• Nenhum resultado encontrado

Os afro-migrantes no mercado de trabalho de Caxias do Sul-RS

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Os afro-migrantes no mercado de trabalho de Caxias do Sul-RS"

Copied!
125
0
0

Texto

(1)

ÁREA DO CONHECIMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS CURSO DE ADMINISTRAÇÃO

MARIO NOEL

OS AFRO-MIGRANTES NO MERCADO DE TRABALHO DE CAXIAS DO SUL-RS

CAXIAS DO SUL 2019

(2)
(3)

OS AFRO-MIGRANTES NO MERCADO DE TRABALHO DE CAXIAS DO SUL-RS

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado à Área do Conhecimento de Ciências Sociais, da Universidade de Caxias do Sul, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Administração.

Área de concentração: Tópicos Especiais Orientador TCC I: Prof. Dr. Marco Aurélio Bertolazzi.

Orientadora TCC II: Profª Dra. Maria Emilia Camargo.

CAXIAS DO SUL 2019

(4)
(5)

MARIO NOEL

OS AFRO-MIGRANTES NO MERCADO DE TRABALHO DE CAXIAS DO SUL-RS

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado à Área do Conhecimento de Ciências Sociais, da Universidade de Caxias do Sul, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Administração.

(6)
(7)

Dedico esse trabalho à minha querida esposa Sharlene Barros de Quadros Noel por ter me acompanhado durante toda essa etapa da minha formação. Seu apoio foi incondicional, crucial e significativo para chegar a essa meta.

(8)
(9)

Em primeiro lugar, quero agradecer a Deus todo-poderoso por ter me acompanhado nessa caminhada. Sei que ele nunca me abandona nos momentos difíceis da minha vida. Agradeço a meus pais, pois sem eles eu não conseguiria chegar até aqui. Eles sofreram muito para pagar meus estudos desde a creche até o ensino médio, pois nascer numa família humilde é motivo de pouca escolha, mas apesar disso nunca deixaram de pagar meus estudos iniciais. Agradeço à senhora minha mãe Elinise Jean Baptiste, minha primeira educadora. Foi com ela que aprendi a ler e escrever. Considero como a primeira pedra fundamental para que essa etapa pudesse ser concluída. Ela me ensinou a ser forte e resistente. Nunca esquecerei os dizeres dela para incentivar-me estudar: “Filho eu não tenho nenhuma herança para deixar para você, pois estude, esta é a única chave para ter uma vida digna amanhã. Estudar é muito importante para abrir-lhe portas, pois é apenas essa herança que posso dar para você nesse momento que ainda estou viva”. São palavras que guardarei para sempre em meu coração.

Eu agradeço também a Frei Jaime J. Bettega que me auxiliou durante e depois da minha saída do seminário. Foi o passo mais difícil da minha vida, naquele momento longe de casa e da minha família de origem. Mas com sua ajuda consegui superar tudo e continuar em frente. Me deu uma nova família que é a família Nicolau Mattei.

A essa família Nicolau Mattei, especialmente Sr. João Luis Mattei e Sra. Ana Maria Nicolau Mattei. Uma família que me acolheu e tem me apoiado desde a minha saída do seminário até o momento atual. Sem sua ajuda essa fase ficaria mais difícil e quase impossível de chegar. Com essa família ganhei outras famílias e amigos nessa jornada.

Agradeço a todos meus padrinhos de casamento, especialmente Dr. Daniel Giordani Vasquez e Fernanda Vasquez, amigos que a gente encontrou no caminho e que fazem parte da nossa vida e também da nossa família, sendo que o apoio contou nesse ciclo.

Meu agradecimento final é para todos meus professores da Universidade de Caxias do Sul, especialmente professores do curso de Filosofia (Humanas), de Ciências Contábeis e Administração (Ciências Sociais), o meu querido orientador do TCC I Marco Aurélio Bertolazzi e também a minha querida orientadora do TCC II, professora Maria Emilia Camargo por seu apoio incondicional.

(10)
(11)

“Encontramos a verdade a partir das evidências no mundo à nossa volta”

Aristóteles “A história é o registro do passado que nos ensina a valorizar a nossa cultura e a dos

outros.” Mario Noel

(12)
(13)

A imigração é um fenômeno mundial, gerado por um sistema de fluxo migratório constante. Embora o Brasil não tivesse o costume de receber imigrantes caribenhos e africanos, na última década o país tem sido um novo ator no ramo de países receptores, sobretudo com a chegada dos afro-imigrantes, especialmente em Caxias do Sul, município marcado pelo predomínio da cultura italiana. Esta pesquisa tem como objetivo analisar a percepção dos afro-migrantes a respeito do mercado de trabalho da região de Caxias do Sul. Para atingir este objetivo foi utilizada a metodologia quantidade e qualitativa. O estudo quantitativo foi operacionalizado através de uma pesquisa de campo, com a aplicação de um questionário estruturada para uma amostra formada de 152 afro-migrantes. A técnica de amostragem adotada é a não probabilística por conveniência. Para a parte qualitativa foi realizada uma entrevista com a Irmã Maria do Carmo, uma das pessoas que teve contato direto com os afro-migrantes. A pesquisa revelou que a migração dos afro-migrantes tem sido uma imigração majoritariamente masculina, em geral pessoas entre 31 a 40 anos, casados e em sua maioria haitianos. O estudo também apontou certa insatisfação dos afro-migrantes com relação as demandas burocráticas envolvendo questões com a legislação e regularização do documentos para estádia. Também foram destacadas dificuldades de adaptação e inserção na cultura local. Além destas proposições evidenciou-se também um grau de insatisfação elevado referente ao salário recebido, pois este era insuficiente para manterem-se no Brasil e ao mesmo tempo enviar recursos para seus familiares que permaneceram em seus países de origem. O trabalho procura fomentar a discussão a respeito das migrações com destino ao Brasil especificamente em Caxias do Sul, nessa última década do século XXI. Entende-se que a migração pode ser vista como uma fonte de enriquecimento recíproco entre o migrante e o país receptor, representando um ponto positivo para contribuir no desenvolvimento econômico e social de uma região.

(14)
(15)

Figura 1 – Fluxo migratório no Brasil entre os anos 2000 e 2014 ... 44

Figura 2 – Os dez maiores grupos migratórios entre 2007 e 2014 ... 45

Figura 3 – Maiores grupos imigratórios no Brasil no ano de 2014 ... 47

Figura 4 – Imigração contemporânea e destino dos novos imigrantes ... 52

Figura 5 – Afro-migrantes no Monumento ao Imigrante em Caxias do Sul ... 53

Figura 6 – Página no Facebook - central de empregos para haitianos no Brasil ... 54

Figura 7 – Composição por faixa etária dos imigrantes haitianos ... 56

Figura 8 – Central de empregos para senegaleses em Caxias do Sul ... 57

Figura 9 – Novos imigrantes em Caxias do Sul ... 58

Figura 10 – Composição por faixa etária dos imigrantes senegaleses ... 59

Figura 11 – Evolução da economia de Caxias do Sul ... 63

Figura 12 – Representação gráfica dos entrevistados por gênero e por nacionalidade ... 70

Figura 13 – Gráfico da chegada dos entrevistados entre 2010 até 2019 ... 72

Figura 14 – Funcionalidade dos afro-migrantes no mercado de Caxias do Sul ... 75

Figura 15 – Afro-migrantes autônomos no mercado de trabalho em Caxias do Sul ... 75

Figura 16 – Percentual de afro-migrante que vieram em grupos de migrantes, amigos e parentes ... 78

Figura 17 – Senegalês no mercado de trabalho em Caxias do Sul ... 79

Figura 18 – Distribuição das respostas negativas e afirmativa de retorno para seu país ... 81

Figura 19 – Ganeses no mercado de trabalho ... 85

(16)
(17)

