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1.2. O contexto histórico dos discursos desenvolvimentistas de Juscelino Kubitschek

1.2.2. O Governo Arturo Frondizi

O governo Arturo Frondizi esteve fundamentalmente marcado pelo conflito peronismo- antiperonismo. Um conflito que ganhou novas dimensões quando, em 16 de setembro de 1955, um Golpe liderado pelo general Lonardi interrompeu uma década de governo peronista. A autodenominada Revolução Libertadora inaugurou um tempo de intenso revanchismo por parte da oligarquia argentina, sobretudo, dos setores que foram retirados do poder com o Golpe de 1943 e que dominaram o processo político ao longo de toda a chamada “década

22 O conceito de “nacionalismo triunfante” foi proposto por Lúcio Flávio de Almeida (1995: 99) e será retomado mais adiante.

infame”.23 Estes mesmos setores, aliados a outros grupos políticos, constituíram o cerne dos embates com o peronismo na tentativa de golpe em outubro de 1945 e foram derrotados nas eleições de 194624 e de 1951.25

Após um breve governo encabeçado por Lonardi, um nacionalista católico que ao assumir o governo proclamou a fórmula “não há vencedores e nem vencidos na Revolução”, uma tentativa de inserção de “um peronismo sem Perón” no novo regime instaurado, assumiu o governo o general Pedro Eugenio Aramburu. Diferentemente de seu antecessor, o novo governo se pautava por uma linha de ação sem concessões e flexibilidades com o peronismo, inaugurando um processo de intensa repressão, marcado pelo fuzilamento de militares ligados a Perón, pela perseguição e intervenção nos sindicatos e pela proscrição de qualquer símbolo que lembrasse Perón, Evita e o peronismo (LUNA, 1974: 95-104). Porém, mesmo sendo um governo intensamente repressor, a Revolução Libertadora foi marcada por fragilidades políticas evidentes. De um lado, o antiperonismo constituía-se como o único fator de unidade entre os contraditórios interesses de classe, frações e grupos que apoiaram a deposição do governo peronista. De outro lado, as medidas antiperonistas faziam com que a Revolução Libertadora fosse trilhada pela ilegitimidade de um sistema político onde a principal força não podia atuar livremente.

Estas fragilidades se evidenciaram nas contraposições que apareciam no interior das forças políticas que apoiaram o golpe de 1955. Em meio ao processo de articulação visando não somente as eleições constituintes, como também as eleições presidenciais prometidas para 1958, paulatinamente, essas foram se definindo entre liberais e desenvolvimentistas,

23 A “Década Infame” corresponde ao período iniciado com o golpe conduzido pelo general José Félix Uriburu contra o governo radical de Yrigoyen, em 1930, e que terminou com o golpe militar encabeçado pelos generais Pedro Pablo Ramírez e Edelmiro J. Farrell em 1943. O período foi marcado pelo predomínio da oligárquica agroexportadora e pelas constantes fraudes eleitorais. (ROMERO, 2006: 63-90).

24 Entre 06 e 17 de outubro de 1945, a Argentina vivenciou um processo de tentativa de golpe liderado pelos setores derrotados em 1943, aliados a outros grupos políticos como a União Cívica Radical, os socialistas e os comunistas contra o governo na tentativa de afastar o então vice-presidente, Ministro do Exército, e Secretário do Trabalho e Previdência Social, Juan Domingos Perón. Em 06 de outubro, Perón foi conduzido à prisão, sendo amplamente divulgada na imprensa uma versão do fato que falava que este havia renunciado aos seus cargos. Em 17 de outubro, uma manifestação organizada pela CGT com a adesão de milhares de trabalhadores oriundos das regiões periféricas de toda província de Buenos Aires tomou as ruas da capital argentina exigindo a libertação e o retorno de Perón aos cargos que o haviam deposto. A historiografia argentina considera as jornadas de outubro de 1945 o momento de nascimento do movimento peronista em um processo que culminou com a vitória do Partido Laborista sobre a União Democrática, coalizão formada pelos grupos que tentaram a sua deposição com apoio do governo norte-americano, em fevereiro de 1946 (LUNA, 1984).

