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3.3 INSTRUMENTO DE PESQUISA ADOTADO

4.1.2 Grau de satisfação

Apresenta-se nesse item o grau de satisfação dos Afro-migrantes no mercado de trabalho e Caxias do Sul, isto é, o modo que foram acolhidos e como foram colocados no seu respectivos postos no mercado de trabalho e informando também como se sentem enfrentando uma cultura tão diferente da sua e também o modo de trabalho em cidade de Caxias do Sul. Na Tabela 14, por exemplo, aponta que apenas 34,2% dos afro-migrantes segundo a amostra estão exercendo a sua profissão no mercado de trabalho. Um índice que explica como foram inseridos no mercado de trabalho, visto que, da parte deles, esse índice aponta uma insatisfação com sua perspectiva frente sua colocação no mercado de trabalho brasileiro.

Tabela 14 – Os afro-migrantes exercem a profissão do país de origem em Caxias do Sul

Respostas Frequência Porcentual (%)

Não 100 65,8

Sim 52 34,2

Total 152 100,0

Fonte: Dados da pesquisa (2019).

Embora 34,2% informem que estão exercendo a mesma profissão de sua terra natal, a tabela 15, evidencia o percentual de sua regularidade no mercado. Dentro destes 34,2 % existe um percentual de 51,92% que possuem autorização do Estado para exercer a sua profissão, no entanto 44,23% não estão autorizados para exercê-la e 3,85% que a protocolaram. Esses índices revelam o quanto é difícil a burocracia necessária para realizar tal protocolo, e os empecilhos para conseguir a licença para trabalhar com a mesma profissão exercida em sua terra natal. Na Tabela 15, mostra-se os números de quantos exercem profissão no Brasil e se possuem autorização do Estado para exercê-la.

Tabela 15 – Números dos que exercem profissão no Brasil e se possuem autorização do Estado para exercê-la

Respostas Frequência Porcentual (%)

Sim 27 51,92

Não 23 44,23

Não, mas protocolei 2 3,85

Total 52 100,0

Fonte: Dados da pesquisa (2019).

Incluir-se no mercado de trabalho de um país estrangeiro não é fácil. A Tabela 16 demostra que 86,8% estão trabalhando, entende-se que existe uma variação muito

significativa da parte da economia do país e sobretudo da economia de Caxias do Sul. O índice 13,2% informa que poucos não trabalham, mostra também que existe uma parte dos afro-migrantes atividades informais, pois a economia de Caxias não melhorou muito.

Tabela 16 – Distribuição dos afro-migrantes que tem vínculo empregatício

Tipo de vínculo Frequência Porcentual (%)

Trabalha 132 86,8

Não trabalha 20 13,2

Total 152 100,0

Fonte: Dados da pesquisa (2019).

Caxias do Sul é uma região que tem uma característica industrial, segundo a Tabela 17, têm 37,12% dos afro-migrantes que estão inseridos nesse ramo, comparativamente a 34,85% que estão no ramo do comércio e por fim, 28,03% deles estão na parte do serviço.

Tabela 17 – Ramo de trabalhos dos afro-migrantes estão trabalhando

Ramo Frequência Porcentual (%)

Comércio 46 34,85

Indústria 49 37,12

Serviço 37 28,03

Total 132 100,0

Fonte: Dados da pesquisa (2019).

A Figura 14, exibe de maneira geral a apresentação daqueles que trabalham com contrato formal de trabalho, daqueles que são autônomos e também daqueles que estão sem emprego. O papel do trabalho na vida dos migrantes precisa ser mais bem compreendido, pois eles vão a outros países a procura de melhores oportunidades, deixando para trás familiares, esposas, filhos, amigos e a própria cultura. Esses imigrantes assumem um compromisso com seu país e seus familiares, pois, algumas vezes, eles são a única fonte de renda da família, por isso muitas vezes isso os leva a trabalhar em mais de um lugar para conseguir seu sustento e mandar dinheiro para o país de origem (LAGUE; GALLON; CEROTTI, 2019).

