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Uma vez sintetizado o contexto histórico dos governos Juscelino Kubistchek e Arturo Frondizi, tomando por base três caracterizações do período, quais sejam, o contexto internacional em transformação, a polarização interna e a crise econômica; o passo seguinte é definir os objetos discursivos em comum. Aqui é importante ressaltar, mais uma vez, que os objetos discursivos aqui indicados não se restringem aqueles que formam o conjunto semelhante da formação discursiva desenvolvimentista, entendida como uma formação discursiva latino-americana. Tais objetos discursivos emergem da conjuntura nacional em que a formação discursiva desenvolvimentista e as necessidades próprias aos discursos políticos participam.

Ao mesmo tempo, os objetos discursivos presentes nos discursos presidenciais de Kubitschek e Frondizi respondem a duas questões inerentes a dupla função dos próprios discursos políticos: a de promover os valores que o emissor do discurso pretende atribuir a sua prática; e a de interpelar os sujeitos visando a adesão desses ao seu projeto político. Os objetos discursivos são, portanto, parte da conexão entre o projeto desenvolvimentista, as respostas dos discursos presidenciais a conjuntura histórica e a interpelação dos sujeitos. Nesse sentido é que os objetos discursivos aqui relacionados são agrupados em dois conjuntos: as bases do desenvolvimentismo e as condições para o desenvolvimentismo, estas, por sua vez, dividias em condições internas e condições externas.

Nas bases do desenvolvimentismo estão agrupados os objetos discursivos que rementem propriamente ao conjunto de objetos semelhantes que compõe a formação discursiva desenvolvimentista. São esses: industrialização, capital estrangeiro e integração nacional. Nas condições para o desenvolvimentismo estão agrupados os objetos discursivos que remetem aos dilemas comuns, mas com características especificas aos contextos históricos de Brasil e Argentina, e as diferentes respostas dadas por Kubitschek e Frondizi. São esses: estabilidade política, estabilidade econômica e colaboração internacional.

A industrialização pode ser considerada o tema central, tanto das políticas econômicas desenvolvimentistas, como do pensamento desenvolvimentista, como também, do discurso político desenvolvimentista. Os desenvolvimentistas apresentavam a industrialização como uma alternativa ao modelo agroexportador, baseado na teoria das vantagens comparativas originária do pensamento liberal. Para esses, o modelo agroexportador, predominante desde a colonização até a crise de 1929, foi o grande responsável pelo atraso econômico e social da América Latina. Ao mesmo tempo, afirmavam, a partir da teoria da deterioração dos termos de troca, que a perda de valor no médio e longo prazo dos produtos primários em relação aos produtos manufaturados não permitia com que os países que adotavam aquele modelo pudessem acumular capitais suficientes para superarem sua condição subdesenvolvida. Assim, a construção de um projeto industrial era apresentada como o principal caminho de superação do subdesenvolvimento.

Desta forma, dentro da formação discursiva desenvolvimentista, o discurso sobre a industrialização era central no embate contra outras formações discursivas, sobretudo, a liberal. Um embate discursivo que dependia das condições prévias de recepção das ideias desenvolvimentistas na realidade nacional. Nos discursos presidenciais de Kubitschek e Frondizi, a industrialização era tratada basicamente a partir de setores como energia, carvão, petróleo, rodovias, siderurgia, cimento, indústria automobilística e mecanização agrícola. Mas, sobretudo, possuía como sentido ser a principal solução para as mazelas nacionais, como o fator que levaria o país ao progresso, como condição para a garantia da soberania nacional. Um uso que não era propriamente uma novidade, porém, diferentemente de outros usos anteriores, ligava a defesa da industrialização com uma gama de novos conceitos que vinham sendo elaborados pelo pensamento econômico desenvolvimentista naquele contexto. Conceitos que eram incorporados às funções próprias ao discurso na luta política, tais como: deterioração dos termos de troca, impulso ou estimulo inicial necessário ao desenvolvimento, desenvolvimento como diversificação impulsionada pela indústria e aumento da produtividade como garantia de melhoria do nível de vida.

A questão do capital estrangeiro consistia em uma das principais fontes de debates no pós-Segunda Guerra Mundial. Sua defesa ou sua negação se constituía em um instrumento de classificação política. A partir da posição assumida em relação ao capital estrangeiro se derivavam as polarizações: nacionalistas versus entreguistas ou xenófobos versus cosmopolitas, no Brasil; nacionalistas versus vendepatrias, na Argentina. Portanto, o uso desse objetivo discursivo representava o ingresso do discurso em um dos terrenos mais

conturbados da luta política latino-americana. Soberania nacional, integração, progresso, imperialismo, desenvolvimento, subdesenvolvimento, entre outros termos e conceitos, estiveram diretamente relacionados a esse debate.