25 Conforme Luna (1974: 68), “Em 11 de novembro de 1951, em eleições impecáveis, a chapa radical obteve 2.300.000 sufrágios, em silenciosa reedição da União Democrática: foram quase duas vezes superados pelos 4.580.000 votos que obteve Perón”.

antiperonistas e defensores da participação política de um peronismo sem Perón. Uma contraposição tão profunda que levou a divisão no interior da União Cívica Radical - UCR, segundo partido da preferência dos argentinos, depois do peronismo, nas eleições constituintes de 1957. Assim, de um lado, liderada pelo desenvolvimentista Arturo Frondizi surgiu a União Cívica Radical Intransigente – UCRI; de outro lado, liderada pelo liberal Ricardo Balbin surgiu a União Cívica Radical do Povo - UCRP. (UZAL, 1989)

Dentro deste contexto é que, desde o início da definição da candidatura de Arturo Frondizi a presidência pela UCRI, figuras próximas a este, entre eles Rogelio Frigerio, economista desenvolvimentista, diretor da revista Qué?, procuravam uma aproximação com o peronismo em busca de apoio eleitoral. Esse assédio se aprofundou após a ruptura do radicalismo tornando-se um fator de intenso debate no interior do peronismo, onde predominou a posição de John William Cooke, endossada por Perón nas cartas trocadas entre ambos, de intransigência eleitoral (COOKE, 2007). Foi a partir desta posição que em junho de 1957, quando das eleições para a Assembleia Constituinte, o Comando Sindical Peronista ordenou o voto em branco26.

O resultado do processo foi uma considerável vitória do peronismo com 2.115.000 votos em branco (24,31%), seguido da UCRP com 2.106.000 votos (24,20%) e da UCRI com 1.847.000 votos (21,23%) (KOENIG, 2013: 147). Estes resultados ainda que considerados significativos para representar a vitória de uma força proscrita, segundo Cooke, teria sido maior levando em conta os 2.115.861 votos em branco, somados aos 35.956 votos anulados, aos 1.500.000 considerados fora do padrão e as 800.000 abstenções, que somariam 4.451.817 votos peronistas. (COOKE, 2007: 250)

De qualquer forma, mesmo proscrito o peronismo seguia sendo a principal força política do país. Para Frondizi ficava evidente que qualquer possibilidade de vitória eleitoral passava pela busca do voto peronista. Para Perón, por sua vez, a posição de intransigência demonstrava a força de sua liderança acima daqueles setores do movimento que propunham

26 Comunicado do Comando Sindical Peronista de junho de 1957:

“COMPAÑERO: La orden de Perón es votar en blanco. Se vota en blanco pegando sobre en el cuarto oscuro, sin nada adentro o con un papel absolutamente limpio, sin una palabra ni una raya. Si Ud. se saca el gusto escribiéndoles a los tiranos: “Asesinos”, “Canallas”, “Hijos de P…” o cualquier otra de las cosas que se merecen, usted anula su voto. Y necesitamos votos en blanco que sumen, no votos anulados, que desaparecen. Vote a Perón votando en blanco. Vote a Evita votando en blanco. Vote a Valle y compañeros héroes asesinados votando en blanco. Castigue a los tiranos entreguistas, Aramburu y Rojas, votando en blanco. Es ésta la única consigna, no se deje engañar. Tenga disciplina partidaria, colabore al inmenso triunfo del pueblo. Está en sus manos aniquilar con su voto en blanco a la tiranía oligárquica entreguista.” (BASCHETTI, 2012: 103)

participar da fórmula “peronismo sem Perón”. Porém, no interior do peronismo e no pensamento do próprio Perón, crescia a ideia de que uma nova intransigência não seria facilmente aceita pelas bases do movimento. Uma coisa era ser intransigente no voto para uma Assembleia Constituinte que, como se confirmou posteriormente, já nasceria fracassada. Outra coisa era manter a intransigência no voto para presidente e correr o risco de ter mais seis anos de um governo entreguista e repressivo.