Figura 14 – Funcionalidade dos afro-migrantes no mercado de Caxias do Sul

Fonte: Dados da pesquisa (2019).

No centro de Caxias do Sul encontra-se muitos afro-migrantes que estão integrados no mercado de trabalho em Caxias do Sul como a Figura 15 mostra.

Figura 15 – Afro-migrantes autônomos no mercado de trabalho em Caxias do Sul

Fonte: Fotos feitas pelo autor (2019).

A Tabela 18, apresenta a renda dos afro-migrantes no mercado de Caxias do Sul. Entende-se que a maioria (46,21%) ganham um pouco mais de um salário mínimo. Embora esse salário seja maior do que um salário mínimo, esse percentual é insignificante para

mostrar o grau de satisfação dos afro-migrantes.

Tabela 18 – Distribuição da renda dos afro-migrantes no mercado de trabalho

Renda Frequência Porcentual (%)

900 a 1.200 Reais 53 40,15 1.201 a 1.800 Reais 61 46,21 1.801 a 2.000 Reais 11 8,33 2.001 a 3.000 Reais 6 4,55 Acima de 3.001 Reais 1 0,76 Total 132 100,0

Fonte: Dados da pesquisa (2019).

Indica-se o grau de satisfação dos afro-migrantes na Tabela 19. Observa-se que há um porcentual de 71,1% de insatisfação. Esse índice é um dos critérios representativos da economia do Brasil e especialmente de Caxias do Sul. Também um dos motivos pelo qual pode-se afirmar o porquê esse processo migratório oscila muito ao nível nacional e também ao nível internacional.

As empresas em que faltavam mão de obra na região de Caxias começaram a contratar os afro-migrantes na região no primeiro boom migratório entre 2010 e 2014, esses acabaram preencher uma lacuna em determinado período. No entanto o salário que recebem é considerado baixo, principalmente com a atual depreciação do real em relação ao dólar, o que diminui o valor que eles podem enviar às famílias no seu país de origem, ao converterem para a moeda americana. Segundo (FILIPPIM; SCHUMARCHER; ALPERSTEDT, 2018), estas informações confirmam os apontamentos do relatório da ONU que afirma que por oferecer uma maior quantidade de mão de obra ao mercado, a imigração acaba por estimular a produtividade e ainda segundo este relatório isso não tem uma incidência significativa sobre o desemprego dos trabalhadores nativos, em relação à nova mão de obra de imigrantes.

Tabela 19 – Grau de satisfação dos afro-migrantes em relação a sua renda

Situação Frequência Porcentual (%)

Satisfeito 44 28,9

Insatisfeito 108 71,1

Total 152 100,0

Fonte: Dados da pesquisa (2019).

Mostra-se na Tabela 20, que os afro-migrantes que estão em Caxias vieram sozinhos com um porcentual de 61,18% representando a maioria e 38,82% vieram com algum parente, família e/ou grupos de amigos.

Tabela 20 – Distribuição dos que vem e que dos não vem sozinho para o Brasil

Respostas Frequência Porcentual (%)

Sozinho 93 61,18

Não sozinho 59 38,82

Total 152 100,0

Fonte: Dados da pesquisa (2019).

Para aqueles que vieram com familiares, parentes e/ou grupos de amigos, mostra-se na Tabela 21, que 49,15% dos afro-migrantes vieram com amigos e 44,07% vieram com familiares. Um índice que projeta que este processo tem em sua característica não ser um processo migratório em que os migrantes viajam com toda a família, isto é, viajam em busca de melhores condições de trabalho para sustentar a sua família no país de origem.

Tabela 21 – Distribuição daqueles que vieram com outros grupos de imigrantes, amigos ou familiares

Respostas Frequência Porcentual (%)

Outros imigrantes 4 6,78

Amigos 29 49,15

Familiares 26 44,07

Total 59

Fonte: Dados da pesquisa (2019).