Tabela 1 – Crescimento dos fluxos migratórios com direção ao Brasil ... 49

Tabela 2 – Composição por gênero dos imigrantes haitianos ... 55

Tabela 3 – Grau de instrução dos imigrantes haitianos ... 56

Tabela 4 – Composição por gênero dos imigrantes senegaleses ... 58

Tabela 5 – Grau de instrução dos imigrantes senegaleses ... 60

Tabela 6 – Distribuição dos entrevistados segundo a faixa etária ... 69

Tabela 7 – Distribuição dos entrevistados por gêneros ... 69

Tabela 8 – Distribuição dos entrevistados por nacionalidade e gênero ... 70

Tabela 9 – Distribuição dos entrevistados segundo o estado civil ... 70

Tabela 10 – Distribuição dos entrevistados segundo níveis de escolaridade ... 71

Tabela 11 – Distribuição dos entrevistados sobre número de filhos ... 71

Tabela 12 – Distribuição dos entrevistados por nacionalidade ... 71

Tabela 13 – Distribuição dos afro-migrantes segundo profissão ... 72

Tabela 14 – Os afro-migrantes exercem a profissão do país de origem em Caxias do Sul ... 73

Tabela 15 – Números dos que exercem profissão no Brasil e se possuem autorização do Estado para exercê-la ... 73

Tabela 16 – Distribuição dos afro-migrantes que tem vínculo empregatício ... 74

Tabela 17 – Ramo de trabalhos dos afro-migrantes estão trabalhando ... 74

Tabela 18 – Distribuição da renda dos afro-migrantes no mercado de trabalho ... 76

Tabela 19 – Grau de satisfação dos afro-migrantes em relação a sua renda ... 76

Tabela 20 – Distribuição dos que vem e que dos não vem sozinho para o Brasil ... 77

Tabela 21 – Distribuição daqueles que vieram com outros grupos de imigrantes, amigos ou familiares ... 77

Tabela 22 – Familiares que vieram com afro-migrantes ... 77

Tabela 23 – Distribuição dos afro-migrantes que querem voltar para seu país de origem ... 80

Tabela 24 – Tipos de respostas negativas e afirmativas e em quanto tempo querem voltar para seu país ... 80

Tabela 25 – Distribuição dos imigrantes que querem trazer mais familiares e amigos para o Brasil ... 81

Tabela 26 – Distribuição dos imigrantes que imigraram para outros países ... 81

Tabela 27 – Países que já imigraram e o percentual dos imigrantes que não imigraram antes de vir para o Brasil ... 82

(18)
(19)

Tabela 29 – Percentual de imigrantes que já visitaram sua terra natal após a sua vinda no Brasil ... 83 Tabela 30 – Distribuição do tipo de residência dos afro-migrantes ... 83 Tabela 31 – Distribuição do percentual dos afro-migrantes que participam da associação cultural de sua terra natal ... 84 Tabela 32 – Percentual dos imigrantes que sofreram preconceitos, discriminação da parte dos cidadãos de Caxias do Sul ... 87 Tabela 33 – Motivo da vinda dos afro-migrantes para o Brasil ... 87

(20)
(21)

BCB Banco Central do Brasil

CAM Centro de Atendimento ao Migrante

CDL Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL)

CIC Câmara de Indústria, Comércio e Serviços em Caxias do Sul

CPF Cadastro de Pessoa Física CPF

G1 Portal de Notícia da Rede Globo

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IPI Imposto sobre Produtos Industrializados

MINUSTAH Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti

MTE Ministério do Trabalho e Empregos-RS

OEA Organização dos Estados Americanos

ONU Organização das Nações Unidas

PIB Produto Interno Bruto

PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

RCI Região de Colonização Italiana

(22)
(23)

1 INTRODUÇÃO ... 25

1.1 TEMA E PROBLEMA DE PESQUISA ... 25 1.2 OBJETIVOS ... 26

1.2.1 Objetivo geral ... 26 1.2.2 Objetivos específicos... 26

1.3 JUSTIFICATIVA ... 27

2 REFERENCIAL TEÓRICO ... 29

2.1 MIGRAÇÕES, IMIGRAÇÕES E EMIGRAÇÕES ... 29

2.1.1 O homem como ser em movimento ... 31 2.1.2 Origens do processo migratório ... 32

2.1.2.1 O caso dos haitianos ... 34 2.1.2.2 O caso dos africanos ... 36 2.2 AFRO-MIGRANTES ... 42

2.2.1 Termo afro ... 42 2.2.2 Imigração no Brasil no século XXI ... 43 2.2.3 Afro-brasileiros em Caxias do Sul ... 50 2.2.4 Afro-migrantes em Caxias do Sul ... 51

2.2.4.1 A distribuição da imigração haitiana (2013 e 2014)... 55 2.2.4.2 A distribuição da imigração senegalesa (2013 e 2014) ... 57 2.3 MERCADO DE TRABALHO EM CAXIAS DO SUL ... 60

2.3.1 A economia brasileira na última década ... 60 2.3.2 A economia caxiense na última década... 62 2.3.3 Dificuldades da afro-migração em Caxias do Sul ... 64 3 METODOLOGIA ... 67

3.1 MÉTODO ... 67 3.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA ... 67 3.3 INSTRUMENTO DE PESQUISA ADOTADO ... 68

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ... 69

4.1 PARTE QUANTITATIVA ... 69

(24)
(25)

4.2 PARTE QUALITATIVA ... 88

4.2.1 Percepção em relação aos imigrantes no mercado de trabalho... 89 4.2.2 Percepção em relação a qualificação dos imigrantes ... 90 4.2.3 Percepção em relação a oscilação do processo migratório ... 91 4.2.4 Discussão do posicionamento da entrevistada ... 91 4.2.5 Dificuldades encontradas para a sua inserção na sociedade brasileira ... 93 4.2.6 Benefícios da imigração ... 94 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 99

5.1 LIMITAÇÕES DO ESTUDO ... 102 5.2 RECOMENDAÇÕES PARA ESTUDO FUTUROS ... 102

REFERÊNCIAS ... 103 APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO DA PESQUISA QUANTITATIVA ... 107 APÊNDICE B – ROTEIRO DA ENTREVISTA DA PARTE QUALITATIVA 111 APÊNDICE C – PROTOCOLO DE SOLICITAÇÃO... 113 APÊNDICE D – RESPOSTA AO PROTOCOLO SOLICITADO ... 115 APÊNDICE E – TERMOS DE AUTORIZAÇÃO DE USO DE IMAGEM ... 117

(26)
(27)

1 INTRODUÇÃO

Apresenta-se nesta parte introdutória o tema, o problema, os objetivos geral e específicos, além da justificativa do estudo. Entende-se que os afro-migrantes em Caxias do Sul trouxeram consigo algo diferente para o mercado de trabalho. Vieram aqui no Brasil para ter uma relação recíproca, de ganha-ganha de uma cultura para outra. Trata-se de analisar de perto a sua chegada ao Brasil, sobretudo em Caxias do Sul e o momento presente no mercado.

1.1 TEMA E PROBLEMA DE PESQUISA

A globalização e o sistema capitalista mostraram a sua evolução nas últimas décadas, entre séculos XX e XXI. É um fenômeno mundial gerado por um sistema, por sua vez, que gerou um fluxo migratório constante ao nível internacional. Tanto os países que costumam receber imigrantes, como aqueles que imigraram, ganharam um novo aspecto ao nível econômico, político, geográfico e social. Esse fluxo contínuo provocou um crescimento populacional e uma expansão demográfica que foram motivados por melhores condições de vida, bem estar e condições laborais entre outros. Em poucas palavras, o sistema capitalista tem como uma das características mais marcantes, segundo Uebel (2015), a intensa mobilidade espacial da população.

O Brasil recebeu, entre 1819 e final da década de 1940, aproximadamente cinco milhões de imigrantes italianos, alemães e poloneses, entre outros. Esse tipo de migração teve como objetivo de povoar o território brasileiro no sentido de troca de diversidades culturais étnicas. Logo depois desse período, o país recebeu também refugiados judeus, sírios, libaneses e palestinos (SANTOS et al., 2010 apud UEBEL, 2015). No início do ano 2010, ainda afirma Uebel (2015), que o Brasil mostrou um crescimento expressivo no número de imigrantes e refugiados como haitianos e senegaleses, segundo demonstraram os censos de 2000 e 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nessa última década, entende-se que tal imigração foi diferente do tipo de migração que o Brasil costumou receber nos séculos passados. São afro-migrantes que chegaram ao país como no tempo da escravidão, apenas com outra perspectiva e uma nova forma de ingresso na sociedade brasileira. Também a posição oficial do governo brasileiro a respeito aos afro-migrantes está ligada apenas por questões provisórias de ajuda humanitária, sem anseios subjetivos, conforme a Resolução Normativa 97/2012 do Conselho Nacional de Imigração.