A partir destas reflexões é que uma aliança com Frondizi não deveria ser descartada. Esta aliança foi estabelecida através do Pacto Perón-Frondizi, um documento assinado pelos dois líderes e por seus principais delegados, Cooke e Frigerio. Em linhas gerais o documento garantia a transferência dos votos peronistas para o candidato da UCRI em troca da legalização e do fim das perseguições ao peronismo.27

27 Pelo Pacto o peronismo se comprometeria com os seguintes pontos:

“a) declarará que los partidos neoperonistas que deseen pertenecer al Movimiento deben retirar sus candidatos; b) ordenará a los peronistas que hayan aceptado candidaturas que las renuncien, quedando en caso contrario, separados del Movimiento; c) frente al hecho concreto de la votación, dejará en libertad de acción a la masa peronista a fin de que sufrague en la forma que mejor exprese su repudio a la dictadura militar y a la política seguida por ella en todos los órdenes; d) aclarará que lo expresado en el punto c no implicará, por parte de los peronistas, compromiso alguno con los partidos que elijan para expresar su protesta; e) el documento contendrá un párrafo en el que se hará la crítica de la política conservadora, de manera que sea inequívoco que la opción no incluye al Partido Conservador Popular.” (COOKE, 2007, p.656).

Por sua vez, Frondizi se comprometia com:

“1°. Revisión de todas las medidas de carácter económico adoptadas desde el 16 de setiembre de 1955, lesivas a la soberanía nacional, y de aquellas que determinaron un empeoramiento de las condiciones de vida del Pueblo. Se consideran como de fundamental urgencia el restablecimiento de la reforma bancaria de 1946, la estructuración de una política económica de ocupación plena y amplio estímulo a la producción nacional, la elevación del nivel de vida de las clases populares y el afianzamiento de los regímenes de previsión social; 2°. Anulación de las medidas de toda índole adoptadas por el gobierno provisional desde el 16 de setiembre de 1955 con propósitos de persecución política; 3°. Anulación de todo proceso, cualquiera sea su carácter, iniciados con propósitos de persecución política; 4°. Levantamiento de las interdicciones y restitución de los bienes a sus legítimos dueños; 5°. Devolución de los bienes de la Fundación Eva Perón; 6°. Levantamiento de las inhabilitaciones gremiales y devolución de los sindicatos y de la Confederación General del Trabajo. Todo se cumplirá en un plazo máximo de ciento veinte (120) días. Las elecciones en los sindicatos serán presididas por interventores nombrados de común acuerdo; 7°. Reconocimiento de la personería del Partido Peronista, devolución de sus bienes y levantamiento de las inhabilitaciones políticas. Tanto la personería como los bienes serán acordados a las autoridades que designe el General Juan Domingo Perón; 8°. Reemplazo de los miembros de la Suprema Corte de Justicia y eliminación de los magistrados que han participado en actos de persecución política;

9°. En un plazo máximo de dos años se convocará a una Convención Constituyente para la reforma total de la Constitución, que declarará la caducidad de todas las autoridades y llamará a elecciones generales.” (Idem, p.656-657)

O documento determinava que os pontos 2º, 3º, 4º, 5º, 6º, 7º e 8º seriam adotados em um prazo de 90 dias após a posse de Frondizi. Determinava também que ficava a cargo de Frondizi “arbitrar los medios para el cumplimiento de las cláusulas precedentes”, enquanto o general Perón se comprometia em “interponer sus buenos oficios y su influencia política, para crear el clima pacífico y de colaboración popular indispensables para poder llevar a cabo los objetivos establecidos en el presente Plan”. Por fim, os “firmantes empeñan su palabra de honor en el sentido de que hasta el primero de agosto de mil novecientos cincuenta y ocho, este Plan permanecerá en reserva y sólo podrá ser divulgado posteriormente de común acuerdo, salvo el caso de incumplimiento por las partes” (Idem, p.657). Ainda estavam expressas ressalvas em relação ao possível

As eleições presidenciais de 23 de fevereiro de 1958 garantiram 4 milhões de votos para Arturo Frondizi (45%) contra 2,5 milhões de votos (29%) para Balbin, o candidato da UCRP apoiado pelo governo Aramburu. Somam-se a esses, 800 mil votos em branco, provavelmente, de peronistas que não acataram a ordem de Perón (BOTEGA, 2010: 173). Assim, os peronistas haviam garantido 2 milhões de votos a mais do que a UCRI havia conseguido nas eleições para a Assembleia Constituinte de 1957.