A Tabela 22, mostra de uma maneira mais clara conforme o percentual de 38,82% (Tabela 20) os afro-migrantes que vieram com parentes, familiares ou amigos, embora esses dados indiquem que esse processo migratório não está fundado em uma imigração permanente, mas sim que vai mudando de característica através do comportamento da economia ao nível nacional e internacional, pois o sujeito pode viajar em busca de uma vida melhor em outros países.

Tabela 22 – Familiares que vieram com afro-migrantes

(continua) Familiares Frequência Porcentual (%)

1 Irmão 3 11,54 1 Parente 3 11,54 1 Primo 1 3,85 2 Filhos 2 7,69 2 Irmãos 1 3,85 3 Parentes 2 7,69 4 Filhos 1 3,85 5 Parentes 1 3,85 Cônjuge 2 7,69 Esposa 1 3,85

(conclusão) Familiares Frequência Porcentual (%)

Esposa e 1 filho 1 3,85 Esposa e 2 filhos 2 7,69 Esposa e 4 filhos 1 3,85 Esposo 1 3,85 Esposo e 1 filho 2 7,69 Esposo e 2 filhos 1 3,85 Tio 1 3,85 Total 26 100,00

Fonte: Dados da pesquisa (2019).

Na Figura 16, mostra de uma maneira representativa o percentual daqueles grupos de afro-migrantes que vieram com parentes, familiares ou ainda grupos de amigos. Nessa Figura aponta que o grupo que mais veio acompanhado com familiares são os haitianos que também são o maior grupo em Caxias do Sul.

Figura 16 – Percentual de afro-migrante que vieram em grupos de migrantes, amigos e parentes

Fonte: Dados da pesquisa (2019).

Visto que este tem sido um processo migratório que varia muito através do tempo, a Tabela 23 revela que 57,2% dos afro-migrantes querem voltar para sua terra natal, um índice que projeta também um grau de insatisfação por parte dos afro-migrantes.

Camargo e Herédia (2018) discorrem a respeito da atual situação das migrações internacionais, explicando que apesar de serem realizadas como solução para as populações vítimas de guerras, conflitos políticos, violência urbana, miséria e crise econômica. Muitas

vezes as pessoas que se deslocam podem sofrer preconceitos e discriminações culturais, sociais, econômicos, raciais, dependendo do interesse de que os recebe. E ressalta que nesta relação é imprescindível lembrar que “tanto quem recebe quanto quem está sendo recebido, precisa acolher o outro para que haja uma hospitalidade incondicional, sem obrigações”. Na Figura 17, mostra-se o senegalês no Mercado de trabalho em Caxias do Sul.

Figura 17 – Senegalês no mercado de trabalho em Caxias do Sul

Fonte: Foto feita pelo autor (2019).

Para Elias e Scotson (2000) os deslocamentos não podem ser analisados apenas por seus fatores geográficos e espaciais, é importante levar em consideração também que o migrante está se deslocando de um grupo social para outro e precisará se inserir nesse novo ambiente e sociedade, estes autores abordam esses conceitos por meio das relações entre a população residente (estabelecidos) e os que vêm de fora (outsiders). Ainda segundo estes autores os encontros entre os que já estão estabelecidos e com aqueles que vêm de fora podem gerar muitos conflitos, que podem, por exemplo, surgir da disputa pelo espaço, onde os estabelecidos podem achar que são os únicos donos do lugar por estarem ali há mais tempo ou

ainda pelo choque de culturas que pode acabar em agressões tanto morais, quanto físicas (Xenofobia, preconceito, racismo).

Na Tabela 23, apresenta-se o percentual de afro-migrantes que querem voltar para seu país de origem.

Tabela 23 – Distribuição dos afro-migrantes que querem voltar para seu país de origem

Tipos de Respostas Frequência Porcentual (%)

Positiva 87 57,2

Negativa 65 42,8

Total 152 100,0

Fonte: Dados da pesquisa (2019).

Na Tabela 24, ressalta-se de uma maneira geral o total de respostas positivas informando de quanto em quanto tempo querem ir embora do Brasil e também incluindo as respostas negativas o respeito da pergunta feita.