Na formação discursiva desenvolvimentista, a utilização do capital estrangeiro como objeto discursivo, bem como, o sentido que tal objeto teria, variava de acordo com a forma assumida pela ideologia no contexto em que o discurso era pronunciado. No Brasil, o desenvolvimentismo fazia parte da ideologia do bloco no poder. Nos discursos de Kubitschek, assumia características de uma “nova” forma de nacionalismo, onde o capital estrangeiro era parte do projeto de superação do subdesenvolvimento. O que não significa que não houvessem oposições ao capital estrangeiro. Haviam, sobretudo, a partir de um nacionalismo- popular. Porém, o discurso de Kubitschek tinha o poder de inúmeras vezes atrair o apoio desses grupos políticos para a defesa de suas posições.

Na Argentina, o governo Frondizi vivenciou um clima onde o desenvolvimentismo não era hegemônico nem entre as classes dominantes, nem entre as camadas populares. Em seu desejo de eterno retorno à “belle époque” do início do século XX, as oligarquias rurais, parte da burguesia industrial e o alto comando militar assumiam posições liberais. Em alguns momentos tais posições iam ao encontro do discurso frondicista sobre o capital estrangeiro, porém, tal discurso era visto com desconfiança em relação ao industrialismo ao qual se inseria. Entre as camadas populares, onde predominava o peronismo, o predomínio do discurso anti-imperialista impulsionava a oposição ao capital estrangeiro. Nem mesmo a inflexão do final do governo Perón e sua política de atração de capitais vindos de fora, sobretudo, norte-americanos, levaram a uma flexibilização de tal discurso. A ideia do vendepatrias, proclamada por Perón em seus escritos sobre a Revolução Libertadora39, marcava a posição do peronismo diante dos discursos do presidente Frondizi e de sua postura sobre o capital estrangeiro. Postura essa que levou a política do governo em relação ao capital estrangeiro a avançar sobre setores considerados estratégicos, fazendo com que seu discurso se contraditasse algumas vezes com o nacionalismo-popular peronista, outras vezes com o nacionalismo de grupos internos ao radicalismo e muitas vezes com ambos.

39 Duas obras fundamentais de Perón sobre a Revolução Libertadora são “La Fuerza es el derecho de las Bestias” e “Los vendepatrias: pruebas de una traición”. Ver: Perón (1958; 1973).

Estas obras e outro escritos também estão reunidos nos dois volumes de “Los libros del Exilio”. Ver: Perón (1996).

A integração nacional como objeto discursivo refletia os problemas da distribuição geoeconômica e da ocupação dos territórios no Brasil e na Argentina. Uma problemática originada nas estruturas coloniais e aprofundada através dos modelos de desenvolvimento adotados ao longo do século XX. Os discursos sobre a integração nacional refletiam sobre uma realidade que concentra tanto a riqueza, como a população, nas regiões litorâneas. Na Argentina, a região da Grande Buenos Aires que em 1947 concentrava 4,7 milhões de habitantes, ou seja, 29,4% da população, em 1960 passou a concentrar 6,7 milhões de habitantes, ou seja, 33,6% da população, reunindo quase a metade da população urbana do país (RAPOPORT, 2007: 326). No Brasil, segundo o censo demográfico de 1950, a região Sudeste concentrava 22.549.386 de um total de 51.941.767 pessoas residentes no país, ou seja, 43,2% (IBGE, 2000). Nesse mesmo período, ambos os países vivenciavam ainda os impactos do êxodo rural impulsionado a partir da década de 1940. No caso brasileiro, esse fenômeno se intensificou na década de 1950, principalmente na segunda metade, quando a região nordeste vivenciou um dos piores períodos de seca de sua história.

Dessa forma, a integração nacional tornou-se um objeto discursivo que adquiriu características especificas dentro dos discursos desenvolvimentista de Frondizi e Kubitschek. Nos discursos de Frondizi, a integração nacional passou a ser incluída dentro de uma projeção do desenvolvimento da Grande Buenos Aires para o interior, como uma expansão do projeto de industrialização e modernização do país, assumindo muitas vezes a dicotomia civilização e barbárie presente na construção histórica argentina. Os projetos para regiões como a Patagônia eram discursivamente ancorados em derivações das políticas mais amplas do desenvolvimentismo, como a política petrolífera. Assim, o discurso do presidente argentino sobre a integração nacional se caracterizava por uma linguagem mais teórica a partir de questões mais amplas que não tinham uma representação direta na concretude cotidiana da população.