Porém, conforme Potash (1984: 364-365),

[...] al buscar deliberadamente el apoyo peronista, en forma manifiesta a través de la retórica de la campaña, y en secreto mediante negociaciones con Perón en el exilio, y también recibir el apoyo del partido Comunista, Frondizi asumiría la presidencia con un doble riesgo: por un lado, el agudizado recelo de los militares antiperonistas, casi tan disgustados por su propia incapacidad política como por el método de Frondizi para lograr el triunfo; por el otro, la determinación de Juan Domingo Perón de exigir el pago político total por los votos prestados.

Temendo a reação militar é que Frondizi, antes mesmo de tomar posse, aceitou a imposição dos segmentos conservadores das forças armadas dos seus respectivos comandantes-chefes. Ao mesmo tempo, concedeu uma forte autonomia aos militares que acabou transformando seu governo em um governo tutelado. Um governo que só teria garantias a medida que não avançasse as barreiras impostas pelos militares, entre essas a manutenção da proscrição do peronismo.

Arturo Frondizi assumiu a presidência em 1º de maio de 1958 e suas primeiras medidas davam sinais de cumprimento de alguns pontos do Pacto com Perón, tais como o aumento geral dos salários em 60%, a sanção da nova Lei de Associação Profissional e a lei de Anistia (BABINI, 2006). Medidas essas adotadas no prazo de um mês e meio de governo. Em que pese a não legalização do Partido Peronista e os limites da própria lei de Anistia, a Lei de Associação Profissional garantia a autonomia sindical requerida pelos peronistas e estabelecia um prazo de 90 dias para a realização de eleições sindicais livres.

impedimento da posse de Frondizi como presidente pelos setores da extrema-direita militar, os gorilas como os peronistas o chamavam, em caso de vazamento do documento.

A nova lei foi considerada um fator fundamental pelos peronistas em sua luta pela reconquista da sua liderança nos principais sindicatos perdida após a intervenção da Revolução Libertadora e a sua entrega aos “32 Grêmios Democráticos”, organização que congregava os sindicalistas ligados ao antiperonismo e que passaram a controlar a CGT. Em oposição à política de intervenção os peronistas constituíram as 62 Organizaciones

Gremiales. Fechando o panorama sindical havia ainda as 19 Organizaciones Antiintervencionistas, formada majoritariamente pelos comunistas e que em maio de 1958

passaram a constituir o Movimiento de Unidad e Coordinación Sindical – MUCS (LAMAS, 1984: 126). Para Cooke (2007: 383), graças a lei de Associação Profissional, “los trabajadores serán los únicos que ahora tendrán un poder político real y efectivo, medios económicos y organización”.

Paralelamente a estes avanços as contradições do projeto desenvolvimentista- frondicista ficavam evidentes diante da própria lógica de aceleração do processo que o governo foi implementando como estratégia diante do principal recurso escasso que possuía: o tempo. Conforme Bossio (2014: 13):

Apasionadamente, como quien intuía que no existía un horizonte más allá del presente inmediato, con la convicción dramática de quien sabía que no se repetirían otro instante para dar ese salto que depositara a la Argentina en ese lugar largamente merecido, Rogelio Frigerio desgranada sus sentencias en Las condiciones de la victoria. Como quien se sentía un pionero, que abría caminos de una nueva política - el desarrollismo- y que al mismo tiempo debía teorizar sobre la propia praxis, el compañero de proyecto y asesor personal del presidente Arturo Frondizi (1958- 1962) sabía que el recurso escaso era, precisamente el tiempo. Si ese despegue que llevaría al país a un lugar de privilegio no se dada en el corto plazo, las endebles condiciones de la victoria se desmoronarían y la nación quedaría subsumida en el estatuto del desarrollo.

Esse tempo escasso era um fator que diminuía a margem de manobra do governo para a construção do pacto social desenvolvimentista, pois, era determinado pela própria intensidade da polarização política. De um lado, havia a ameaça constante de deposição por parte dos militares de extrema-direita e dos radicais conservadores. De outro lado, havia a ameaça de fragilização da base social que elegeu Frondizi, principalmente, da emergência de conflitos com o peronismo. Em meio a estes dois polos a possibilidade de um equilíbrio que garantisse a estabilidade do governo era traçada por uma linha muito tênue. Nesse sentido, além das medidas consideradas positivas pelo peronismo, o início do governo frondicista também foi

marcado por medidas que apontavam para uma ruptura com a própria trajetória de Frondizi, entre elas a Lei de Enseñanza Libre.