Tabela 24 – Tipos de respostas negativas e afirmativas e em quanto tempo querem voltar para seu país

Respostas Frequência Porcentual (%)

Resposta Negativa 65 42,8 Até final 2019 5 3,3 1 ano 7 4,61 2 anos 16 10,53 3 anos 11 7,24 4 anos 12 7,9 5 anos 11 7,24 6 anos 3 1,97 7 anos 2 1,32 8 anos 1 0,66 10 anos 7 4,61 Sem previsão 12 7,9 Total 152 100,0

Fonte: Dados da pesquisa (2019).

De uma maneira mais clara a Figura 18, apresenta esses percentuais para um melhor olhar, demarcando que apenas 42,80% dos afro-migrantes responderam negativamente e 57,2% afirmam positivamente, embora não sabe em período definitivo.

Figura 18 – Distribuição das respostas negativas e afirmativa de retorno para seu país

Fonte: Dados da pesquisa (2019).

Seguindo o ritmo de insatisfação a Tabela 25 mostra que 51,3% responderam que não querem trazer familiares e amigos para o Brasil, apesar de ser um número que empatou com as repostas afirmativas, significa que a situação socioeconômica do Brasil e sobretudo de Caxias do Sul, para eles, não favorece muito com respeito de seu plano de vida familiar.

Tabela 25 – Distribuição dos imigrantes que querem trazer mais familiares e amigos para o Brasil

Respostas Frequência Porcentual (%)

Sim 74 48,7

Não 78 51,3

Total 152 100,0

Fonte: Dados da pesquisa (2019).

A Tabela 26 mostrou que um dos motivos que levou a imigração é a busca por emprego e vida melhor, a tabela também indica que esses mesmos grupos de imigrantes estiveram em outros lugares com esse mesmo objetivo de melhores condições de vida, eles tem mudado de um lugar a outro através das variações das circunstâncias e também através da mudança de maneira econômica ao nível mundial.

Tabela 26 – Distribuição dos imigrantes que imigraram para outros países

Respostas Frequência Porcentual (%)

Não 121 79,61

Sim 31 20,39

Total 152 100,0

A Tabela 27 apresenta o percentual dos que já imigraram e também os países que já imigram antes de vir para o Brasil. Apesar de que aqueles que já haviam imigrado para outros países antes de imigrar-se para o Brasil representam 20,39% (Tabela 26), esse percentual pode mudar a qualquer momento, pois depende a economia do lugar presente para que seja possível essa mudança.

Tabela 27 – Países que já imigraram e o percentual dos imigrantes que não imigraram antes de vir para o Brasil

Países Frequência Porcentual (%)

Não 121 79,6 África do Sul 2 1,3 Chile 2 1,3 Cuba 2 1,3 Dubai 1 0,7 Equador 1 0,7 Estados Unidos 1 0,7 França 3 2,0 Guiana França 1 0,7 República Dominicana 18 11,8 Total 152 100,0

Fonte: Dados da pesquisa (2019).

A Tabela 28, apresenta que além de ser legalizados, alguns dos afro-migrantes querem ir além para ter a cidadania Brasileira (46,1%), em contrapartida 53,9% não querem a cidadania. Esses afro-migrantes que responderam afirmativamente são aqueles que tinham uma intuição de ter uma vida melhor no Brasil e essa convicção permanece até agora, ainda acreditam que a economia do país pode melhorar nos dias futuros. E o percentual de 53,9% representam aqueles que a qualquer momento podem sair do Brasil em busca de uma vida melhor.

Tabela 28 – Distribuição dos imigrantes que querem a cidadania brasileira

Respostas Frequência Porcentual (%)

Sim 70 46,1

Não 82 53,9

Total 152 100,0

Fonte: Dados da pesquisa (2019).