Nos discursos de Kubitschek, a integração nacional também era vista como parte do projeto industrial-modernizador e como expansão da civilização litorânea. Porém, assumia ao mesmo tempo a característica de ser tema central do Plano de Metas através do projeto de construção de Brasília, não atoa tal projeto foi considerado a meta-síntese do plano de fazer o Brasil “crescer 50 anos em 5” (MAGALHÃES, 2010). A este projeto também se somou uma outra iniciativa que visava dar respostas ao problema da seca e da miséria no Nordeste, a criação da Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste, a SUDENE. A partir dessas inciativas e das políticas derivadas delas, sobretudo as construções de estradas

interligando as regiões, que se construiu a integração nacional como objeto discurso a partir de uma linguagem mais concreta, demonstrando e propagando ações que tinha representação direta na vida da população.

A estabilidade política foi o objetivo discursivo elaborado com mais cuidado, tanto por Frondizi, como por Kubitschek, uma vez que seus governos se inseriam em um contexto onde a polarização social e a dinâmica da luta de classes adquiriram níveis de radicalidade intensos. Tal inserção colocava como tarefa para os governos desenvolvimentistas a construção de um clima de distensão política como condição para a sua própria manutenção. Nesse sentido, os discursos de Frondizi e Kubitschek eram uma forma de apresentar os seus projetos políticos como uma mediação entre os polos da radicalização política.

Dessa forma, o discurso da estabilidade política passava pela necessidade de convencimento dos grupos sociais de que a superação do subdesenvolvimento era tarefa nacional. Assim, em torno dos discursos sobre a estabilidade política se abria um conjunto de questões. Um dos mais relevantes era o papel das diferentes classes sociais e atores sociais na luta contra o atraso e pelo desenvolvimento, com destaque o papel das Forças Armadas e dos trabalhadores, onde se inseriam temas como o comunismo e, especificamente no caso argentino, o peronismo. Nas diretrizes centrais destes discursos estavam a defesa da Ordem, da Lei e do Estado de Direito, bem como, a defesa da democracia.

A estabilidade econômica como objeto discursivo inseria os discursos presidenciais em um dos principais debates sobre os rumos das políticas econômicas latino-americanas. Ao longo dos anos 1950 e 1960, a crise econômica trazia à tona posições divergentes sobre câmbio, inflação, políticas sociais e principalmente as reformas “sugeridas” pelo FMI. No centro deste debate situavam-se dois grupos: os estruturalistas e os monetaristas (HIRSCHMAN, 1961).

Para os monetaristas, a possibilidade de manutenção da estabilidade econômica em uma economia capitalista deve ser buscada apenas em medidas monetárias baseadas nas forças espontâneas do mercado e destinadas a controlar o volume de moedas e de outros meios de pagamento no mercado financeiro (SANDRONI, 1994: 232). Ao mesmo tempo, a inflação é consequência direta do aumento dos gastos do estado e dos “salários supervalorizados”. Essa posição era contraposta pelos estruturalistas, sobretudo, os Cepalinos, que defendiam que a estabilidade econômica nas condições de atraso das economias latino-americana somente

seria possível mediante mudanças nas próprias estruturas econômicas desses países entres as quais se situavam a distribuição de renda, as mudanças nas estruturas tributárias, os investimentos estatais, o controle de capitais estrangeiros, a reforma agrária, entre outras medidas. Para esses a inflação tinha duas causas uma decorrente das estruturas econômicas arcaicas e outra, conjuntural, decorrente das próprias transformação que vinha ocorrendo nos países latino-americanos a partir das políticas de industrialização.

No Brasil, esse debate esteve no centro do próprio governo Juscelino Kubitschek. O presidente brasileiro conseguiu compor uma equipe de governo que reunia diferentes posições dentro da perspectiva desenvolvimentista, algumas inclusive próximas ao neoliberalismo. Assim, desde o início do governo, quando foi discutida a possibilidade de uma reforma cambial, as posições estruturalistas e monetaristas foram sendo identificadas. De um lado, identificados como monetaristas estavam, principalmente, Lucas Lopes e Roberto Campos40. De outro lado, identificados com o estruturalismo estavam, principalmente, José Maria Alkimin, Sebastião Pais de Almeida e o vice-presidente João Goulart. Essas diferentes posições se evidenciaram de forma mais efetiva nos debates sobre o Programa de Estabilização Monetária e as negociações com o FMI.

