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□ Medidas Provisórias ■ Leis Ordinárias □ Leis Complementares □ Leis Orçamentárias ■ Leis de Conversão □ Emendas Constitucionais

A legislatura eleita em outubro de 1994, na esteira da campanha presidencial vitoriosa de

Cardoso, havia sofrido destacadas mudanças. 171 Os novos congressistas, em sua maioria, ali

chegariam para o primeiro mandato e não estariam habituados com os procedimentos legislativos brasileiros, recheados de praxes e costumes muitas vezes mais valorizados do que as regras escritas

pelos próprios parlamentares. Conquanto fossem, como se pode observar pelos Gráficos 6 e 7, empresários e profissionais liberais compromissados com o plano das elites, a experiência

aconselhava que não estivessem soltos ao sabor dos ventos oposicionistas pois a crença na independência fatalmente germinaria em suas “cabeças imaturas”. Os velhos caciques do

Congresso Nacional deveriam trazê-los junto a seus corpos e orientá-los acerca das vantagens de serem sempre fiéis aos ditames do Poder Executivo e de não se lançarem a legislar sobre qualquer “inutilidade” que confundissem com o “interesse nacional” .172

Algumas trocas de favores e a conquista de cargos na direção da Câmara dos Deputados, do Senado Federal e das principais Comissões Permanentes e Especiais de ambas as casas estaria

171 Cf. DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ASSESSORIA PARLAMENTAR. Dois anos de Congresso na era FHC. Brasília: DIAP, 1997, p. 2. Segundo o DIAP, 54% dos parlamentares da legislatura de 1995-1998, chegavam ao Congresso Nacional pela primeira vez.

172 Vide FIORI, José Luís. O espelho espanhol de FHC. Folha de São Paulo, 8 de janeiro de 1995, Caderno Mais!, n.° 6, p. 10-11. Fíori crê que Cardoso teria seu alter ego no espanhol Felipe González. Mas numa coisa Cardoso o superaria de longe, pois desde o início Cardoso esteve aliado à direita. Vide PINASSI, Maria Orlanda. A cara do Brasil, in Práxis n.° 6, janeiro-maio de 1996, p. 10. Pinassi tem razão. O governo de Cardoso fez sua opção “ao aliar-se com o que há de mais retrógrado na sociedade brasileira”. Vide TAVARES, Maria da Conceição. Globalitarismo e neobobismo. Folha de São Paulo, 30 de março de 1997. Cardoso adotaria “um procedimento de grande eficácia mercadológica e muito caro à ‘ordem’ globalitária: a desmoralização da dissidência”. Xingaria a “esquerda de burra, fracassomaníaca, e agora de boba. Com o que muito tememos que logo a proclame ‘incapaz’ do ponto de vista da cidadania política e a inclua num novo estatuto indígena”. Vide DELFIM NETTO, Antônio. Licões da Nova Zelândia.

in Carta Capital, ano II, n.° 44, 19 de março de 1997, p. 39. Delfim mostra as pretensões neoliberais ao citar o caso da Nova Zelândia. Aqui, como lá,