Tendo em conta com a vinda dos afro-migrantes nessa última década que esse processo migratório é especificamente em busca de oportunidades, nesse sentido a Tabela 29 mede de uma outra maneira o grau de satisfação dos afro-migrantes. Comparando o percentual daqueles que chegaram nessa última década aproximadamente 2010/2011

representando um número muito baixo (37,5%) comparando a sua perspectiva que é de melhorar a vida através de sua renda a família de origem.

Tabela 29 – Percentual de imigrantes que já visitaram sua terra natal após a sua vinda no Brasil

Respostas Frequência Porcentual (%)

Sim 57 37,5

Não 95 62,5

Total 152 100,0

Fonte: Dados da pesquisa (2019).

Na Tabela 30 destaca que 74,3% dos afro-migrantes moram na residência alugada e 18,4% moram na residência compartilhada. A Tabela também informa-se que grande parte de sua renda além de outras contas prejudica no pouco que recebem para lhes sustentar tanto aqui como para ajudar sua família no seu país de origem.

Tabela 30 – Distribuição do tipo de residência dos afro-migrantes

Tipo de residência Frequência Porcentual (%) Porcentagem válida (%) Porcentagem acumulativa (%) Própria 11 7,2 7,2 7,2 Alugada 113 74,3 74,3 81,6 Residência compartilhada 28 18,4 18,4 100,0 Do estado 0 0 0 100,0

Sem residência fixa 0 0 0 100,0

Total 152 100,0 100,0

Fonte: Dados da pesquisa (2019).

Um dos pontos cruciais para os afro-migrantes por estar em um país que não é seu, em uma cultura que não é sua, é manter-se unidos para matar a saudade de sua terra natal, e a Tabela 31 apresenta que a maioria (67,11%) estão em um grupo, uma associação ou uma igreja de sua terra natal. Assim existem por exemplo a associação dos haitianos, igreja haitiana em Caxias do Sul e também associação dos senegaleses unidos com a sua religião muçulmana.

Os autores Lague, Gallon e Cerotti (2019) apontam em seu estudo alguns fatores de afetos positivos, e alguns fatores de afetos negativos apontados pelos imigrantes senegaleses, entre eles destacaram-se como fatores de afetos negativos, a saudade dos familiares que ficaram na sua terra natal, algumas situações de decepção no decorrer da vida, o racismo, alguns atos de desrespeito e expectativas frustradas, pois a realidade encontrada não correspondeu ao que tinham imaginado. E quanto aos aspectos de afetos positivos, se sobressaem a prática da religião, a paz que eles encontram no país, a amizade com os

brasileiros e com outros.

Tabela 31 – Distribuição do percentual dos afro-migrantes que participam da associação cultural de sua terra natal

Respostas Frequência Porcentual (%) Porcentagem válida (%) Porcentagem acumulativa (%) Não 50 32,89 32,89 32,89 Sim 102 67,11 67,11 100,0 Total 152 100,0 100,0

Fonte: Dados da pesquisa (2019).

Já que chegaram em uma cultura que não é sua, uma cultura predominada pela imigração italiana e alemã, já estabelecidas, muitos dos afro-migrantes sofreram preconceitos por ser negros e pobres. Apesar de que a margem pequena de 13,2% (Tabela 32) é um valor significativo que aponta que eles sofrerem alguns tipos de preconceitos.

A falta de centralidade decisória em questões migratórias na esfera federal faz com que estados e municípios sintam se descomprometidos em acolher e incluir os imigrantes, isso acaba gerando muitas desinformações que geram preconceitos, pois geralmente a maioria dos nativos do país que acolhe os imigrantes desconhece a realidade deles. Em geral apenas notam que existem pessoas diferentes andando pelas ruas, falando outro idioma, algo que por vezes causa estranheza e curiosidade. No entanto são tidos também como doentes e responsáveis pela transmissão de doenças, como o ebola. E não são poucos os casos em que a mídia e o próprio poder público os tratam como invasores, ilegais, desocupados ou possíveis usurpadores de postos de trabalho (ESPEIORIN, 2014).

Figura 19 – Ganeses no mercado de trabalho

Fonte: Fotos feitas pelo autor (2019).