Na Argentina, o governo Arturo Frondizi também foi marcado por esse debate. Porém, diferente do desenvolvimentismo brasileiro, o desenvolvimentismo argentino, principalmente, o desenvolvimentismo frondicista-frigerista, procurava não se identificar com o estruturalismo cepalino. As posições assumidas por Raúl Prebish nos governos da chamada Década Infame e na Revolução Libertadora, o colocavam como uma figura situada no campo oposto aos projetos de desenvolvimento nacionais, tanto do frondicismo, como do peronismo. Tal fato gerava uma enorme desconfiança e rejeição política ao pensamento cepalino. Porém, mesmo com essa procura de distância em relação a CEPAL, os conceitos e as premissas utilizadas colocavam o desenvolvimentismo frondicista-frigerista como parte das elaborações estruturalistas latino-americanas.

Em que pese essa questão, as medidas de estabilização econômica do governo Frondizi foram condicionadas não somente pelas concepções desenvolvimentistas, mas sobretudo pela busca de estabilização política e pela tutela dos militares. Nesse sentido, foi em resposta a uma das mais de três dezenas de tentativas de golpe que o governo cedeu ao monetarismo, colocando no cargo de ministro da economia o liberal e antiperonista Alvaro Alsogaray. Ao

mesmo tempo, o governo implementou um profundo programa de estabilização econômica elaborado a partir de um acordo com o FMI.

A partir desse debate entre monetarismo e estruturalismo é que os discursos presidenciais de Kubitschek e Frondizi foram se situando. Caminhado entre os dois grupos opostos, questões como a inflação, os salários e o custo de vida, e a necessidade de uma nova mentalidade burguesa foram tratadas a partir da elaboração da estabilidade econômica como objeto discursivo, uma elaboração que respondeu fundamentalmente a correlação de forças internas e externas aos governos. A partir dessa elaboração se situaram as proposições semelhantes e diferentes nos discursos dos presidentes desenvolvimentistas.

Em um cenário internacional em transformação, os discursos sobre a inserção internacional dos países adquiriram uma importância significativa nos debates internos. Os processos de descolonização dos países africanos e asiáticos, a formação da Comunidade Econômica Europeia, as divergências e rupturas nos até então sólidos blocos da Guerra Fria, a ascensão dos nacionalismos com características anti-imperialistas e os debates sobre a integração regional, tencionavam uma realidade que abria novas possibilidades aos governos desenvolvimentistas. Nesse contexto, os discursos sobre a política externa se direcionavam não apenas ao público externo, mas, fundamentalmente, ao público interno. Seu principal objeto discursivo era a colaboração internacional, uma necessidade do próprio projeto desenvolvimentista, sobretudo, para a sua política de atração de capitais estrangeiros.

Por conta desta necessidade, apesar de assumir posições dentro de uma ideologia nacionalista, a política externa desenvolvimentista não assumia um discurso nacionalista de esquerda, portanto, não se inseria em uma posição propriamente anti-imperialista. Se colocava como parte do bloco capitalista, porém, com críticas as condições de desenvolvimento propostas por uma visão liberal baseada na divisão internacional do trabalho. A partir dessa crítica é que a colaboração internacional, como objeto discursivo, assumia uma dupla dimensão: a colaboração entre países desenvolvidos e países subdesenvolvidos e a colaboração entre os próprios países subdesenvolvidos, no caso os países latino-americanos, em um projeto que permitisse a superação do atraso e da miséria, vistos como principal causa da ascensão do comunismo.

Um discurso que muitas vezes assumia uma posição de preponderância como no caso da Operação Pan-Americana, porém, dentro de certos limites. Tais limites se situavam em

uma não ruptura com o status quo internacional, mas sim, a criação de condições internacionais que propiciassem a implantação de um projeto de desenvolvimento nacional por parte dos países subdesenvolvidos. Esse era o patamar que condicionava o que se podia ou devia ser dito nos discursos presidenciais de Kubitschek e Frondizi em sua defesa da colaboração internacional.