(28)

de migrantes internacionais, competindo com os Estados Unidos, União Europeia, Canadá Singapura, Nova Zelândia e Austrália, entre outros. Chegando ao Brasil esse fluxo continua de estado em estado, de região em região. A chegada dos afro-migrantes na região da Serra Gaúcha, na terra dos “gringos” italianos e alemães, talvez não tenha sido uma entrada triunfal como a chegada dos europeus, pois vieram com outra perspectiva e conotação de imigrantes. Aliás chegaram numa terra aonde as barreiras sociais já tinham sido traçadas, uma região que já tem uma cultura e uma mentalidade de certo padrão. Apesar de tudo, os afro-migrantes não esconderam a sua motivação em busca de emprego no mercado de trabalho, tanto na indústria, no comércio e no serviço. Assim, este estudo trata do trabalho dos afro-migrantes na região de Caxias do Sul. O problema de pesquisa pode ser resumido na seguinte questão: Qual a percepção dos afro-migrantes sobre o mercado de trabalho na região de Caxias do Sul?

1.2 OBJETIVOS

O objetivo de uma pesquisa é uma meta a alcançar, em certo sentido um propósito, isto é, uma finalidade de um trabalho que indica também o que o pesquisador irá desenvolver para chegar ao tal meta. “Toda pesquisa deve ter um objetivo determinado para saber o que se vai procurar e que se pretende alcançar” (MARCONI; LAKATOS, 2002, p. 24). Por isso, é preciso ser claro, explícito e coerente com o tema de pesquisa, pois apresenta os motivos para o seu desenvolvimento, informando as atribuições que os resultados irão produzir.

1.2.1 Objetivo geral

O conceito de objetivo geral é baseado diretamente na questão norteadora da pesquisa. Ele direciona a pesquisa no seu percurso. Ele “está ligado a uma visão global e abrangente do tema” (MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 219). Para Andrade (2009), o objetivo geral está ligado ao tema de pesquisa. Enfim, é a visão que permite ao pesquisador compreender o todo da pesquisa. Nesse mesmo sentido, o objetivo geral deste estudo é analisar a percepção dos afro-migrantes a respeito do mercado de trabalho da região de Caxias do Sul.

1.2.2 Objetivos específicos

(29)

sendo o desdobramento do objetivo geral. Tais objetivos são mais delimitados, caminhos que devem ser percorridos para alcançar o objetivo geral, isto é, a caracterização das etapas ou fases de pesquisa. Segundo Marconi e Lakatos (2003, p. 219), os objetivos específicos “apresentam caráter mais concreto, permitindo, de um lado, atingir o objetivo geral e, de outro, aplicá-lo a situações particulares”. Os objetivos específicos, portanto, são desmembramentos do objetivo geral que tem como desígnio facilitar o percurso da pesquisa.

Os objetivos específicos deste estudo são:

a) levantar dados sobre o processo de imigração dos afro-migrantes no Brasil e especificamente na região de Caxias do Sul;

b) verificar o perfil dos afro-migrantes no mercado de trabalho de Caxias do Sul; c) identificar dificuldades encontradas no mercado de trabalho pelos afro-migrantes; d) analisar aspectos culturais envolvidos em tal imigração.

e) identificar o grau de satisfação dos afro-migrantes no mercado de trabalho em Caxias do Sul.

1.3 JUSTIFICATIVA

O processo migratório oscila bastante, isto é, procura constantemente pela melhor oportunidade. Não é sempre fácil viver em um país que não é seu e em uma cultura também que não é sua. Chegando a Caxias do Sul, em uma região diferente e de cultura predominantemente europeia, depoimentos mostram que os afro-migrantes não se sentiram bem acolhidos no mercado de trabalho. No processo migratório não existem muitas escolhas, pois eles sofreram preconceitos, discriminações e xenofonia da parte dos anfitriões, eles foram obrigados, de qualquer maneira, a abraçar tudo sem se queixar por questão de sobrevivência. O sistema de exploração não leva em consideração e muitas vezes não percebe que tais indivíduos falam vários idiomas e que esse seria um ponto para serem valorizados nesse tal mercado de trabalho comparativamente com os americanos, europeus, chineses e japoneses que chegaram no Brasil também no dois últimos séculos.

Nesse sentido, pode-se alegar que, muitas vezes, eles apenas recebem para sobreviver e não para o crescimento esperado e projetado, que foi motivo dessa mudança radical. Entre diversas variáveis, pode-se destacar a situação política e os fatores econômicos que ajudam a responder melhor essas perguntas. A análise proposta neste trabalho sobre a percepção quanto ao ambiente da região de Caxias do Sul busca entender as dificuldades ofertadas por tal ambiente.

(30)

Espera-se que esse trabalho auxilie na compreensão do significado de ser um estrangeiro de origem afro para que isso também possa colaborar com uma nova interpretação das imigrações contemporâneas deste século e as suas variações para o futuro. Entende-se que haverá outros tipos de migração com destino ao Brasil, com suas rotas, perfis, repercussões e potencialidades à sociedade, política e economia. Além de haver uma nova perspectiva sobre os imigrantes, deverá também este estudo contribuir com uma forma de aceitar as diferenças na sociedade. Isso pode auxiliar no processo de repúdio a discursos e práticas xenofóbicas aos imigrantes, já que, em certo sentido, o Brasil foi constituído por estrangeiros e, principalmente, Caxias do Sul como terra dos imigrantes.

(31)

2 REFERENCIAL TEÓRICO

O presente referencial teórico trata-se de uma descrição que busca entender diversas questões relacionadas ao tema, como o significado do termo migração, a história das migrações, os primeiros booms migratórios, bem como a situação econômica do Brasil e de Caxias do Sul em tais momentos. Também são analisadas as dificuldades encontradas pelos afro-migrantes em solo brasileiro.

2.1 MIGRAÇÕES, IMIGRAÇÕES E EMIGRAÇÕES

Para entender o tema da migração, ou ainda sobre o processo migratório, é importante saber a definição ou a etimologia das palavras migração, imigração e emigração. A palavra migração na sua etimologia em latim migratum, migratio, do verbo migrare que quer dizer, em outros termos, a passagem de um lugar para outro ou ainda deslocar-se de um lugar para outro. A migração, assim, é o movimento que uma pessoa, grupo ou animal realiza de um determinado local para outro. Essa palavra também pode ser utilizada como mudança entre regiões, aplicando-se em relação a um país ou região, entre pessoas e animais, por tempo permanente ou temporário. Um exemplo pode ser a migração das pessoas no Brasil do interior do país para as capitais. As pessoas não estão se mudando para uma terra estrangeira, mas apenas migrando ou ainda se deslocando de uma região para outra, no mesmo território, sendo que essa movimentação pode ser permanente ou temporária (PORTAL DIFERENÇA, 2019).

O termo imigração vem do latim immigratus e significa “se mudar para”. A expressão é usada para a entrada de pessoas de um país para morar em outro. Por exemplo, os haitianos imigram para o Brasil após o terremoto em 2010. Imigrar implica um movimento de tempo permanente e aplica-se apenas a pessoas em país estrangeiro. Imigrar geralmente se refere ao cruzamento de um limite político, como ir de um país a outro, quer dizer, sair de um ambiente climático, com uma cultura e idioma para abraçar outro ambiente climático, cultura e idioma, com respectivas leis e normas do país acolhedor. Já a palavra emigração vem do latim emigratus e quer dizer “se afastar”. Também a palavra emigração designa quando uma pessoa ou grupo deixa seu país para se instalar em outro. É o mesmo processo da imigração, o que diferencia é o sentido inverso. Por exemplo, os brasileiros que emigram para Europa ou para América do Norte, especialmente Estados Unidos. A emigração se aplica às pessoas e implica também movimento permanente como a imigração. Tanto a imigração quanto a emigração resultam em movimento permanente, ocorrendo quando uma pessoa ou grupo

(32)

muda de seu país para outro. A emigração e a imigração são previstas segundo o princípio do artigo 13º da Declaração Universal dos Direitos Humano: “Toda pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, e o direito de regressar ao seu país” (PORTAL UNRIC, 2019).