Estas afirmações corroboram com o trabalho de Lague, Gallon e Cerotti (2019), ao afirmarem que ainda há preconceito por parte de alguns brasileiros com isso os imigrantes são levados a enfrentar a discriminação social devido à cor de sua pele. Para os autores Além de todos os desafios para chegar ao Brasil, das barreiras comunicacionais que precisaram ser vencidas a inserção nas cidades brasileiras, no trabalho e na sociedade, existem ainda os fatores aliados às desavenças existentes entre os poderes municipais, estaduais e federal, que podem influenciar negativa e positivamente o bem-estar desses indivíduos (COSTA; GELMINO, 2012). Sobre isso o trabalho de Lague, Gallon e Cerotti (2019) traz o relato de alguns imigrantes sobre questões ligadas ao racismo e a falta de respeito com que, muitas vezes, são tratados pelos gestores. Conforme menciona um deles, “A população, não é todo mundo igual, tem uns que nos aceitaram, outros têm preconceito”. Já um outro observa que o “supervisor sempre fala feio para o negro, ele vai mandar embora o senegalês”. Fernandes e Castro (2014) explicam que a inclusão social nem sempre ocorre como o esperado, pois ainda há muito preconceito, principalmente com relação cor de pele dos imigrantes africanos (ESPEIORIN, 2014).

O trabalho proposto por Lague, Gallon e Cerotti (2019) busca analisar quais aspectos influenciam direta e indiretamente a sensação de satisfação ou insatisfação com a vinda desses imigrantes. O estudo revelou que o principal conteúdo identificado, em todos os grupos focais, foi o fator econômico, no qual relatam que o bem estar está muito ligado ao trabalho, em guardar dinheiro no banco e pensar no futuro, mas o que mais se destacou nos relatos foi a relação entre bem estar e ganhar dinheiro. Segundo os autores essa questão pode ser compreendida se analisarmos que a fraca economia e a pouca oportunidade de trabalho oferecida no país de origem, atrelado as dificuldades econômicas foram um dos principais motivos que impulsionaram os africanos a migrar em busca de oportunidades de trabalho.

De acordo com Camargo e Herédia (2018) faz apenas uma década que os imigrantes que estão chegando não são católicos e não possuem nenhum interesse de se tornar iguais, como em outros fluxos migratórios já instalados. As autora, explanam a ideia de a identidade brasileira ter se construído através de um reforço imaginário de uma certa superioridade branca, mesmo sua população ter em sua constituição negros e indígenas, que, no entanto,, nunca foram vistos da mesma forma como os brancos. Isso evidencia de maneira muito clara a presença de um discurso racista na construção da nação brasileira, algo muito marcante desde o final do século XIX, quando o governo imperial preferiu a mão de obra estrangeira, branca, e investe na sua vinda para o país, criando um série de vantagens à emigração europeia no período. Segundo os autores o racismo pode ser considerado como um meio socialmente construído para autenticar a ideia de superioridade ou inferioridade racial de um grupo em relação a outro. E\de acordo com o contexto relatado não se pode negar a presença do racismo na história econômica e política do país.

Ainda de acordo com os autores Caxias do Sul, teve papel importante neste processo de branqueamento promovido pelo governo imperial através da vinda de imigrantes italianos, para o sul do Brasil. Dentre as cláusulas presentes na Carta, destaca-se o acesso à terra, o preço da mesma, a forma de como seria financiado os lotes coloniais e, principalmente, a impossibilidade de a propriedade em questão possuir escravos (HERÉDIA, 1997). Esta última claúsura justifica a exclusão do negro na sociedade local, o que de certa forma causou o afastamento do negro na colônia italiana

Elias e Scotson (2000) APUD Herédia (2018). Quando os migrantes têm a cor de pele e outras características físicas hereditárias diferentes das dos moradores mais antigos, os problemas criados por suas formações habitacionais e por seu relacionamento com os habitantes dos bairros mais antigos costumam ser discutidos sob o rótulo de “problemas raciais”. Quando os recém-chegados são da mesma raça,

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