os neoliberais se esforçam para que duas facções dividam o grande partido de elite que é o Estado. Vide CAMPOS, Roberto. O terceiro aniversário do plano real. Folha de São Paulo, 13 de julho de 1997, Cademo Brasil, n.° 1, p. 4. Roberto Campos definiu perfeitamente as verdadeiras conquistas do plano das elites. Segundo ele, as conquistas do Plano Real nos campos político e ideológico foram a derrota da esquerda e a vitória do privatismo. Vide FERNANDES, Florestan. Os partidos de esquerda. Folha de São Paulo, 7 de agosto de 1995, Cademo Brasil n.° 1, Seção Opinião, p. 2. Enquanto isso, como mostraria Fernandes, os partidos não apresentariam outros caminhos. Eles se dedicariam, especialmente os de esquerda, á luta meramente eleitoral. Vide FOLHA DE SÃO PAULO. Líder do PT iá admite flexibilizar monopólio. 25 de janeiro de 1995, Cademo Brasil, n.° 1, p. 4. Não por acaso, o líder do PT na Câmara dos Deputados, Deputado Federal José Fortunatti entregaria os pontos e admitiria negociar com o governo. Vide CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Campanha da fraternidade de 1996: Fraternidade e política. Justiça e paz se abraçarão. Texto-base. Brasília: CNBB, 1996, p. 15. O poder das elites é tal que restringe muitíssimo o espaço das grandes massas. CARTA CAPITAL, n.° 13, agosto de 1995, p. 36. Na verdade, enquanto o PSDB e o PFL, na frente das câmeras e microfones, brigam pelo poder, dividem-no, amavelmente, nas escuras e nas surdas do Planalto. Vide TEIXEIRA, Ariosto. O Congresso e a reforma impossível, in Carta Capital, n.° 13, agosto de 1995, p. 56-59. Uma aliança entre os ricos do Sul-Sudeste com os ricos do Norte-Nordeste-Centro-Oeste garante o sistema de sub-representação daqueles e super- representação destes para permanecer a sempre eterna troca de favores e os desvios de recursos do Estado, coletados do conjunto da população, para as minorias ricas do País e do exterior. Para provar isso, basta saber que na Comissão Especial de Reforma Eleitoral, a maioria dos parlamentares é do Sul-Sudeste. Nem por isso mudaram algo.

garantida; e, com ela, a submissão dos novos parlamentares, mesmo que, algum dia, acordassem do sono. 173

173 Vide FOLHA DE SÃO PAULO. Relatório mostra que esquerda é minoritária nas comissões. 17 de abril de 1995, Caderno Brasil, n.° 1, p. 9. Vide FOLHA DE SÃO PAULO. O perfil das comissões. 17 de abril de 1995, Caderno Brasil, n.° 1, p. 9. A Presidência do Senado Federal seria entregue para o Senador José Samey e, posteriormente, ao Senador Antônio Carlos Magalhães. A Presidência da Câmara dos Deputados seria entregue ao Deputado Federal Luís Eduardo Magalhães e, posteriormente, a Michel Temer. Além de controlar as Comissões Permanentes, o govemo controlaria, também, as Comissões Especiais criadas na Câmara dos Deputados para a análise das emendas constitucionais e destacaria seus melhores aliados para fazerem a esmagadora maioria, em média, de vinte e um dos trinta membros de cada uma delas. As cinco comissões especiais ficariam assim compostas: 1) Petróleo. O Deputado Federal Alberto Goldman ocupa a presidência e o Deputado Federal Roberto Procópio Lima Netto, a relatoria. Os principais aliados do govemo seriam os deputados: José Múcio Monteiro, Rubem Medina, Delfim Netto, Roberto Campos, Mareio Fortes, Regis de Oliveira, Jackson Pereira, Vitório Mediolli. 2) Telecomunicações: O Deputado Federal Humberto Souto seria o presidente e o relator seria o Deputado Federal Geddel Vieira Lima. Os principais aliados do govemo seriam os deputados: Leur Lomanto, Arolde de Oliveira, Gerson Peres, Nelson Marchezan, Ricardo Izar, Pedro Irujo, Henrique Eduardo Alves, Danilo de Castro, Arthur Virgílio Neto, Adroaldo Streck, Antonio Balhman. 3) Conceito de empresa brasileira: A presidência caderia ao Deputado Federal Antônio Brasil e a relatoria ao Deputado Federal Ney Lopes. Os principais aliados do govemo seriam os deputados: Luiz Roberto Ponte, Ibrahim Abi-Ackel, Prisco Viana, Jackson Pereira, Luiz Carlos Hauly. 4) Gás canalizado: O presidente seria o Deputado Federal Luciano Pizzato e o Relator o Deputado Federal Jorge Tadeu Mudalen. Os principais aliados do govemo seriam: Saulo Queiroz, Manoel Castro, Renato Jonhson, Francisco Diógenes, Marcos Lima, Hélio Rosas. 5) Transporte de cabotagem: A presidência ficaria com o Deputado Federal Alberto Silva e a relatoria com o Deputado Federal José Carlos Aleluia. Os principais aliados do govemo seriam os deputados: José Carlos Aleluia, Wilson Braga, Newton Cardoso.