Entende-se que a migração é um processo que consiste em deslocamento de pessoas que vão de um lugar para outro com objetivo de se estabelecer de forma temporária ou definitiva. Em certo sentido, pode-se dizer que todos somos migrantes porque pode-se migrar de um bairro para outro, de uma cidade para outra ou ainda de um país para outro. Nesse contexto e segundo a definição dada, pode-se definir que existem dois tipos de migrantes: os internos e externos. Os migrantes internos são aqueles que migram dentro do próprio país, enquanto os migrantes externos ou internacionais são aqueles que saem de seus países ou estados de origem e dirigem-se a outro. Os refugiados são pessoas que estão fora do seu país porque foram ou estavam em risco de ser vítimas de graves violações de direitos humanos em razão de sua raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opinião política. São pessoas comuns que abdicaram de seus bens, empregos, familiares e amigos para preservar sua vida, liberdade e segurança. No Brasil, a Lei nº 9474/1997 descreve quem são os refugiados, quais são os procedimentos que o Estado adota para lhes garantir proteção e quais são os seus direitos e deveres no país (BRASIL, 1997).

Entende-se que migrar é um processo que compreende grandes mudanças. Quem busca a vida em outro país enfrenta vários desafios como o da língua, do trabalho, do choque cultural, da saudade da família e dos amigos, entre outros. Esse processo pode se tornar ainda mais difícil se, no país de destino, o migrante encontrar situações de preconceito, discriminação e xenofobia. A Constituição Brasileira de 1988 afirma, no artigo 5º, que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”. A Lei de Migração (Lei 13.445, de 24 de maio de 2017) prevê uma política de atenção ao migrante (BRASIL, 2017 - Art. 120) e, dentre os princípios e garantias enunciados, afirma-se:

a) repúdio e prevenção à xenofobia, ao racismo e a quaisquer formas de discriminação;

b) não criminalização da migração;

c) não discriminação em razão dos critérios ou dos procedimentos pelos quais a pessoa foi admitida em território nacional.

(33)

benefícios sociais, bens públicos, educação, assistência jurídica integral pública, trabalho, moradia, serviço bancário e seguridade social (Art. 3º). A Lei do Refúgio (Lei 9474/1997) também é um importante instrumento de garantia de direitos para os imigrantes refugiados, sendo que podem ser reconhecidos como refugiados aqueles que saíram de seu país devido a fundados temores de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social, opiniões políticas, ou grave e generalizada violação de direitos humanos.

2.1.1 O homem como ser em movimento

O processo migratório é constante e complexo. Existem dois tipos de migração: a migração interna, as pessoas que mudam de um lugar a outro no seu próprio território e a migração externa, as pessoas de um país que se mudam para outros países. As pessoas se mudam e se movem de um lugar para outro por diversas razões, por necessidade, oportunidade e sobrevivência, entre outras. De certo modo, entende-se que o homem é um ser que está sempre em movimento e mudança, em um processo de aprimoramento constante. Para entender melhor o processo migratório, é imprescindível utilizar como meios e ferramentas a sociologia, antropologia e psicologia que interagem com a natureza do homem como um todo. Isso facilita entender o porquê ele é esse ser que precisa tanto se locomover de um lugar a outro. A partir daí é possível entender o quanto o homem por si é um ser que é complexo por natureza. Dessa sua natureza, não pode-se separar a sua característica como um animal racional. Para Aristóteles, o homem é um animal político. A política ou ainda ação política, significa para a “ação que visa o bem comum”. Nesse sentido, destaca-se que a política é uma simples ação de um cidadão que vive na pólis (cidade).

Aristóteles observou que os humanos tinham uma tendência natural a formar unidades sociais: os indivíduos se juntam para formar famílias, famílias formam vilas, e vilas formam cidades. Assim como alguns animais - como as abelhas e o gado - se distinguem por sua disposição para viver em colônias ou bandos, os humanos são por natureza sociais. Assim como ele poderia definir um lobo ao dizer que por natureza é um animal de grupo Aristóteles diz que “o homem é por natureza um animal político”. Com isso, simplesmente quer dizer que o homem é um animal cuja natureza é a de viver em sociedade numa polis. O que está implícito é que não há uma tendência natural para a atividade política no sentido moderno da palavra (KELLY, 2013, p. 41-42).

Dessa maneira, Aristóteles percebeu que os humanos tinham uma tendência natural de formar grupos sociais. As pessoas formam famílias, famílias que formam vilas e vilas que formam cidades. Como as abelhas ou o gado, que se distinguem na sua maneira de viver tanto

(34)

em colônias ou em bandos, os humanos também vivem de tal maneira. Para o filósofo, o homem é por natureza um animal político, isso se relaciona a sua natureza que é de viver em sociedade numa pólis. Nessa sociedade, os homens formam leis e normas para o bem de todos, dessas leis e normas elegem um grupo de pessoas para supervisionar e comandar para o bem de todos, que é o governo. Segundo Kelly (2013), Aristóteles examinou os regimes de governos por suas forças e fraquezas levantando duas simples perguntas: Quem governa e a favor de quem se governa? Para primeira pergunta, se observa que existem três tipos de governo: por uma única pessoa, por um grupo e por muitos. Para segunda resposta, se considerava um verdadeiro governo ou em interesse próprio do governante ou da classe dominante. Assim, para Aristóteles, a monarquia é o governo de um a favor de todos. Dessa maneira, esse modelo de um indivíduo apenas chama-se tirania, pode-se dizer que é uma monarquia corrompida. Os aristocratas, por sua parte, formam um governo de um grupo a favor de todos.

A oligarquia, por sua vez, é o governo de alguns em interesse próprio, outra forma corrompida, segundo o filósofo. Já a politeia é governada por muitos em favor de todos. Por último, surge a democracia, o governo em favor de muitos, ao invés de favorecer cada indivíduo separadamente. O interesse próprio inerente, segundo Aristóteles, bem como as formas de governo leva, de algum modo, à desigualdade e injustiça. Decorre também a partir disso a instabilidade que ameaça o papel do Estado. Nesse contexto, a partir dos princípios de Aristóteles, deve-se ver o processo migratório, em primeiro lugar, pela forma de governo que o povo tem. Desse modo, quando não se vive em um sistema igualitário, o indivíduo tem tendência a migrar para outro locar, visando uma melhor condição de vida.

2.1.2 Origens do processo migratório

Rousseau (1712-1778) trata de forma veemente sobre a desigualdade entre os homens. Em certo sentido, acredita-se que essa desigualdade consiste numa força legítima entre os homens. Para Rousseau (1973, p. 263), a força não é legitimidade da desigualdade entre os homens. O filósofo busca responder tal questionamento remontando inicialmente à análise do homem em seu estado natural. Para ele, não é natural qualquer forma de desigualdade entre os homens:

É fácil ver, com efeito, que entre as diferenças que distinguem os homens, inúmeras consideradas como naturais, são unicamente obra do hábito e dos vários gêneros de vida que os homens adotam em sociedade. Assim, um temperamento robusto ou

(35)

delicado, a força ou a fraqueza, que dele derivam, resultam mais frequentemente da maneira dura ou afeminada pela qual se foi educado do que da constituição primitiva dos corpos (ROUSSEAU, 1978, p. 263).