2. BASES DO DESENVOLVIMENTISMO: INDUSTRIALIZAÇÃO, CAPITAL ESTRANGEIRO E INTEGRAÇÃO NACIONAL

O contexto histórico dos governos Kubitschek e Frondizi coincide com o período de maturação dos debates sobre o pensamento desenvolvimentista na América Latina, correspondendo com o auge das elaborações da CEPAL. O mesmo se pode dizer acerca das práticas econômicas desenvolvimentistas. Se tornarmos por base os 34 governos selecionados por Fonseca (2015) em sua amostragem, vemos que 26 desses governos se situaram entre as décadas de 1930 e a primeira metade da década de 1960, sendo que 12 se situaram entre as décadas de 1950 e 1960.41 No que tange ao desenvolvimentismo como formação discursiva, pode-se afirmar que aquele foi o momento em que o conjunto semelhante de objetos discursivos que a constitui estava sendo sintetizado e os discursos dos presidentes brasileiro e argentino contribuíram significativamente nesse processo.

Conforme referido anteriormente, o período pós-Segunda Grande Guerra, mais especificamente a década de 1950, foi marcado por intensos debates sobre os rumos da América Latina. Nesse contexto, o desenvolvimentismo se inseria como parte de uma luta político-ideológica onde diferentes projetos e discursos mobilizavam um conjunto significativo de atores sociais, sendo inclusive suas próprias proposições objetos de disputa. Dessa forma, o grau de recepção e aceitação do desenvolvimentismo variava de acordo com o potencial mobilizador de seus discursos e suas propostas, algo que esteve ligado ao próprio processo de constituição do desenvolvimentismo no Brasil e na Argentina. As raízes deste processo podem ser buscadas na síntese de um conjunto de ideia e discursos que o precederam.

41 Os governos desenvolvimentistas que se situam entre as décadas de 1930 e a primeira metade da década de 1960 são os seguintes:

• Argentina: Juan Domingo Perón (1946-1955) e Arturo Frondizi (1958-1962).

• Brasil: Getúlio Vargas – 1º governo (1930-1945); Getúlio Vargas – 2º governo (1951-1954); Juscelino Kubitschek (1956-1961) e João Goulart (1961-1964).

• Chile: Pedro Augusto Cerda (1939-1941); Juan Antonio Rios (1942-1946); Gabriel Gonzáles Videla (1947- 1952) e Carlos Ibañez del Campo – 2º governo (1953-1958).

• Colômbia: Alfonso López Pumarejo – 1º governo (1934-1938); Alfonso López Pumarejo – 2º governo (1942- 1945); Gustavo Rojas Pinilla (1953-1957) e Alberto Lleras Camargo (1958-1962).

• México: Lázaro Cárdenas del Rio (1934-1940); Manuel Ávila Camacho (1940-1946); Miguel Alemán Valdés (1946-1952); Adolfo Ruíz Cortines (1952-1958); e Adolfo López Mateos (1958-1964).

• Peru: Óscar Benavides (1933-1939); Manuel Odría (1948-1956) e Fernando Belaúnde Terry (1963-1968). • Uruguai: Luís Batlle Berres (1947-1951); Conselho Nacional de Governo 1 (1959-1963); e Conselho Nacional de Governo 2 (1963-1967).

• Venezuela: Rómulo Betancourt (1959-1964).

No Brasil, conforma Salomão (2017: 438), “o desenvolvimentismo resultou de um processo de amadurecimento construído ao longo do tempo, alimentado por críticos e defensores de suas teses e experiências”. Não sendo, portanto, apenas “uma simples oportunidade histórica resultante da Grande Depressão da década de 1930”. Nesse sentido, Fonseca (2004) chama atenção para as quatro correntes de ideias que antecedem o desenvolvimentismo no país: a dos nacionalistas, a dos defensores da industrialização, a dos intervencionistas pró-crescimento (papelistas) e a dos positivistas. Para o autor, foi a partir da associação dessas correntes que se formou o “núcleo duro” desenvolvimentista, composto pela defesa da industrialização, do intervencionismo pró-crescimento e do nacionalismo42. A associação destes três elementos em um conjunto comum de ideias concatenadas e estruturadas passou a ser não somente um ideário, mas também um “guia de ação” para uma política consciente e deliberada, originando o desenvolvimentismo43.

Na Argentina, o desenvolvimentismo se fundou na crítica aos governos conservadores da década de 1930 e na experiência peronista. Conforme Sikkink (2005: 75), os desenvolvimentistas argentinos remontam a origem de suas ideias “a los primeros que abogaban en el país por la industrialización y el proteccionismo, más que la influencia internacional”, uma ênfase que era parte da crença de que “los modelos externos no son

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