado “processo de ciclo fechado” (Sousa, 1999: 52). Mas tal desfecho, pelas mais variadas razões, nem sempre tem lugar, como examinaremos mais adiante.

Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), o contexto em que a migração, bem como os fluxos migratórios têm lugar, está em constante evolução, exigindo que políticas de migração e de integração acompanhem as suas mudanças (Organisation for Economic Co-operation and Development, 2014). O fenómeno da migração internacional tem moldado Estados e sociedades desde os tempos mais remotos; porém, segundo aponta Castles (2003), o que é distintivo nos anos recentes é “(…) a sua estrutura global, a sua centralidade relativamente às polí- ticas nacionais e internacionais e as suas enormes consequências económicas e sociais”, sendo traços característicos da migração internacional atual, de acordo com o autor, por um lado, o “(…) desafio colocado à soberania dos estados, especificamente à sua capacidade para regular os movimentos de pessoas entre as suas fronteiras.”; por outro, o desafio do “‘transnacionalismo’, à medida que as pessoas adquirem maior mobilidade, e que muitas passam a ter relações importantes e duradouras de natureza política, económica, social ou cultural em duas ou mais sociedades em simultâneo” (Castles, 2003: 3, tradução nossa).

Contudo, o facto de se ter instalado uma crise ao nível global, com impacto a partir do ano de 2007 em diante, leva a um “(…) significativo aumento no número de migrantes retornados” (Botega et al., 2015: 3), o que faz com que o retorno ganhe, progressivamente, maior relevância e visibilidade, não obstante os inevitáveis dilemas de ficar ou partir, que se dão não só no país de origem, como também no país de destino/acolhimento, quando a realidade vivida, afinal, não tem correspondência com os objectivos previamente definidos.

De acordo com a Organização Internacional para as Migrações (OIM), entende-se por migração de retorno: “Deslocação de pessoas que regressam ao seu país de origem ou de residência habitual, geralmente, depois de passarem, pelo menos um ano noutro país” (OIM, 2009: 41). À luz da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), de 1948, “Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, e o direito de regressar ao seu país.” (Artigo 13.º, n.º 2 DUDH). Nestes termos,

“Ninguém pode ser arbitrariamente privado do direito de entrar no seu próprio país.” (Artigo 12.º, n.º 4 do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos [PIDCP]). Assim, não haverá lugar a restrições, conforme o Artigo 12.º, n.º 3 PIDCP,

“(…) a não ser que estas estejam previstas na lei e sejam necessárias para proteger a segurança nacional, a ordem pública, a saúde ou a moralidade públicas ou os direitos e liberdades de outrem e sejam compatíveis com os outros direitos reconhecidos pelo presente Pacto”.

Nesta perspectiva, o direito de regressar assume-se como “(…) outra vertente do direito à livre circulação.” (OIM, 2009: 19). De acordo com Siqueira, Assis e Dias (2010), o retorno “(…) é constitutivo do projeto migratório, mesmo que ao longo do tempo não se concretize” (Siqueira, Assis & Dias, 2010: 63). Todavia, para alguns autores, como Rivera-Sánchez, o retorno “(…) não é necessariamente definitivo e permanente, mas uma fase do processo migratório, que tem efeitos sobre as pessoas e os lugares, tal como a emigração” (Rivera-Sánchez, 2013 citado por Botega et al., 2015: 4).

Nas palavras de Cassarino (2013), “(…) na atualidade, a atenção dada pelas organizações internacionais à ligação entre migração e desenvolvimento tem evidenciado a necessidade de se reexaminarem as abordagens teóricas à migração de retorno” (Cassarino, 2013: 22), na medida em que as abordagens para as motivações do retorno “(…) não abarcam apenas trabalhadores migrantes, estudantes migrantes, migrantes altamente qualificados, empresários retornados, mas também os refugiados e solicitantes de asilo” (Id.: 43).

De facto, no âmbito das políticas relativas à migração de retorno, é importante fazer a distinção entre regresso voluntário, o que é mais relevante para o desenvolvimento, e retorno involuntário relacionado com, por exemplo, a rejeição de um pedido de asilo ou a deportação de imigrantes em situação irregular, porquanto os migrantes que retornam ao país de origem são potenciais impulsionadores do desenvolvimento nos seus países, desde que reintegrados com sucesso no mercado de trabalho e na sociedade local (Global Migration Group, 2015).

Nestes termos, o retorno pode ser involuntário ou “(…) forçado – devido a uma decisão administrativa ou judicial – ou voluntário – caso seja produto da livre escolha do indivíduo” (Centro Scalabriniano de Estudos Migratórios, 2011, citado por Botega et

al., 2015: 4). O mesmo pode também ser assistido quando “o migrante volta para a

terra de origem com o apoio logístico e financeiro de um Estado, Organização não- -governamental ou organização internacional (…)”, ou espontâneo, “(…) quando o regresso se dá por conta própria”(Id.: 4), em resultado de terem sido alcançados os objetivos que determinaram a partida do país de origem, ou em face de tal não ter sucedido, decorrente dos mais diversos constrangimentos, prolongados ou súbitos. Neste trabalho, analisamos, precisamente, a vertente do retorno voluntário assistido. Neste contexto, “(…) estão fora do âmbito do retorno assistido os casos de retorno coercivo de nacionais de países terceiros” (SEF, 2009: 10).

A este nível, não só a OIM, como os governos de muitos países de acolhimento “(…) consideram o programa de Regresso Assistido e de Reintegração mais vantajoso do que a deportação, pois envolve o migrante no processo decisório” (Observatório do Grupo de Estados da África, Caraíbas e Pacífico [ACP] das Migrações, 2013: 16). Porém, conforme constatado pelo Observatório ACP das Migrações (2013), no retorno, “(…) a preparação dos migrantes retornados, assim como a sua mobilização de recursos, depende das circunstâncias presentes nos países de origem e de destino” (Id.: 16). Nestes moldes, “(…) se o enquadramento social, económico e político no país de origem for desfavorável, é provável que ocorra reemigração” (Ibid.: 14), pelo que o retorno é mais sustentável “(…) quando associado a mecanismos de assistência que apoiam a criação de oportunidades socioeconómicas e previnem a exclusão e a separação dos migrantes retornados das comunidades não migrantes” (Ibid.: 18).

Assim, de acordo com Cassarino (2013): “Quanto maior o nível de ‘preparedness’ maior será a capacidade dos retornados de mobilizar recursos de forma autônoma e mais intensa a sua contribuição para o desenvolvimento”(Cassarino, 2013: 49-50). Este é, em última instância, o desfecho ideal para um percurso que se inicia com o salto para o

desconhecido, para uma realidade, a maior parte das vezes, em tudo diferente daquela com a qual se (con)viveu, até então.

2. O RETORnO VOLunTáRIO nO COnTExTO EuROPEu:

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