Rousseau acredita que “renunciar à liberdade é renunciar à qualidade de homem, aos direitos da humanidade, e até aos próprios deveres” (ROUSSEAU, 1978). Não há recompensa possível para quem a tudo renúncia. Nesse sentido, partindo do princípio moral de que o homem é naturalmente bom, ou seja, a natureza fez o homem feliz e bom. No discurso sobre a origem e a desigualdade entre os homens, Rousseau mostra que as duas características que diferenciam o homem do animal são a liberdade e o aperfeiçoamento. A primeira é que é um ser livre. Ele tem condições e capacidade para querer e não querer, desejar e temer. A segunda qualidade específica do homem é a possibilidade contínua de aperfeiçoar-se, sendo essa, provavelmente, a causa principal da desigualdade entre os homens. Para Rousseau, há dois tipos distintos de desigualdade. Existe a desigualdade natural ou física, estabelecida pela natureza que consiste na diferença das idades, da saúde, das forças do corpo e das qualidades do espírito e da alma. Também observa-se a desigualdade moral ou política, dependente de uma espécie de convenção e que é estabelecida ou, pelo menos, autorizada pelo consentimento dos homens, consistindo em vários privilégios de que gozam alguns em detrimento de outros, como o de serem mais ricos, mais homenageados do que os outros, ou ainda, por fazerem-se obedecer.

Para que se tenha certo equilíbrio na sociedade precisa-se ter um contrato social que rege leis e normas para o bem de todos. Nesse contrato social, o filósofo ajuda a entender que a importância de um pacto de associação, aquele que em que cada um põe sua pessoa e seus bens sob os interesses da vontade geral. Para Rousseau, a vontade geral tende sempre à preservação ao bem-estar de todo e de cada parte, orientando-se sempre para o bem comum. Sendo essa fonte das leis.

Dá-se a entender que se não existir um bom contrato social numa sociedade que equilibra as condições de vida, acaba-se por gerar uma desigualdade. Essa desigualdade, por sua vez, gera uma injustiça para a maioria dos cidadãos, sendo um dos fatores prováveis do processo migratório, motivo no qual os indivíduos buscariam uma oportunidade de recomeçar em um lugar no qual ainda existiria esperança na igualdade. Outras origens estão na corrupção, pobreza, política e questões que envolvem catástrofes ambientais, como pode-se perceber nos casos que seguem.

(36)

2.1.2.1 O caso dos haitianos

Aproximadamente perto da primeira metade do século XV, a Europa estava a procura de novas riquezas. Os espanhóis foram os primeiros europeus a chegar a América. Cristóvão Colombo, italiano, e os espanhóis conheceram o Caribe, particularmente a ilha do Haiti no dia 05 de Dezembro 1492. Os espanhóis obcecados pela riqueza em minérios começaram torturar os índios, e os escravizar. Em seu retorno a Espanha, Colombo se deparou com uma ideia de escravidão com a qual ele não concordava. Mas o principal objetivo era a exploração de mão de obra escrava e isso saciava os interesses dos portugueses que mantinham uma relação “amigável” com os africanos visando seus interesses mercantis na região. As regiões que mais forneceram escravos de guerra, segundo a história, foram o Cabo da Guiné, chamado pelos portugueses "Costa dos Escravos", e os reinos do Congo e de Angola. Os africanos com a condição de escravos substituíram os índios, que já eram insuficientes, nos campos de extração de ouro aponta Madiou (1847).

Em 1697, o rei Luís XIV tomou conta da parte ocidental da ilha pelo tratado de Ryswick. Esse tratado dividiu a ilha em duas partes: a parte Oriental (atual República Dominicana) e a parte Ocidental (atual República do Haiti). Segundo Madiou (1847), essa aquisição marcou o começo da ambição colonial francesa. Desde então a história das duas repúblicas foi dividida. Com o nome oficial de “Saint Domingue”, colônia francesa, parte ocidental da ilha, nome dado pelo colonizador (França), a ilha se desenvolveu mais rapidamente graças à plantação de café e de cana de açúcar. Na véspera da Revolução Francesa, aproximadamente 75% do comercio mundial de açúcar saía da colônia francesa.

Em primeiro de janeiro de 1804, foi proclamada oficialmente a independência pelo General Dessalines. O novo povo livre adotou como nome de sua nova nação o mesmo nome dado pelo povo indígena: Haiti. O mesmo quer dizer terra alta e montanhosa (MADIOU, 1847). Os governantes, desde o dia da independência, colocaram o idioma francês como oficial, já que a Ata da Independência foi escrita em francês deixando de lado o idioma construído pelo povo que é o Kreyòl (crioulo). Mas, o presidente Jean Bertrand Aristide, na ocasião do bicentenário da independência do Haiti, também ressaltou a importância que o Kreyòl tem para os haitianos, tornando obrigatório colocá-lo junto ao idioma francês valorizando assim essa língua que foi denominada pelo povo como idioma da libertação. O Haiti e a França mantiveram uma longa distância após a independência. O ex-presidente da França Nicolas Sarkozy foi o primeiro presidente que pisou a terra do Haiti depois da independência por causa do terremoto em janeiro de 2010. O presidente François Hollande,

(37)

foi o primeiro presidente em nome da França que teve uma relação diplomática com o Haiti (NOEL, 2017).

Apesar de sempre ter existido um desequilíbrio político no Haiti, a situação começou a piorar durante o governo de Aristide, em 2004, devido a seu impedimento de dirigir o país. Com isso organizações como a Organização das Nações Unidas (ONU) e Organização dos Estados Americanos (OEA) tomaram providência e enviaram soldados latino-americanos, de alguns países europeus e também do oriente para acompanhar e auxiliar na recuperação da estabilidade política e segurança do país. Essa missão foi chamada de MINUSTAH, Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti. O Brasil foi escolhido para comandar as tropas para paz no Haiti e aos demais países que participaram da MINUSTAH. O terremoto em janeiro de 2010 causou grandes devastações por todo o país. A maioria dos haitianos acabou sem rumo e sem esperança, cada dia rezando por uma vida melhor. Já que as suas preces não tiveram respostas eles tentaram fugir da fome, da miséria, do desemprego e do mal-estar político. Enfim muitos morreram no caminho para deixar a terra natal. Até agora, existe uma instabilidade política e econômica que torna o país mais pobre e infeliz do que nunca. A maior parte da elite, gente da burguesia e investidores, não permaneceu no país e deixou de investir seu dinheiro na terra, o que gerou bastante desemprego. A corrupção nesses momentos sempre é a privilegiada, e o resultado é ninguém perceber a situação. Apesar de tudo, sempre o povo manteve uma esperança inigualável nos candidatos à presidência. Em meados dos anos 1990, a crise política causou a instabilidade econômica e o percentual de turismo baixou bastante. Pararam as indústrias, mas o setor do comércio continuou com importações.

Após o terremoto em 2010, quando a situação começou a piorar ainda mais, haitianos começaram sua travessia para a América Latina. Agora, especialmente, a maioria veio rumo ao Brasil em busca de emprego e uma vida melhor. A chegada aqui não foi fácil, foi necessário se adaptar ao novo clima, a um novo idioma e a uma nova cultura. Encontrar emprego também não foi tarefa fácil. O diálogo entre os haitianos e brasileiros não era claro. Para sobreviver, os haitianos aprenderam diferentes idiomas desde sua terra natal, mesmo assim tiveram que fazer ainda bastante esforço para conseguir sobreviver e achar emprego. A questão do idioma foi o dilema maior dessa transição porque o francês e o créole não têm nada a ver com o português. Muitos deles arriscaram tudo para chegar até aqui, porque tiveram que deixar mãe, pai, esposo, esposa, filhos e parentes. Esses ficaram no Haiti torcendo e contando com a ajuda de quem veio ao Brasil na esperança de que a vida aqui seja

(38)

melhor do que lá. Quem chegou aqui, veio acreditando no trabalho e nos estudos (NOEL, 2017).

2.1.2.2 O caso dos africanos

No caso de Senegal, esse é um país que alcançou a independência em 1960, e como Haiti eles também foram colonizados pela França até no século XX. Os europeus, por ganância, destruíram muitas tribos, gerando muitos conflitos no continente africano. Mesmo após a independência, o país ainda não construiu uma economia forte, motivo de haver poucos empregos, por isso a melhor alternativa foi migrar para sobreviver em outros continentes.