A Lei de Enseñanza Libre tomava como base o Decreto 6403, editado pela Revolução Libertadora em 23 de setembro de 1955, que dispunha sobre a reorganização universitária. A medida abria a possibilidade da criação de universidades pela iniciativa privada, quebrando o monopólio estatal sobre o ensino superior. Os debates em torno da medida dividiram a sociedade argentina em torno das bandeiras laica ou libre, em referência ao fato de a lei satisfazer os interesses da Igreja, bem como, do empresariado. A oposição laica reuniu diversos setores da intelectualidade argentina e mobilizou grande parte dos estudantes universitários e secundaristas em manifestações de rua e greves estudantis em defesa da educação pública. A frente das manifestações opositoras estava o próprio irmão do presidente, Risieri Frondizi, destacado filósofo e reitor da Universidad de Buenos Aires. Até mesmo o lendário líder da Reforma Universitária de Córdoba, Enrique Barrios, manifestou sua oposição a enseñanza libre falando aos estudantes cordobeses em sua última aparição pública, em 3 de outubro de 1958. A medida acabou sendo aprovada após um processo tumultuado de tramitação e representou um preço muito alto para o governo. Conforme Nosiglia (1983: 104), o “contorno popular de Arturo Frondizi se esfumó en pocos días”.

Outras medidas que colocaram o presidente Frondizi em contraposição a sua própria trajetória foram aquelas tomadas no campo econômico. Para Aldo Ferrer (2006: 183), a tese central da política econômica do governo Frondizi era a de que o estrangulamento da balança de pagamentos “decorria do subdesenvolvimento das indústrias básicas e, consequentemente, da dependência das importações e matérias industriais essenciais, como aço, o papel de imprensa e os produtos químicos”. Ao mesmo tempo, o “déficit da produção petrolífera completava este quadro de dependência externa, como fulcro na insuficiente produção nacional de combustíveis e de produtos industriais básicos”. A partir desta perspectiva, a proposta elaborada por Frondizi e Frigerio modificava a ênfase agroexportadora do liberalismo adotado pela Revolução Libertadora buscando, por um lado, a entrada massiva de capitais estrangeiros como forma de financiamento para a expansão produtiva e, por outro lado, o aumento da taxa de poupança interna mediante a transferência de renda dos setores populares aos grupos de rendimentos elevados.

No que tange a incorporação dos capitais estrangeiros, sobretudo privados, tal objetivo supunha a necessidade de garantir altas taxas de lucro com um mercado livre de restrições

para a sua remessa, o que gerava um alto grau de desnacionalização da economia, tanto através da radicação de empresas estrangeiras, quando da compra de ativos de empresas nacionais por parte das mesmas (KESSELMAN, 1973: 28). Essa estratégia ficou profundamente evidente quando o governo lançou, em julho de 1958, a chamada Batalha do Petróleo.

Conforme Julio Nosiglia (1983: 90), a política petrolífera de Frondizi era bastante simples,

[…] el país quería desarrollarse industrialmente, para eso necesitaba combustibles, como estos estaban abajo tierra había que sacarlo, en una tarea que exigía recursos que la Nación no poseía: pues bien, el capital privado exterior sería el que aportaría esos recursos.

Dessa forma, a Batalha do Petróleo resultou em um conjunto de acordos assinados com empresas estrangeiras dos mais diversos portes que passaram a ter o controle sobre a extração do petróleo argentino. Esta medida resultou na perda de apoio de significativos setores nacionalistas que se somaram a ideia do movimento nacional e popular lançado por Frigerio no período precedente ao processo eleitoral. Por sua vez, a oposição impulsionava uma contradição entre a política adotada com a defesa do caráter iminentemente nacional do petróleo defendido por Frondizi em sua obra “Petróleo y Política” escrita, em 1955, em oposição aos acordos celebrados por Perón com a empresa norte-americana Standard Oil para a exploração do petróleo. Assim, a política petrolífera frondicista como parte da estratégia de atração do capital estrangeiro gerou inúmeras rupturas na base política do governo.

Em meio a essas rupturas, o governo conseguiu neutralizar uma tentativa de golpe mobilizando setores militares que tinha entre seus principais articuladores o vice-presidente Alejandro Gómez, que acabou renunciando ao cargo. Esta tentativa de golpe acabou custando

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