Trata-se de uma migração laboral, sendo que a Europa foi o destino principal dessa crise. Os senegaleses já viajaram há 15 anos, atrás de uma expectativa de emprego pelo mundo. Segundo Herédia (2015), os estudos mostram fortes índices de crescimento de tais imigrantes nos últimos anos em Passo Fundo, Santa Maria e, sobretudo na Serra Gaúcha. Esse crescimento tem foco nos setores industrial, agrícola e no comércio. O Estado do Rio Grande do Sul foi movimentado na última década por buscas de local para morar e de emprego na região, que já havia sido ocupada pelos italianos, desde 1875. Os afro-migrantes (haitianos, senegaleses e ganeses), também trazem uma diversidade cultural para região além da cultura italiana, alemã e polonesa já presentes na região.

Espeiorin (2014) apresenta uma pesquisa que aponta que a população de Caxias do Sul é cheia de preconceitos. A Serra Gaúcha nunca foi habitada por negros apesar de ter havido escravidão no Brasil. O estudo cita Herédia (2015), quando a pesquisadora afirma que não existe uma multiculturalidade porque os novos imigrantes não são brancos. Em um contexto, segundo a autora, é explicito que a migração italiana entre os séculos XIX e XX é bem diferente da migração dos afro-migrantes atualmente, porque a dimensão de problemas é também diferente. O resultado desse estudo mostra que existe certo preconceito com os estrangeiros na região de Caxias do Sul. Esse preconceito é de fato por ignorância dos anfitriões que não sabem que foi por necessidade que os afro-migrantes percorreram tantos quilômetros atrás de uma vida melhor.

Vichich apud Herédia (2015, p. 7) ainda postula que as migrações estão associadas à “desigualdade social, à inequidade das relações econômicas internacionais, à falta de oportunidades e às condições de menor qualidade de vida, quando não de pobreza, produto de subdesenvolvimento dos países de origem”. Para a autora, o jeito de ver esse fenômeno

(39)

migratório é entender que a migração internacional é produto de um desenvolvimento desigual. Muitos deslocamentos populacionais ocorrem em condições de sobrevivência. A população migrante é obrigada a sair de seus países, enfrentando adversidades possíveis na luta por condições melhores de vida. Com o efeito da globalização, após a internacionalização do capital, os países pobres ficaram condicionados às politicas de desenvolvimento dos ricos. Ainda segundo a autora, a divisão geopolítica, no final do século XX, promoveu uma reorganização dos territórios, sendo que os países pobres, não desenvolvidos, não tiveram muitas alternativas. A esses países não desenvolvidos lhes restou, os conflitos internos, guerras civis, catástrofes ambientais e climáticas, que levaram a situações de miséria, pobreza extrema, destruição de deu lar um dos motivos ou ainda alternativas de sobrevivência da migração.

O movimento migratório é um fenômeno que se renova à medida que traz motivos racionais de deslocamento. E as razões historicamente são muitas. Por outro lado, os mecanismos e as estratégias utilizadas por aquelas pessoas que migram são comuns. Por isso, os países receptores dessa imigração, através do tempo, começaram a colocar limites através de leis migratórias para supervisionar meio de acesso. Dessa maneira, as diferenças culturais, como afirma Herédia (2015), ficam visíveis quando os interesses econômicos predominam, o que pode oportunizar um processo de aceitação e integração da relação entre os grupos ou de negação ou de exclusão pelas diferenças que representam no lugar de convivência. O processo migratório internacional, na sua natureza, exige questões culturais, políticas, jurídicas e econômicas a serem respondidas. Dessa maneira, os migrantes dos países não desenvolvidos são mal vistos por serem pobres ou podem sofrer preconceitos por causa da cor de sua pele ou de sua raça. Apesar de que esse processo é um espaço de interculturalidade, existindo ainda o lado de rejeição se o país receptor não simpatiza com a dor como imigrante.

As pessoas migram por diversas razões, por questões culturais, econômicas, socio-religiosas e por crises políticas, entre outras. Esse processo migratório tem seu início desde a antiguidade até meados do século XIV, mas sempre os movimentos eram ordenados e regulamentados pelos países anfitriões. A globalização é um dos movimentos econômicos e políticos que impulsiona a mudança conceitual dos movimentos migratórios em grande parte no mundo. A crise econômica na década de 1980 é um dos momentos direcionados aos fluxos migratórios da América do Sul para o Norte, especificamente nos Estados Unidos e na Europa. Não pode-se deixar de lado a crise de 2008-2009 com novas mudanças de rotas migratórias, quando Brasil e outros países sul-americanos começaram a atrair migrantes. O Brasil começou a receber refugiados do Haiti, da África e do Oriente Médio, assim como da

(40)

China e outros países do continente sul-americano em busca de uma vida melhor (HERÉDIA, 2015).

Para entender o porquê da imigração dos povos que vieram para o Brasil especialmente, é importante saber a sua história, sua localização no mundo geográfico, sua cultura em geral e o motivo pelo qual vieram. O Senegal, por exemplo, é situado no continente africano, na África Ocidental, sendo banhado pelo oceano Atlântico e tem fronteira com a Gâmbia, a Mauritânia ao norte, a Guiné e Guiné-Bissau ao sul e Mali a leste. A capital é Dakar, localizada no ponto mais a oeste do país. Senegal é também, o país mais próximo à ilha do Cabo Verde (KALY, 2006).

O Senegal, territorialmente, possui uma área menor que a do Estado de Paraná. Ele alcançou a sua independência em 1960. Como tantos países do continente africano, a disputa entre os europeus era bem grande. Os europeus na sua chegada dissolveram tribos, levando o conflito ao continente africano. Por causa dessas tramas históricas e econômicas, o país não conseguiu absorver grande parte da mão de obra e a solução, conforme Herédia (2015), foi migrar.

O Senegal apresentava-se para os árabes e europeus como uma zona de abundante riqueza e grande possibilidade de exploração de matéria prima e metais preciosos (IBAZEBO, 1998). Segundo Wenczenovicz (2016), no período 1444 e 1510. os portugueses tiveram contato com a tribo Wolf do Senegal para fazer uma densa descrição acerca da realidade sociopolítica e cultural, formando a divisão hierárquica na sociedade entre a nobreza, os camponeses, os escravizados e as diferentes castas de ferreiros, músicos e joalheiros, entre outros. Entre os séculos XVII à XVIII até a metade do século XIX, aconteceram guerras pelo controle das margens do Senegal pelas potências europeias (MAMADOU, 2011).

Os portugueses foram os primeiros a chegar especificamente em Dakar e Gorée no século XV Entretanto a cidade de Saint Louis foi o ponto referencial e comercial até a abolição da escravidão, em 1638, pela França o que marca o início da colônia do Senegal. Em 1677, os franceses, para reforçar a sua posição no ranking dos colonizadores. Tiveram que expulsar os holandeses instalados na ilha de Gorée, um dos grandes portos da escravidão. Os portugueses, no século XV e XVI, tiveram várias estações em diversos lugares constituindo uma colônia na ilha de Gorée, tornando-a uma espécie de armazém de tráfico de escravos. Os britânicos, por sua parte, em breves momentos, também se apoderaram de algumas áreas do Senegal, quando os franceses, em 1840, foram reconhecido pelas demais potências. Em 1895, a região é integrada como parte da África Ocidental Francesa (KOK, 1997).

(41)

grandezas políticas africanas não foram obrigados pela força a entrar no tráfico atlântico. Eles possuíam estruturas sociais e econômicas capazes de lutar contra os europeus. Portanto, segundo o autor, o tráfico foi uma negociação comercial, onde os africanos entraram como competidores bem habilidosos impondo valores e mercadorias. Os senegaleses eram autossuficientes na produção de alimentos, tecidos e instrumentos de ferro. Através dessa negociação, pelas leis vigentes naquela época, definiram os contratos de deveres e direitos de tráfico humano principalmente no sahariano. Desse fato, militarmente, o império Djolof chegou a ter 100 mil homens na infantaria e 10 mil na cavalaria para enfrentar os portugueses, holandeses e franceses.

Segundo Lovejoy (2002), a presença dos europeus no tráfico em larga escala transformou definitivamente as instituições sociais e econômicas no Senegal. A região passou a ser orientada para guerra e o comércio dos recursos humanos como mão de obra para o mundo em vez de lutar e acabar com esse fato de uma vez por todas. O tráfico transahariano durou oito séculos, envolvendo seis ou sete milhões de pessoas. Em quatro séculos, o tráfico atlântico, por outro lado, chegou aos vinte milhões (MAMADOU, 2011). O Senegal foi governado, inicialmente, por tribos antigas convertidas ao islamismo, por portugueses e pela França no século XVII. O país conseguiu a sua independência em 1960, após a realização de lutas separatistas que aconteciam desde o século XIX. O Senegal adotou, em 1982, um sistema econômico e político dentro da lógica do “socialismo islâmico”, em união com a Gâmbia. Assim, formou-se a Senegâmbia, que depois foi dissolvida em 1989 por divergências políticas entre os líderes de ambos os países. Isso reforçou a saída de milhares de homens e mulheres para a condição de imigrantes e refugiados segundo Wenczenovicz (2016).

A capital do Senegal é Dacar, a cidade mais populosa do país, com 2,2 milhões de habitantes. As etnias predominantes são os jalofos, os serer, os tukulor, os diolas e as mandingas. A religião mais professada é o islamismo, 87% da população do país. O país encontra-se em uma região próxima do mar, as altitudes locais não são muito elevadas, motivo de grande e extensa planície de savanas com vegetação superficial. Os rios principais que abastecem a região são o Senegal, o Gâmbia e o Casamanse. O clima é o semiárido, principalmente nas porções setentrionais de seu território, aponta Wenczenovicz (2016), que indica uma baixa influência de maritimidade e variações térmicas durante todo ano. O país tem uma estação seca prolongada e chuvas irregulares que são distribuídas ao longo do ano, sendo que as savanas concentram-se mais ao sul do território aonde costuma chover um pouco mais.

(42)

industrializado, mesmo que a produção industrial seja aproximadamente 22,7% do PIB, a agricultura 15% e o setor terciário representa 61,9%. Os produtos principais agrícolas são o amendoim, a cana de açúcar, o tabaco, o sorgo e o tomate. Na indústria se destacam o processamento de minerais e a produção de fertilizantes. A pesca tem um papel importante na economia nacional, sendo Senegal um grande exportador nos países europeus. Por outro lado, aponta Wenczenovicz (2016), a exclusão e o subtrabalho estão presentes na conjuntura econômica e política, fazendo com que diversas pessoas do país de desloquem como imigrantes para a América e Europa.

A vida nas cidades apresenta dificuldades de emprego, acesso à saúde e à educação, sendo a escolarização inferior a 35%. Segundo dados da Unesco em 2013, a educação no Senegal é um direito fragilizado enquanto política pública por falta de material didático e carência de professores, o que dificulta e impede parte da população que tem acesso aos níveis básicos do ensino. O pequeno acesso à educação básica limita também a entrada na educação de nível superior, o que impulsiona a exclusão do mercado de trabalho. O idioma francês é considerado o oficial do país, mas é utilizado por uma minoria, enquanto a maioria fala em sua própria língua étnica. Por exemplo, em Dacar, o uolofe é o dialeto mais falado (WENCZENOVICZ, 2016).

Em função da ocupação colonial francesa e pelo ordenamento econômico, o capital transnacional é dominado, em sua maioria, por pessoas que falam no idioma francês. Os funcionários devem escrever e ler em francês para um maior controle de produtividades em vários segmentos e para controle sociocultural. Essa exigência colabora com a evolução de uma marginalização econômica de milhares de cidadãos. Para os analfabetos da língua francesa estão destinados os trabalhos mais penosos, com menor remuneração salarial, trabalhadores em fábricas (MBAYE, 2009). Outro fato relevante, segundo Wenczenovicz (2016), é que o país vive em um regime de poligamia e sendo que segundo a Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (EDS, 1998 apud Wenczenovicz, 2016), 45,5% das mulheres são casadas em regime de poligamia. A poligamia pode ser considerada um elemento que agrava a situação da pobreza do povo, porque os homens que são casados com várias mulheres, em sua maioria, estão desempregados. Por lei, eles têm obrigação de providenciar casa e alimento para suas esposas e filhos. No entanto, a mesma lei abre uma concessão que lhes permite deixar as mulheres na casa dos pais até encontrar um meio adequado para sobreviver. Assim, existem mulheres que têm que cuidar dos filhos e da economia da casa assumindo toda as responsabilidade da família. Em consequência disso, aproximadamente 30% dos núcleos familiares estão em um nível profundo de pobreza.

(43)

Mesmo que a Organização das Nações Unidas (ONU) e organizações não governamentais tenham vários tipos de programa de ajuda solidária, muito pouco conseguiram auxiliar essas mulheres, o dinheiro que chega até elas com objetivo de montar um negócio é absorvido pelas necessidades primárias.

Segundo Mbaye (2009), o crescimento anual do país é de 1,2%, sendo insuficiente para atender necessidades de uma população que aumenta na taxa de 2,5% anualmente. Ainda o autor afirma que são pouco explorados os recursos, Assim, por exemplo, as fontes de água doce subterrânea nas cercanias de Dacar são objeto de pouca exploração. Não há interesse de resolver problemas de inundações frequentes e também um atraso para a produção de frutas e legumes necessários para alimentar o país. Quanto aos recursos pesqueiros, a carência evolui constantemente pela força de superexploração por parte dos países da União Europeia. Ainda acrescenta o autor, nenhuma medida foi tomada para renegociar os contratos malfeitos assinados e nem para repor os estoques por meio da aplicação de um programa de recuperação a favor do país. O setor pecuário também está com as mesmas deficiências. O gado poderia ser melhorado se tivesse um plano elaborado e específico para aumentar a produtividade.

Os homens e mulheres que chegaram ao norte de Rio Grande do Sul e em Caxias do Sul são frutos dessa apontada falta de trabalho, sem remuneração adequada, afetados por doenças, fome e exclusões diversas que colocam em prova a dignidade humana. Esses indivíduos têm negados seus direitos fundamentais civis e sociais acrescidos aos dilemas de herança colonial. Entende-se que a partir da análise, os senegaleses que vieram para a região da Serra Gaúcha, especialmente em Caxias do Sul, não estão interessados na cultura local, mas sim no mundo do trabalho, sobretudo no comércio, que é um dos pontos mais destacados no seu perfil empreendedor.

Os ganeses, por sua vez, na sua migração para o Brasil, apresentam um contexto diferente. Uma matéria publicada no site G1, em julho de 2014, informava as dificuldades que esse povo encontrava na época. A inflação em Gana era muito alta e a economia estava em crise. Aproveitando a Copa do Mundo de futebol, no Brasil, foi fácil conseguir o visto de 90 dias que custava US$200,00 dólares americanos, aproximadamente R$800,00. A passagem custava US$1.300,00 dólares americanos, algo próximo a R$5.200,00. A matéria também revela que mais de 1100 ganeses teriam pedido refúgio no momento da copa que aconteceu na época do evento. Pensando em vir para o Brasil, alguns ganeses planejaram desenvolver uma torcida organizada para aproveitar e pedir refúgio. Segundo representantes brasileiros que acompanharam o ocorrido, os perfis dos migrantes mostrava que eram pessoas com formação educacional e profissional. Assim, conseguiram entrar rapidamente no mercado de trabalho.

(44)

Gana está localizada na África Ocidental, tendo um território de 238.533 km². Sua capital é Acra, limitando-se com Burkina Faso ao norte, Costa do Marfim a oeste, Togo a leste, além de ser banhado pelo Golfo da Guiné no Oceano Atlântico ao sul. Seu idioma oficial é inglês, por ser colonizado pela colônia britânica, mas também existem outros idiomas regionais. Existe uma composição étnica em Gana que está dividida entre a maioria de Acãs (44%), Móssi-dagombas (16%), Euês (13%), Gás (8%) e outros (19%). O país foi o primeiro a se tornar independente na África Ocidental, em 1957, com a reunião dos antigos territórios da Costa de Ouro e de Togolândia. A religião predominante é o cristianismo, representando 57,6% da população. Gana é um dos países integrantes da comunidade britânica, fornada pelo Reino Unido e suas ex-colônias. Durante o período colonial português, entre os séculos XVI e XIX, muitos habitantes do povo ganês foram levados à América como escravos.

Gana é considerado um dos países do continente africano que possui uma das economias mais estáveis, porque é um grande exportador de ouro, diamante, manganês, bauxita e madeira. O cacau é um dos elementos também importantes na economia nacional, sendo o país o segundo maior produtor mundial. Café, banana, batata, milho e arroz são elementos constituintes na produção agrícola. A sua indústria atua na produção alimentícia, de bebidas, de cigarros, produtos químicos, metalúrgicos e madeira. Apesar de uma economia diversificada, Gana apresenta grandes problemas socioeconômicos. Aproximadamente 10% da população é subnutrida e a sua moeda, chamada Novo Cedi, não está tão valorizada, ainda segundo a matéria do G1. Em Caxias do Sul, chegaram para trabalhar, 96 ganeses. No primeiro momento, se abrigaram em uma igreja católica em busca de oportunidades e empregos. A moeda é fraca e a inflação consume o dinheiro, argumentou um desses migrantes. Eles não tinham intenção de ficar na sua terra, pois o Brasil oferece mais oportunidade, uma das razões do seu refúgio aqui.

2.2 AFRO-MIGRANTES

Considera-se que afro-migrantes são afrodescendentes naturais de outro país, mas a sua origem continua sendo a África, como os haitianos, senegaleses e ganeses.

2.2.1 Termo afro

O termo afro é o diminutivo de africano, sendo um adjetivo, utilizado para dizer que a pessoa é natural ou habitante da África (FERREIRA, 2008). No entanto, esse termo também

(45)

é utilizado para os descendentes do povo que emigram desse continente para América ou para a Europa nos períodos das expansões coloniais dos países europeus. Afro quer dizer que a origem da pessoa é do continente africano. Por isso, entende-se que o termo afro é relativo às pessoas que vieram do continente africano ou da descendência africana. Também faz referência a tendências que vieram de lá. Nesse sentido, fala-se de cultura, afro-brasileiro, afrodescendente e afro-migrante, entre outros. O termo afrodescendente pode referir-se tanto para afro-brasileiros quanto para afro-migrantes.

Percebe-se que existe uma grande diferença entre afro-brasileiros e afro-migrantes. A expressão afrodescendente é formada por dois adjetivos: afro e descendente. Segundo Ferreira (2008), afro é o adjetivo que faz referência ao africano e descendente refere-se a alguém que descende. Então afrodescendente á aquele que descende do continente africano, isto é, afro-brasileiro e afro-migrante que vieram ou tem sua origem na África. Porém, são dois termos diferentes, porque a partir dessas expansões coloniais cada um agregou-se a outros países, culturas e idiomas, entre outros, através do tempo.

2.2.2 Imigração no Brasil no século XXI

Analisando-se a questão da migração, as razões que têm levado ao crescimento dos deslocamentos de pessoas ao longo das últimas três décadas, observa-se que foram motivados especialmente pela própria transformação de relações em nível internacional, como por exemplo, questões de conflitos civis, desastres naturais, condições econômicas e laborais. O Brasil, segundo Uebel e Ruckert (2017), recebeu cerca de cinco milhões de imigrantes, apenas refugiados judeus, sírios, libaneses e palestinos na sua maioria, entre 1819 e final de 1940. Apresentou-se a mesma situação nas últimas duas décadas, em relação ao crescimento de número de imigrantes legais, irregulares e refugiados, como demonstram os dados dos Censos de 2000 e 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). São migrantes que escolheram o Brasil por distintas oportunidades de trabalho.

A imigração entre 2000, 2010 e 2014, segundo Uebel e Ruckert (2017), está vinculada a datas consideradas como booms migratórios do século XXI. São datas chaves para interpretação dos processos migratórios no Brasil e também para entender os momentos de crises em nível mundial, conforme Figura 1. O Brasil não recebeu apenas os migrantes africanos ou caribenhos, mas também de Portugal, Estados Unidos, Japão, Bolívia, Itália, Espanha, Argentina, China, Paraguai, Alemanha entre outros naquela época. Assim, a imigração não se resume apenas de norte-sul ou sul-norte, mas também norte-norte e sul-sul.

(46)

Figura 1 – Fluxo migratório no Brasil entre os anos 2000 e 2014

Fonte: Dados do IBGE, adaptados por Uebel e Ruckert (2017).

Percebe-se que o primeiro boom da imigração, em 2000, ainda para Uebel e Ruckert (2017), teve um declínio até 2004. Logo depois no biênio 2013-2014 existiu um segundo boom. Isso mostra que o processo migratório variou através de fenômenos como crises econômicas. Assim, não são apenas afro-migrantes que o Brasil recebeu nesses períodos, mas também de outros países que são os maiores grupos representativos de imigração no país. Isso pode ser percebido na Figura 2 que apresenta as dez maiores concentrações imigratórias no período de 2007 até 2014, sintetizando a participação dos principais grupos imigratórios na composição populacional do país:

(47)

Figura 2 – Os dez maiores grupos migratórios entre 2007 e 2014

Fonte: Dados do IBGE, adaptados por Uebel e Ruckert (2017).

Os dados estatísticos analisados apontam que havia, no período de 2007 a 2014, um número de 1 milhão e 900 mil imigrantes, aproximadamente no país, superando-se as cifras então estimadas pelo próprio governo e pela imprensa. De acordo com seus países de origens pode-se destacar Paraguai, Bolívia, Argentina, Uruguai, Chile, Peru, Paraguai, Colômbia, Cuba, Haiti, Estados Unidos, Itália, Espanha, Alemanha, França, Reino Unido, Japão, China, Coreia do Sul e Líbano. Ainda, segundo os autores, esses 20 maiores países apontam uma diferença muito grande em nível econômico internacional na sua inserção no Brasil nessa época. Tal inserção atraía imigrantes para cargos especializados com fortes exigências de mão de obra qualificada. Pode-se separar um primeiro grupo nesses 20 países imigrantes, já que cada um trazia algo diferente ao Brasil. Essa divisão é importante para melhor entender o que cada grupo representava na economia brasileira naquela época. Um cenário que explica tal aumento expressivo de número de imigrantes no primeiro grupo de portugueses, japoneses, italianos, norte-americanos, britânicos e alemães, entre outras nacionalidades, é a formação de uma forte mão de obra qualificada no Brasil. Esses países sofreram com a crise econômica no período analisado, um dos motivos que gerou desemprego na sua terra. Esses países são conhecidos por sua mão de obra altamente qualificada e por serem sede de grandes centros de tecnologia e inovação. Eles exportam para o Brasil, por exemplo, um excesso de profissionais para países em ascensão na agenda internacional de

Referências

Documentos relacionados

1 JUNIOR; ANDRADE; SILVEIRA; BALDISSERA; KORBES; NAVARRO Exercício físico resistido e síndrome metabólica: uma revisão sistemática 2013 2 MENDES; SOUSA; REIS; BARATA

Our contributions are: a set of guidelines that provide meaning to the different modelling elements of SysML used during the design of systems; the individual formal semantics for

5 “A Teoria Pura do Direito é uma teoria do Direito positivo – do Direito positivo em geral, não de uma ordem jurídica especial” (KELSEN, Teoria pura do direito, p..

No entanto, maiores lucros com publicidade e um crescimento no uso da plataforma em smartphones e tablets não serão suficientes para o mercado se a maior rede social do mundo

O valor da reputação dos pseudônimos é igual a 0,8 devido aos fal- sos positivos do mecanismo auxiliar, que acabam por fazer com que a reputação mesmo dos usuários que enviam

Neste estágio, assisti a diversas consultas de cariz mais subespecializado, como as que elenquei anteriormente, bem como Imunoalergologia e Pneumologia; frequentei o berçário

Desta forma, conforme Winnicott (2000), o bebê é sensível a estas projeções inicias através da linguagem não verbal expressa nas condutas de suas mães: a forma de a

No primeiro livro, o público infantojuvenil é rapidamente cativado pela história de um jovem brux- inho que teve seus pais terrivelmente executados pelo personagem antagonista,